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WhatsApp Image 2020 09 14 at 08.25.10A Ciência como norte, a generosidade como meio. Assim foi a vida de Franklin David Rumjanek, professor do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), que faleceu no último dia 6, aos 75 anos, vítima de um câncer. Na véspera do aniversário do centenário da UFRJ, a comunidade acadêmica se despediu do professor emérito, que atuou incansavelmente na pesquisa e na formação de cientistas.
O professor fez parte da criação do curso de Biomedicina, em 1994. “Esse curso foi criado com um perfil muito diferente de todos os outros. A perspectiva era formar pesquisadores na área de ciência biomédica. Coisas muito avançadas para a época, e que claramente tinham um dedo do Franklin”, lembra o professor Pedro Lagerblad, diretor da AdUFRJ e colega de Franklin no Instituto por muitos anos. “Ele também delineou a proposta de transformar o Departamento de Bioquímica em Instituto, e foi o nosso primeiro diretor”, aponta.
Um dirigente que demonstrava um ímpeto de realização muito grande. “Na sua gestão, ele sempre se preocupou em não ficar no zero a zero. Ele queria inovar, criar coisas que não existiam”, diz Pedro. Segundo o diretor da AdUFRJ, a trajetória de Rumjanek abriu portas para muitos outros pesquisadores. “Ele foi pioneiro no estabelecimento de técnicas de biologia molecular”.
Entre suas contribuições para a UFRJ, está a criação do Laboratório Sonda, um dos primeiros no Brasil a realizar diagnósticos de DNA e exames de paternidade. “Aquilo gerou muito recurso, mas todo o dinheiro entrava para o laboratório. Nunca entrou um tostão pro Franklin, por mais que ele tivesse essa possibilidade”, afirma Lagerblad.
O atual diretor do IBqM, Fábio Almeida, ressalta a influência do professor sobre o IBqM. “O Franklin tinha esse olhar prático e generoso da Ciência, e ele colocou esse olhar no nascimento do Instituto. E até hoje a gente vê marcas disso”, conta.
Natural do Rio de Janeiro, o docente se formou em Ciências Biológicas Modalidade Médica pela UERJ, em 1969. E desbravou fronteiras durante sua pós-graduação, cursada na Europa entre 71 e 83. A filha Julia nasceu em Londres nesse período, e destaca o envolvimento constante do pai com leituras e o fascínio por viagens. “Ele sempre viajava muito, e por isso tinha essa fama de ‘professor que escalou o Everest’. Ele não chegou a escalar, mas foi até o acampamento base”, brinca Julia.
Após concluir uma especialização na Dinamarca e o doutorado na Inglaterra, o docente retornou para o Brasil e inicialmente se tornou professor da UFMG, de 1983 a 87, quando foi transferido para UFRJ. Ainda em Belo Horizonte, Franklin começou a contribuir com artigos para a revista Ciência Hoje, da qual foi editor até seu falecimento. Isso despertou nele um amor pela divulgação científica. “Ele amava a Ciência. E isso envolvia tudo. O que era feito, o que era descoberto, a maneira de pensar, e quem fazia”, afirma Vivian Rumjanek, ex-esposa e também colega de Instituto.
Apesar da extensa carreira acadêmica desenvolvida no exterior e no Brasil, Vivian observa que Franklin não se exibia por isso. “A biblioteca do Franklin de livros científicos, de cientistas, e o conhecimento que ele tinha disso tudo era incrível. Mas ele jamais se expunha. Ele era uma pessoa bem discreta, bem britânica no jeito de ser”.
A disposição e o interesse de Franklin por estudar os mais diversos assuntos fica registrada na memória de seus pares como um exemplo. “Ele tinha um conhecimento enciclopédico de ciências em geral. Ele tem um livro, por exemplo, em que fala com muita desenvoltura sobre aspectos de astrobiologia”, destaca Fábio Almeida.
Do mesmo modo, seu senso de humor era uma característica simultaneamente notável e singela. “O Franklin era muito irônico e sarcástico, mas sempre com uma fala mansa, com um tom de voz que não se alterava”, destaca Pedro Lagerblad. Fábio Almeida acredita que o docente fará muita falta. “Ele tinha uma generosidade enorme, e um senso de humor bastante refinado”, pontua.
Já nos anos finais de sua vida, Franklin Rumjanek resolveu mudar completamente. Com uma carreira consolidada internacionalmente na área de parasitologia, o professor decidiu estudar a biologia do câncer. “No final da carreira, onde as pessoas procuram se amarrar, ele se propôs a iniciar um estudo. E isso é uma característica do Franklin, muita vontade de conhecer”, diz Pedro
Grande entusiasta dos processos de aprendizado, Franklin buscava fomentar nos seus alunos a autonomia para resolução de problemas, e assim cativou gerações de discípulos na graduação. Um discurso de formatura para o professor em 2016, quando foi patrono de uma turma da Biomedicina, retrata bem o respeito que os estudantes tinham pelo mestre. “Aprender bioquímica com o senhor foi um privilégio, pois nos instigou com seus conhecimentos, seu jeito descontraído de dar aula, sempre cativando a atenção com pequenas piadas seguidas de grande sabedoria”.
A homenagem expõe também a admiração pela carreira do professor. “Esperamos que, com essas simples palavras, o senhor consiga mensurar a diferença que fez em nossas vidas. Para nós, ainda tão pequenos na ciência, olhar e participar da trajetória de alguém que é nossa referência, é, absolutamente, uma honra”, diz o discurso.
Filho de uma pianista americana, Franklin carregava na alma uma grande paixão pela cultura musical. “Ele amava música clássica, e tinha um amplo conhecimento disso. Sempre que podia, na casa dele havia música clássica tocando ao fundo”, observa Vivian. “Nessas últimas semanas de vida, a Helen, que é a esposa dele, deixava sempre ao fundo a BBC tocando concertos, e eu acho que isso foi muito bom pra ele”, finaliza.

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