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WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.45.48Foto: Ricardo Stuckert/Twitter Lula 13O último e mais importante debate eleitoral entre os presidenciáveis, promovido pela Rede Globo na última quinta-feira (29), abriu mais espaço para a desqualificação da política do que serviu para informar os indecisos. Mas mostrou um Lula indignado e firme. “A reação de Lula diante da enxurrada de mentiras foi firme e altiva. Mesmo com os limites de tempo e a insistência dos adversários, desmascarou distorções e corrigiu o rumo da conversa para temas relevantes”, analisa a professora Carol Proner, da Faculdade Nacional de Direito.
Mayra Goulart, professora da Ciência Política e vice-presidente da AdUFRJ, concorda. “A corrupção esteve no centro do debate e a novidade é Lula acentuar a defesa do seu governo como uma gestão que combateu a corrupção”, destaca. A docente também diferencia as posturas de Ciro Gomes e Simone Tebet. “Enquanto Ciro se organiza à direita, às franjas do bolsonarismo, para ser o porta-voz da oposição ao governo Lula, a Tebet quer construir um outro lugar, talvez até dentro do governo Lula, e que não se captura pelo bolsonarismo. Alguém que se apresenta para além da polarização e reforça uma agenda programática, de mulheres que têm preocupações sociais”, diz.
Analistas ouvidos pelo Jornal da AdUFRJ criticam também o modelo do debate. “A função era convencer as pessoas que ainda não tinham definido seu voto. Oferecer uma perspectiva mais assertiva sobre os candidatos”, diz a professora Suzy dos Santos, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ e coordenadora do PEIC – grupo de pesquisa em Políticas e Economia Política da Informação e Comunicação. “Nada disso aconteceu. Houve pouco espaço para o debate de propostas. As imagens que temos (pós-debate) são dos ‘nanicos’ e de um padre que não é um padre, uma candidatura histriônica”, completa.
Para o professor Pedro Lima, do Departamento de Ciência Política do IFCS, a candidata Simone Tebet foi a grande vitoriosa. “Lula deveria ter sido mais altivo. Não tinha que ir pra lama e bater boca com Bolsonaro e com o falso padre, dois golpistas desqualificados”, acredita.
Emérito da Escola de Comunicação, o professor Marcio Tavares D’Amaral não acredita num grande vencedor do debate, mas concorda que Tebet e Soraya Thronicke se destacaram. “As mulheres foram muito bem também porque elas não têm nada a perder”, analisa. “Simone, inclusive, tem até alguma coisa a ganhar. Ela pode passar Ciro Gomes e ficar em terceiro lugar, colocando o MDB com a maior votação em sua história”, avalia. “E Soraya é uma criadora de memes”.
Já para a professora Thais Aguiar, também da Ciência Política, a postura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa ser destacada. “Lula foi firme. Respondeu muito bem às questôes de corrupção, não foi passivo e dialogou com a camada mais ampla da população”, diz. Ponto de maior força e também calcanhar de aquiles do PT, os mais pobres compõem a parcela da população que mais se abstém proporcionalmente nas eleições. “Essa abstenção é o que mais afeta o PT desde 2006, quando sua base eleitoral passou a ser mais concentrada nessa faixa da população”, avalia o cientista político Jorge Chaloub, do IFCS. “E pode fazer a diferença no domingo”.

AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES

Lula foi alvo primordial dos ataques

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.36.59 1JORGE
CHALOUB
Professor do Departamento de Ciência Política do IFCS/UFRJ

O tom predominante foi o da direita nesse debate. Quem acabou sendo alvo primordial dos ataques foi Lula, pelo tom dos adversários, à direita, e por ser o líder nas pesquisas. Dada a organização entre Lula e Bolsonaro, como competidores diretos, as outras candidaturas tentavam se colocar como terceira via. Ciro pode perder parte de seu eleitorado com essa postura mais à direita, porque seu eleitorado não muda de orientação tão rapidamente. Lula promete menos e menciona mais os feitos. Bolsonaro promete mais e se justifica mais pelo que não cumpriu. A campanha petista tão ostensiva pelo voto útil é um risco – de desanimar a militância num eventual segundo turno e esgarçar importantes relações políticas – mas também uma aposta de redução de risco e diminuição da violência.

Modelo do debate foi longo e desinteressante

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.36.59MARCIO
TAVARES
D’AMARAL
Professor da Escola de Comunicação da UFRJ

O modelo do debate é muito ruim: longo e desinteressante. O debate era para conduzir ao voto útil ou mexer com os indecisos, mas não acho que foi efetivo. Alguém atacado, como o Lula foi por todo mundo, mais tem que se defender do que ser propositivo. Destaco o momento em que o padre e o Lula se enfrentaram. Começou um bate-boca. Depois Lula recolocou as coisas em seus devidos lugares. Eu não sei como isso será apreciado. Bolsonaro botou uma casca de banana para o Lula, porque não o chamou para a disputa e deixou esse embate para o padre. Vamos ver se essa postura de Lula vai ser considerada como reação esperada de uma pessoa agredida em sua honra, ou falta de controle. Temos que terminar no primeiro turno. Está difícil até de respirar e a violência pode aumentar.

Faltou discussão de ideias. Formato está esgotado

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.36.59 2SUZY DOS
SANTOS
Professora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ

A conclusão mais inicial que me chama atenção é que esse modelo de debate não funciona. É profundamente esgotado na imagem e com pouco debate de ideias. O campo da comunicação política já reverbera, há um tempo, que esse formato é esgotado, observando resultado eleitoral após debates e vendo que não há mudanças nas tendências do eleitor como acontecia há 20 anos. É preciso fazer uma busca para se qualificar os debates. Há que se pensar em como reorganizar esse processo para que existam debates efetivos, que informem, que esclareçam, que evitem essa midiatização do que é o escracho, do que é o estereótipo quase negativo da própria política, desse tipo de candidato-comédia. O sistema midiático precisa saber por que e como fazer o debate político numa lógica democrática.

Presidente e padre desinformam e atacam a democracia

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.36.59 3THAIS
AGUIAR
Professora do Departamento de Ciência Política do IFCS/UFRJ

Ciro Gomes, num primeiro momento, se soma aos ataques ao Lula e ao PT, mas depois percebe o jogo que estava sendo engendrado com Felipe D’Avila como escada de Bolsonaro e padre Kelmon sendo um duplo do atual presidente. Então ele se reposicionou para não colaborar com essa dobradinha. Ciro e Tabet se saíram bem entre os indecisos, na pesquisa focal, mas não me parece que houve um grande vencedor. Bolsonaro fugiu da pergunta sobre tentativa de golpe. E claramente fugiu do embate direto com Lula. A desinformação que ele e padre Kelmon promoveram e que não pode ser contradita no debate pesa, porque é um ataque à democracia. Nem todos os eleitores conseguem distinguir o que é verdade e o que é mentira. De modo geral, houve pouca discussão programática.

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