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A pandemia de COVID-19, juntamente com os ataques de 11 de setembro, é o acontecimento definidor do nosso século. O novo coronavírus jogou o mundo inteiro num turbilhão de dor e incerteza mas, desgraçadamente, no Brasil a doença ganhou contornos singulares. A ação deliberada do presidente da República de fazer pouco da crise sanitária e sistematicamente sabotar os esforços para combatê-la colocará brevemente o Brasil no epicentro da pandemia, elevando nossos mortos às dezenas de milhares. A tragédia está anunciada, e infelizmente a passagem pelo vale de lágrimas será longa e árdua.
É nesse contexto que está inserida a universidade pública brasileira. A doença se alastra num ritmo assustador, e muitas pessoas perderam sua principal fonte de renda. O SUS, potente quanto seja, caminha para o seu limite, e o confinamento já começa a cobrar o seu preço psicológico devastador. No meio de toda essa tormenta, a sociedade naturalmente olha para suas universidades e cobra (no bom e no mau sentido) algumas respostas. E, como servidores públicos, é nosso dever provê-las.
Desde logo, é imperativo afirmar que a autonomia universitária, tão importante para o nosso objetivo de expandir e provocar os saberes constituídos, não pode ser usada como desculpa para o imobilismo. O teletrabalho - seja nas suas modalidades de ensino a distância, de ensino remoto emergencial, de regime de escala etc - não é o inimigo. Os efeitos da pandemia podem ainda reverberar por anos, e a nossa principal função agora é justamente imaginar e viabilizar o funcionamento da universidade nessa nova realidade. Se há a possibilidade tecnológica de continuar algumas atividades remotamente (reuniões de grupo, seminários, congregações, etc), isso deve ser feito. Se o prosseguimento das aulas propriamente ditas é mais difícil, seja pela precariedade do acesso a internet de qualidade, seja pela falta de uma plataforma adequada, é então mister que encontremos alternativas. Se essas soluções se darão por uma mistura de atividades síncronas e assíncronas, ou por uma mescla de ações presenciais e remotas, ou por ideias ainda mais criativas, isso é algo que a comunidade universitária deve, democraticamente, construir. O que não pode acontecer, jamais, é o uso demagógico dos procedimentos democráticos para tergiversar e inviabilizar o debate.
A nossa tarefa está posta: imaginar e participar do Brasil durante e após a pandemia. Temos uma pujança intelectual enorme para fazê-lo, mas temos que transformar esse potencial gigante em ação. É nossa obrigação.
Diretoria da AdUFRJ
Você pode baixar vídeos da campanha e usar um datashow para projeta-los na sua vizinhança, como na foto, ou mesmo compartilhar em suas redes sociais. Acesse bit.ly/projecoes15m
Em 15 de maio celebraremos um ano das grandiosas manifestações do 15M de 2019, quando docentes, estudantes e técnico-administrativos das universidades foram às ruas se encontrar com alunos e professores do ensino médio, com pais e familiares, com toda a diversidade da nossa sociedade para dizer não aos ataques de Bolsonaro e Weintraub, o ministro da balbúrdia, o pior ministro da história. Para marcar a data, lançamos pelo Observatório do Conhecimento uma semana de mobilização desde o dia 11 de maio. Colocamos no ar um vídeo de denúncia contra os ataques do governo, outro mostrando um pouco do que a universidade vem fazendo para combater a pandemia e um terceiro mostrando os pesquisadores em ação; inundamos as redes sociais com depoimentos dos professores e estudantes relatando que #MinhaBalbúrdiaÉ ajudar a salvar vidas de algum modo; fizemos projeções pelo Rio de Janeiro defendendo o adiamento do ENEM e convocando para um tuitaço às 14h do dia 15 com a hashtag #EducaçãoPelaVida e um panelaço às 20h30, em defesa da Educação.
O interessante é que, por coincidência, na mesma data completaremos dois meses de suspensão das atividades presenciais e de quarentena produtiva na nossa UFRJ, iniciada em 16 de março. Vivemos nesse começo de 2020 alguns dos dias mais difíceis dos cem anos de história da nossa universidade. É muito doloroso ver o número de mortos pela Covid-19 crescer exponencialmente no Brasil como um todo e no Rio de Janeiro, em particular. Sofremos ainda mais por saber que muitas destas mortes eram evitáveis se tivéssemos uma democracia em funcionamento e não um governo da morte com Bolsonaro à frente da República. O presidente sabota todas as tentativas de mitigar o impacto do novo coronavírus. Pior, debocha sistematicamente de quem tenta fazer diferente.
Apesar disso tudo, foram dias de muita solidariedade e esperança. A UFRJ – e as universidades públicas e institutos de pesquisa do país – se lançaram no combate à pandemia sem hesitar um segundo. Toda a energia criativa e a capacidade de produção do conhecimento do nosso jovem e, apesar de tão atacado, forte sistema científico foram direcionadas para diminuir as dores da sociedade causadas por essa doença tão brutal.
Fizemos respiradores, álcool gel, testes rápidos; agimos para fortalecer os Hospitais Universitários com novas UTIs e apoiar ao Sistema Único de Saúde em sua integralidade; organizamos triagens e recebimento dos pacientes para adiar o colapso do SUS; elaboramos modelos matemáticos e estatísticos que subsidiam as autoridades para tomar decisões de isolamento social, quarentena, remanejamento de recursos etc.
Os esforços da comunidade científica contra a Covid-19 não ficaram restritos às áreas da saúde e tecnológica. Todas as Humanidades se mobilizaram imediatamente, organizando redes de solidariedade e acolhimento que envolvem a assistência social para os mais pobres; o enfrentamento dos problemas de urbanização das favelas e periferias; a criação de processos de escuta que recolhem os traumas psicológicos e as memórias familiares das pessoas mais vulneráveis afetadas pela pandemia; as demandas políticas; e a articulação de processos formativos e educativos para que toda a sociedade se apodere do conhecimento que salva vidas.
Nós, da AdUFRJ, nos alimentamos dessa energia desde o primeiro dia da suspensão de aulas e iniciamos um processo de mobilização política para fazer da nossa associação um pequeno elo dessa corrente de solidariedade e esperança: nos engajamos nas redes de doações para os setores mais vulneráveis fora e dentro da nossa comunidade; nos articulamos com SINTUFRJ, DCE e ATTUFRJ para articular uma ação solidária unitária e assim nasceu o FORMAS; convocamos o Conselho de Representantes semanalmente em março e abril para enraizar nossas decisões e ações com reuniões mobilizadas e enriquecidas pela presença dos dirigentes da universidade – estiveram conosco a reitoria Denise de Carvalho, o vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha, o pró-reitor Eduardo Raupp, a pró-reitora Ivana Bentes, a pró-reitora Luzia Araújo; e realizamos rodas de conversa virtuais sobre temas gerais nos encontros do “Tamo Junto”, sempre às sextas, e que viraram referência para fechar a semana com afeto e bate papo qualificado. Conversamos com a ex-presidente da entidade e atual coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, Tatiana Roque, sobre a Renda Universal; com a ex-vice-presidente da associação e sanitarista Ligia Bahia sobre o SUS e pandemia; com a ex-diretora da AdUFRJ e historiadora Maria Paula Araújo sobre como derrotar o fascismo, entre outras conversas que valem a pena. Em paralelo, mantivemos nossas articulações com outras associações docentes do Brasil no Observatório do Conhecimento. Primeiro com o tuitaço em 7 de abril, com o objetivo de pressionar Abraham Weintraub como o #PiorMinistrodaHistória (chegamos a ser o segundo assunto mais comentado do Brasil) e, agora, a campanha do 15M.
Junte-se a nós nessa mobilização! Na sexta, vá para as redes às 14h tuitar conosco que a Educação no Brasil se mobiliza pelas vidas contra o governo da morte de Bolsonaro! Às 20h30, vamos todas e todos às janelas fazer barulho contra o ministro e em defesa da universidade e do conhecimento.
JOSUÉ MEDEIROS
Professor do departamento de Ciência Política e diretor da AdUFRJ
Cortes. Ataques. Retrocesso. Há mais de um ano a educação sofre na mão do governo Bolsonaro. As universidades, em especial, foram eleitas como inimigas pelo presidente e pelo ministro da educação. Nem mesmo a pandemia fez o governo dar uma trégua para a educação e a ciência brasileiras.
Mas nós resistimos. Fazemos ciência. Produzimos conhecimento. Estamos trabalhando firme contra a Covid-19.
Na semana em que as grandes manifestações de 15 maio de 2019 completam um ano, manteremos o distanciamento social e estaremos nas redes apresentando a nossa produção e denunciando os ataques. Vem com a gente!
Se você está diretamente na luta contra a Covid-19, diz pra gente o que você tem feito. Faça um vídeo ou um post usando a hashtag #MinhaBalbúrdiaÉ
Assista ao vídeo da campanha:
E compartilhe o vídeo da campanha em suas redes: FACEBOOK e TWITTER.
AdUFRJ, APG, ATTUFRJ, DCE e Sintufrj lançaram a segunda edição do boletim unificado do FORMAS. O destaque é a manifestação virtual de 15 de maio, comemorando um ano da maior manifestação contra o governo Bolsonaro. Leia AQUI.
A UFRJ enviou na nesta sexta-feira, 8/5, um ofício ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), em que recomenda o lockdown, ou seja, isolamento total no estado face à pandemia da COVID-19. O documento é assinado pela Reitoria da UFRJ, que consultou seu Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da COVID-19, do qual participam dezenas de cientistas da maior universidade federal do país.
O MPRJ solicitou informações à UFRJ, na última quarta-feira (6/5), acerca de estudos para auxiliar gestores públicos na tomada de decisão quanto a medidas mais rígidas de isolamento social.
Para a Universidade, o lockdown deve-se somar a ações que deem condições básicas de manutenção da vida e da saúde, por meio da garantia de abastecimento em geral – mas em especial de gêneros alimentícios e medicamentos –, segurança, serviços essenciais de entrega em domicílio e autorização de circulação a partir de autodeclaração, em caso de extrema necessidade e com obrigatoriedade do uso de máscaras.
Para que o lockdown seja eficiente e eficaz, a UFRJ sugere que sejam observadas as seguintes ações, 11 ao todo:
1. definir critérios explícitos, mensuráveis, e inteligíveis sobre a evolução da epidemia e as condições que garantam o término e consequente saída programada do isolamento;
2. ampliar a comunicação social, disponibilizando oportunamente à população informação atualizada e clara sobre a evolução da epidemia;
3. promover a colaboração mútua entre lideranças comunitárias e serviços públicos atuantes na distribuição de produtos de higiene e de alimentos e na disseminação das informações relacionadas à necessidade e importância do isolamento social;
4. centralizar na esfera estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) a cadeia de comando dos sistemas de saúde público e privado, promovendo uma gestão coordenada entre unidades hospitalares, de urgência, ambulatoriais e de atenção primária à saúde;
5. garantir a concretude dos planos de aparelhamento e abertura de leitos hospitalares (inclusive das ações de provisionamento de recursos humanos e insumos estratégicos) para suprir as demandas assistenciais da população afetada pela COVID-19 em todos os níveis de complexidade;
6. assegurar maiores repasses do governo federal para ampliação de recursos para áreas prioritárias e compensar queda de arrecadação de forma a manter o pleno funcionamento dos serviços públicos estaduais;
7. garantir as condições básicas de sobrevivência dos cidadãos, com medidas de transferência de renda para população e acesso às condições mínimas de segurança alimentar e aos serviços de saúde, de forma a permitir o respeito às medidas de isolamento social;
8. garantir a continuidade da provisão de serviços de utilidade pública – como água, esgoto, gás, energia elétrica –, que estão sujeitos à inadimplência por descontinuidade dos fluxos de renda;
9. garantir o auxílio a empresas na forma de crédito para capital de giro a baixo custo;
10. garantir a infraestrutura de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), a fim de manter os serviços de internet em funcionamento tanto para os gestores estaduais e municipais quanto para a população em geral;
11. garantir a troca de informações de casos entre estados e municípios do estado de Rio de Janeiro de forma a constituir uma base única de consulta e inserção da informação.
Por que a recomendação de lockdown?
Entre as justificativas que embasaram o GT estão as experiências internacionais e as projeções modeladas nos grupos científicos da UFRJ que alertam que o aumento de casos de COVID-19 provocará colapso do sistema de saúde em curto espaço de tempo, e que o mês de maio será o mais crítico em relação à incidência da doença.
Além disso, análises preliminares realizadas por grupos de estudo da UFRJ sugerem que a redução da mobilidade urbana nos transportes públicos da região metropolitana do Rio sequer atingiu 50%, patamar considerado insuficiente para o controle da curva de crescimento da COVID-19. A baixa adesão às medidas de restrição da mobilidade, somada às aglomerações observadas em diversas localidades, tem se mostrado um obstáculo para a redução da transmissão da doença no Rio.
Paralelamente a isso, a taxa de crescimento da incidência de COVID-19 na cidade e no estado do Rio, na última semana (em especial desde 1/5), conforme apresentado no portal http://dadoscovid19.cos.ufrj.br, está acima das taxas médias observadas em todo o país.
(Fonte: UFRJ)