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Que o governo negacionista do presidente Jair Bolsonaro tem desprezo à Ciência e boicota sistematicamente a vacina contra a covid-19, isso não é novidade para ninguém. O que talvez ainda surpreenda é o (baixo) nível de artimanhas que o Planalto engendra para tentar impor a sua visão distorcida da realidade. Os últimos alvos dessa cruzada contra a vida foram crianças de 5 a 11 anos. Em 16 de dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do imunizante da Pfizer para essa faixa etária. Desde então, o governo federal vem retardando o quanto pode o início da vacinação das crianças.
O que pode parecer perverso para qualquer pessoa de bom senso é tratado com uma naturalidade ultrajante por parte do governo. De férias em um balneário de Santa Catarina, onde se exibiu dançando funk e pilotando um jet ski enquanto o sul da Bahia sofria com as chuvas (tema de nossa matéria da página 8), o presidente encarregou seu ministro da Saúde de protelar ao máximo a vacinação das crianças. Marcelo Queiroga convocou então uma inédita e inócua consulta pública para “debater” o tema já referendado pela Anvisa e pelas sociedades médicas especializadas. Não satisfeito, convocou uma audiência pública para “debater” os resultados dessa consulta. Resultado: a contragosto, e mais de 20 dias após a aprovação pela Anvisa, o Ministério da Saúde anunciou a vacinação de crianças contra a covid-19 na quarta-feira (5).
O atraso fará com que meninos e meninas de 5 a 11 anos só comecem a ser vacinados um mês após a aprovação do imunizante da Pfizer pela Anvisa. E isso em um momento de avanço vertiginoso da covid-19 no Brasil e no mundo. Mais contagiosa do que suas antecessoras, a variante ômicron tem feito disparar o número de infectados: em média, são 2,5 milhões novos casos por dia pelo mundo. No Brasil, houve um aumento de quase 480% nos registros positivos esta semana, em relação a duas semanas atrás. Isso levou a reitoria da UFRJ a recomendar o retorno ao modo remoto de todas as atividades administrativas e acadêmicas até 31 de janeiro. Esse é o tema de nossa matéria das páginas 4 e 5, que aborda também a patética tentativa — rechaçada pela comunidade científica e sustada pelo STF — do pastor Milton Ribeiro, ministro da Educação, de proibir a adoção do passaporte vacinal pelas instituições federais de ensino superior.
No fechamento desta edição, a Anvisa divulgou uma notícia animadora: a aprovação do registro do insumo farmacêutico ativo (IFA) da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 fabricado pela Fiocruz. Com isso, o país passará a ter o primeiro imunizante 100% nacional. A Fiocruz espera entregar em fevereiro ao Ministério da Saúde as primeiras doses dessa vacina totalmente produzida em seus laboratórios. Um feito assim mereceria do presidente da República um pronunciamento de louvor em cadeia nacional. Até o fechamento desta edição, Bolsonaro optou pelo silêncio.
Bem diferente de sua postura na véspera. Recém-saído do hospital, internado que fora às pressas por conta de um camarão mal mastigado que lhe interrompeu a farra em Santa Catarina, Bolsonaro voltou à carga contra as vacinas na quinta-feira (6). Em entrevista a uma emissora de TV do Nordeste, o presidente mentiu sobre a morte de crianças pela covid-19 — ele disse ser “quase zero”, e o próprio Ministério da Saúde registra 308 óbitos em crianças de 5 a 11 anos —, e questionou os “interesses” da Anvisa em aprovar a vacinação para essa faixa etária. De quebra, em sua sanha negacionista ensandecida, Bolsonaro chamou os que defendem a vacinação contra a covid-19 de “tarados por vacina”.
Somos, sim, presidente, tarados por vacinas, tarados pela Ciência. Tarados pela vida.

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