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WEBABREABROLHOSFoto: Rede AbrolhosO derramamento de petróleo cru no litoral do nordeste brasileiro pode se transformar numa tragédia mundial. Na rota do óleo está o Banco dos Abrolhos. A região concentra a maior biodiversidade do Atlântico Sul, com mais de 1.300 espécies de fauna e flora registradas e 8.850 km2 de recifes de corais. As estimativas anteriores a 2013 davam conta de apenas 500 km2. Foi o trabalho do Laboratório de Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade, da UFRJ, quem atualizou o alcance dos corais. O laboratório estuda a região e tem assento no Conselho do Parque Nacional de Abrolhos para propor políticas de preservação, mitigação e restauração da área.
“Se o óleo atingir os corais, eles morrem”, sentencia o professor e pesquisador da UFRJ, Rodrigo Moura. O biólogo é coordenador do laboratório e explica que a morte destas espécies teria grave impacto no clima. “Os corais removem e imobilizam o carbono do ambiente. Quando eles morrem, devolvem tudo para o meio”, diz. “Estamos falando de gigatoneladas de carbono. As colunas de Abrolhos têm oito mil anos e são fundamentais para o equilíbrio climático do planeta”.
A velocidade do deslocamento do óleo impressiona. Na segunda-feira, 28, cerca de 300 km separavam a região mais recentemente atingida (Ilhéus) de Abrolhos. No dia seguinte, esta distância caiu para 150 km, com o material chegando à reserva extrativista de Canavieiras.
A ameaça que chega do norte se soma a outra, também recente: o rompimento da barragem de Mariana levou lama até a foz do Rio Doce, que fica no limite sul do Banco dos Abrolhos. “A lama não chegou até os corais, mas temos evidências de que os contaminantes dispersos na água chegaram”, afirma Moura.
As mudanças climáticas também preocupam os pesquisadores. Ano após ano, os oceanos batem recordes em aquecimento de suas águas. “Isto gera reações nos corais”, descreve o pesquisador. A reação a que Moura se refere é conhecida como “branqueamento” e acontece quando as microalgas presentes no interior dos corais são expulsas ou morrem. São elas que dão o colorido característico das espécies e são responsáveis por manter os organismos vivos. “As microalgas contribuem de maneira importante para a alimentação dos corais. Se eles não conseguem recuperá-las, acabam mortos”, completa a pós-doutoranda do laboratório, Pamela Solano.
Pamela é a estatística do grupo. “Meu trabalho é transformar em números as hipóteses levantadas no campo”, explica.“Nosso laboratório é multidisciplinar. Aqui temos geógrafos, biólogos, estatísticos. É um diferencial”, orgulha-se o coordenador.
Rodrigo Moura alerta que a tragédia no nordeste também é humanitária. Somente na região em torno de Abrolhos, 25 mil famílias dependem da pesca, do extrativismo e do turismo. “O desastre também coloca em xeque a segurança alimentar no país, já que 20% de toda a proteína consumida no Brasil é de pescado”, afirma.
Alan Machado, liderança de Caravelas, cidade costeira mais próxima a Abrolhos, reforça a preocupação do professor. “A pesca do camarão está proibida até 31 de dezembro. O impacto socioeconômico é muito grande, mas o risco de contaminação é ainda maior”, conta. Ele reclama que as comunidades pesqueiras não estão tendo apoio do governo federal. “Não temos respaldo nenhum, não temos respostas, não temos apoio. Falta política pública voltada à pesca artesanal”, lamenta o pescador.
Em todo o Brasil, em torno de um milhão de pessoas fazem parte da cadeia produtiva do pescado. Mais ao norte, outra liderança tradicional dá a dimensão do drama dessas famílias. “Ninguém compra nossos produtos. Dizem que está tudo contaminado. Mas a gente tem que ir para a água pescar pelo menos o que vamos comer, já que não temos dinheiro”, afirma Joana Mousinho, presidente da colônia de pescadores de Itapissuma, Pernambuco.
O óleo, que chegou a Itamaracá, está a apenas 9km do município.“Os turistas já sumiram, ninguém quer adoecer”.

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