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WhatsApp Image 2021 04 02 at 08.45.592A comunidade acadêmica está exaurida. Após dois semestres de aulas remotas em meio à mais grave crise sanitária da história brasileira, professores, alunos e técnicos se desdobram para cumprir suas tarefas. A rotina imposta pelo acelerado calendário aprovado ano passado pelo Conselho de Ensino de Graduação mostrou a necessidade de mudar a programação. Após intensa mobilização da AdUFRJ, o CEG discutiu e, na última quarta-feira, 7, aprovou mudanças no calendário.
O recesso entre 2020 e 2021 passou para quatro semanas: começará em 13 de junho e vai até 11 de julho. A revisão do recesso vem sendo defendida pela AdUFRJ desde a aprovação do calendário original, em outubro.
Nas últimas semanas, os docentes intensificaram as solicitações e as análises de que um intervalo maior entre os semestres seria fundamental para organizar todos os atropelos que os três períodos consecutivos geraram, além de amenizar o desgaste físico e mental do corpo social da universidade. As discussões basearam uma nota publicada pela diretoria do sindicato na semana passada.
Outra decisão tomada pelo CEG no dia 7 foi a definição do calendário de 2021. O colegiado aprovou por ampla maioria que os semestres terão duração de 15 semanas. Mas foi apertada a escolha pelo período de recesso. Por dez votos a favor, nove contra e três abstenções foi aprovado o recesso de 21 dias. O calendário conjunto da Faculdade de Medicina do Rio e do curso de Medicina de Macaé também foi aprovado, com outras datas (veja no quadro acima). No início da reunião, o vice-presidente da AdUFRJ, professor Felipe Rosa, sugeriu a dilatação dos prazos. “A AdUFRJ defende um ajuste no calendário, de pelo menos uma semana, entre os recessos subsequentes. Isso não atrasará muito o calendário e fará com que a universidade funcione melhor”, afirmou.
Felipe Rosa relembrou o contexto em que o as datas foram aprovadas. “A gente estava deixando de cumprir nossa função com a sociedade. Aprovar este calendário foi uma vitória para nossa universidade”, defendeu. “Mas aquele momento passou. Na prática, os períodos e recessos muito curtos fizeram com que a própria burocracia eletrônica da UFRJ não conseguisse acompanhar [as demandas], fazendo com que semestres se sobrepusessem, o que causou muito desgaste”, avaliou.
WhatsApp Image 2021 04 10 at 12.38.133A conselheira Damires França, representante dos técnicos-administrativos, falou em nome dos profissionais que atuam em coordenações e secretarias acadêmicas. Para ela, os trabalhadores desses setores estão “em estafa física e mental”. “Estamos muito cansados, não só com os trabalhos que surgem das demandas de final de semestre e de início de semestre, mas também porque estamos acumulando funções de muitos servidores que não têm condições técnicas de trabalho”, relatou.
Representando a comissão organizadora de um abaixo-assinado, o professor Cláudio Ribeiro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, informou que o documento — que ainda não foi entregue ao CEG — contava com 600 assinaturas e reivindicava 30 dias de férias ao final de 2020.2. “Quando as aulas presenciais estavam suspensas, nós estávamos em processo de adaptação às aulas remotas, realizando atividades burocráticas, experimentando ferramentas e tentando entender e combater a pandemia. Iniciamos o ensino remoto da graduação num cenário de extremo cansaço”, afirmou.
Antônia Velloso, representante estudantil, explicou que o corpo discente era a favor da proposta apresentada pela administração central (períodos de 15 semanas com férias de 30 dias para o ano de 2021). Mas alertou que o calendário da reitoria tornava a transição entre 2020 e 2021 inviável. “Vemos como um problema o recesso entre 2020.2 e 2021.1 permanecer com duas semanas. Gostaria de frisar a importância de um período de descanso e também de organização do trabalho dos professores e dos técnicos-administrativos”.
O professor Daniel de Augustinis, representante de Macaé, também se posicionou contra a manutenção do recesso de apenas duas semanas em junho. “Nossos prazos estão muito apertados, notas estão atrasando e isso nos prejudica também, porque a gente fala que o aluno não tem aquele pré-requisito, o aluno diz que fez a matéria, mas o professor não lançou a nota. Isso vai parar na Comissão de Orientação e Acompanhamento Acadêmico, é preciso buscar o contato, pedir para lançar a nota, mandamos e-mail...”, relatou. “Além de todo mundo estar exausto, o trabalho de orientação acadêmica fica muito prejudicado”.
A pró-reitora de Graduação, professora Gisele Pires, chegou a sugerir que o recesso de junho deste ano fosse assunto para a próxima sessão do colegiado, mas os conselheiros acabaram aprovando a extensão do intervalo.

O CALENDÁRIO NAS OUTRAS UNIVERSIDADES

Dados do Ministério da Educação indicam que 63 das 69 instituições federais de ensino superior aprovaram aulas totalmente remotas para a graduação.
O levantamento foi realizado por Victor Trindade, conselheiro discente que apresentou o estudo na última reunião do CEG. Victor pesquisou a reorganização do calendário acadêmico em 30 delas e descobriu que os períodos variaram, majoritariamente, entre 14 e 16 semanas letivas. O levantamento demonstrou que a UFRJ não está atrasada, comparada às outras federais pesquisadas. A maioria das universidades iniciou os períodos remotos entre agosto e outubro do ano passado. Apenas três universidades (UFRJ, UFF e UFPE) optaram por realizar um período letivo excepcional somado aos períodos regulares.
Das 30 instituições analisadas, 14 começaram 2020.2 antes da UFRJ, mas só as federais de Minas Gerais, Santa Maria e Mato Grosso do Sul conseguiram iniciar 2020.2 ainda no ano passado. UFMS e UFSM são as únicas que já iniciaram o ano letivo de 2021. Enquanto isso, 11 instituições iniciaram 2020.1 neste ano.
Os estudantes também apresentaram ao CEG levantamento realizado desde o dia 26 de março pelo DCE sobre a avaliação do ensino remoto na UFRJ – 400 alunos responderam o questionário até o momento e o formulário ainda está aberto ao preenchimento. Os dados são significativos - 69,9% observaram um aumento relevante da quantidade de avaliações aplicadas pelos professores durante o ensino remoto. O excesso de conteúdo foi apontado por 74,2% dos alunos como motivo do trancamento de disciplinas.
“A gente vê que muitos professores não repensaram seus conteúdos para adequar ao período remoto, mas continuaram com seus conteúdos programáticos dentro de um período mais curto, o que gerou sobrecarga”, avaliou a estudante Antônia Velloso, do DCE e representante estudantil no CEG.
Outros retornos também acenderam o alerta sobre a duração dos períodos remotos. Professores precisaram marcar atividades fora do período acadêmico para 41,6% dos estudantes. Além disso, 37,9% dos alunos confirmaram que alguns de seus professores realizaram aulas síncronas fora dos horários estabelecidos para a disciplina. “Por ter um calendário pequeno, os professores optaram por passar provas durante as férias. Eu sei que boa parte fez isso em acordo com as turmas, mas se eles precisaram fazer isso, é porque o calendário não é suficiente”, afirmou Antônia.

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