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Na mesma semana em que o ministro da Saúde afirmou que “é invencionice” esperar que todos os professores estejam vacinados para retornar às aulas presenciais, os docentes, estudantes e técnicos da UFRJ mostraram que não inventam atalhos à Ciência e que respeitam a vida. O primeiro semestre acadêmico de 2021 começou de forma remota. Já há, no entanto, um pequeno ensaio para a retomada de algumas disciplinas práticas, obedecendo rigorosos protocolos de segurança sanitária. Por enquanto, com bastante parcimônia: apenas 13 disciplinas da Faculdade de Medicina, Faculdade de Odontologia e Instituto de Química. Há 7.810 disciplinas com carga horária prática nos 172 cursos presenciais da universidade.
WhatsApp Image 2021 07 22 at 17.32.37Divulgação/Odontologia“Precisamos trabalhar em conjunto com todos os segmentos, com o olhar vigilante o tempo todo. O desafio é diário”, afirma a professora Márcia Grillo, diretora da Odontologia. A unidade obteve autorização do Conselho de Ensino de Graduação (CEG) para formar 17 alunos, no semestre letivo passado.
Eles estavam entre os 40 estudantes que participavam do estágio em clínica odontológica na própria faculdade, no semestre retrasado. Todos foram testados antes e tomaram a primeira dose da vacina para a covid-19 em janeiro de 2021, na UFRJ. Uma parte se formou em março, mas esses 17 estavam devendo duas disciplinas teórico-práticas. Após aprovação do CEG, os remanescentes concluíram o curso em 2020.2.
A diretora explica que não foi registrado nenhum caso grave de infecção nesse retorno. Quem aparece com sintomas de covid-19 é imediatamente afastado e encaminhado para testagem no Centro de Triagem Diagnóstica (CTD) da UFRJ, no CCS. “A biossegurança é muito rígida na Odontologia”.
É esta segurança que alimenta novas empreitadas. Para 2021.1, foi solicitado retorno presencial para outras disciplinas teórico-práticas do sétimo, sexto, quinto e quarto períodos, no formato híbrido. A solicitação ainda está em fase de apreciação, no CEG.
Márcia observou muita ansiedade entre os alunos que retomaram às atividades práticas, mas também viu uma satisfação muito grande da comunidade nos últimos meses. “Como diretora, a emoção maior foi quando, em março, formamos a primeira turma depois do início da pandemia. Uma formatura online, evidentemente. Finalizar essa missão foi muito importante para os docentes”, disse.

MEDICINA AMPLIA RETORNO
WhatsApp Image 2021 07 22 at 17.34.40Nayara Cavalcante/Acervo pessoalNa Faculdade de Medicina, o retorno presencial é um pouco mais robusto. Os estudantes do internato, ou estágio obrigatório de final de curso nas unidades de saúde, que já haviam voltado às atividades presenciais no ano passado, ganharam agora a companhia dos colegas do sexto e do sétimo períodos. A direção da faculdade não retornou os diversos contatos da reportagem do Jornal da AdUFRJ para avaliar a situação do curso.
Depois de uma experiência voluntária ainda no período anterior, passou a ser cobrada a presença dos alunos desde 21 de junho — o calendário do curso é mais extenso. A pró-reitoria de Graduação informou que são nove disciplinas em andamento. Em média, com 93 alunos inscritos em cada uma.
A professora Márcia Garnica, coordenadora do módulo de Clínica Médica do sétimo período, explica o planejamento para comportar as aulas práticas do curso no hospital universitário, com o mínimo de pessoas em cada ambiente. Novos ambulatórios foram abertos para a área acadêmica e uma parte dos alunos está sendo deslocada para unidades de saúde fora do HU, na parte de medicina de família. “Com isso, conseguimos manter a mesma carga horária de prática que a gente tinha antes”, comemora Márcia. A parte teórica continua sendo oferecida em meio remoto.
Os alunos já foram vacinados com a primeira dose no centro de testagem da universidade, no CCS. E, assim como na Odontologia, quem apresenta algum sintoma respiratório é afastado e encaminhado para a testagem. Márcia não tem registro de casos graves até agora.
Também da Medicina, a professora Lucila Perrotta enfatiza que a retomada é um processo recheado de dúvidas. Mesmo para situações que seriam simples antes da pandemia. “Às vezes, você não reconhece quem foi seu aluno no período passado”, diz, em referência às aulas remotas. Mas também existe o outro lado da moeda. Recentemente, três estudantes foram ao encontro dela no hospital. “Elas falaram: ‘professora, a gente veio te conhecer pessoalmente’. É o reconhecimento do seu trabalho”, orgulha-se.
Após quase um ano e meio em aulas online, o estudante Gabriel Romão, do sétimo período, também destacou a retomada do contato com os pacientes. Ele e os colegas estavam preocupados com uma eventual falta de prática, antes de chegarem ao internato. “Foi legal voltar. A gente só estava vendo caso clínico que um professor apresentava, mas a gente não participava realmente”.

QUÍMICA COMEÇA A VOLTAR
WhatsApp Image 2021 07 24 at 10.27.28Divulgação/Direção do IQ“Começar pequenininho, muito controlado e a partir daí ampliar”. Segundo o diretor do Instituto de Química, professor Cláudio Mota, essa foi a ideia que norteou a retomada de duas disciplinas práticas presenciais dos cursos da unidade, no dia do fechamento desta edição. A experiência servirá de base para a volta de mais aulas, no próximo semestre letivo.
Por enquanto, serão apenas quatro alunos, quatro professores — em revezamento — e um técnico utilizando as instalações de três laboratórios, que foram classificados como de baixo risco para contágio por Covid. Seis terceirizados da limpeza darão apoio às atividades. E todos foram testados na manhã antes da aula. “O laboratório do meio vai funcionar como apoio e ponto de saída”, explica o diretor. Todo o trajeto até as salas e para os banheiros já foi sinalizado, com avisos e indicativos de distanciamento entre as pessoas. “A decania do Centro de Tecnologia (onde fica o IQ) está nos dando todo o apoio”, diz Cláudio. “Importante ser frisado que não foi imposto nada. Temos uma comissão interna de planejamento. Isso tudo foi muito discutido nessa comissão”.
O DCE Mário Prata está atento ao retorno gradual das aulas. “Havendo vacinação, a retomada do bilhete único universitário e condições sanitárias, vamos retornar aos poucos e com segurança”, diz a diretora estudantil Antônia Velloso.

“CALOUROS” JÁ TIVERAM AULAS ONLINE NO ENSINO MÉDIO

Enquanto uma pequena parte dos alunos começa a participar de aulas da graduação nos campi, a maioria voltou a encarar apenas as telinhas de computador e de celular. Uma dura realidade que muitos dos atuais “calouros” já conheceram no ensino médio.
Igor Marques de Carvalho, 18 anos, passou para o curso de História. O último ano em um colégio particular de Cabo Frio transcorreu praticamente todo em meio remoto. As aulas presenciais pararam pouco depois do carnaval. Agora na universidade e morando na Tijuca, o estudante iniciou o ensino online na semana passada, “É uma frustração muito grande. A situação poderia ser evitada”, afirma, em referência aos desmandos do governo federal.
No Rio, a população com 18 anos ou mais deve ser imunizada até 18 de novembro. Mas o jovem, que demonstra estar consciente das dificuldades orçamentárias da UFRJ, está cauteloso quanto a um retorno presencial ainda em 2021. “Tem a questão das verbas também, que estão congeladas. Sem elas, não teria como”, diz Igor, que pretende ingressar na área de pesquisa da universidade.
Giovanna da Silva Araújo, também de 18 anos, passou para a Fonoaudiologia, após cursar um pré-universitário em meio virtual desde março de 2020. Hoje morando em Belford Roxo, a estudante só conhece o Fundão de uma excursão escolar realizada no ano retrasado. “A gente perdeu aquela parte inicial, mais empolgante, do trote”, lamenta.
Mas nem tudo se perdeu desta primeira vivência universitária. Giovanna conta que os veteranos organizaram um trote virtual em que os “calouros” eram orientados a se pintar e postar a foto no Instagram.
A jovem está gostando do ensino online até o momento. “Mas estou achando bem ‘puxado’”, brinca. E sonha com o dia em que poderá ter aulas presenciais e fazer um estágio no hospital universitário. “Ontem, tivemos Anatomia online. Quem é da área de saúde quer ir ao laboratório, vestir o jaleco, mexer nas peças”, conclui.

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