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WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.31.09Uma hora e vinte minutos. Esse foi o tempo que o professor Cláudio Cerqueira Lopes, titular do Instituto de Química, ficou preso no único elevador que funcionava no Bloco A do Centro de Tecnologia. O incidente aconteceu no final da tarde da terça-feira, 10. O resgate foi realizado pelos bombeiros que atuam na Brigada de Incêndio do CT. Ele e outras quatro pessoas – duas professoras e duas alunas – tentavam se deslocar do quinto andar ao térreo do edifício quando o elevador não obedeceu ao comando, subiu até o sexto andar, desceu até o terceiro e novamente subiu até o sexto andar, onde travou com as portas fechadas.
“Eu me senti muito mal, fiquei com medo pela minha segurança e das pessoas que estavam comigo”, desabafa o professor. “Tive muito medo que o elevador se desprendesse. Eu uso aquele elevador há 47 anos e quase não houve reformas desde então. É um equipamento muito obsoleto”, afirma.
Ele critica a gestão da decania do CT em relação aos elevadores e ao prédio como um todo. “O elevador é só um reflexo da precarização a que o CT submete os ocupantes do Bloco A. A limpeza também está um caos. Quando dá 17h, os banheiros estão em situação da maior precariedade”.
Aos 65 anos, Cláudio Cerqueira é cardíaco e tem problema crônico num dos joelhos, condições que o levam a depender dos elevadores para trabalhar. Ele coordena o Laboratório de Síntese e Análise de Produtos Estratégicos, no quinto andar. “Com os entrepisos que existem no prédio, são dez lances de escadas, equivalentes à subida de dez andares, até chegar ao meu laboratório”, ilustra o professor. “Expus minha condição física, minha vida e das minhas alunas”.
Respeitado no meio científico e forense, o docente sentiu-se abandonado pela instituição. “As pessoas da minha idade estão sendo muito desrespeitadas. Eu perdi minha forma física porque vivi uma vida inteira para a pesquisa, para o ensino, para esta universidade”.
A estudante de iniciação científica Anna Carolina Marques também estava no elevador. “Outra menina aqui do laboratório já tinha ficado presa antes da pandemia e ficou bem mais tempo que a gente”, relata. Ela denuncia que dentro do elevador não havia telefone de emergência e nem botão de alarme funcionando. “Se eu estivesse sozinha, não teria conseguido chamar socorro, porque meu celular estava fora de área”, conta.
Quem chamou o resgate foi o próprio professor Cláudio. “O bombeiro que nos atendeu disse que estamos muito próximos de uma tragédia, porque não há mais o que fazer com aqueles elevadores”, conclui o professor.
“O elevador tremia, fazia barulho como se estivesse funcionando e parava. A gente não sabe como está a estrutura dos cabos. Nosso medo era que ele despencasse”, completa Thiana Santiago, pós-doc do laboratório, que também ficou presa.
O problema havia sido denunciado na edição passada do Jornal da AdUFRJ. Na ocasião, a administração do CT informou que não tem ingerência sobre a manutenção desses elevadores, porque o contrato foi firmado diretamente com a Pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6). O pró-reitor da área deu esclarecimentos sobre o assunto no Conselho Universitário do dia 12 (leia AQUI).
De acordo com a administração central, não faltam recursos do orçamento participativo para manutenção. Ainda segundo a reitoria, não houve pedido da decania para que os elevadores fossem priorizados. “Não recebi nenhum pedido formal para priorizar a reforma do elevador do CT. A iniciativa foi nossa”, afirma o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha. “Isso não significa que estejamos nos eximindo da responsabilidade”, reconhece. “Um caso como esse é muito sério e prejudica a todos: a nós, na reitoria, à decania do CT e, principalmente, às vítimas, às cinco pessoas que ficaram presas. A elas, quero pedir desculpas em nome da universidade”.
O professor Walter Suemitsu, decano do CT, explicita a posição da decania sobre o assunto. “A última reforma que aconteceu, há 15 anos, foi financiada pelo CT, com recursos de projetos da Coppetec”, esclarece o dirigente. “Infelizmente não temos mais esse dinheiro. Nos últimos dois anos, não houve recursos no orçamento para materiais permanentes e equipamentos”, afirma.
Os elevadores do Bloco A estão no limite da vida útil, segundo o decano. “Fizemos um orçamento e a empresa nos deu o parecer de que é mais barato trocar os elevadores do que consertá-los. Estimamos que a reforma completa custe em torno de R$ 2 milhões. A decania realmente não tem recursos para essa reforma. A gente conta com o apoio da reitoria”, finaliza.

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