facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2022 01 14 at 17.19.54 1Beatriz Coutinho, Estela Magalhães e Silvana Sá

Em dezembro, a UFRJ anunciou a abertura de 9.441 vagas para os cursos de graduação em 2022. A imensa maioria (9.250 vagas) será preenchida por meio do Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação, o SiSU. São 5.223 para o primeiro semestre e 4.027 para o segundo semestre letivo. As outras 191 vagas se referem a cursos que exigem o Teste de Habilidade Específica (THE) e ao curso de Libras, que conta com mais uma modalidade de seleção, além da nota do Enem. O número é igual ao ofertado no ano passado. E um pouco maior do que a oferta para 2019 e 2020, quando 9.421 vagas foram oferecidas no total.
A notícia é muito boa, não fosse uma questão: como solucionar uma equação que combina estudantes atuais, novos alunos, espaços limitados, corte acentuado de recursos e uma pandemia que insiste em não acabar?
O Jornal da AdUFRJ fez um giro pelos centros para entender como a covid-19 impactou a universidade e quais os desafios para acolher os próximos estudantes, manter a qualidade do ensino e reforçar medidas de segurança para evitar a propagação da doença. Duas conclusões resumem o problema: não há verba para fazer todas as adaptações necessárias e isso forçará parte da universidade a se manter em ensino híbrido enquanto a pandemia durar.

CCS
“Temos em torno de 60 salas, mas algumas são no subsolo, sem janelas”, conta a coordenadora de Integração Acadêmica do Centro de Ciências da Saúde (CCS), professora Georgia Atella. “Nossas turmas são muito grandes. Mesmo numa sala que comporta cem alunos, não podemos alocar todos”, diz a docente. Só no Fundão, o CCS concentra 19 cursos de graduação.
Para o ano letivo de 2020, a prioridade do retorno presencial foi concedida aos formandos — e seus estágios — e aos cursos com aulas práticas desde o 1º período, como Odontologia. Para retornar, era necessário abrir pedido de autorização junto ao Conselho de Ensino de Graduação (CEG). “Seria irresponsabilidade formar nossos alunos sem aulas práticas”, afirma.
Na última quarta-feira (12), coordenadores de graduação do CCS se reuniram na Câmara de Graduação, que acontece mensalmente, para avaliar o momento e pensar estratégias para o próximo ano letivo, que começa em abril. Para o retorno presencial mais amplo, a vice-decana do CCS, professora Lina Zingalli, informou sobre a criação de uma matriz de disponibilidade de salas, para que os docentes possam escolher o melhor espaço de acordo com suas necessidades. Outro ponto importante para o retorno presencial pleno é a melhoria na ventilação das salas do subsolo por meio de dutos, ventiladores e purificadores de ar. “Mas tudo isso precisa de recurso. Essa é a parte complicada”, finalizou a docente.


Em Macaé, grande parte das disciplinas, no início da pandemia, aderiu ao ensino remoto. “O Período Letivo Excepcional foi um grande desafio, mas preparou os docentes para enfrentar esses períodos regulares que viriam”, explica a coordenadora geral de Graduação, professora Samantha Martins. Atualmente, há disciplinas nos três formatos: presencial, remoto e híbrido.
O centro registrou aumento da evasão por motivos financeiros, já que a pandemia afetou a renda das famílias. Em 2021, 205 dos 2.395 estudantes desistiram de seus cursos, o que representa 8,6% do total. Desses, 15%, ou 32 estudantes, alegaram questões financeiras. Para efeitos de comparação, nos dados registrados em 2019, que contabilizaram 8,5% de evasões (179 de 2.113 alunos), apenas 0,5% ocorreu por razão financeira.
Para o retorno mais amplo, em abril, Samantha adverte que Macaé não tem estrutura para receber todos os alunos respeitando os protocolos sanitários. “Teremos que manter o ensino híbrido”, afirma.

CAXIAS
Em relação ao impacto da pandemia nos cursos de graduação, o Campus Duque de Caxias, em resposta por e-mail, alega ter conseguido manter o número médio de disciplinas abertas por período com o número máximo de vagas ofertadas. A maioria das disciplinas práticas foi adaptada ao modelo remoto. “Isso nos garantiu que nossos discentes não ficariam sem a valiosa experiência prática em sua formação”, explica o documento enviado pela direção do campus.
Segundo a nota, houve trancamentos e evasões, mas os números foram pequenos e há até uma reversão de trancamentos. Desde 2015, os números de discentes ativos vêm aumentando e encontram seu ápice em 2021, com quase 800 alunos. Nesse mesmo período, os cancelamentos de matrícula vêm caindo. “Muitos discentes que estavam com o curso trancado encontraram no amplo ensino remoto uma possibilidade de avançar na graduação”, interpreta a direção.
Com a nota da reitoria que recomendou a suspensão das atividades até dia 31 de janeiro, o campus retornou com suas aulas práticas para o formato remoto de maneira provisória. Porém, 14 atividades essenciais foram mantidas presencialmente, segundo a diretora Juliany Rodrigues. “Definimos e estamos definindo o que é essencial à medida que vai surgindo a necessidade”, afirma a dirigente.
CFCH
No Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), a grande adesão ao Período Letivo Excepcional pelos estudantes facilitou a regularização dos semestres posteriores. O PLE tinha o objetivo de atender aos concluintes após seis meses sem aulas no centro, mas foi cursado por alunos de diversos períodos.
Marcelo Macedo Corrêa e Castro, decano do CFCH, explica que, por mais que o atraso tenha sido mitigado nesse período, outros fatores pesaram na retenção de estudantes na grade curricular. Uma parcela dos alunos, por exemplo, adiou seu desligamento da universidade porque passou a depender mais de bolsas para seu sustento, por conta da pandemia. O centro ofereceu matérias teóricas e práticas por meio do ensino remoto.
A falta dos laboratórios físicos e da presença dos servidores técnico-administrativos, na avaliação do decano, dificultou a adaptação ao novo modelo. “Não é um ensino a distância, porque ele não foi projetado para isso. Ele é um ensino basicamente presencial que a gente tentou adaptar do jeito que dava. Agora talvez possamos começar a pensar em mudanças”, sugere o professor. “Nós conseguimos lidar (com o momento) com dignidade, inteligência, criatividade e sofrimento”, analisa.
Com a aproximação do SiSU 2022, o CFCH começa a se preparar para receber novos estudantes num possível retorno presencial previsto para abril. São 1.210 vagas disponíveis no ano para este centro. “O grande desafio academicamente é continuar uma história de formação com a memória recente dos dois anos de interrupções e de improviso. Não vai se instalar uma normalidade imediatamente”, explica Corrêa e Castro.
Para um retorno seguro, é preciso garantir a ventilação dos ambientes e o distanciamento social, demandas relacionadas à infraestrutura dos campi. O decano explica que o Palácio Universitário, na Praia Vermelha, se torna ideal nesse contexto, por conta de suas salas bem ventiladas. Entretanto, muitas reformas ainda precisam ser feitas para garantir a segurança e a qualidade de vida nos domínios do CFCH. “Não se sabe quando acaba a reforma do telhado, as obras da elétrica e da hidráulica. Estamos muito preocupados em ter minimamente essa condição de um acolhimento físico”, conclui.

CLA
A adaptação dos cursos oferecidos no Centro de Letras e Artes (CLA) para o ensino remoto dependeu do improviso da comunidade acadêmica e impossibilitou a realização de diversas disciplinas práticas. A professora Cristina Tranjan, decana do CLA, destaca as dificuldades de oferecer aulas necessárias para os cursos da Escola de Belas Artes. “Por exemplo, a EBA tem um ateliê de cerâmica que tem forno, mas a professora está se virando para dar uma aula remota. Os alunos não têm forno em casa, eles fazem adaptações com o que têm. As aulas teóricas até estão funcionando, mas a maior parte das aulas práticas não está sendo dada”, admite.
Em outubro, por conta de ação movida pelo Ministério Público Federal, a reitoria da UFRJ autorizou o retorno presencial em todos os campi. Então, o CLA voltou a ofertar disciplinas práticas por meio do agendamento de salas e especificação do número de alunos, pelos professores. “De todas as unidades, a que mais voltou com a aula presencial foi a Música. Como há muitas turmas de um só aluno, fica fácil botar numa sala o professor e o aluno sem aglomeração”, explica a decana. Entretanto, com o avanço da ômicron, o CLA aderiu à recomendação da reitoria de suspender as atividades presenciais não essenciais.
A questão da infraestrutura também assombra o centro. O prédio que abriga a EBA e a Faculdade de Arquitetura ainda não tem condições de receber novas turmas, desde que dois incêndios atingiram a estrutura. “Quando voltarem as atividades presenciais, talvez o problema seja sala de aula, porque nós temos um problema sério que é o nosso prédio”, explica a decana. “Estamos correndo com as obras para o prédio estar habitável em abril, mas não sei se vai dar tempo”.
CT
No Centro de Tecnologia (CT), a adesão ao ensino remoto foi plena na Escola de Química, mas ficaram faltando laboratórios da Escola Politécnica, segundo informa o decano, professor Walter Suemitsu. “Foi assim de uma hora para outra, não houve uma preparação, todas as disciplinas teóricas passaram a ser remotas, e os professores e alunos se adaptaram”, conta o dirigente. A pandemia também contribuiu para uma alta no índice anual de cancelamentos de matrícula no centro: 7% maior que em 2019.
Sobre o breve retorno de algumas atividades presenciais no fim do ano, o decano explica que foi possível aplicar as medidas de prevenção da covid-19 no centro, já que as aulas práticas mobilizavam um número bem menor de pessoas. Esse mês, o CT seguiu a recomendação da reitoria sobre a volta das atividades administrativas e de ensino remotamente. “Tem aluno que vai para o quinto período e não conhece a universidade, nunca foi à universidade presencialmente”, lamenta o decano.
O CT também se prepara para a chegada de novos alunos com o próximo SiSU: são 1.472 vagas para os cursos oferecidos pelo CT no Fundão, em Macaé e Xerém. “Não sei se vai dar para receber todo mundo, vai ter que ser parcial. Talvez a gente tenha que fazer um ensino híbrido, não sei. Isso tudo é um planejamento que vai começar a ser feito agora”, finaliza.
CCMN
A decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), professora Cássia Turci, destaca que a prioridade de sua equipe é trabalhar o acolhimento de todos os estudantes a partir da volta presencial ampla. “A gente não está pensando só nos calouros que chegam em abril, mas em todos que entraram na UFRJ na pandemia. Eles não têm nenhuma familiaridade com a universidade. Isso é comum a todos eles”, analisa a docente.
Durante seis meses do ano passado, o CCMN se reuniu com todos os coordenadores de graduação para debater os desafios para esse segmento do ensino universitário, tão importante para a vida acadêmica. Os encontros desaguaram no I Congresso de Graduação do centro, que aconteceu em dezembro. “Trabalhamos seis temas: evasão, políticas de permanência, estruturas curriculares dos cursos de graduação, acesso à universidade, licenciaturas e ensino remoto. Foi uma discussão riquíssima”, comemora a dirigente. “Agora em 2022 vamos começar a implementar algumas ações que foram definidas ao longo dessas discussões. A gente precisa ter bons estudantes de graduação, com boas políticas de permanência, bons locais de convivência”, exemplifica.
Um dos graves problemas a ser combatido pelo seu centro, segundo a docente, é a evasão. “Encontramos índices em alguns cursos que variam entre 30% e 50% na pandemia. Isso é muita coisa”, aponta a dirigente. “Muitos alunos têm problemas de acesso, a rede é ruim, outros tiveram perdas de entes para a covid-19, seus pais perderam emprego. São muitos fatores”, aponta Cássia. Outro problema é a retenção de alunos em cursos cujas disciplinas práticas não puderam ser adaptadas para o ensino remoto. “A Física montou kits e enviou aos alunos para realizarem seus experimentos em casa. Mas a Química não pode fazer isso, pelo risco da manipulação de vários reagentes”, compara.
Com alunos retidos e novos alunos que em breve serão parte da UFRJ, a professora reconhece que tem muitos desafios pela frente. “Estamos seguindo todas as recomendações dos grupos de trabalho da UFRJ. Tenho esperança de podermos retornar plenamente ao presencial, mas o ambiente ainda é de muitas incertezas”, admite. “Vamos ter prejuízos para 2022, mas estamos trabalhando para que nossos alunos tenham a melhor formação possível. Vamos continuar estudando para encontrar alternativas de fazer todo mundo se formar, fazer disciplinas experimentais e de campo, com qualidade”, finaliza.

CCJE
Até o fechamento da edição não foi possível contato com a decania do CCJE.

EaD também precisou se adaptar

WhatsApp Image 2022 01 14 at 17.19.54 2Não foram só os cursos presenciais que sofreram forte impacto da pandemia. As graduações na modalidade de ensino a distância (EaD) da universidade também não passaram ilesas por esses dois anos de privações provocadas pelo coronavírus. “A UFRJ oferece cursos de graduação EaD na modalidade semipresencial, na qual algumas atividades acadêmicas são realizadas de forma presencial”, explica o professor Bruno Souza de Paula, assessor da pró-reitoria de Graduação e coordenador do Núcleo de Educação a Distância da UFRJ. “Dessa forma, os cursos EaD também precisaram sofrer adaptações durante a pandemia”, afirma.
As tutorias presenciais precisaram ser convertidas em tutorias a distância, segundo informa o professor, assim como as avaliações presenciais, “que passaram a ser realizadas de forma remota”. Em dezembro de 2021, o Conselho de Estratégia Acadêmica do Consórcio Cederj — que coordena os cursos EaD das universidades públicas do estado do Rio de Janeiro — decidiu pelo retorno das atividades presenciais nos polos regionais a partir de fevereiro deste ano, “mas com limitação de ocupação dos espaços seguindo as diretrizes das universidades pertencentes ao consórcio”, conta o docente.
A previsão é que as avaliações continuarão sendo feitas de forma remota no primeiro semestre letivo de 2022. “A medida é necessária pela impossibilidade de todos os alunos realizarem as avaliações presenciais simultaneamente, obedecendo ao distanciamento necessário”, explica Bruno.
Desde 2019.2, a cada semestre são oferecidas pela UFRJ 1.150 vagas para os cursos EaD via consórcio Cederj, mas no ano passado nem todas as vagas foram preenchidas. “Em 2021, houve uma diminuição considerável no número dos ingressantes, fato este que pode ser atribuído à pandemia. A seleção para o acesso aos cursos EaD da UFRJ é realizada de forma presencial, o que pode ter dificultado o preenchimento de todas as vagas”, avalia o professor. (Silvana Sá)

Topo