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Elisa Monteiro, Lucas Abreu e Silvana Sá

A pandemia tem resgatado a força da solidariedade. Pesquisadores da UFRJ estão na linha de frente das pesquisas e da produção de equipamentos para enfrentar  o novo coronavírus, mas não estão sozinhos. A universidade recebe ajuda de generosas redes que se multiplicam em apoio aos hospitais e buscam dar suporte aos mais frágeis na quarentena.
Os Hospitais Universitários são foco de campanhas beneficentes para a compra de material e equipamentos especiais. Dezenas são voluntários na produção de álcool, no campus do Fundão. Em paralelo, a comunidade se mobiliza em vaquinhas tradicionais e virtuais para ajudar terceirizados e alunos mais vulneráveis.
Toda essa rede inspira também ações de anônimos e lideranças comunitárias em toda a cidade. Nas favelas vizinhas ao Fundão, há desde campanhas de comunicação para conscientizar os moradores, até arrecadação de dinheiro e alimentos para quem está sem poder trabalhar.
“Eu nunca vi uma rede de solidariedade tão forte para salvar vidas”, emociona-se a decana do CCMN, Cássia Turci. “Mesmo com as notícias ruins, não podemos perder esse foco”, ogulha-se a professora, que coordena as doações de matérias-primas e a produção de álcool para as unidades de saúde.

DE TODOS PARA A UFRJ

As redes de solidariedade para ajudar a UFRJ a combater o coronavírus já formam uma imensa teia que une desde o árduo trabalho de voluntários produtores de álcool até doações financeiras generosas para o Complexo Hospitalar.
Na semana passada, a universidade mostrou fôlego na corrida contra o tempo para preparar os nove hospitais do Complexo para receber o público no pico de internações. Em menos de dez dias, o Fundo de Apoio aos hospitais da UFRJ arrecadou cerca de R$ 700 mil, com mais de 800 doadores.
“Os valores variam de R$ 20 até R$ 25 mil por pessoa”, relata Fernando Peregrino, diretor da Coppetec, fundação responsável por administrar o Fundo de Apoio aos hospitais da UFRJ. “A maioria das doações é de pessoas físicas”.
Há também gestos solidários de grandes empresas. Na sexta-feira, 3, o Burger King assinou termo de doação de 6.900 aventais de isolamento para equipes médicas dos hospitais da UFRJ. O equivalente a R$ 200 mil.
A Petrobras é outra parceira de peso. “A estatal está fazendo o possível para nos ajudar com equipamentos, mas estão encontrando as mesmas dificuldades que nós para importações nesse momento”, relata Ariane Magalhães, chefe das licitações e contratos do HU. Outra dificuldade é oportunismo, traduzido numa escalada de preços no mercado. “Máscaras que eram vendidas a R$ 2 estão custando R$ 30, R$ 40 hoje”, acrescenta a técnica do HU.

LEITOS DE UTI
O Hospital Clementino Fraga é a principal unidade atendida pelas doações. “O básico são as camas, monitores e respiradores. Mas são igualmente relevantes os ultrassons e aparelhos de raio-X móvel digital”, diz Renan Lombardo, chefe da Engenharia do HU. Até o momento, o Instituto da Criança foi o principal parceiro da causa, doando 27 monitores. A iniciativa tem como objetivo ativar 60 leitos de terapia intensiva em dois pavimentos do HU.
O diretor geral do hospital universitário reforça a importância dos gestos solidários para enfrentar a Covid-19. “As doações são fundamentais neste momento de subfinanciamento dos Hospitais em meio ao cenário de pandemia”, destaca o professor Marcos Freire. “Sem elas, não conseguiríamos nos preparar para a demanda de pacientes que vai chegar nos próximos 15 dias”.
Outra frente de arrecadação para a UFRJ está centralizada na Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB). A doação tem dupla linha de ação: o atendimento ao público nos HUs do Complexo Hospitalar e o diagnóstico, realizado pelo Laboratório de Virologia Molecular, do Instituto de Biologia. “São duas contas bancárias. Uma, para o fundo dos hospitais universitários, atenderá desde equipamentos até kits de higiene. E outra, para o laboratório”, explica a professora Helena Ibiapina, superintendente da fundação. “A meta é realizarmos 55 mil testes em 90 dias”.

ÁLCOOL
WEB menor 1123 p4Foto: DivulgaçãoTrês grandes laboratórios acadêmicos da UFRJ estão trabalhando em ritmo industrial para produzir álcool e reforçar a higienização dos hospitais universitários e alojamento estudantil.
A produção é realizada três vezes na semana, por equipes voluntárias de até quinze pessoas em cada local. Estão envolvidos: a Escola de Química, o Instituto de Química, a Faculdade de Farmácia e a Coppe. “Estamos trabalhando para atender a previsão de pico de demanda no HUCFF”, explica a professora Cássia Turci, que coordena a iniciativa.
Segundo a decana do CCMN, quase trinta unidades da universidade doaram insumos para o projeto. É o caso do Museu Nacional, que destinou 700 litros de álcool utilizados nos laboratórios do Departamento de Vertebrados e pela equipe de Resgate de Acervos. E outras vinte empresas, como a Ambev, Petrobras e Coca-Cola, contribuíram com materiais diversos desde etanol até tinas ou garrafas PET. “Eu nunca vi uma rede de solidariedade tão forte para salvar vidas. Mesmo com as notícias ruins, não podemos perder esse foco”, diz a docente.

TESTES E RESPIRADORES
As doações e os esforços de servidores e voluntários para ajudar a UFRJ são reforçados pela ciência solidária praticada na maior federal do país. Dois exemplos vêm da Coppe. A professora Leda Castilho, coordenadora do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares, desenvolve um teste sorológico para detectar a infecção do coronavírus de forma mais simples e barata que o teste genético (PCR). Já o professor Jurandir Nadal chefia um estudo do Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular para criar um protótipo de ventilador pulmonar mecânico. O equipamento, essencial para o tratamento dos casos mais graves da Covid-19, poderia ser fabricado rapidamente e com valores mais em conta que o do modelo utilizado no mercado.

DE TODOS PARA TODOS

A pandemia despertou a solidariedade em pessoas físicas e jurídicas. São ações — quase sempre anônimas — para criar mais leitos em unidades de saúde, aumentar a capacidade de testes de detecção da doença, sustentar pesquisas, ou mesmo para fazer chegar comida à mesa de quem mais precisa. A Uerj começou no último dia 28 uma campanha para arrecadar R$ 5 milhões para converter 50 leitos do Hospital Universitário Pedro Ernesto em unidades de UTI capazes de receber pacientes com Covid-19. Na última prestação de contas, feita no fim da semana passada, a meta já estava praticamente batida, com R$ 4,9 milhões recebidos.
“Além do dinheiro, também recebemos materiais doados por empresas, especialmente equipamentos de proteção individual”, contou o vice-reitor da Uerj, Mário Sérgio Carneiro. “Se ultrapassarmos a meta estabelecida, a direção do hospital vai dizer quais são as prioridades e como será investido esse dinheiro. Podemos até imaginar um cenário onde a maior parte dos 500 leitos do Hupe seja convertida para unidades de UTI”.
Professor da área de saúde, Carneiro destacou a importância das  instituições de ensino durante a pandemia. “As universidades públicas estão passando por um período muito difícil, mas seus servidores sabem a importância que é atender à sociedade em uma hora como essa”.
A Fundação Oswaldo Cruz também criou a campanha “Unidos contra a Covid-19”, que pretende levantar fundos para expandir sua atuação. São seis metas: aumento da produção de teste; construção de unidade hospitalar de montagem rápida, com 200 leitos de tratamento intensivo e semi-intensivo; pesquisa de medicamentos; capacitação dos laboratórios; campanhas de prevenção nas comunidades vizinhas à Fiocruz e campanhas de orientação ao público.
Mas não precisa ser um centro de excelência em saúde pública para começar uma campanha e ajudar as pessoas. A ONG Redes da Maré criou a “Maré diz não ao coronavírus”, mobilização que combina assistência com serviços de informação sobre a pandemia. Os organizadores pretendem distribuir seis mil cestas básicas e kits de higiene por pelo menos três meses, além de produzir e entregar 200 refeições por dia para pessoas em situação de rua em pontos ocupados por usuários de crack.
WEB menor 1123 p5Foto: FÁBIO BENTO/COLETIVO PAPO RETOAs mulheres que estão preparando essas refeições são da comunidade, foram impactadas pela diminuição da atividade econômica e irão receber uma ajuda de custo da ONG. “A vulnerabilidade das favelas e periferias é histórica, fruto da negação de direitos básicos a estes territórios, o que faz com a que a situação fique mais crítica em momentos como este”, explicou Eliana Sousa Silva, professora aposentada da UFRJ, diretora da Redes da Maré e responsável pela coordenação da campanha. “Nas favelas, as pessoas moram em espaços pequenos, sem ventilação, há falta de água, de saneamento e coleta de lixo”, relatou.
A solidariedade dita historicamente as normas de convivência na Maré: compartilha-se o café, o açúcar e a água. A água, aliás, é uma das principais armas no combate à pandemia. “Uma das mensagens do nosso carro de som é: ‘Se você não tem água, peça a um vizinho. E se você, vizinho, sabe que há pessoas por perto sem água, compartilhe sua água. Vamos salvar vidas’”, conta a jornalista Gizele Martins, liderança comunitária da região.
Gizele articulou um grupo de voluntários para fazer campanhas de comunicação para tirar dúvidas dos moradores sobre a Covid-19 e conscientizar sobre a importância do isolamento social. “Agora entramos numa nova fase. Além de ampliar a campanha de conscientização, parte das doações também será destinada a cestas básicas para as famílias mais vulneráveis da favela”, afirma a ativista.
No mesmo sentido, mas em outro complexo de favelas, a ONG Voz das Comunidades criou a campanha “Pandemia com empatia”, que pretende distribuir cinco mil cestas básicas para famílias, sobretudo as mais vulneráveis, do Complexo do Alemão. “Nesse período, estamos focados na pandemia e a meta é ajudar o máximo de famílias do Complexo do Alemão”, explicou Rene Silva, presidente da ONG.

AJUDE QUEM AJUDA

COPPETEC
As doações estão estritamente vinculadas aos itens listados na página eletrônica da campanha de arrecadação (https://bit.ly/2UNfScV), que também mostra a execução das despesas. A lista contempla equipamentos leves de proteção individual como máscaras, óculos, toucas e macacões. Qualquer pessoa física ou jurídica pode doar recursos e receberá um termo de doação comprovante, assim como um recibo da Fundação. Nele, o doador poderá escolher se quer ficar anônimo ou não.

FUJB
A Fundação Universitária José Bonifácio apoia o atendimento dos hospitais universitários e o diagnóstico de pacientes com Covid-19, realizado pelo Laboratório de Virologia Molecular. O fundo dos hospitais “vai prover desde equipamentos até kits de higiene”, explica a professora Helena Ibiapina, superintendente da FUJB. O do laboratório quer garantir a realização de 55 mil testes em 90 dias. Os dados da campanha estão do site www.fujb.ufrj.br.

ESCOLA DE MÚSICA DA UFRJ
Professores, técnicos e alunos da Escola de Música realizam campanha para doação de cestas básicas e de material de higiene para alunos em grave situação de vulnerabilidade social, em função da quarentena. A AdUFRJ é uma das apoiadoras da iniciativa. O Centro Acadêmico organiza a distribuição do material. “Até o momento, estamos dando suporte a 13 estudantes”, conta Paulo Ribeiro, do CA. As doações, via internet, podem ser feitas pelo endereço: http://vaka.me/976863.

FIOCRUZ
A Fundação Oswaldo Cruz criou a campanha “Unidos contra a Covid-19” para permitir: aumento da produção de testes; construção de uma unidade hospitalar, com 200 leitos de tratamento intensivo e semi-intensivo; pesquisa de medicamentos; capacitação dos laborató- rios públicos para diagnosticar a doença; campanhas de prevenção da doença nas comunidades vizinhas à Fiocruz e de orientação ao público com informações confiáveis. Para doar: https://bit.ly/2Xk8G9Y

REDES DA MARÉ
A ONG Redes da Maré criou a campanha “Maré diz não ao coronavírus”, mobilização que combina assistência com serviços de informação sobre a pandemia. Os organizadores pretendem distribuir 6 mil cestas básicas e kits de higiene por pelo menos três meses, além de produzir e entregar 200 refeições por dia para pessoas em situação de rua. Mais informações sobre a campanha e os dados bancários para as doações estão disponíveis em: https://bit.ly/2JOAyeb.

COMPLEXO DO ALEMÃO
A ONG Voz das Comunidades criou a campanha “Pandemia com empatia” para distribuir 5 mil cestas básicas para famílias vulneráveis do Complexo do Alemão. Também divulga mensagens para o compartilhamento de água entre vizinhos. “A meta é ajudar o máximo possível de famílias”, explica Rene Silva, presidente da ONG. Os dados bancários da campanha são: Caixa Econômica Federal, Agência 0198, C/C 3021- 2, operação 03, ONG Voz das Comunidades, CNPJ 21.317.767/0001-19.

 

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