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IMG 9713Ciro Gomes em auditório do CT - Foto: Alessandro CostaO ex-governador do Ceará e ex-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, esteve na UFRJ no dia 1º de novembro. O assunto era a política de óleo e gás implementada pelo governo Bolsonaro. “Estão esquartejando a Petrobras e vendendo este potencial”, afirmou durante palestra na Coppe. E decretou: “Se um dia eu for presidente, o petróleo será brasileiro”. Antes da atividade, o político concedeu entrevista exclusiva para a AdUFRJ. Ele comentou as críticas ao ex-presidente Lula, a escolha pela abstenção no segundo turno das eleições passadas e o desastre no Nordeste. Confira:

O senhor pretende ser candidato à presidência em 2022?
Eu estou entregue obstinadamente a construir um movimento no Brasil. Este movimento procura identificar as causas estratégicas do problema brasileiro e fazer uma crítica dura aos encaminhamentos que estão sendo feitos. Se isso vai ou não se traduzir numa candidatura, a minha experiência diz que o Brasil vai passar por tantas confusões, tantas montanhas-russas, que meu papel é me atirar, sem nenhum tipo de conveniência, ao risco que for necessário para proteger o Brasil. Estou na UFRJ porque acredito que tenhamos que trazer a universidade para dentro da tomada de decisão do país, porque o outro nome de soberania nacional é ciência, tecnologia e inovação.

O senhor tem feito duras críticas ao ex-presidente Lula...
Eu não gostaria de comentar nada sobre o Lula, porque ele não é uma pessoa que eu conheço pela televisão, é alguém com quem tenho relacionamento fraterno há mais de 30 anos. É uma situação que me causa dor, ele não está nada bem. Eu não fiz críticas pessoais a ninguém. A minha questão é política. Eu considero – e posso estar enganado, porque ninguém é dono da verdade – que, sem as imprudências, o egoísmo e a forma meio de enganador profissional que o Lula toma a partir de um certo momento de sua vida, o fenômeno Bolsonaro não teria acontecido.

Mas o senhor não acha que fez diferença para a vitória de Bolsonaro o senhor não ter se posicionado no segundo turno da eleições?
No primeiro turno eu ganhei as eleições no Ceará. O Haddad, em Fortaleza, ficou em terceiro lugar, perdeu para o Bolsonaro. No segundo turno, o Haddad teve 70% dos votos no Ceará, inclusive em Fortaleza. Já em São Paulo, o Haddad, onde tinha sido prefeito, perdeu as eleições por 68% a 32%. O problema sou eu? Se você olhar onde eu fui votado, ele simplesmente galvanizou todos os votos. Só que se somar os votos dele com os meus nesses lugares, ainda faltam dez milhões de votos nessa derrota acachapante para um idiota.
Toda vez que o Bolsonaro entra em dificuldade, ele ameaça a volta do PT. É uma espécie de relação simbiótica, de parasitismo, em que um se afirma na negação do outro. Eu, comovidamente, acho que isto está matando o Brasil. Fundamentalmente, está levando ao descrédito a confiança do povo na política.

Mas no caso, a pergunta é sobre uma autocrítica do senhor...
Será possível que não há nenhuma autocrítica do PT a fazer? Será que não vamos lembrar que foi o Lula quem nomeou a Dilma, com zero experiência anterior na política? Isso tem consequências. Dilma se deixou impedir por um golpe e não teve capacidade de somar um terço dos deputados. O escândalo de corrupção: será que vamos fazer de conta que as escolhas do Lula não têm nada a ver com isso? Dilma assumiu o governo e anunciou uma faxina tirando toda a diretoria da Petrobras, que vinha de oito anos de governo Lula. Eu denunciei pessoalmente que o Lula deu ao Eunício Oliveira – depois presidente do Senado – R$ 1 bilhão em contratos sem licitação, na Petrobras. O nome da empresa é Manchester. O Lula deu ao Renan Calheiros e ao Romero Jucá a nomeação do Sérgio Machado na Transpetro. Vi a dinheirama ser roubada e eu avisei ao Lula. Depois de um certo tempo, se eu não denuncio e não me afasto, eu passo a ser cúmplice. Eu não tenho razão nenhuma para ser cúmplice. Não devo nada ao PT, nada ao Lula.

Como o senhor avalia a ação do governo federal diante do desastre de derramamento de óleo no Nordeste?
É um desgoverno absoluto. É uma tragédia contra a natureza, com biomas absolutamente sensíveis, mas também é econômica, com quebra de até 80% da venda de camarão, peixe, lagosta. Da qual sobrevivem pessoas pobres. Mais de 60 dias se passaram e o presidente não se dignou a ir às áreas atingidas. As providências deveriam ser conter os danos e identificar os responsáveis. Só 60 dias depois, a segunda providência é tomada. O ministro do Meio Ambiente (Ricardo Salles) é um canalha que está ali com a tarefa de ser canalha. Esse é o mandato que ele recebeu do senhor Jair Bolsonaro que tem horror ao meio ambiente, como obscurantista que é.

Qual sua opinião sobre a política de óleo e gás do atual governo?
Isso é uma não política. Entre os quatro principais complexos industriais brasileiros está o de petróleo, gás e biocombustível. Estamos regredindo em agregação de valor. Hoje o Brasil está com um terço de sua capacidade de refino e já chegamos quase a 250 milhões de barris por ano de importação de diesel, gasolina, querosene de avião e gás de cozinha. A política de dolarizar dá lucros exorbitantes para os acionistas privados que são bancos brasileiros e multinacionais. O que está por trás disso claramente é uma visão antinacional e entreguista.

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