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Como explicar a diferença do 15 de maio para a Greve Nacional de 02 e 03 de outubro? No 15M, atos em mais de 200 cidades e em todos os estados com mais de um milhão de pessoas, além de ser o assunto dominante nas redes sociais. Já as mobilizações de 02-03/10 foram esvaziadas. Não há balanço divulgado sobre a capilaridade nacional. Estima-se 20 mil no Rio e 5 mil em São Paulo. Nas redes sociais, não foi tema relevante.
O que mudou em tão pouco tempo? Por que antes conseguimos sair da bolha e agora nos isolamos em nós mesmos mais uma vez? Por que no 15M a educação básica aderiu em peso, colorindo as ruas com a diversidade da nossa juventude e em outubro as escolas públicas e privadas ficaram alheias? Responder a isso é urgente para que possamos retomar a energia do 15M que segue ativada na base. Na UFRJ, a mobilização descentralizada é impressionante. As pessoas estão fazendo muitas coisas em defesa da universidade, desde manter suas atividades acadêmicas no mesmo nível de antes apesar dos cortes até a promoção de debates, encontros, assembleias locais, etc.
O que impede que essa mobilização cotidiana vire uma convergência maior? Duas hipóteses complementares se apresentam:
– As pessoas estão cansadas das paralisações-atos. O sentimento de que não adianta nada é muito profundo. Pelo menos desde 2015, quanto os atos não impediram o golpe;
– As pessoas estão com medo. Não sabemos o alcance do autoritarismo bolsonarista nem se as instituições vão nos proteger. Mobilizar tem um risco a mais e ninguém tem culpa de não querer pagar para ver.
O que fazer então? É preciso perseverar! Contudo, a defesa da universidade exige uma persistência crítica e não religiosa (tipo “estamos certos e o paraíso virá”). É fundamental refletir profundamente sobre a estratégia de paralisações e atos de rua. Não temos respostas prontas para as perguntas do título, mas podemos ensaiar diagnósticos e possíveis caminhos com base nas experiências da AdUFRJ para abrir o debate
Algumas práticas que caracterizaram a greve nacional de 02-30/10 e que se relacionam com o insucesso da mobilização:
– A decisão se deu de cima para baixo. As direções nacionais dos movimentos decidem a data e depois consultam as bases. As paralisações são então confirmadas em assembleias esvaziadas, sem que isso signifique uma adesão efetiva.
– A pauta das mobilizações foi decidida pelo mesmo método, sem conexão com algum evento imediato da conjuntura. Assim, no 15M fomos às ruas contra um corte de verbas anunciado dias antes. Em outubro, não havia nenhum fato novo.
– A dinâmica de somar várias pautas e demandas. No 15M, a mobilização foi pela educação somente, agora o chamado envolveu também a defesa da Petrobrás, da soberania nacional, a luta contra as privatizações, contra a reforma da previdência. Todas pautas legítimas e importantes. Porém, criaram confusão na hora da mobilização.
– A sucessão de mobilizações. O 15M foi nossa primeira ida às ruas contra o governo Bolsonaro. Em outubro foi o quinto ato, sempre em número decrescente.
– Uma estratégia de comunicação igualmente confusa, baseada somente nas “velhas ferramentas” (informes sindicais, panfletos), sem uso programado das redes sociais, com campanhas que fazem o tema ganhar corpo. Muita gente relatou não saber que haveria a mobilização, ou então não saber o por quê dos atos.
Como alternativa, algumas propostas para começar o debate:
– Temos que nos concentrar enquanto movimentos educacionais na pauta da educação, da ciência e do conhecimento. Alianças com outros movimentos, sociedades científicas, são fundamentais para forjar um tecido de solidariedade. Mas a mobilização das nossas bases deve ser feita com foco na defesa da educação e do conhecimento.
– É urgente mapear o que de positivo está sendo feito pelas universidades e IFs e sistematizar isso em alguma plataforma. Há um senso comum falso de que não devolvemos nada para a sociedade. Sabemos que não é verdade, mas não sabemos de fato o que devolvemos. Nosso desconhecimento sobre aquilo que produzimos é impressionante. Muitas vezes vamos para as ruas e para as redes sem argumentos para nos defender.
– Esse mapeamento não pode ser “online”. Precisamos rodar as universidades, participar das reuniões de departamento, congregação, das atividades de extensão, etc. Precisamos ativar a convergência das várias iniciativas positivas que estão em curso.
– É fundamental realizarmos atividades contínuas em Praças, parques, escolas, tipo uma universidade na praça cotidiana. Não é necessário que a atividade seja enorme. O mais importante é que ela seja regular e marque o território.
– Uma nova estratégia de comunicação. Podcasts, ações de rede, canal no youtube, material para whats que complementem nossos jornais e boletins.
Com esse texto, convocamos a nossa categoria para um debate franco e democrático sobre como potencializar nossas mobilizações e entidades representativas. Temos certeza de que é possível construir um sindicalismo docente renovado e fortalecido, com mais capacidade de mobilizar a comunidade universitária e a sociedade na defesa da universidade, dos direitos e da democracia.

JOSUÉ MEDEIROS é professor de ciência política e membro da diretoria da AdUFRJ 2019/2021

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