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WhatsApp Image 2021 06 12 at 08.56.39O tratamento para o câncer de pulmão pode ganhar um reforço de peso e genuinamente brasileiro. É o que aponta uma pesquisa realizada em parceria por cientistas da UFRJ e da Universidade Federal do Pará (UFPA), que avalia o potencial antitumoral da Apuleia Leiocarpa, uma planta amazônica popularmente conhecida como garapa. O grupo conta com sete cientistas, e investiga plantas medicinais como fontes de novas substâncias para o combate a células cancerígenas. Atualmente, esse tratamento é feito com o uso de quimioterápicos, que possuem efeitos colaterais e, com o uso prolongado, podem provocar resistências no corpo humano.
“Já existem substâncias muito eficientes, como a cisplatina, que está sendo usada há mais de 30 anos e tem um efeito muito bom para a redução do câncer de pulmão. Mas ela tem efeitos colaterais graves, como o fato de que pode causar surdez”, conta Janaina Fernandes, professora de Genética Molecular I e II nos cursos de Nanotecnologia e Biofísica, no campus Duque de Caxias da UFRJ. A intenção dos pesquisadores é descobrir uma substância que possa ter, pelo menos, a mesma atividade antitumoral dos quimioterápicos, mas com menos efeitos colaterais. “Isso já é um progresso, pois melhora a qualidade de vida do paciente mantendo o mesmo resultado”, afirma a professora.

POTENCIAL PARA TRATAMENTO
Janaina, que na sua tese de doutorado na Biofísica estudou o uso de produtos naturais para o tratamento de câncer, entrou no projeto em 2011, a partir do contato com os professores Alberto Arruda e Mara Arruda, da UFPA. “Lá, eles trabalham com fitoquímica: identificam as plantas, fazem a coleta e geram o extrato. Na época estavam procurando alguém que fizesse as análises desses extratos, para entender o potencial para tratamento do câncer”, lembra. Ao todo, foram mais de 40 extratos de diferentes plantas enviados para a avaliação do grupo da UFRJ. Porém, muitos deles não têm eficiência ou perderam a sua atividade depois de algum tempo. “Apesar de o projeto estar rodando há dez anos, nós só conseguimos cinco amostras que têm efetivamente atividade antitumoral, e a Apuleia Leiocarpa é uma dessas plantas”, aponta Janaina.
O potencial medicinal da planta já era conhecido, devido aos seus efeitos analgésicos, antifúngicos e anti-inflamatórios. Porém, o efeito antitumoral da Apuleia Ferrea, que pertence à mesma família, motivou os pesquisadores a avaliar essa capacidade na Apuleia Leiocarpa. “As flores têm substâncias diferentes do caule, que tem substâncias diferentes da raiz e assim por diante. As mesmas substâncias podem estar presentes em diversas partes da planta, mas muitas vezes em proporções diferentes”, ressalta a professora. Por isso, foram feitos testes de viabilidade celular com cinco extratos de diferentes partes da A. Leiocarpa, para ver se as células cancerígenas iriam morrer ou apenas parar de se desenvolver. E dois mostraram resultados significativos: o extrato da casca e o extrato do caule.
Janaina conta com duas alunas de iniciação científica para estudar os efeitos dos extratos sobre as células cancerígenas: enquanto uma induz à autofagia, que é o processo de renovação celular, a outra induz à apoptose, que é a morte celular. “A morte celular por apoptose é o ideal para eliminar células de alguma doença. Dessa maneira, a célula se programa para morrer e faz essa morte de forma limpa, sem gerar inflamação ou causar outros danos para a saúde do paciente”, explica Rachel Ribeiro, graduanda de Biofísica no campus Duque de Caxias. Ao analisar a morfologia celular, 48 horas após o tratamento, foram confirmadas as características autofágicas e de morte celular por apoptose. Rachel destaca que os extratos tiveram melhor ação antitumoral nas concentrações de 25, 50 e 100 µg/ml (microgramas por mililitros).

DESMATAMENTO
Os tumores de pulmão são divididos em dois tipos histológicos: os de não pequenas células, e os de pequenas células. “Os experimentos foram feitos com células da linhagem H460, que é uma linhagem de câncer de pulmão de não pequenas células, um dos tipos mais agressivos e mais comuns no mundo”, descreve Rachel. Esse é o tumor que mais afeta os fumantes, pois o tabaco propicia seu desenvolvimento. O extenso número de pacientes acometidos pela doença também preocupa as pesquisadoras. “É preciso que a substância seja economicamente viável. Pouco adianta encontrarmos uma substância ótima no combate, mas que custe R$ 100 mil para produção de uma cápsula, pois fica inviável a larga escala”, salienta a professora Janaina.
A pesquisa já identificou o que os extratos são capazes de matar e como fazem isso, mas ainda falta saber quais são exatamente as substâncias responsáveis pela atividade antitumoral. “Nós queremos fracionar esses extratos para verificar quais substâncias existem ali, e depois testá-las de forma mais isolada para saber quais têm o potencial de, posteriormente, se tornar um fármaco”, afirma Rachel. Agora, os extratos considerados eficientes estão sob análise do grupo de fitoquímicos do Pará, que identificarão as substâncias responsáveis por essa atividade antitumoral para saber se são substâncias novas ou já conhecidas.
A estudante Isabel Oliveira, do curso de Biotecnologia, que também participa do projeto, destaca que esta espécie de planta, assim como muitas outras, está ameaçada de extinção. “Imagine quantas outras espécies que sequer testaremos antes de serem extintas? Quem sabe estamos perdendo futuros medicamentos sensacionais de origem vegetal, por conta do desmatamento descontrolado”, diz.

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