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D3 2804Fotos: Fernando Souza‘Se me pedissem para escolher uma palavra para descrever o professor Maculan, ela seria generosidade”. Foi assim, emocionado, que o professor Victor Giraldo, do Instituto de Matemática, resumiu sua gratidão de ex-aluno ao mestre Nelson Maculan Filho, na cerimônia de homenagem aos 80 anos de um dos mais destacados docentes e pesquisadores da UFRJ e do Brasil, na manhã de quarta-feira (29). Não havia um só assento vazio no auditório do CT-2, e muita gente teve de acompanhar a solenidade de pé.
A lotação deu a dimensão da gratidão e da admiração da comunidade acadêmica a Maculan — havia representantes de várias universidades na plateia —, mas o que mais se destacou foi mesmo a generosidade do homenageado. Aplaudido de pé em sua entrada no auditório, ao som do Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos, Maculan parou várias vezes do trajeto até a mesa do palco, cumprimentando amigos de décadas e jovens alunos. E fez questão de aplaudir de pé os que o aplaudiam.

TRAJETÓRIA
Ao abrir a cerimônia, o reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha, lembrou que quando o Conselho Universitário concedeu o título de professor emérito a Maculan, em 2013, estava, na essência, integrando o homenageado ao seu DNA. “Quem se sente honrado com esse título somos nós, que absorvemos todo esse conhecimento. São 80 anos em atividade, ainda trabalhando e orientando alunos. É um grande orgulho para nós”, disse o reitor.
Presente à cerimônia, o presidente da AdUFRJ, professor João Torres, disse que Maculan é uma fonte inspiração para todos os docentes: “É muito raro alguém se destacar na pesquisa, na formação de recursos humanos, tanto no Brasil quanto no exterior, e na alta administração universitária, concomitantemente. Ele conseguiu essa proeza. Para mim, ele é a encarnação da imagem ideal de um professor emérito, ou seja, alguém que queremos conservar na universidade e usufruir da sua presença o máximo possível”.WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 13
Em nome de mais de 200 ex-orientados de Maculan, o professor e ex-reitor da Universidade Federal de Ouro Preto, Marcone Souza, elencou algumas das principais contribuições do mestre ao ensino superior do país. Entre elas, a criação da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), da qual Maculan foi presidente, e cujo embrião foi concebido em uma reunião na casa do mestre.
Marcone também lembrou a passagem de Maculan pela Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, de 2004 a 2006, quando teve efetiva participação na consolidação de programas como o Reuni, o Prouni e também na lei de cotas. “A expansão do ensino superior que vemos hoje se deve muito ao trabalho do professor Maculan. Ele sempre esteve à frente do nosso tempo”, observou Marcone, que ainda destacou o início da trajetória do mestre em Ouro Preto. Maculan se formou em Engenharia de Minas e Metalurgia pela prestigiosa Escola Nacional de Minas da cidade mineira, em 1965.
Professor do Instituto de Matemática (CCMN) e da Coppe (CT) desde 1971, Maculan teve sua dedicação aos orientandos lembrada com carinho pelo professor Luidi Simonetti, da Escola Politécnica, que foi aluno do mestre na Iniciação Científica, no mestrado e no doutorado: “Ele costuma dizer que não é um orientador, mas sim um desorientador. Faz parte da generosidade dele, que vai muito além da formação acadêmica. Com ele você aprende a ser uma pessoa melhor”.
O professor Victor Giraldo, que já havia emocionado a todos ao falar da generosidade de Maculan, pontuou que foi durante a gestão do mestre como reitor (1990 a 1994) que a UFRJ criou cursos noturnos de licenciatura em áreas como Matemática, Física e Biologia, entre outras, democratizando o acesso a esses cursos. Decano do CCMN, o professor Josefino Cabral Melo Lima endossou a importância de Maculan como docente, pesquisador (nível 1A do CNPq) e gestor: “Quase todo time de futebol tem um craque que faz a diferença. Maculan faz a diferença na UFRJ”.
A impressionante capacidade de trabalhar e de cumprir rotinas foi destacada por outros dois colegas de Maculan. Diretor do Instituto de Matemática, o professor Wladimir Neves disse que busca inspiração sempre que passa pela sala de Maculan e o vê trabalhando, orientando algum aluno: “Ele é um farol que ilumina a todos nós, professores”. Já o decano do CT, professor Walter Suemitsu, arrancou risadas da plateia ao contar que sempre que vai se ausentar do trabalho para alguma viagem, Maculan lhe manda um comunicado formal pedindo autorização: “Eu recebo aqui e fico admirado com essa disciplina à hierarquia. Aí respondo ‘boa viagem’”, contou Suemitsu.

CORAGEM
Ao agradecer as homenagens, o professor Maculan disse que sente orgulho em ser professor de Cálculo porque assim conseguiu circular por várias áreas, da Matemática à Geologia. “Cheguei a dar 20 horas de aula por semana. Nós temos quase cinco mil professores na UFRJ, e acho que temos poucos alunos. Precisamos ter mais alunos. A minha briga é que acho que temos poucas universidades no Brasil. Temos que ter mais”, discursou o mestre, mais uma vez aplaudido de pé.
Maculan agradeceu a presença de tantas pessoas queridas na plateia. “Minha família está aqui, meus colegas professores de tantos lugares, ex-reitores, alunos, ex-alunos. Foi uma grande surpresa para mim esta homenagem, me deixou muito feliz”, disse o mestre. Ele fez questão de nomear alguns amigos de velhas jornadas, como o professor Paulo Alcântara Gomes, ex-diretor da Coppe (1978 a 1982) e ex-reitor da UFRJ (1994-1998). “Paulo salvou meu pai na ditadura. Quando o governo expulsou todos os pesquisadores da Finep sob a acusação de serem comunistas, o Paulo contratou todos na UFRJ. Na época da ditadura, não era fácil fazer isso, não”.
Paulo, amigo de Maculan há mais de 50 anos, foi vice-reitor na gestão do homenageado. “A gestão dele foi marcada pelo desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa, além de melhoria de infraestrutura da universidade”, lembrou Paulo. E inverteu a história contada pelo amigo pouco antes. “Quem salvou o pai do Maculan não fui eu. Foi o pai dele, o senador Nelson Maculan, que salvou a Coppe. Ele organizou ciclos de conferências e visitas para tirar a Coppe de uma crise enorme nos anos 1970”.
Além da generosidade, citada em muitos discursos, o professor Walter Suemitsu destacou outra característica marcante de Maculan: a coragem. “Eu estava aqui em 1975, quando a ditadura assassinou na cadeia o jornalista Vladimir Herzog. E vivíamos aqui uma crise com o valor das bolsas na Coppe, de valor muito baixo, sobretudo para alunos que vinham de fora do Rio. Estourou uma greve, e eu vinha do movimento estudantil da USP, logo me envolvi na greve, falava nas assembleias. A Polícia Federal veio até aqui, buscando meu endereço, e o professor Maculan se recusou a dar. Foi um ato de coragem enfrentar o regime. Devo ao professor Maculan estar aqui hoje”, contou Suemitsu, emocionado.
Vida longa, mestre Maculan. Com generosidade e coragem, sempre.

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