facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Elisa Monteiro
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.


Olhos abertos para a internacionalização. O terceiro webinário promovido pelo Observatório do Conhecimento reuniu experiências universitárias da América Latina, Estados Unidos, China e Alemanha para expandir as fronteiras da reflexão sobre o futuro da educação superior brasileira. Entre prós e contras de modelos estrangeiros, os convidados destacam a flexibilidade curricular e mais integração com projetos de país.  O encontro foi realizado na noite de terça-feira (2). E a íntegra do conteúdo pode ser acessada pelo canal do Observatório no youtube (https://bit.ly/3bcmxpi).

Um dos principais players da economia global, os chineses abocanham a maior parte das matrículas universitárias no exterior hoje. De acordo com Janaina Silveira (Radar China), as instituições de ensino superior de língua inglesa (sobretudo as norte-americanas) são o destino preferencial da internacionalização chinesa, tanto em função da expectativa de emprego posterior, quanto pela dificuldade de acesso às vagas na própria China.

Dentro do país, a dedicação dos alunos aos estudos é integral. Todos os anos, são em média dez milhões de chineses ingressando nas universidades. Em geral, os estudantes moram nos campi, partilhando quartos coletivos que abrigam de quatro a seis pessoas. Etnias minoritárias contam com cotas. “Há apoio governamental à pesquisa e desenvolvimento dentro das universidades, elas são um dos pilares do sistema de inovação chinês. Desde 1993, a China permite que universidades privadas também atuem nesse sistema acadêmico. Embora as universidades de elite na China sejam todas públicas, mesmo elas têm uma taxa anual, que normalmente não é muito alta, mas todo mundo precisa pagar”, acrescenta.

A experiência de renovação universitária alemã foi compartilhada pelo professor da USP, Ricardo Terra. “Na universidade de Berlim, nós temos essa junção de ensino e pesquisa, a organização por cátedra, conhecimento desinteressado, a liberdade de ensinar e de aprender, além da introdução de seminários, que foi importantíssima”, resume o docente.

Terra relaciona o protagonismo alemão na agenda política de meio ambiente à mudança de foco acadêmico. “É meio equivocado pensar que a universidade de Frankfurt é apenas humanista”, diz.  E completa: “A universidade de pesquisa alemã é essa mistura de conhecimento desinteressado com conhecimento vinculado com a indústria. Não é só inventar a maneira de melhorar a agricultura, mas como difundi-la”.

O modelo norte-americano acerta ao oferecer uma maior flexibilidade curricular. Essa é a opinião do ex-reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho. “É um sistema que permite escolhas na progressão e não a pré-escolha. Isso contrasta muito com o sistema brasileiro, que obriga as pessoas a escolherem o curso, a faculdade, o lugar que vão estudar antes de proceder ao processo seletivo. Isso é irracional”, justifica.

Na visão do docente, a mais recente expansão universitária brasileira, o Reuni, avançou no acesso ao ensino superior. Porém, deixou uma lacuna em termos de renovação administrativa e acadêmica. “As universidades dobraram [de tamanho], mas não mudaram o foco”, avalia Naomar. Para ele, o modelo universitário do país precisa ser debatido: “Estamos aqui com o mico de sermos talvez o país com alguma importância geopolítica — enquanto temos importância geopolítica, porque infelizmente estamos perdendo isso rapidamente —  com um modelo do século XIX, que foi inclusive abandonado pela sua própria origem”.

A temperatura da América Latina é analisada pela integrante do Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras, Rossana de Souza e Silva. “De forma geral, os sistemas de ensino superior na América Latina são marcados tanto por tradições locais como por conflitos entre Igreja e Estado ou por mudanças de regimes políticos”, ela diz. Algumas diferenças também são frisadas: “As ditaduras militares tiveram forte impacto na Argentina, Chile e Brasil, enquanto no México houve uma laicização muito forte nessas instituições”, compara. Os contrastes, segundo ela, são marcantes: “Diversas análises mostram o potencial para o futuro da região — que deve ser construído desde já —, que é muito rica em termos de recursos naturais e de heranças culturais fortes para a humanidade. Mas que convive com grandes contrastes do ponto de vista do desenvolvimento econômico-social”.

Entre os desafios comuns e atuais são listados: a inovação, a inclusão e a preocupação com a qualidade, principalmente na preparação de doutores para atuar na solução de problemas locais e regionais. Rossana destaca ainda cooperação bilateral e multilateral.“Para superar os problemas regionais que nós encontramos na América Latina, é muito importante trabalharmos em cooperação por meio de programas que possam contribuir conjuntamente para superar esses problemas. Eles não serão superados com um passe mágico”, defende.

Topo