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WhatsApp Image 2021 04 10 at 12.38.12Diretoria da AdUFRJ

Não bastasse estarmos batendo recordes sucessivos de óbitos nesses últimos dias, a Câmara dos Deputados chancelou nesta semana um projeto de lei digno dos nossos piores estereótipos. Se aprovado no Senado, o PL 948 permitirá oficialmente a compra de vacinas por agentes particulares, no melhor estilo “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Para adicionar insulto à injúria, tais agentes não precisam seguir o Plano Nacional de Imunizações (PNI) nem passar pelo crivo da Anvisa, “privilégio” que nem estados e municípios possuem. E o mais triste de tudo isso é que tal descalabro está acontecendo justamente no Brasil, que já foi vitrine e exemplo de vacinação para o mundo. Hoje estamos rumando para um desavergonhado feudalismo de ampolas, e salve-se quem puder.
É claro que tal ação não acontece no vácuo: a campanha de vacinação, se já ultrapassou o passo de cágado, ainda está longe do voo de cruzeiro. Somos o 5º país no ranking mundial de distribuição de vacinas, em números absolutos, com aproximadamente 20 milhões de doses administradas. Mas, a uma média de 500 mil doses por dia, vai levar mais de um ano para chegarmos à imunidade de rebanho. Somem-se a isso os prognósticos catastróficos de centenas de milhares de mortes nos próximos meses, e temos um caldo para que os piores instintos se manifestem.
Nós já vimos o que acontece quando tais instintos engolfam a sociedade e ditam a política, basta nos lembrarmos dos exemplos recentes dos Bálcãs ou de Ruanda. Numa sociedade saudável há freios e contrapesos que enterram esses ímpetos egoístas. Mas, infelizmente, o que estamos vendo no Brasil é uma degradação de qualquer noção de comunidade. O governo Bolsonaro está sendo desgraçadamente eficiente em uma das tarefas que se impôs, que é a de desacreditar totalmente o Estado e as soluções coletivas. Você quer educar seus filhos? Faça-o em casa (afinal, nas escolas e universidades só tem balbúrdia). Você quer segurança? Compre uma arma (aliás, compre seis logo de uma vez). E agora você quer vacina? Peça ao seu empregador um lugar em seu “camarote”. E se não tiver mais lugar... bom, “todo mundo vai morrer um dia”, não é mesmo?
E assim vamos, na contramão de todo o planeta. Se no mundo inteiro os países concentraram esforços em seus aparatos estatais, nós estamos pulverizando a demanda por uma commodity que já é rara. Como as nações fabricantes de vacinas ou de IFAs não são instituições de caridade, não é necessário ser um gênio para concluir que qualquer ampola na mão de algum banqueiro é uma dose a menos no SUS. Alguém poderia observar, nesse momento, que tudo isso talvez seja evitado pois as grandes empresas farmacêuticas poderiam se recusar a vender para particulares, por questões logísticas e éticas. De fato, há opiniões nesse sentido. De toda forma, passaríamos pela humilhação suprema de estar do lado errado numa negociação com ninguém menos que Big Pharma. Simplesmente desolador.

 Adendo: Tivemos, nesta semana, uma reunião do Conselho do Ensino de Graduação (CEG) para discutir o calendário deste e do próximo ano letivo. Conforme salientado pela AdUFRJ em diversas ocasiões, nosso calendário estava excessivamente corrido, com períodos e recessos demasiadamente curtos, inviabilizando uma transição suave entre semestres e causando grave estafa entre os docentes. Felizmente, os conselheiros e conselheiras do CEG, numa reunião profícua, reajustaram o calendário de modo a termos períodos letivos e recessos mais adequados, sem perder de vista o nosso compromisso com os calouros de 2021. Nós saudamos o CEG por promover esse reencontro da universidade.

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