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Silvana Sá
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A universidade realiza um criterioso trabalho de levantamento da infraestrutura dos locais destinados a atividades experimentais – laboratórios, salas, ateliês. Até o momento, 54,1% das unidades que têm aulas práticas estão com seus espaços já classificados segundo os critérios estabelecidos pelo Manual de Biossegurança da universidade. Os espaços são separados de acordo com o risco de transmissão da covid-19. A maior parte tem risco baixo (verde) e não necessita de equipamentos de proteção individual especiais, além da máscara comum, álcool em gel e distanciamento social. A atividade exercida, o tamanho do espaço e a ventilação natural são variantes importantes para determinar quantas pessoas poderão ocupar simultaneamente cada local.
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Outras 21,6% das unidades precisam adequar as respostas enviadas à Superintendência de Planejamento Institucional, vinculada à PR-3. São dados como: quantidade de salas, tamanho, número de equipamentos, tamanhos das bancadas, número de usuários (em condições normais), localização, existência de janelas, entre outras informações. Já 8,1% estão em análise pela equipe e 16,2% das unidades acadêmicas ainda não enviaram as informações. Até o momento, Caxias é o único campus que está totalmente classificado. E o CCMN o único centro com todas as unidades classificadas.

Com base nas informações passadas pelas unidades e pelas reuniões realizadas com as áreas de infraestrutura da UFRJ, o GT Pós-pandemia vai elaborar um plano para retorno das atividades presenciais práticas. O documento terá diretrizes gerais que deverão ser adequadas de acordo com a realidade de cada centro. “Cerca de sete mil estudantes têm atividades práticas em sua grade curricular. Mesmo com vacina, mesmo com R (fator de transmissão do vírus) menor que 1, não teremos como receber todos ao mesmo tempo. Será preciso um rodízio”, alerta a professora Fátima Bruno, coordenadora do GT e superintendente de Planejamento Institucional da PR-3.

A professora Fátima reitera que o objetivo de seu trabalho é planejar e deixar a universidade pronta para o retorno das atividades. “Nós fazemos o planejamento das ações, mas quem vai dizer os critérios para este retorno é a área epidemiológica”, afirma. Em paralelo à classificação dos ambientes, o GT articula ações para que, no momento do retorno, toda a infraestrutura para a comunidade acadêmica esteja pronta e dentro dos critérios de segurança para evitar a propagação da covid-19. “É um trabalho com muitas pontas, com muitos atores envolvidos. Precisamos garantir que o restaurante universitário possa funcionar atendendo às normas de segurança, que o transporte interno tenha toda a logística e rotina de higienização voltada para esta questão da pandemia”, explica a professora.

AUMENTO DE MORTES
A aceleração da pandemia no Brasil e a escalada vertiginosa do número de óbitos aumentam as incertezas sobre a retomada das aulas práticas, suspensas há um ano. E ainda não há como saber se haverá condições de testar a comunidade acadêmica. “Este é um momento de articulação, de levantamento dessas condições, de interlocução com as áreas. Não há decisões ainda estabelecidas, mas há um planejamento muito detalhado de todo o processo”, afirma Fátima.

Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina e coordenador do GT Coronavírus, vê os próximos dias com pessimismo. “Temos novas variantes circulando simultaneamente, governantes resistindo a tomar medidas de restrição, população agindo como se a pandemia não mais existisse… temos a tempestade perfeita”, lamenta o epidemiologista.

Nos próximos dias, segundo o especialista, o país pode ultrapassar a marca de duas mil mortes diárias. “A responsabilidade de tudo isso é do poder público. Saúde é um direito de todos e um dever do Estado, praticado por medidas que mitiguem a transmissão de doenças. É um preceito constitucional e a principal responsabilidade é do governo federal”, afirma.

Pela evolução da doença, Medronho não enxerga um cenário favorável ao retorno das atividades práticas na universidade. “O momento não é adequado. Eu sou favorável à volta, fui favorável ao pleito dos estudantes da Medicina na Congregação da Faculdade, desde que seja um retorno opcional”, conta. “Para alguns cursos, o retorno precisa ser visto com muito carinho. Esta pandemia será estudada por séculos e os futuros médicos precisam lidar com esta questão. Entretanto, neste momento de recrudescimento da doença, nós vamos ter que reavaliar esse cenário. É prudente esperar um pouco mais”, finaliza o professor.

ESTUDANTES DA FACULDADE DE MEDICINA QUEREM RETORNO

Ao mesmo tempo em que a crise sanitária se agrava no país, os estudantes de Medicina do Fundão pressionam a universidade para a volta das aulas práticas nos hospitais. O argumento é que o ensino está prejudicado sem a prática médica. Segundo nota divulgada pelo Centro Acadêmico do curso, aguardar a vacinação que só acontecerá entre o fim de 2021 e início de 2022 torna “inviável a manutenção do congelamento das aulas por tento tempo”.

O GT-Retorno Aulas Práticas, formado por alunos, e o CA elaboraram um formulário direcionado aos alunos do ciclo clínico (do quinto ao oitavo período) para saber a opinião sobre a volta às aulas. A esmagadora maioria, 78%, quer retornar às aulas práticas mesmo sem vacina. Outros 7,6% já foram vacinados e gostariam de voltar às aulas presenciais. Já 14,4% disseram que não voltariam, se pudessem optar.

“Queremos que este retorno seja planejado, a volta com rodízios, com garantia de equipamentos de proteção individual para todos os alunos”, elenca o estudante Guilherme Guerra, do CA da Medicina. “Nossa proposta é de que este retorno seja opcional, para aqueles que não se sentirem seguros possam ter um outro momento de reposição dos conteúdos, quando estiverem vacinados. Há muitos estudantes que moram com pessoas do grupo de risco”, reconhece Guilherme.

A insistência dos alunos tem uma razão. “O medo da maioria é passar pelo ciclo clínico sem a prática e chegar no internato sem saber lidar com o paciente, sem saber o básico”, diz Guilherme, que é do sexto período do curso. “Não seria prejuízo para os funcionários dos hospitais, porque eles já estão trabalhando e estão vacinados”, pondera. “Sabemos que este é o pior momento da pandemia. Não queremos o retorno agora, mas queremos que esse planejamento seja realizado juntamente com a reposição das práticas que já foram perdidas”.

Diante repercussão na imprensa, na semana passada, o grupo conversou com a direção da Faculdade de Medicina, e no próximo dia 9 vai se reunir com a Pró-reitoria de Graduação para discutir os cenários possíveis. Vice-decana do Centro de Ciências da Saúde, a professora Lina Zingalli se preocupa com o fato de a reivindicação surgir justamente numa alta de casos. “Fica mais difícil tomar uma decisão de retorno, mas estamos também preocupados com a formação dos estudantes”.

Superintendente geral de Graduação da PR-1, o professor Marcelo de Pádula considera a reivindicação justa. "Não somente a dos estudantes de medicina, mas de todo e qualquer estudante que teve seu projeto de vida interrompido pela pandemia", ele destaca. "Porém,  para que isso ocorra, temos que avaliar, institucionalmente,  um conjunto de variáveis complexas. A Pró-Reitoria de Graduação ou o Conselho de Ensino de Graduação não tomará qualquer decisão sem a participação dos Grupos de Trabalho diretamente envolvidos com a análise de dados científicos, epidemiológicos, entre outros, cruciais para uma análise integrada das condições viáveis de retorno presencial".

A professora Anaize Borges Henriques, superintendente acadêmica do CCS, também não vê possibilidade de um planejamento com datas estipuladas para a volta presencial neste momento de tantas incertezas. “O CCS integra o GT Pós-pandemia, o GT de Aulas Práticas e também tem um GT interno. Estamos seguindo estritamente o que é determinado pelos grupos de trabalho, pela área científica da universidade e pela reitoria”, afirma.

A docente diz entender a posição dos estudantes, mas lembra que toda a universidade está preocupada com a suspensão da prática acadêmica. “Também temos enfermagem, odonto, fisioterapia, farmácia, biologia… Mais de uma dezena de cursos, só no CCS, têm atividades práticas. E não é uma particularidade, o cenário é o mesmo em outras áreas”, observa. O critério para retorno, baseado no covidímetro menor que 1, foi citado pela docente. “Pelo que está acontecendo agora, o covidímetro não vai baixar no próximo mês, nem no outro, nem no outro. A UFRJ não faz ‘escolhas de Sofia’. Nunca fez e nunca fará", finaliza.

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