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WhatsApp Image 2021 11 19 at 17.54.36 2HELEINE FERNANDES, escritora e doutora pela Faculdade de Letras da UFRJ"É importante reconhecer mulheres negras como pensadoras, lideranças fundamentais para que os saberes ancestrais sejam manifestados no Brasil”, afirma Heleine Fernandes, escritora e doutora pelo departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ. Na semana em que se comemora o Dia da Consciência Negra, o Jornal da AdUFRJ ouviu a autora sobre seu livro “A poesia negra-feminina de Conceição Evaristo, Lívia Natália e Tatiana Nascimento”, finalista neste ano do maior prêmio literário do país, o Jabuti.

“É uma pesquisa sobre poesia negra feminina contemporânea. Na primeira parte do trabalho, investigo a aparente inexistência dessas poetas”, conta Heleine. “Na segunda parte, investigo a obra poética delas, que pertencem a três gerações diferentes, de lugares fora do eixo Rio-São Paulo”, completa. Para a autora, muitas negras poetas poderiam compor o trabalho. “Escolhi três, mas existem muitas que fazem reverberar saberes não-ocidentais”, defende. “Também depois deste trabalho, foi quando pude me reconhecer como uma poeta negra contemporânea e publiquei um livro que se chama ‘Nascente’, pela Editora Garupa/ksa1”, afirma Heleine.
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A obra, selecionada entre as 10 melhores na categoria Ciências Humanas, uma das 21 temáticas do Jabuti, é fruto da pesquisa realizada por Heleine ainda na Faculdade de Letras. A escritora cursou graduação (desde 2005), mestrado e doutorado (até 2019) no Fundão. Para ela, a UFRJ foi fundamental para sua jornada. “Sempre tive bolsas, o que foi fundamental para que eu pudesse continuar a estudar”, conta. Por outro lado, o livro também funciona como uma crítica. “Essa tese também fala de um buraco. Durante minha formação inteira, nunca estudei uma autora negra. E minha tese vem para questionar essa universidade, que é uma das melhores do Brasil”, aponta a escritora.

E não foi nada fácil permanecer no curso. “Quando fiz vestibular, só a UERJ tinha a política de cotas. Quando entrei na universidade, não foi por cotas e há pouco tempo fiquei sabendo que existem cotas para pessoas negras dentro da pós, mas não aproveitei isso”, explica. “Sofri racismo durante minha formação e, diferente de hoje, não havia o coletivo de pessoas negras dentro da Letras”, conta.

Heleine agradece a permanência ao professor que a orientou, Alberto Pucheu. A família também sempre incentivou seus estudos. “Sou a primeira pessoa a fazer universidade pública, mestrado e doutorado. Meus avós são analfabetos e sempre investiram muito na minha educação, valorizaram isso”, diz.

Heleine não passou para a segunda fase do Jabuti, em que apenas cinco livros foram escolhidos para a grande final, na próxima semana. Mas a autora fica feliz por ter contribuído para o reconhecimento da poesia enquanto produção de conhecimento: “A minha pesquisa se soma muito a uma tentativa de criar ações, para estudantes negros e indígenas, que validem outras formas de formular o conhecimento e os saberes”, conclui.

Trabalho de incentivo à leitura está na final do Jabuti

WhatsApp Image 2021 11 19 at 17.54.36 3Já Miriane Peregrino, que também fez o doutorado na Letras (até 2019), aguarda com ansiedade a final do Jabuti, no dia 25. O trabalho coordenado por ela, enquanto editora do jornal “Literatura Comunica!”, os “Diários de Emergência covid-19”, foi selecionado entre os cinco finalistas na categoria inovação e incentivo à leitura.
“Tive a ideia dos diários quando estava em confinamento e o projeto foi crescendo. Esse ano fizemos a inscrição no Prêmio Jabuti e a Cynthia Rachel Pereira Lima ficou como a proponente responsável. Cynthia é uma das autoras dos diários e participa do (Jornal) Literatura também. Nos conhecemos quando atuamos em bibliotecas comunitárias: ela, na Baixada Fluminense, e eu, no Cerro Corá e na Maré. Ela também é de Letras, fez a especialização em literaturas africanas aqui na UFRJ”, conta.
Os diários foram publicados em cinco números ao longo do primeiro ano da pandemia. Todos estão disponíveis em formato online na página do jornal. “O Jabuti reconhece o que foi feito no ano anterior, neste caso, 2020. Nossa ação de fomento a leitura tem tudo a ver com a pandemia, o que fizemos foi estimular a leitura durante o confinamento da Covid-19”, reflete.
Ao todo, 63 autores, que residem ou não no Brasil, foram contactados por Miriane para se somarem à sua iniciativa, de março de 2020 a março de 2021. “Penso o Jornal Literatura Comunica como uma atividade de extensão, mas não necessariamente vinculada à universidade. Na pandemia, acabei lembrando dos diários de Anne Frank e de Lima Barreto, que são diários de confinamento escritos cada qual com sua especificidade”, explica.
Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ, orientou Miriane durante o doutorado. “A Miriane é sensacional, daquelas meninas incríveis que a gente recebe de presente para orientar”, elogia. “No doutorado ela já fez uma mudança grande, quando propôs um doutorado-sanduíche em Angola. Abriu caminhos inusitados, conseguiu um trabalho como pesquisadora na Alemanha, quando aconteceu a pandemia, e ela sofreu isso tudo lá no estrangeiro”, conta.
Para Eleonora, o diferencial do trabalho de Miriane é a literatura atrelada à prática. “É a construção do fazer, com relações práticas e sociais transformadoras. Ela vive a literatura como um exercício de liberdade, compartilhamento. O trabalho dela é muito consistente”, acredita.
Eleonora enxerga a chegada de trabalhos como o de Miriane como a grande novidade do Jabuti deste ano. “É uma decisão de olhar diferenciado para coisas que não estavam na esfera. Ela estar entre as finalistas é muito importante”, acredita.

I Jornada Científica Favelades Universitáries

WhatsApp Image 2021 11 19 at 17.54.36 4Promover projetos e iniciativas produtoras de conhecimento, conduzidas por estudantes universitários e lideranças sociais moradores das favelas e periferias do estado do Rio. Esta é a proposta da primeira edição da Jornada Científica Favelades Universitáries, iniciada no dia 16 e com programação até amanhã (20). O evento tem organização da Pró-reitoria de Extensão da UFRJ, o Fórum Favela Universidade, o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré/ Museu da Maré, a Casa Viva e a Fundação Oswaldo Cruz.
Na mesa de abertura, o convidado de honra foi o ex-deputado e escritor Jean Wyllys, que contou sobre sua passagem acadêmica na Universidade de Harvard. Com o tema “Quais caminhos levam os favelades à universidade e a universidade à favela?”, Wyllys discutiu os principais desafios enfrentados numa jornada científica ao exterior. “Não se sintam inferiores por não falar bem uma língua que não é sua, principalmente se estiverem nos Estados Unidos, porque as pessoas nativas de lá só falam a língua deles. E nós temos que correr atrás para falar outras línguas, numa realidade alijada de direitos, que torna tudo muito mais difícil”, disse.

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