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O que será do amanhã

Elisa Monteiro e Giulia Ventura

As mulheres estão à frente da maior federal do país e das entidades representativas dos professores, técnicos-administrativos e estudantes. Convidadas pelo Jornal da AdUFRJ, as dirigentes compartilham suas expectativas sobre o período que se inicia, sinalizam como enfrentar os principais desafios e também avaliam a questão feminina.
Para a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, os principais desafios de 2020 são a edição da Medida Provisória 914/2019, que modifica o processo de escolha dos dirigentes universitários, e a nova consulta pública sobre o Future-se. “Ambas as propostas são ruins e perigosas”, disse.
Já para a reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho, um grande problema é o subfinanciamento da instituição: “O orçamento é aquém do necessário para manter a Universidade Federal do Rio de Janeiro funcionando a pleno vapor como gostaríamos de ver”.
Coordenadora do Sintufrj, Joana de Angelis apontou a necessidade de enfrentar a proposta de reforma administrativa que pode afetar as universidades públicas.
Entre as estudantes, a ameaça à autonomia das instituições preocupa Julia Vilhena (diretora do DCE) e Kemily Toledo (coordenadora da APG).

WEB eleonoraEleonora Ziller
Presidente da AdUFRJ
"O decreto sobre a eleição para reitores é um escândalo. A intervenção do governo é uma violência à democracia universitária. E a nova tentativa, requentada, do Future-se representa a destruição da universidade pública. Ambas as propostas são ruins e perigosas.
Espero que tenhamos conseguido reforçar a musculatura institucional para resistir a mais esses ataques, com alegria e esperança. É um período privilegiado para recompor a unidade em torno da autonomia, da liberdade de pensamento, de produção científica, cultural e artística.

Estamos vendo, em todo planeta, novos governos conservadores de extrema direita expressos na figura de homens brancos, de meia idade, engravatados. E nenhuma mulher no cenário. Isso é algo muito estranho para nós. Algo que achávamos já ter superado. Nosso papel em 2020 é fazer com que o entulho autoritário patriarcal conservador volte ao lugar de onde nunca deveria ter saído”.

WEB deniseDenise Pires de Carvalho
Reitora da UFRJ
"Estamos revendo os contratos, estamos reorganizando, arrumando nossa casa. Mas isso não é suficiente para pagar as contas. O nosso déficit é enorme. E ele continuará grande se o governo não repassar o orçamento devido à UFRJ. 

A UFRJ entra no centenário, em 2020, pensando em todas as questões relacionadas aos objetivos do desenvolvimento sustentável que foram definidos pela ONU. Precisamos discutir cada vez mais como levar nosso dia a dia de forma mais sustentável, caminhando no sentido de energias renováveis.”

Nós já somos hoje metade da força de trabalho na UFRJ. Não há porque não caminharmos no sentido da igualdade de gênero. Entramos, na reitoria, com uma equipe que busca não só a igualdade de gênero, mas também a diversidade étnica. Um caminho longe de misoginia de machismo, de fobias, sejam elas quais forem. Que o preconceito não faça parte do dia a dia, porque estamos aqui para ajudar uns aos outros independentemente da etnia, da cor, do gênero, da orientação sexual”.

WEB joanaJoana de Angelis
Coordenadora do Sintufrj
"O governo Bolsonaro ataca a soberania nacional, a democracia, os direitos sociais, o meio ambiente e os serviços públicos. Essa conjuntura demanda dos sindicalistas e dos movimentos sociais uma organização para reverter tudo isso. Uma das questões prioritárias para o Sintufrj é a retomada da discussão de carreira. Ela vai permitir que possamos reagir e enfrentar a proposta de reforma administrativa que mira o serviço público, em especial as universidades públicas."

Nós do Sintufrj estamos desde o ano passado organizando um núcleo de mulheres da UFRJ. É muito importante ter as mulheres organizadas dentro de uma universidade que precisou de 100 anos para eleger uma reitora mulher.
Também é importante nos aliarmos aos movimentos externos da universidade, como a Marcha Mundial das Mulheres, e demais movimentos que dão força e significado à nossa atuação.
“O oito de março de 2020 será uma data de luta fundamental, na conjuntura de um governo que persegue mulheres”.

WEB juliaJulia Vilhena
Diretora do DCE
"Um dos nossos desafios para o ano é a defesa do caráter autônomo da universidade. Bolsonaro editou recentemente uma Medida Provisória que retira a autonomia do corpo estudantil e da comunidade acadêmica como um todo. 

E não esquecer de tocar também em lutas que dizem respeito a qual universidade a gente quer. Uma universidade democrática, sem opressões com mulheres, negros e LGBTs, que não tenha fraude nas cotas, mas que também não seja fechada pelo governo Bolsonaro.

Hoje, temos uma liderança feminina nas entidades da universidade e isso é fruto de muita luta que tocamos aqui dentro. Não é novidade para o movimento estudantil como o machismo está permeado inclusive nos espaços de criação da política.
A gente não tem democracia de fato em um espaço em que as mulheres não consigam se construir enquanto produtoras de ciência, de conhecimento, enquanto estudantes, trabalhadoras e enquanto líderes de suas entidades políticas”.

WEB kemilyKemily Toledo
Coordenadora da APG
"A pós-graduação nunca antes foi tão atacada. Além dos cortes no número de bolsas, é muito grave retirar a autonomia das universidades e programas na distribuição dessas bolsas. É importante ressaltar que as bolsas de mestrado e doutorado não são reajustadas desde 2013.

Para além da conjuntura nacional, o desafio de 2020 está em conseguir organizar os estudantes, para que eles possam também se engajar nas nossas atividades. O principal compromisso assumido pela nova gestão, durante a campanha eleitoral, é investir na saúde mental dos alunos.

Tanto a Ciência quanto a Universidade foram espaços pensados por homens e para homens. Até hoje, a sociedade patriarcal ainda revela seus obstáculos para as mulheres. O assédio moral e/ou sexual ainda é uma realidade constante. Para além de incentivar as meninas na Ciência, não podemos nos calar frente às violências que ainda sofremos todos os dias na Academia. Juntas somos mais fortes!"

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