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WhatsApp Image 2025 11 25 at 19.17.12Orgulhosos rostos pretos vão compor uma galeria permanente na UFRJ. No mês da Consciência Negra, em que se destaca a figura mítica de Zumbi dos Palmares, a exposição “Memórias Negras” pretende aquilombar trajetórias de docentes e técnicos negros que construíram e constroem a história da universidade. O projeto foi concebido pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). Com imagens de 55 professores e 24 técnicos, a exposição será lançada no próximo dia 27, às 17h, no auditório Professor Manoel Mauricio Albuquerque, na Praia Vermelha.

“O foco é tornar visíveis imagens de técnicos e docentes negros da UFRJ, num recorte do CFCH. Há um histórico de pessoas negras tanto na área técnica quanto na área docente, mas essas pessoas são invisibilizadas. Vamos juntar pessoas com muito tempo na universidade e pessoas jovens e recém-chegadas, como um jogo da memória”, explica o professor Vantuil Pereira, decano do CFCH e idealizador do projeto. A exposição permanente ficará no Espaço Jessie Jane Vieira de Souza, do CFCH, mas terá mostras itinerantes para o Colégio de Aplicação e para o IFCS/IH.WhatsApp Image 2025 11 25 at 19.17.13 4Erika Marins e Vantuil Pereira

Erika Fernanda Marins de Carvalho, assistente social e técnica-administrativa do Centro de Referência de Mulheres da Maré — projeto do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH) —, é uma das fotografadas para a exposição. “Esse projeto relembra e resgata minha trajetória na UFRJ. Fui aluna do Serviço Social e passei no concurso para ser servidora, realizando um sonho. As pessoas pretas são merecedoras de estarem nesses lugares. A universidade pública ainda tem um pensamento colonial, nós enfrentamos dificuldades de acesso ao ensino superior, e somos minoria no corpo social, como docentes e técnicos. Dar visibilidade ao nosso povo dentro da universidade é de extrema importância. O projeto faz isso: nós estamos aqui, nós construímos essa universidade”.

O decano Vantuil Pereira espera que o projeto incentive outras áreas da UFRJ a dar mais visibilidade aos servidores pretos: “O CFCH tem hoje, em termos proporcionais, o maior número de docentes negros da UFRJ. Salvo engano, o número total de autodeclarados negros na universidade está em torno de 400. O projeto traz isso à tona também. Essas imagens, juntas, produzem uma força. O projeto quer colocar em relevo essa força negra. Esperamos que essa exposição crie um impacto na instituição, que ela se replique por outros centros, que seja uma inspiração”.

 

ARTIGO | Paulo Baía, sociólogo, cientista político, ensaísta e professor aposentado da UFRJ

Como professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro, manifesto aqui minha sincera emoção, gratidão e compromisso com a história que vivi e continuo a viver ao lado de tantos companheiros e companheiras de jornada

WhatsApp Image 2025 11 25 at 19.17.13 3A presença de docentes pretos e pardos na UFRJ sempre foi minoritária. Essa minoria revela, de forma dolorosa e persistente, a força do racismo estrutural que, há séculos, exclui moradores de favelas, trabalhadores, suburbanos e habitantes das periferias do acesso pleno à educação. Essa exclusão começa no ensino fundamental, atravessa o ensino médio e, ainda hoje, marca profundamente o ensino superior.

Sou um homem de 74 anos. Tive o privilégio de realizar duas graduações, em Estatística e em Ciências Sociais. Iniciei a minha trajetória como professor da UFRJ em 1977 e me aposentei em 2018. Durante todo esse percurso, fui um corpo diferente entre meus colegas. Um corpo que destoava, mas que nunca deixou de encontrar respeito, parceria e boas amizades ao longo do caminho.

Por isso, quando o professor Vantuil, decano do CFCH, me convidou para participar da sessão de fotos de professores pretos e pardos da UFRJ, aceitei de imediato. Não apenas por mim, mas por todos que caminharam antes de mim e por todos os que ainda chegarão. A iniciativa é poderosa. Ela ilumina trajetórias que fizeram e fazem a UFRJ ser o que é. Trajetórias que contam a história da instituição a partir de corpos que tantas vezes foram silenciados, invisibilizados ou esquecidos.

Hoje, vejo uma universidade diferente. As políticas de ações afirmativas transformaram o cotidiano da UFRJ. A universidade está mais colorida, mais preta, mais mestiça. A presença dos jovens das favelas, das periferias e dos subúrbios começa a ocupar espaços que sempre lhes pertenceram. Os números ainda não refletem a proporção real da população brasileira revelada pelo Censo Demográfico de 2022 do IBGE, mas representam um avanço irreversível e profundamente simbólico.

Esta exposição é uma luta contra o apagamento. Um gesto de memória, justiça e reparação. É um chamado para que os próximos cem anos da UFRJ sejam construídos com mais igualdade, mais diversidade e mais coragem.

Agradeço, com enorme admiração, ao professor Vantuil, cuja dedicação incansável combate o racismo, enfrenta os racistas e afirma diariamente os direitos fundamentais do povo preto e pardo no Brasil e no Rio de Janeiro. Sua iniciativa não apenas acolhe. Ela devolve dignidade, orgulho e pertencimento.

Assino esta declaração com o coração cheio, honrado por fazer parte dessa história e esperançoso pelas histórias que ainda virão.

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