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b11730f4 939f 453e 89a2 f7fb093aceebFoto: Acervo pessoalA extrema direita fez novo alvo na academia. Depois de conceder entrevistas críticas ao resultado da megaoperação que matou ao menos 121 pessoas nos complexos do Alemão e da Penha, a professora Jacqueline Muniz, especialista em segurança pública, passou a ser hostilizada e ameaçada por perfis ligados ao bolsonarismo. “Sofri ameaças, tentativas de emboscadas”, desabafa a docente do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Um trecho de 15 segundos de sua fala foi retirado de contexto, quando ela ironizava a ideia de superioridade técnica do crime organizado. “Eu falei que até com um estilingue um policial tem condições de neutralizar um criminoso armado, por conta do seu treinamento tático”, explica. “Não basta o criminoso aprender a usar fuzil com tutorial em internet e treinar em lata no topo do morro. Precisa de resistência e condicionamento físico. Exige conhecimento técnico, mira, que fazem parte do treinamento do policial. Era sobre isso que eu falava”.

VIOLÊNCIA POLÍTICA
No sábado, 1º, enquanto almoçava num restaurante do Rio, a docente foi reconhecida, fotografada e suas imagens começaram a circular com sua localização. Os textos incentivavam violência física. A onda de ataques foi tão intensa, que Jacqueline pediu para ser inserida no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
“Eu tenho consciência de que o que estou sofrendo é uma violência política de gênero”, afirma. “Tem sido muito cansativo reunir todos esses ataques, constituir advogados. Atacam a minha vida, a minha rotina e envolvem todas essas dimensões que visam me apagar”, argumenta.
REAÇÃO DA ACADEMIA
A Universidade Federal Fluminense se solidarizou com a docente. “A instituição reitera seu repúdio a qualquer forma de intimidação ou tentativa de silenciar vozes comprometidas com o conhecimento e a defesa dos Direitos Humanos”, diz trecho do documento.
A Aduff, seção sindical dos professores da Federal Fluminense, também divulgou nota em apoio à colega. “Essa investida é um ataque também contra a universidade pública e sua capacidade de se manter crítica diante da barbárie”.
A diretoria da ADUFRJ também manifestou solidariedade e postou em suas redes: “A academia é local de produção de conhecimento e não pode ser calada pelo ódio”. Diversas outras sociedades científicas, de direitos humanos e ligadas à sociedade civil também prestaram apoio à docente.

TRAJETÓRIA DE 30 ANOS
A docente começou a atuar na linha de segurança pública ainda nos anos 1990. Desde 1995, estuda e oferece cursos para Polícias. “Ajudei a desenhar os protocolos que as polícias têm de operações especiais. Oriento policiais, dei aulas para policias da América Latina inteira”, elenca. “Sob meu comando se descobriu a taxa de suicídio na polícia”, relembra.
Jacqueline afirma que o papel da universidade e dos pesquisadores é atuar para a garantia dos direitos e para a melhora da prestação dos serviços, inclusive de segurança pública. “O que a gente quer é aferir a qualidade da polícia e ajudar a constituir políticas sérias de segurança pública. Subsidiar as polícias tecnicamente para fazer seu trabalho com menor insegurança”.

NEGACIONISMO
Para a especialista, a onda de ataques é um sintoma de quem quer estabelecer o pensamento único. “Isso é totalitarismo”, diz. “Se você tem meta de apreensão, você vai fazer essa polícia rasgar a lei pra cumprir a meta. Há conhecimento acumulado sobre isso. Esse negacionismo tem uma intencionalidade política”, afirma. “Estão tentando destruir a liberdade de cátedra, o conhecimento científico”, defende a professora. “A universidade é o lugar do especialista. “Não querem os dois lados. Querem um único lado, uma única narrativa, um lado possível, que é o deles”.

 

ALEXANDRE DE MORAES SE REÚNE COM FAMÍLIAS DE VÍTIMAS DO MASSACRE

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, se reuniu na última quarta-feira (5) com 20 entidades de direitos humanos, além de familiares de vítimas da chacina dia 28 de outubro. O objetivo foi entender melhor a dinâmica da megaoperação policial que deixou ao menos 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão. Na convocação, o ministro justificou a reunião como medida importante para subsidiar a suprema corte sobre os fatos que levaram à maior chacina do país. Moraes é o relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, a ADPF das Favelas – que busca estabelecer diretrizes para a redução da letalidade policial em operações.
A professora Luciana Boiteux, da Faculdade Nacional de Direito, participou da reunião representando o Laboratório de Direitos Humanos da UFRJ (Ladih), que é amicus curiae na ADPF. Para a docente, a reunião foi positiva pois demonstrou que a operação descumpriu termos da ADPF das favelas. “O ministro mostrou preocupação com a questão da perícia independente, com a questão da desproporcionalidade”, disse. “O Supremo nunca impediu a atuação da polícia, mas estabeleceu parâmetros de, em especial, conter a violência policial”.
A docente contou que também houve preocupação com a tentativa de criminalização dos familiares dos mortos na chacina. “Essa ameaça do governo de investigar essas famílias por fraude processual é um abuso e o ministro mostrou preocupação com isso”, afirmou Luciana Boiteux.
Antes de convocar o encontro com as organizações civis, Moraes já havia se reunido separadamente com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), e com o prefeito Eduardo Paes (PSD).

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