ENTREVISTA I ELEONORA ZILLER, DIRETORA DA UNIVERSIDADE DA CIDADANIA
Eleonora está em “casa” na direção da Universidade da Cidadania. Basta conferir seu histórico na UFRJ sempre ligado às causas coletivas. Ainda como bolsista de graduação, em 1985, participou da criação da Sub-Reitoria de Desenvolvimento e Extensão. Ex-presidente do sindicato dos docentes (2019 a 2021), ex-dirigente do Sintufrj e representante dos técnicos no Consuni nos anos 90, ela ainda integrou os movimentos estudantis universitário e secundarista.
“Quando a Chris (Ruta, coordenadora do Fórum) me convidou para assumir a direção da Universidade da Cidadania, foi uma espécie de ponto de chegada desse meu compromisso que une as duas pontas: a minha participação permanente junto aos movimentos sociais, estudantil e sindical e a defesa da instituição”, explica Eleonora, que também dirigiu a Faculdade de Letras por oito anos (de 2010 a 2017).
Na entrevista a seguir, confira os planos da diretora.
Jornal da AdUFRJ - Qual a missão da Universidade da Cidadania?
Eleonora Ziller - A Universidade da Cidadania é uma estrutura mais livre, com condições de produzir coisas novas, buscar uma população que não se vê na universidade, mas que pode se beneficiar dela, abrindo novas fronteiras para os projetos acadêmicos.
Mas alguns cursos, programas de pós e projetos de extensão já não fazem essa interação? Qual a diferença?
A UC é uma estrutura que pode ultrapassar as barreiras institucionais, com unidades e cursos ainda muito fechados em seus campos disciplinares. A gente pode produzir internamente uma interação bem mais horizontalizada. Ela segue a ideia de ser também uma porta aberta para os que tenham desejo de participar da vida universitária sem necessariamente estarem matriculados em um curso formal.
Nossa expectativa é que, tão logo retorne o segundo semestre, voltemos a promover reuniões com as entidades, movimentos e grupos que sempre participaram da UC. Será nosso movimento principal para que possamos construir uma Universidade da Cidadania cada vez mais aberta, forte e sintonizada com os desafios atuais.
O que já está sendo preparado?
No primeiro semestre, tivemos uma série de dificuldades, inclusive a deflagração da greve dos técnicos-administrativos. Mesmo assim, conseguimos retomar a produção de podcasts que havia sido suspensa. Já estamos no terceiro episódio da quinta temporada gravados pela Rádio Cidadania, disponível no Spotify ou em seu agregador de podcast favorito, um projeto que vem da gestão do professor Paulo Fontes, que esteve à frente do órgão. São vários encontros extraordinários, debatendo sempre nessa perspectiva dialógica. É uma conversa mais estendida do que será nosso programa semanal de rádio, o Faixa Cidadã, um projeto que receberá o apoio da AdUFRJ. Ele irá ao ar sempre as segundas-feiras às 10h, assim que os novos programas forem lançados pela Rádio UFRJ.
A Universidade da Cidadania também realiza cursos?
Temos o Curso de Realidade Brasileira, que acontece há mais de 20 anos em várias universidades pelo país, e é construído em parceria com os movimentos populares e sindicais. O curso oferece uma ampla base para a pensar a formação política, histórica e social de nosso país. Tivemos uma resposta excepcional, com mais de 200 inscritos. Ele acontece aos sábados pela manhã, na Faculdade Nacional de Direito. Aproveito até para agradecer publicamente à direção da FND, que abraçou a proposta.
O que mais vem por aí?
No dia 5 de agosto, vamos dar início às atividades do segundo semestre com a parceria da Federação Única dos Petroleiros em uma mesa sobre o movimento sindical, das origens da CUT (Central Única dos Trabalhadores) até hoje. O movimento sindical está num momento em que precisa recuperar sua história e que precisa ser capaz de se projetar para este futuro muito diverso, com um mundo do trabalho em transformação muito acelerada e radical. Haverá a exibição do documentário “A geração que criou a CUT”, seguida do debate (veja card abaixo).
E, no dia 17, vamos discutir o papel da cultura e da educação na organização popular com Luiz Antonio Simas (professor de história e escritor), Mauro Cordeiro (professor do Colégio Pedro II, enredista da Beija-Flor de Nilópolis e doutorando no PPGSA-UFRJ) e Rosana Fernandes (coordenadora político-pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes do MST). Será uma programação no âmbito do Curso de Realidade Brasileira, sábado, às 9h. As inscrições para o curso já estão encerradas. Mas quem quiser participar apenas da mesa de debates, basta enviar um pedido de inscrição para o e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Por que é importante para a UFRJ ter uma estrutura como a Universidade da Cidadania?
Saímos há pouco tempo de quatro anos de um governo que fez uma campanha sistemática, violenta, de desmoralização da própria instituição universitária. Um governo negacionista. Isso tem efeitos. Precisamos urgentemente retomar um diálogo mais intenso com a sociedade. Não podemos renunciar ao papel de fortalecer a vida democrática do país.