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WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.49.23Igor Vieira e Júlia Fernandes

Após tantos ataques sofridos no governo Bolsonaro, a Academia decidiu reagir. Não basta mais eleger um presidente que respeite a ciência. Diante dos retrocessos, é preciso ganhar força no Congresso e nas assembleias legislativas de todo o país. De olho nisso, o Observatório do Conhecimento lançou no dia 20 uma campanha para identificar e destacar nomes comprometidos com a liberdade acadêmica, a autonomia universitária e o financiamento adequado para as pesquisas. Até o momento, 49 candidatos receberam o selo “Eu sou amigo da Ciência”.
Somente no Rio de Janeiro, Jandira Feghali, Dani Balbi (ambas do PCdoB), Tatiana Roque (PSB), Chico Alencar, Renata Souza, David Gomes (os três do PSOL), Marina do MST e Camila Marins (PT) subscreveram o pacto pelo conhecimento. Fora do estado, além destas siglas, há representantes da Rede, do Partido Verde e do Solidariedade.
“Para que se tenha uma bancada forte pela ciência, é fundamental que ela seja formada por deputados e senadores de diferentes espectros ideológicos, já que a ciência é uma pauta transversal”, afirma a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do Observatório. “A ciência é um espaço de mobilidade social, de invenção de novos mundos e de melhoria do atual”, reforça.
De acordo com levantamento feito pelo Observatório, rede formada por associações de docentes de várias partes do Brasil, as áreas da Ciência e da Educação sofreram cortes que já somam R$ 100 bilhões, nos últimos sete anos. Justamente o contrário do que deveria ser feito em um país que ainda precisa crescer muito. “A ciência é um lugar de agregação de valor de produção de tecnologia. Isso indica que os investimentos que são feitos têm retorno imediato, o que é muito bom para o Estado”, explica Mayra.
O Observatório não foi o único a se movimentar neste terreno eleitoral. “Inicialmente eu pensava que cabia à sociedade civil alertar aqueles que fossem eleitos sobre a importância da ciência e da tecnologia. Mas depois dos ataques que nós sofremos, eu estou achando interessante ter essa mobilização”, relata Fernanda Sobral, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
A SBPC elaborou um caderno com propostas sobre diferentes temas, o Projeto Brasil Novo. O documento, entregue a candidatos aos Poderes Legislativo e Executivo, também já reúne assinaturas de diferentes partidos políticos. Fernanda Sobral afirma que a ideia é fazer o público checar “se o candidato está de acordo com as causas”. Um dos trechos do caderno aponta que “para a reconstrução do país, é necessário que haja recomposição e ampliação do investimento público em Ciência, Tecnologia e Inovação”. A Academia Brasileira de Ciências também não ficou parada. Indicado para falar em nome da ABC, o professor Aldo Zarbin (UFPR) afirma que “a Academia está o tempo todo dialogando com os candidatos. Em cada questão que envolva a ciência e a tecnologia, e que precisa ser apreciada pelo Legislativo, ela está na frente de batalha junto com a SBPC e com algumas outras entidades”.
Zarbin defende a eleição de cientistas para o Congresso. “Nós temos, hoje, na Câmara, e até mesmo no Senado, representantes que têm comprometimento com a causa, mas não são cientistas. A importância de se ter cientistas é porque estamos falando de pessoas que sabem exatamente quais são os desafios da área”, diz. “Eles sabem o que significa cada projeto de lei que é votado, cada emenda, cada proposta, ou qualquer outro fator relacionado ao financiamento de ciência e tecnologia no país. A gente vai ter que gastar menos esforço para conseguir aquilo que realmente interessa à ciência”.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), que está em seu sétimo mandato, afirma que “as pautas avançam no Congresso de acordo com as pressões dos blocos que as defendem e com a mobilização da sociedade civil organizada”. Para a veterana, o cenário é de esperança. “Tenho uma enorme expectativa de que os brasileiros e brasileiras têm consciência da necessidade da mudança. E ela virá”, conclui.

DEPOIMENTOS DOS CANDIDATOS AO JORNAL DA ADUFRJ

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.59 3TATIANA
ROQUE
(PSB/RJ)
Candidata a deputada federal

A situação no Congresso vai ser muito adversa e Lula, sozinho, não será suficiente para fazer as mudanças necessárias. Precisamos ter pessoas lá que sejam capazes de argumentar e de trazer também a sociedade e a própria universidade para dentro do Congresso Nacional para a gente pressionar, reivindicar e poder dar a prioridade que a universidade e a ciência merecem. A primeira medida será ajudar Lula a derrubar o teto de gastos. Ele já se comprometeu com essa pauta. Quando fui presidente da AdUFRJ, fizemos uma grande campanha contra o teto, mas vamos precisar de uma grande ação no Congresso Nacional. Acho que o mais importante de ter uma pessoa que seja cientista e da Universidade é ter essa bancada da ciência para enfrentar o negacionismo. Precisamos também criar discursos que sejam compreensíveis, que tragam a sociedade para o nosso lado e também fazer a ponte com a própria universidade, os movimentos e as entidades representativas.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.59 2JANDIRA
FEGHALI
(PCdoB/RJ)
Candidata a deputada federal

As pautas avançam no Congresso de acordo com a pressão dos blocos que as defendem e da mobilização da sociedade civil organizada. Para fazer avançar matérias relacionadas à ciência e à educação, é fundamental ter uma bancada expressiva que as defendam. Depois de quatro anos de muitos retrocessos, quero crer que a sociedade entendeu que a negação da ciência, da cultura e da educação tem consequências diretas na vida das pessoas. Isso ficou muito claro nos milhares de mortes evitáveis durante a pandemia. Por isso, tenho uma enorme expectativa de que os brasileiros e brasileiras têm hoje consciência da necessidade da mudança. E ela virá.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.59 1RICARDO
GALVÃO
(REDE/SP)
Candidato a deputado federal

A visibilidade que alcancei com minha atitude (do embate contra Bolsonaro, quando diretor do INPE), tanto nacional como internacional, levou vários colegas da academia a sugerir que eu aceitasse envolver-me na política para defender, de forma mais assertiva, a Ciência Brasileira. Nunca havia pensado em um dia entrar para a política. Essa “pressão” e, principalmente, o convite de Marina Silva me levaram a tomar essa decisão. Uma bancada forte, composta de parlamentares com larga experiência profissional na educação e na atividade cientifica, teria grande respeitabilidade da sociedade e, portanto, maior representatividade no Congresso. Na educação formal, temos que melhorar substancialmente o nível de aprendizado em ciências naturais, e não somente de português e matemática, desde o ensino fundamental ao ensino médio. Os alunos devem ter muito mais contato com atividades experimentais, e assim aprender a formular modelos que explicam seus resultados.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.59DANI BALBI
(PCdoB/RJ)
Candidata a deputada estadual

Os fatores que negritam a importância de uma bancada da ciência é lutar por mais recurso e autonomia para que as instituições possam funcionar no desenvolvimento social, econômico e humano do estado e na formação em nível superior de ponta de profissionais que possam superar a marginalidade e o desemprego. Para isso, devemos recompor as Faetecs, e ter anotações orçamentárias específicas para a Secretaria de Estado de Educação, para as Universidades e para a Faperj. Para ter uma ciência que de fato intervenha no desenvolvimento técnico, tecnológico, econômico; que gere emprego e renda; que mantenha um altíssimo nível de formação e pós-graduação, além das iniciações científicas, precisamos de ao menos 3,5% da receita líquida estadual para a Faperj. Hoje, a legislação prevê 2%. Os critérios meritocráticos para a concessão de bolsas da Faperj devem ser alterados, pois não auxiliam os alunos pretos, pobres, lgbtqia+ e das mulheres na continuidade dos estudos de ensino superior e na pesquisa.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.58ENFERMEIRA
CARLA PRADO
(Solidariedade/MG)
Candidata a deputada estadual

Minha posição política não é necessariamente de esquerda, mas me alinho ao entendimento de que a educação deve ser prioridade em qualquer Estado. É importante investir em educação pública de qualidade em todos os níveis e garantir acesso amplo ao ambiente educacional público básico, médio e superior. Estudei em escola pública a vida inteira, me formei na Universidade Federal de Uberlândia. Toda a minha formação foi pública, gratuita e de qualidade. Essa perspectiva claramente afeta a minha percepção, pois eu jamais teria condições de pagar pelos meus estudos e se tenho qualidade de vida hoje é fruto do que estudei. Todos os países desenvolvidos investem na formação do seu povo. Uma bancada forte em defesa da educação significa trazer esse tema e essa importância para o centro das discussões públicas do Brasil. A ciência está ligada à produção de conhecimento. Sem investir nela, o país fica estagnado e dependente do que é produzido fora.

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