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bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

O atual governo parece acreditar de modo literal que a realidade não existe, apenas discursos arbitrários sobre ela. Parece acreditar que bastará produzir um texto com belas intenções e tudo se resolverá. Foi assim na Cúpula do Clima. Mesmo que a política internacional seja apenas um teatro, mesmo que, em grau maior ou menor, todos os chefes de Estado estejam ali desempenhando um papel, e que muitos não têm o compromisso efetivo com as políticas ambientais, há limites. E o atual governo não conhece esses limites. Aliás, nem outros. Afirma compromissos que vão na contramão de tudo o que vem ocorrendo no país nos últimos dois anos. As árvores estão no chão, as populações indígenas estão sendo dizimadas, as estruturas de fiscalização estão sendo desmontadas. Faz um ano que tivemos conhecimento da vergonhosa reunião ministerial em que foi popularizada a tática de “passar a boiada”. A Polícia Federal está sendo aparelhada para que não avancem as investigações, para que não sejam punidos os responsáveis pelo desmatamento ilegal na Amazônia. O senhor da morte caminha sobre os destroços da política ambiental brasileira, lê um texto para o mundo que o mundo sabe que é falso. Até onde caminhará com a farsa? Talvez seja suficiente, por algum tempo, demonstrar subserviência aos novos interesses dos Estados Unidos, mas onde estará o limite para um governo que se organiza e se sustenta em narrativas contraditórias, ou simplesmente mentirosas mesmo?
A mentira rege o governo Bolsonaro. A desfaçatez é o tom dominante. Até aqui, ele está se sustentando, barrando iniciativas de impeachment, avançando em sua pauta conservadora e armamentista, apesar de que não tanto quanto gostaria. O cabo e o soldado ainda não fecharam o STF. Na UFRJ, o Conselho Universitário deu mostras de que também não será fácil silenciar as universidades. Com larga votação, o título de doutor honoris causa para o tenente-coronel Jarbas Passarinho foi cancelado. Não há honrarias para quem escreveu seu nome na história do arbítrio, da exceção e da tortura. Essa é a trincheira principal que não podemos abandonar. Ainda que nos faltem recursos, ainda que tenhamos que enfrentar ameaças, seremos sempre a morada da liberdade de pensamento, de vocação crítica e destemida.
Mas nesses tempos sombrios de mentiras e inversões, nada mais cruel do que a aprovação do PL 5595/20, que define as escolas como atividade essencial. Mas não era com isso que sonhamos? A educação é essencial para a vida nacional, não se constrói uma democracia sem educação de qualidade para todos. Mas, no país do bolsonarismo, não. A decisão é para lançar compulsoriamente, a despeito de todas as evidências, uma enorme quantidade de crianças e jovens em salas de aula pouco ou nada aparelhadas para funcionarem em tempos de pandemia. Assim como a inclusão dos profissionais da Educação no grupo prioritário de vacinação obedece tão somente a uma retórica de fundo negacionista. O que esperamos para planejar uma possível volta às atividades presenciais? Em primeiro lugar, um parecer consistente sobre qual momento isso pode acontecer sem gerar ainda mais disseminação do vírus. E, tão importante quanto, precisamos de aporte de recursos para a adaptação e preparação do ambiente escolar. É irresponsável abrir escolas que sequer disponibilizam água e sabão para seus alunos. No caso da UFRJ, qual o custo para a instituição se adaptar às atividades dentro de protocolos seguros de funcionamento? Mas, no governo das inversões, o que recebemos é a notícia do corte de recursos orçamentários que comprometem até mesmo as atividades mais básicas.  
Por isso, na semana em que a AdUFRJ completa 42 anos, lembramos que não chegamos até aqui cuidando apenas de nós mesmos. Se hoje ainda temos uma carreira e um sistema de pesquisa nacional que tenta resistir aos ataques que vem sofrendo é porque várias gerações antes de nós construíram de modo organizado e coletivo projetos e propostas que deixaram de ser retórica e se materializaram em conquistas.
Hoje temos uma ocupante da presidência da Capes que é a sua própria desmoralização. Segue a tendência de perversões e inversões que moldam as ações do governo. Não nos iludamos: não haverá possibilidade de paz num governo que nos escolheu como inimigos. Mas não poderia ser diferente. Para nos moldarmos a esses tempos, teríamos que renunciar a tudo aquilo que nos faz ser o que somos. Portanto, lutar contra esse governo é apostar na Ciência, na democracia, na defesa da vida. Seguiremos, hoje mais do que ontem.

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