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WEB menorDELEGAÇÃOParte da delegação da AdUFRJ no Congresso - Foto: Silvana Sá

 

 

Silvana Sá
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Quase 700 professores, de 86 seções sindicais, participaram do 39º Congresso do Andes. O encontro, em São Paulo, foi o maior dos 39 anos de história do sindicato. Uma das principais deliberações foi a aprovação quase unânime de um indicativo de greve docente para março. A data exata, a pauta e o formato serão definidas por assembleias em cada universidade.  Outra decisão que elevou a temperatura do congresso foi a filiação do Andes à Conlutas. Por 255 a 142 votos, foi aprovada a permanência na central sindical.  A Conlutas é dirigida pelo PSTU, tem poucas entidades filiadas e defendeu o impeachment de Dilma Rousseff,  a prisão do ex-presidente Lula e o “fora, Maduro”, na Venezuela. O encontrou marcou, ainda, o início do período eleitoral do Andes. Duas chapas concorrem à direção nacional do sindicato, uma da situação e outra da oposição. A eleição será em maio.

 

GREVE E CONLUTAS

Os cinco dias de congresso resultaram em duas importantes decisões: a greve docente partir de março e a permanência na CSP-Conlutas, central sindical a que o Andes está filiado desde 2010, após anos fora da CUT.

Sobre a greve, os professores decidiram criar uma grande onda, unindo docentes federais, estaduais e WEB menorDECISÃOmunicipais. O congresso, no entanto, não definiu uma pauta de revindicações, o que gerou desconforto entre professores que não são alinhados com a atual diretoria do Andes.

“Eu me sinto despreparada para discutir greve. Parece que basta encontrar a palavra certa que conseguiremos iniciar uma greve. Este deveria ser um esforço de organização da base”, criticou a professora Maria Carlotto, docente da Universidade Federal do ABC.

“Era preciso saber como cada seção sindical está discutindo este tema, quais os avanços, quais as dificuldades. E isto não está acontecendo”, continuou a docente. Ela criticou, ainda, a ausência de análises sobre o desmonte da ciência e tecnologia brasileiras. “Nem parece que estamos num sindicato de professores universitários”.

A proposta aprovada prevê um calendário de assembleias nas universidades, que devem ser realizadas até o dia 13 de março. Nelas, os professores irão decidir se aprovam ou não a greve, e como ela se dará. Depois, nos dias 14 e 15, representantes de cada seção sindical se reúnem em Brasília para debater os resultados.

Rodrigo Dantas, da UniRio, ponderou que a greve deve ser de ocupação e não de esvaziamento, como em períodos passados. “É a primeira vez que estamos diante de um governo que tem por objetivo destruir as universidades brasileiras. Se esvaziarmos as universidades, nós antecipamos o trabalho deles, porque vão fechar as instituições e cortar nossos pontos”.

O caminho, de acordo com ele, é criar atividades permanentes em todos os campi. “A greve deve ter como objetivo garantir a nossa existência. Precisa ter festas, debates, cinema e que a partir de toda essa movimentação, a gente consiga sensibilizar a sociedade”.

CSP-Conlutas
Outro debate que mobilizou corações e mentes no Congresso foi sobre a saída do Andes da CSP-Conlutas. A central sindical é dirigida majoritariamente pelo PSTU. Na avaliação de muitos participantes, a central tomou um rumo político equivocado, sem capacidade de articulação suprapartidária, que gerou desgaste e enfraquecimento dos sindicatos filiados.

Em seu último congresso, por exemplo, a direção aprovou uma resolução negando o golpe de 2016. Negou, ainda, que o ex-presidente Lula seria preso políticp. No mesmo congresso, engrossou o coro “fora, Maduro” e, na avaliação de muitos docentes, lavou as mãos para a crise que desrói a Venezuela.

Os professores decidiram que o Andes organizará um Conad extraordinário para debater a permanência ou não na central. O encontro deve acontecer no segundo semestre.

Marinalva Oliveira, professora da Faculdade de Educação da UFRJ, aprovou a decisão. “É preciso fazer a avaliação com responsabilidade, levando em conta a história da central. Houve equívocos, sim, mas nenhum em relação aos trabalhadores que ela defende”.

Na avaliação de Felipe Rosa, diretor da AdUFRJ, os temas tiveram discussão “desconexa da realidade”. “Argumentavam que a CSP é de base, mas se 2% ou 3% dos professores já tiverem ouvido falar na central, é muito”, critica.

Em relação à greve, o docente teme a possilidade de um movimento isolado. “Sem apoio popular, com um governo autoritário, pode ser um erro muito grave”. O formato “engessado” do congresso, para o docente, torna as discussões “estéreis”.

 

Discurso da presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, em plenário do Congresso

"Nesse congresso estou bastante assustada com o grau de ossificação, de burocratização, com a dificuldade de fazer a discussão política mais significativa e mais importante pra gente (muitos aplausos). Eu gostaria, realmente gostaria de acreditar que estivéssemos num movimento pré- insurrecional, que a gente estivesse à beira do processo revolucionário, do fim do capitalismo, de WEB menorELEONORAderrota da burguesia em escala planetária. Lutei por isso a minha vida inteira, mas a gente está num país em que o presidente foi eleito segurando o livro de um torturador, homenageando um torturador da ditadura.

E ele conseguiu os milhões de votos que precisava. A gente tem um problema de hegemonia nessa sociedade que é muito diferente do que a gente viveu até hoje. Eu digo até hoje porque sequer no regime militar com toda a violência proto-fascista a gente não enfrentou um embate ideológico no grau que estamos enfrentando hoje, com resquícios de democracia que ianda temos e com o tamanho da derrota que está se anunciando para as forças de esquerda nesse país. Se a gente não entender a gravidade dessa hegemonia, o quanto ela é diversa de tudo que nós experimentamos - a primeira vez que eu fui num congresso nacional pra discutir movimento, luta, foi em 1979 para reconstruir a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - e se a gente não entender que estamos vivendo um momento completamente diferente de tudo que nós acumulamos na luta contra a ditadura, do que nós construímos em 88 com a Constituinte e do que nós construimos no governo do PT, a gente não vai dar um passo.

Eu acho que a discussão sobre a CSP, sair ou não sair, é o maior sintoma da fragilidade desse sindicato, que, com essa conjuntura, com esse quadro, está aqui discutindo numa disputa entre grupos políticos, se sai ou se não sai de uma central que, vocês me desculpem, mas com toda franqueza, não significa nada para a maioria dos professores das universidades brasileiras. É isso que a gente tem que entender. Sindicato forte é sindicato que responde pela sua categoria, pelos 300 mil, porque quando o Andes fala tem que falar pelos 300 mil e não por uma vanguarda revolucionária da classe operária. O que nos faz forte é sermos a voz de 300 mil, mesmo que a voz dos 300 mil não seja a minha, mas seja aquela que se consiga construir, com a unidade, as liberdades democráticas.

Para que esse louco não nos leve de novo pros porões, pros choques elétricos, pra cadeiras do dragão. É isso que está em jogo – democracia – e que o Andes consiga construir seu papel histórico, sem estar numa central sindical, mas sim que construa uma grande frente para isso!"

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