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WhatsApp Image 2021 04 16 at 20.36.18Diretoria da AdUFRJ

Sim, a que ponto chegamos! O mundo sabe quem é o responsável principal pela perda de centenas de milhares de vidas brasileiras provocada pela covid-19, assim como se sabe que vermífugos não são eficazes no tratamento da doença. Mas, aqui no Rio de Janeiro, um deputado inexpressivo se acha no direito de intimidar a universidade, secundado por criminosos que usam a violência verbal e física para tentar silenciar o Sintufrj por conta de sua excelente campanha “Vacina no braço, comida no prato”.  E tudo isso acontece na mesma semana em que é instalada no Senado Federal a CPI que vai justamente apurar a responsabilidade do governo federal na desastrada condução das ações do Ministério da Saúde no combate à pandemia.
Enquanto a reitoria caminha na corda bamba, tentando equilibrar suas posições e se proteger de alguma ação no âmbito jurídico, a comunidade universitária não tem dúvidas quanto ao seu papel neste momento. Somos uma instituição que só compreende sua existência se fundamentada na liberdade de expressão, num ambiente de pluralidade de pensamentos e com a mais ampla possibilidade de exercício crítico. Não temos dúvida de quem tenha cometido algum crime. Todas as entidades representativas da UFRJ, desde o primeiro dia da quarentena, em março do ano passado, vêm se ocupando em apoiar as ações orientadas por comitês técnico-científicos da universidade para o combate à covid-19. Nós distribuímos cestas básicas, ajudamos a produção de álcool em gel, acudimos emergencialmente o HU e o IPPMG, assim como apoiamos iniciativas para a testagem e controle da doença. Quem deve responder a alguma coisa neste país são as autoridades que estavam distribuindo kits ineficazes, enquanto o povo precisava de oxigênio para respirar. Não há fake news que esconda essa realidade.
Essa é, sem dúvida, a maior dívida do governo Bolsonaro com o povo brasileiro. Não é a única, mas não iremos aqui elencar todas elas, a não ser a mais recente, que afeta diretamente a nossa universidade. Ao fechar esta edição, tomamos conhecimento da nomeação da nova presidente da Capes, uma senhora que se graduou e fez doutorado numa instituição que pertence à sua família. E esta vem a ser a universidade na qual se graduou também o ministro da Educação. Até aqui, nada seria tão escandaloso que não pudesse ser absorvido pela comunidade científica. Mas se trata de uma docente que integra um curso que foi avaliado com nota 2 pela própria instituição que ela pretende dirigir. E mais, esse sim, o problema mais complicado: essa avaliação foi reavaliada para 4 pela presidência da instituição, ainda no governo Temer. Ora, temos aí nessa manobra todos os elementos da velha tradição conservadora brasileira de acordos familiares, personalismo e privilégios para grupos que se recusam a se submeter ao jogo republicano de respeito às regras impessoais e institucionais. Mas a crítica não era do “aparelhamento”?
Em todos os campos, em todas as áreas de atuação do governo, inclusive nas mais sensíveis e perigosas, como a Polícia Federal e as Forças Armadas, o que vemos é o aparelhamento e a perseguição àqueles que não se calaram. Até aqui, vamos cambaleando numa frágil estabilidade institucional. Tudo parece funcionar normalmente, mas nada é o que parece. Convivemos com vazamentos de impropérios, provocações de um presidente da República que não tem qualquer respeito pelas responsabilidades institucionais que pesam sobre ele, e tudo isso parece aceitável. A universidade, protegida pelo princípio constitucional da autonomia, não pode ceder nem um milímetro à exceção e ao arbítrio. Não haverá nada a proteger, se não formos capazes de nos contrapor aos absurdos cotidianos, seja nas grandes questões, seja naquelas mais diretas, que afligem o nosso dia a dia.

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