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WhatsApp Image 2022 08 15 at 11.55.10Foto: Twitter UFRJApenas cinco dias após a Organização Mundial de Saúde declarar o surto da varíola dos macacos como emergência de saúde pública de importância internacional, a UFRJ realizou um debate especial sobre a doença, em 28 de julho. O “Fala Minerva!” reuniu quatro especialistas para tirar dúvidas da imprensa, da comunidade acadêmica e do público em geral. “Nestes tempos de excesso de informação, é muito importante que nós tenhamos a escolha da informação adequada, da informação que podemos confiar”, disse a reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho, na abertura do encontro.
Uma dessas informações é que o país precisa ampliar sua capacidade de testagem para combater o monkeypox. “Do ponto de vista do diagnóstico molecular, a testagem está concentrada em quatro lugares de referência. No caso, a UFRJ; o Adolfo Lutz, em São Paulo; a UFMG; e a Fiocruz. É claro que a gente precisa expandir isso”, afirmou a professora Terezinha Castiñeras, diretora do Núcleo de Enfrentamento e Estudos em Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (Needier/UFRJ). “Mas o grande salto será quando a gente conseguir ter um teste rápido, que promova uma medida rápida de isolamento, de avaliação de contactantes. Aí sim vamos ter melhores resultados”, completou a docente.
Os especialistas também alertam que não pode haver preconceitos no controle da doença. O vírus hoje está mais espalhado entre homens que fazem sexo com outros homens, mas todas as pessoas de todas as idades estão suscetíveis à varíola dos macacos. “Isso remonta aos anos 80, quando houve o início do HIV. Ficou o estigma de ser uma praga gay. Foi algo completamente errado que só atrapalhou o controle da doença. Se o vírus entra por uma população ou grupo que tem relações entre si, demora a ‘vazar’ para outros”, esclareceu o professor Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia.
O docente observou que o vírus circulante no Brasil já é diferente dos encontrados na África. “Nosso vírus sofreu uma evolução disruptiva. Ou seja, adquiriu uma mutação drástica. Isso faz com que tenha boa transmissão entre as pessoas e uma letalidade menor, por enquanto. Vamos saber mais a longo prazo”, alertou.
A característica de transmissão por um tempo maior do que outros vírus similares é outra preocupação dos especialistas em relação ao monkeypox, que causa lesões na pele. A infecção ocorre mesmo quando as bolhas do paciente se rompem e dão lugar a crostas. “Na varicela ou catapora, a gente fala que a lesão com crosta já não transmite mais. Neste caso, não. A fase crostosa desta doença transmite”, explicou o professor Rafael Galliez, da Faculdade de Medicina. Um paciente pode infectar outras pessoas por até 40 dias, aproximadamente. A contaminação ocorre por contato pele a pele ou com material contaminado ou por gotículas.
A doença, descoberta nos anos 1970 em crianças, se expressava com muitas bolhas na pele, que surgiam todas ao mesmo tempo, acompanhadas de mal-estar e febre. Mas o padrão mudou. “O que a gente começou a ver: lesões únicas, às vezes em região genital; às vezes, em mucosa oral; lesões que apareciam em diversas ordens. Ou seja, muito mais parecida com a catapora do que com a varíola tradicional”, informou o docente. “E também a ausência de sintomas importantes: de mal-estar, de febre. Esse padrão é diferente do que a gente vinha estudando”.
Um alento é que já foram criadas vacinas antivariólicas eficazes. O problema é que elas não estão mais disponíveis em grande escala. A varíola humana foi erradicada no mundo em 1980 e a vacina contra a doença parou de ser aplicada no Brasil em 1979. “A maior parte da população afetada está na faixa de 38 anos. Isso nos dá uma sinalização de que há uma proteção funcionando para quem foi vacinado. Pelos dados que temos no momento, a população vacinada não será prioridade”, afirmou a professora Clarissa Damaso, que lidera o grupo de trabalho da UFRJ para o enfrentamento da doença, composto em maio deste ano.
A recomendação da OMS é vacinar preventivamente profissionais de saúde e de laboratórios que estão lidando com o vírus e os contactantes dos infectados. A OMS diz que os riscos e benefícios da vacinação direcionada também devem ser avaliados para grupos vulneráveis, como pessoas imunossuprimidas, crianças e mulheres grávidas. Ainda não existe imunizante no país. “Não há vacina para todo mundo. Os fabricantes não tinham previsão de produção para uma doença que afetasse o mundo todo”, observou Clarissa. (Kelvin Melo)

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