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WhatsApp Image 2021 04 22 at 22.52.36CLÁUDIA ao lado do ministro Milton Ribeiro, ex-aluno da CUB, de BauruA nomeação da advogada Cláudia Mansani Queda de Toledo para a presidência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), na semana passada, vem gerando críticas tanto de entidades científicas e universidades, quanto entre a militância de direita que apoia o governo Bolsonaro. As entidades científicas têm apontado fragilidades no currículo da escohida, identificando evidências de um perfil despreparado para chefiar o órgão que regula e fomenta a pós-graduação no país.
Por outro lado, a produção acadêmica de Cláudia é motivo de preocupação para alguns políticos da extrema-direita, como o pastor e deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP). Em seu perfil no Twitter, Feliciano expressou seu descontentamento: “Em relação à nomeação da esquerdopata Cláudia de Toledo como nova presidente da Capes (responsável pela formação de todos os professores universitários do Brasil), eu pedi ao @jairbolsonaro que reavaliasse. Essa mulher defende tudo contra o que eu e ele lutamos desde 2013”, escreveu. Vice-líder do governo na Câmara, o pastor chegou a colocar o cargo à disposição.
Antes de ser nomeada pelo pastor Milton Ribeiro, ministro da Educação, a nova presidente da Capes era reitora do Centro Universitário de Bauru (CUB) — ex-Instituto Toledo de Ensino, de propriedade da família de Cláudia. Milton Ribeiro foi aluno do CUB. Ela pediu demissão uma semana antes da nomeação, e o fato de Cláudia ter se doutorado e ter sua carreira acadêmica vinculada à instituição da própria família tem sido visto com desconfiança. Cláudia é doutora em Direito pelo CUB, e viveu o constrangimento de dirigir a instituição quando, em 2017, o programa de pós-graduação foi descredenciado pela Capes. Na última avaliação periódica do órgão, foi conferido ao programa nota 2, insuficiente para seu funcionamento. Após recurso, em uma segunda análise, a nota passou para 4.
Uma das instituições científicas mais respeitadas no país, a Sociedade Brasileira de Física (SBF) foi uma das primeiras entidades a divulgar, por meio de nota, a insatisfação com a nova presidente. Theresa Paiva, coordenadora da SBF, relata que certamente não há representatividade na escolha de Cláudia para o órgão. “A maior questão com a presidente da Capes é a falta de qualificação dela para exercer esse cargo”, disse. “Alguém que nunca tenha orientado alunos, e com tantas falhas no currículo? É um cargo técnico, não político. A Capes é responsável pela avaliação de todas as pós-graduações do país, e não pode ficar nas mãos de alguém que não compreende a fundo a pós-graduação e o que é fazer pesquisa no Brasil”, explicou.
Para Felipe Rosa, diretor da AdUFRJ e professor do Instituto de Física, o problema principal não é a nomeação em si, mas o momento escolhido para fazê-la. “Claro que não estou elogiando a nomeação, é um problema quando uma agência de fomento tradicional e grande como a Capes tem como presidente alguém que não tem o currículo condizente, mas essa troca ocorrer às vésperas da avaliação quadrienal, uma das principais atividades da Capes, é um escárnio”, defendeu. “Mostra realmente o desprezo com que o governo trata a Ciência e a Tecnologia. É realmente um descalabro”, disse.
Cláudia Toledo divulgou, no mesmo dia em que foi nomeada, uma carta de intenções. “Na Presidência da Capes, desenvolverei meus melhores esforços para honrar a confiança em mim depositada pelo governo federal e pela comunidade de pós-graduação, com base no diálogo, na transparência e na legalidade”, diz o documento. Para Felipe, é positiva a publicação da carta. “O fato de ela ter publicado essa carta é muito mais do que outras indicações do governo Bolsonaro fizeram nos seus respectivos cargos. Mas não vamos também nos enganar sobre isso, a gente não deve ser ingênuo de achar que todas essas intenções são de fatos planos para a Capes”, afirmou.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) não se manifesta sobre nomeados para cargos administrativos pelo governo (nacional, estadual ou municipal), mas sim sobre as pautas dos nomeados. Para Luiz Davidovich, presidente da ABC e professor do Instituto de Física da UFRJ, é urgente recompor o orçamento da Capes: “É preciso recuperar o programa de bolsas, que tem papel essencial no fomento à pós-graduação. E, claro, é necessário recompor o orçamento do MEC e reverter a política de terra arrasada em relação às universidades públicas, que, com o orçamento previsto para 2021, param de funcionar antes de junho”.
Na quarta (21), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou carta em que defende algumas ações prioritárias para a Capes, sem qualquer menção à nomeação de Cláudia Toledo. Entre as ações estão a manutenção da avaliação quadrienal dos programas de pós-graduação, promover a recomposição do orçamento da entidade ra este ano, preservar o Portal de Periódicos e garantir a independência do órgão.
Na UFRJ, a realidade da pós-graduação é grave e a mudança veio numa hora inoportuna, segundo a pró-reitora da Pós, Denise Freire. “É um momento muito complicado porque conjugou muitos problemas relativos à própria avaliação, que está mais complexa e tornou difícil a vida dos coordenadores. Num momento como esse, uma mudança é ruim para a estabilidade do sistema. Está tudo muito desconfortável. Toda hora um problema, uma novidade”, contou a professora. A maior dificuldade está na comunicação com a Capes. “Nunca sabemos com quem estamos dialogando por conta dessas mudanças. Muitas vezes as coisas são interrompidas porque mudam o interlocutor, fica difícil discutir dessa maneira”, afirmou.
Sobre a nomeação de Cláudia Toledo para presidência, a pró-reitora acredita que o grande problema é que a comunidade acadêmica não se sente representada pela presidente. “Os pares não se sentem representados, seja pelo histórico, seja por não ter uma participação relevante na Ciência nacional”, disse. “Ela pelo menos tem ideias progressistas. O que o Feliciano quer é colocar um retrógrado, porque sempre pode piorar”, avaliou.

FRAUDE NA DISSERTAÇÃO
Segundo reportagem do jornal O Globo, a dissertação de mestrado de Cláudia Toledo inclui ao menos três trechos praticamente idênticos a outras publicações, sem que houvesse citação. Batizada de “O ensino jurídico no Brasil e o Estado Democrático de Direito”, foi defendida na PUC-SP em 2008, e há trechos inequivocamente copiados de outras fontes sem a devida citação.
Um exemplo, na página 86, que fala sobre a Lei de Diretrizes Básicas da Educação: “A principal divergência era em relação ao papel do Estado na educação. Enquanto a proposta dos setores organizados da sociedade civil apresentava uma grande preocupação com mecanismos de controle social do sistema de ensino, a proposta dos senadores previa uma estrutura de poder mais centrada nas mãos do governo”. Em 2006, alguém já havia publicado na Wikipedia exatamente o mesmo trecho.
A PUC-SP respondeu, por meio de nota: “Até o presente momento, a PUC-SP não recebeu nenhum questionamento sobre qualquer atividade da egressa na universidade. Em seus 75 anos de história, a PUC-SP preza pela excelência acadêmica da produção de seus discentes. A universidade não compactua com eventuais posturas ou ações que estejam fora da regularidade”.

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