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WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 12Foto: Felipe Cohen/divulgação Museu NacionalMilene Gabriela

Um vídeo do encontro entre a doutoranda Luana Braga e o presidente Lula viralizou na semana passada. Durante a visita do petista ao Museu Nacional no dia 23, a estudante do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS) emocionou a todos ao contar como as políticas públicas criadas pelos primeiros governos do PT mudaram sua vida e a de sua família. “Todas as oportunidades a que tive acesso fizeram de mim um instrumento de justiça social. O governo mudou a história da minha vida, que está ajudando a transformar a história de muitas pessoas”, disse ela ao Jornal da AdUFRJ. “Quando eu e Lula tiramos a foto, ele disse que virou meu fã. E que nós vamos mudar a vida de muitas pessoas”.
Há mais de 50 anos, o museu não recebia a visita de um presidente da República. Para marcar o evento, a direção decidiu presentear Lula com uma placa feita com a madeira de reconstrução do prédio, incendiado em 2018. E solicitou a indicação de um aluno do PPGAS para a entrega do mimo: alguém que representasse o corpo social e tivesse a trajetória de vida influenciada pelos governos petistas. O nome de Luana surgiu com naturalidade.
A jovem de 28 anos é a primeira pessoa da família a entrar em uma universidade. Filha de agricultores analfabetos, nasceu em Pradópolis, no interior de São Paulo, mas foi criada em Iaçu e se considera filha do pequeno município da Bahia, de aproximadamente 24 mil habitantes. “A gente não escolhe onde nasce, mas escolhemos as histórias que queremos contar e construir. Identidade é sobre os processos que vivemos e as histórias que construímos e não sobre os documentos”.
O encontro com o presidente repercutiu na cidade que adotou Luana ainda criança. “Iaçu fez uma festa. Recebi muitas homenagens dos conterrâneos”, contou. José dos Reis Braga, avô da antropóloga e fundador do sindicato de trabalhadores rurais local, chora toda vez que assiste ao vídeo da neta falando com Lula. “Meu avô ligou para contar que as pessoas vão até a sua casa para agradecer pelo que eu estou fazendo pela comunidade, por estar levando o nome de Iaçu, nossa história e da população rural para o mundo” disse. “Eles disseram que o abraço que eu dei no presidente gerou muita emoção, que foi um abraço de muitas pessoas, que representa muitas histórias e que se sentiram representados por mim”, completou.
Luana já participou de workshops em países como México, China, Alemanha e África do Sul para apresentar suas pesquisas com temas relacionados à revolução da terra, reforma agrária e sobre o povo preto, periférico e pobre do Brasil. A estudante foi selecionada para estar em Harvard no próximo mês no workshop “Afro-latin American Research Institute”, que conta com pesquisadores de todo o mundo. O evento irá debater mulheres negras e a concentração de terras no Brasil. “Se eu tenho um calo no dedo por usar a caneta é porque as mãos ao meu lado e atrás de mim são calejadas por enxada”.
Confira a entrevista de Luana.


Jornal da AdUFRJ - Como o governo do PT mudou a sua vida e a de sua família?
Luana Braga
- Eu tive acesso a uma série de políticas públicas criadas pelo pelo governo do PT. Não só eu, toda minha família. Tivemos acesso ao ID jovem (que dá desconto em eventos artístico-culturais e esportivos e no transporte coletivo interestadual) e políticas de cotas. O curso de pós-graduação em Antropologia Social é um programa pioneiro das ações afirmativas da pós-graduação no Brasil. A minha família teve acesso ao programa de cisternas, ao Luz para Todos, ao programa de aquisição de alimentos e a várias políticas públicas de agricultura familiar.

Qual a sua área de pesquisa?
Quando eu cheguei ao mestrado de Antropologia Social decidi pesquisar sobre a história da minha família, que é de sindicalistas. O meu avô é um sindicalista rural, que lutou bravamente contra a ditadura militar. Fundou o Sindicato de Trabalhadores Rurais durante esse período. Eles precisaram ficar dois anos na clandestinidade. Foram queimados muitos roçados, queimaram casas dos nossos amigos. Muitas histórias são de resistência da família, do roçado e da cultura. Para que essas pessoas pudessem existir no mundo e diante desse cenário todo, elas não puderam eestar nos bancos escolares e eu sou a primeira geração que consegue esse feito. Pesquiso sobre as memórias do meu avô, sindicalismo rural e as lutas pela terra na Bahia. Essa é minha pesquisa de doutorado.

Como foi a sua reação ao saber que iria para Harvard?
Estou no processo para entender tudo o que está acontecendo. Não tenho noção de que conquistei coisas tão grandes. Nem nos meus maiores sonhos imaginaria Harvard. Quando eu era menina, lembro que cheguei à escola e as pessoas chutavam meu material, riam de mim. Parecia tudo tão distante. Achava que, quando eu conseguisse um dia fazer um doutorado, teria vencido muito na vida. Só que, de repente, fiz muito mais que tudo isso. E parece que estou só começando. Eu já nem sei mais para onde é que posso ir. Parece que o mundo ficou pequeno para mim.

E se você pudesse dar um conselho para quem está começando a estudar agora?
Tenham propósitos e não desistam dos seus sonhos. Por muito tempo na vida, às vezes a única coisa que temos é o sonho. E quando a gente vai atrás dele, ele pode fazer coisas inimagináveis com a gente. Então agarra as oportunidades que a vida te dá. Muitas pessoas vão falar que você não vai conseguir, vão falar que você sonha alto demais, mas podemos fazer muito pela nossa história, pela história dos nossos, precisamos acreditar e seguir caminhando. Tem muito trabalho, há muitos bastidores que ninguém vê, mas o importante é confiar. Guimarães Rosa fala “o que a vida quer da gente é coragem”. Então coragem e ‘bora’.

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