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WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.44.19Foto: Fernando SouzaEstela Magalhães

O jingle “Sem Medo de ser Feliz”, composto pelo publicitário Hilton Acioli, embalou a esquerda brasileira em 1989. Nas primeiras eleições diretas para presidente após a ditadura, a música chamava grande parte da população a votar no petista: “Lula lá, com toda a certeza pra você/Meu primeiro voto/Pra fazer brilhar nossa estrela”. Agora, mais de três décadas depois, é a vez da juventude defender a democracia.
O exercício da cidadania é inédito para milhões de jovens de 16 a 21 anos, e será inaugurado neste domingo. “Fico feliz em poder votar numa eleição como essa. Estamos num momento muito decisivo. De um lado, um discurso quase neofascista; e, de outro, uma luta para manter a democracia”, diz Karolayne Carvalho, de 20 anos, estudante de Relações Internacionais. “É muito importante ter voz nesse enfrentamento da instabilidade política e votar pela credibilidade da democracia”, completa.
A participação dos jovens nas urnas será decisiva para essas eleições, segundo pesquisa do Datafolha: 51% das pessoas de 16 a 29 anos têm preferência por Lula, enquanto apenas 20% preferem Bolsonaro. “É fundamental garantir que os jovens votem no presente para que eles também possam votar no futuro”, diz o professor Jorge Chaloub, da Ciência Política da UFRJ. “A própria ideia de juventude é muito mobilizada quando você quer pensar qualquer tipo de mudança e renovação no cenário político”, analisa. Para ele, os ataques às universidades e à educação contribuíram para uma articulaçãojovem desde 2019. “A eleição está sendo marcada por disjunções muito fortes. Vemos uma tendência de quem é homem, branco, mais velho ou tem a renda mais alta a votar no Bolsonaro. A juventude está votando contra”, completa.
“A movimentação importante desse eleitorado nas redes sociais, especialmente nesses últimos dias, com uma adesão da comunidade artística e de influencers, nos apontam para uma possibilidade de consolidação desse voto”, analisa a professora Elisa Guaraná, da UFRRJ. Segundo a professora de Ciências Sociais, a forma como o governo federal lidou com a pandemia foi um fator para o levante da juventude. “Chegamos em 2022 com muita disputa dos votos da juventude, que já estava se desenvolvendo em 2018. Não é só uma mobilização eleitoral que leva esses jovens a votar. Eu acho que é realmente um movimento de discussão na sociedade sobre o papel da presidência da República que o governo Bolsonaro acabou gerando”, diz.
A professora ainda lembra da primeira vez que votou para presidente: em 1989, votou Lula. “Eu já era estudante na UFRJ e fizemos uma campanha muito grande com professores e técnicos ali no centro da cidade”, recorda. “A juventude tem um papel fundamental na defesa da democracia e da população brasileira. Nesse primeiro turno, nós precisamos dizer um basta para o Bolsonaro e votar na perspectiva de um governo Lula que volte efetivamente a incluir a população pobre, jovem, mulheres, com toda a diversidade que a população brasileira tem, no acesso aos seus direitos básicos”, encerra.

CONTRA AS ATROCIDADES
“O meu voto é contra todas as atrocidades que a gente tem vivido nos últimos anos por conta de todas as violações que Bolsonaro comete contra os valores democráticos do nosso país. Vou convictamente votar no Lula e espero que a vitória seja no primeiro turno”, diz Fernanda Mendes, estudante de Jornalismo que irá às urnas eleger um presidente pela primeira vez aos 20 anos. “Quero fazer parte da mudança que eu espero que ocorra a partir do ano que vem com Lula na presidência”, completa.
“Precisamos problematizar essa ideia de que o jovem não estaria interessado em política porque a adesão ao voto seria mais baixa do que nos anos anteriores”, diz a professora Olívia Perez, da Ciência Política da Federal do Piauí. Ela recupera a atuação política dos jovens nas redes e a formação de coletivos com foco em questões sociais. “Há outros lugares de fazer política que não a política institucional, mas há uma descrença em relação à política parlamentar. De fato, os jovens são pouco inseridos em termos de representação. Eles são 27% da população e a representação na esfera municipal do Legislativo é em torno de 8% e vem caindo nas últimas eleições”, explica. Para a professora, é preciso investir na inclusão dos jovens no debate político. “Num contexto dominado por homens brancos e mais velhos, a juventude tem ensinado a importância da inclusão da diversidade nas decisões coletivas”, completa.

“Me alegra votar em casa e, pela primeira vez, em Lula”

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.43.12 1ESTELA
MAGALHÃES
Estudante de Jornalismo e estagiária do Jornal da AdUFRJ

Minha zona eleitoral fica a 560 km do Rio de Janeiro. Nasci, cresci e tirei meu título no Vale do Aço, interior de Minas Gerais, antes de vir estudar na UFRJ. Neste domingo, vou dar meu primeiro voto para presidente na escola que minha mãe estudou quando criança, no bairro que morei a vida inteira.
Meu primeiro voto carrega a esperança de quem cresceu no governo Lula, sonhando com uma universidade pública de excelência, e a raiva de quem foi às ruas pela primeira vez no início de 2019 em defesa da educação superior, minha conquista tão recente. Cheguei ao Rio caloura e com a incerteza se a UFRJ duraria até o fim do meu curso, por causa dos grandes cortes orçamentários.
Mas o recomeço está próximo. São nove horas de viagem até o abraço, de volta ao bairro que guarda todos os meus “primeiros”. Me alegra poder votar em casa e, pela primeira vez, votar em Lula. O equilíbrio do primeiro passo, a delicadeza do primeiro beijo, a potência do primeiro voto.

“Meu primeiro voto em Lula, no próximo domingo irei repetir”

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.43.12JOÃO
TORRES
Professor do Instituto de Física e presidente da AdUFRJ

A eleição de 1989 foi a primeira na qual votei para presidente. Eu tinha 29 anos e votei encantado no Lula, de estrelinha de metal e camiseta. Estava no meio do doutorado no Fermi Accelerator Laboratory, em Chicago. Fizemos uma grande campanha entre os brasileiros em Chicago para que todos votassem, mesmo que fosse no Collor. Naquela época, eu achava que era fundamental participar das eleições mesmo votando contra o meu candidato, para fortalecer a nascente democracia brasileira. Embora o Collor (Movimento Brasil Novo, lembra algo?), tivesse um discurso muito udenista, voltado para a “caça aos marajás” , muito agressivo contra o serviço público, a eleição era entre dois candidatos que supostamente participavam do campo democrático. Anteriormente, eu já havia participado de campanhas para deputados progressistas do PMDB, nas eleições de 1982, mas votar para presidente pela primeira vez, no Lula, longe do Brasil, foi uma experiência marcante que irei repetir no próximo domingo.

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