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Igor Vieira"O curso é uma luz na minha vida. Tenho satisfação em acordar e vir para a UFRJ. Sempre sonhei em pisar aqui”, afirma Penha da Silva, de 56 anos, aluna do “GastroJus - Gastronomia e Justiça Social”.
O curso de extensão, iniciado em outubro, oferece aulas práticas e teóricas para mulheres que já passaram pela prisão, que respondem processo em liberdade ou que receberam liberdade provisória em audiência de custódia. Nesta primeira edição, foram 25 matriculadas.
O GastroJus é estruturado em oito aulas semanais, sempre às quintas-feiras, no Bandejão Central. Além das aulas na cozinha, as alunas aprendem serviço de mesa e empreendedorismo feminino. A ideia veio da ex-professora da Gastronomia Luciana Simas, que hoje atua como consultora no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Luciana buscou apoio do Tribunal de Justiça e de outras instituições. O Fórum Permanente de Saúde no Sistema Penitenciário, por exemplo, fornece os insumos para o curso.
As aulas no bandejão se transformam em uma ferramenta de inclusão social, ajudando na reintegração à sociedade e ao mercado de trabalho. “Muitas já trabalharam com cozinha ou na área de alimentos. Não podemos cravar que o curso ajudou, mas uma delas conseguiu um emprego”, afirma a coordenadora da iniciativa, professora Mara Lima.
ACOLHIMENTO
A docente destaca o acolhimento, que começa na recepção das estudantes na estação do BRT e prossegue com um café da manhã, antes das atividades. “Entendemos o grupo como uma rede que se retroalimenta e apoia, não só partindo de nós. Juntas, as alunas vulneráveis também se apoiam”.
Alunos dos cursos de gastronomia e nutrição se dividem entre ministrar as aulas e monitorar as atividades. A estudante de gastronomia Karen Calzolari, do sexto período, quis participar para ensinar o que aprendeu na faculdade. “Quando dei aula de massas, muitas me disseram como se sentiam acolhidas na cozinha, o que não sentem em outros lugares”.
Fazer política sindical não é lacrar nas redes. No dia 24 de novembro, o Conselho Universitário aprovou solicitação encaminhada pela Comissão Permanente de Pessoal Docente, CPPD, para que os efeitos da promoção de professores começassem apenas após a aprovação do relatório do docente.
Cabe ressaltar que esta diretoria já havia preparado recurso judicial contra a medida. Nos faltou, é verdade, a iniciativa de negociar com a reitoria e com os conselheiros previamente.
No entanto, menos de 24 horas depois do Consuni, pedimos a revisão da decisão e solicitamos audiência com a CPPD.
Todas essas informações foram amplamente noticiadas na edição passada de nosso jornal, incluindo o convite para um debate amplo sobre o assunto. O encontro aconteceu hoje, sexta-feira, 2, com nossa assessoria jurídica, e contou com a presença de mais de 70 professores. Ao final, decidimos fazer um plantão jurídico no dia 9 de dezembro para esclarecer as dúvidas de cada docente. Também faremos uma reunião ampla com a CPPD e os professores interessados.
Mas, infelizmente, os ouvidos da oposição estão contaminados pelo processo eleitoral vindouro e passado. Fez vista grossa à nossa responsável autocrítica e, num gesto carnavalesco, distribuiu um abaixo-assinado contra a diretoria em que pergunta onde estamos.
Pois bem. Estamos onde sempre estivemos: ao lado das professoras e dos professores, em defesa da universidade, da ciência, contra os cortes orçamentários, a favor das cotas, da ampliação do acesso ao ensino superior, pela democracia e lutando incansavelmente parar derrotar o governo Bolsonaro.
Aqui valem os parênteses de que nossa lida não é de ocasião. Nos elegemos dizendo que estaríamos ao lado do candidato com maiores condições de despachar o capitão e sua famiglia.
Nossos opositores - tanto os que estão dentro da universidade quanto os que estão na porta dos quartéis - parecem não gostar de resultados eleitorais adversos. Desde o pleito que nos elegeu em setembro de 2020, a chapa derrotada apela à Justiça contra o resultado das urnas. Da mesma maneira que os seguidores de Jair, a oposição alega que as urnas foram violadas.
Não repetiremos o gesto retórico e infantil de perguntar aos nossos opositores onde eles estão, até porque sabemos que estão na mesma esquina de sempre: aquela em que o imobilismo revolucionário encontra com uma universidade paralisada pela doença infantil do sectarismo.
Aos que preferem um outro espaço, mais generoso e construtivo, reiteramos nosso compromisso em combater as decisões recentes que alteraram a progressão e promoção na carreira docente na UFRJ.
Com o mote “Fortalecer a AdUFRJ é defender os professores”, o sindicato lança sua nova campanha de sindicalização. Todos podem se associar, mas
adjuntos e assistentes terão gratuidade na mensalidade nos dois primeiros anos em que estiverem filiados. Além disso, terão acesso à assessoria jurídica, avaliação para plano de saúde, assistência para progressão e descontos em todos os convênios oferecidos pela AdUFRJ.
Presidente da AdUFRJ, o professor João Torres destaca a importância de os professores terem um espaço de defesa de seus direitos. “Além de todos os benefícios já mencionados, é muito importante que exista uma voz independente, lutando pelos docentes”, acredita. “O sindicato é um elemento importante numa democracia. A vitória de Lula torna essa instância ainda mais importante, porque nossa missão primeira é negociar com o governo e pressionar por melhores condições para a categoria, com firmeza e responsabilidade”, afirma o dirigente.
A professora Mayra Goulart, vice-presidente da associação, também sublinha o caráter político de organização da categoria. “O professor vive um processo de compressão dos seus salários. É por isso que estamos adotando esse processo de ‘carência’ das contribuições”, diz. “Não se trata de um benefício puramente pecuniário, mas de uma compreensão política sobre a precarização dos salários desses colegas”, reconhece.
A ideia é aumentar o número de professores sindicalizados – hoje são 3.410 filiados – para ampliar a representatividade política da AdUFRJ. “Precisamos aumentar nossa capacidade de luta pela categoria e isso se dá com representatividade”, conclui a professora.
A possibilidade de descontos em produtos e serviços é garantida a partir do momento em que o docente se filia à entidade. É o que destaca Meriane dos Santos, do Setor de Convênios. “Temos parcerias com escolas, cursos, academias, clínicas. O valor dos descontos muitas vezes é maior do que a contribuição mensal do professor. No caso de quem terá a isenção das mensalidades, o benefício se torna ainda maior num momento de crise financeira que atinge vários setores da nossa sociedade, inclusive o docente”, observa. A filiação pode ser feita pessoalmente, na sede da AdUFRJ (Prédio do CT, bloco D, sala 200 – Cidade Universitária) ou pelo site: filiados.adufrj.org.br.
EXCELÊNCIA. Da esquerda para a direita: Anna Cristina Brisola, da Ciência da Informação, Rafael Marques Garcia, da Escola de Educação Física e Desportos, e Mariana Paiva, da Escola de Serviço SocialA excelência da UFRJ e de seus cientistas foi reconhecida pela Capes em nove teses este ano. Três delas ganharam o prêmio máximo nacional e outras seis receberam menções honrosas. Um dos grandes vencedores é o trabalho da pesquisadora Anna Cristina Brisola, do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, uma parceria entre a Escola de Comunicação e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).
“Eu falo sobre desinformação. Um fenômeno que manipula a humanidade há séculos. Escrevo sobre como precisamos ter competência crítica para não cair nessas armadilhas, proponho ferramentas”, descreve. “Falar sobre desinformação num momento em que as pessoas estavam morrendo em decorrência exatamente do meu objeto de estudo foi extremamente doloroso”, lembra.
Justamente pelo momento histórico, com o mundo atravessando uma pandemia, o prêmio teve um gosto ainda mais especial para Anna. “Para mim, atende a um grito desesperado. Eu olho para esse prêmio e vejo que meu trabalho tem relevância. Alguém me ouviu”.
O orientador da pesquisa é o professor Marco Schneider, do IBICT. “Esse reconhecimento nos deu certa esperança de que nem tudo está dominado. A Capes ter analisado e reconhecido uma tese com esse tema mostra que ainda há independência nas instituições, apesar do momento político”, destaca o docente. “É um orgulho. O trabalho é extremamente sério. E esse resultado nos mostra que estamos no caminho certo”.
A relevância do tema deu a Anna Cristina a oportunidade de aprofundar sua pesquisa num pós-doutorado no Brasil. O prêmio para os vencedores é uma bolsa de um ano. “Vou fazer meu ‘pós-doc’ na Federal da Paraíba. Meu projeto busca constituir um modelo de aplicação da minha teoria. A ideia é munir as pessoas de ferramentas, prepará-las para que elas consigam identificar e não replicar uma desinformação”.
Outra tese vencedora é a da assistente social Mariana Paiva, do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Ela discute as reformas que atingiram o funcionalismo nos governos FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. A pesquisadora considera que sua experiência profissional foi determinante no desenvolvimento do trabalho. “Sou técnica-administrativa numa universidade federal, a UniRio, e fui pró-reitora de Pessoal por dois anos, até a aprovação da Ebserh –Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – na universidade”, conta. “Durante aqueles dois anos, pude ter acesso e conhecimento sobre os instrumentos jurídicos do Estado para o desenvolvimento da carreira dos trabalhadores do serviço público. Essa experiência me permitiu fazer um debate mais amplo sobre o assunto”.
Ela acredita que a análise de mais de duas décadas de mudanças na carreira dos servidores foi um dos diferenciais da pesquisa. “O percurso longo mostra que essas contrarreformas são diferentes nas formas, mas apontam para os mesmos objetivos: a precarização”, resume. “A partir disso, desenvolvemos um novo conceito, o de reestruturação destrutiva”, afirma.
A orientadora da pesquisa é a professora Sara Granemann. “Mariana e eu temos uma trajetória longa, desde o TCC, o mestrado, o doutorado. O que mostra que a pesquisa é um investimento de longo prazo”, sublinha a docente. “Uma das conquistas mais importantes da humanidade é poder fazer pesquisa. E, no Serviço Social, fazer pesquisa é falar sobre o cotidiano dos trabalhadores, fazer reflexões sobre o corte de orçamento, sobre privatizações não clássicas”, afirma. “Quando atuamos politicamente, aliamos nossa prática às nossas pesquisas”.
Já na área de Educação Física, o vencedor foi o professor Rafael Marques Garcia, que discute a participação de mulheres transsexuais no vôlei brasileiro. “É um tema muito delicado e ainda pouco explorado. Conseguimos fazer um grande levantamento, investigamos alguns casos, fizemos o mapeamento desse cenário no Brasil e o reflexo nas áreas educacionais”, descreve. “Socialmente, há um apelo muito grande para esclarecer pontos nessa problemática. A gente contribui para lançar uma discussão nesse cenário”, afirma.
O pesquisador é professor da Escola de Educação Física desde fevereiro deste ano e destaca a importância das políticas sociais em sua trajetória. “A UFRJ é um fator determinante para esse resultado. Eu fiz iniciação científica, passei pela extensão, monitoria. Venho de uma cidade no interior de São Paulo, Brotas, e precisei muito das políticas de permanência estudantil. Sem elas, não teria conseguido aprofundar minhas pesquisas”, disse. “Mesmo com tanta dificuldade, a pesquisa brasileira consegue contribuir propositivamente para a sociedade”.
MENÇÕES HONROSAS
Entre as teses que receberam menção honrosa está a da pesquisadora Patrícia Pinto Abrantes, do Programa de Pós-Graduação em Física. “Trazer esse prêmio para a UFRJ, que é a minha segunda casa, é um grande presente”.
A pesquisa investiga os diferentes tipos de interação entre luz e matéria. “É uma pesquisa teórica para controle das interações, que pode servir para o desenvolvimento de novos equipamentos, por exemplo”, explica.
Um dos orientadores de Patrícia é o professor Felipe Rosa, ex-diretor da AdUFRJ. “Um dos nossos trabalhos é formar pesquisadores. Mesmo dadas todas as limitações orçamentárias, a gente tem conseguido fazer esse trabalho com excelência”.
Que novembro, coleg@s. Terminamos a semana sacudindo a poeira da surrada camisa amarela e nos enchendo de orgulho pela seleção do jovem Richarlison, o talentoso jogador que combina o balé das chuteiras com o lado certo da História. Apelidado de Pombo, esse garoto que nasceu pobre no Espírito Santo e conquistou a admiração do Brasil para muito além das arquibancadas, defendeu a vacina durante a pandemia e doou recursos para a ciência. A acrobacia geométrica de seu gol, o L feito durante a campanha presidencial, a defesa sistemática do meio ambiente, a condenação à homofobia, fazem de Richarlison o bom exemplo de que novos tempos virão. Em Brasília, a temporada também é de esperança com os primeiros esboços do governo Lula.
Na AdUFRJ, estamos orgulhosos com a intensa participação da UFRJ na equipe de transição. Já são cinco docentes e um doutorando no time que prepara os primeiros passos da gestão Lula. O prestígio da Universidade Federal do Rio de Janeiro é tão robusto que, na última sexta-feira, a equipe de transição desembarcou no campus do Fundão e fez uma reunião com toda a comunidade acadêmica para debater demandas da ciência, tecnologia e inovação. A vice-presidente da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, entregou para a equipe um estudo do Observatório do Conhecimento mostrando os efeitos dramáticos dos cortes em C&T nos últimos cinco anos.
As perspectivas de mudanças são alvissareiras em Brasília, porém preocupantes na UFRJ. Na última quinta-feira, o Conselho Universitário aprovou uma medida que prejudica a carreira docente e contraria anos de luta da AdUFRJ. Entendemos que a resolução modificada viola as decisões de vários tribunais do país. Já ingressamos com um pedido de revogação na secretaria do Consuni.
O sindicato tem combatido todas as tentativas de supressão de direitos dos docentes na carreira, que se tornaram mais frequentes desde o governo de Michel Temer.
Mais recentemente, no dia 31 de outubro, uma assembleia da AdUFRJ autorizou a direção a ingressar na Justiça com duas ações coletivas: em defesa dos direitos das progressões de carreira e pela garantia do pagamento dos adicionais de insalubridade. Está marcada uma reunião com os interessados para a próxima sexta, dia 2, às 10h. O local será divulgado nas redes sociais do sindicato.
Além das reuniões, estamos atuando na área jurídica. Em conformidade com a orientação da diretoria, o setor de advocacia da ADUFRJ já obteve vitórias em diversas ações jurídicas, fundamentadas a partir de um entendimento da progressão (e de sua retroatividade) que não é condicionado aos requisitos restritivos apresentados na resolução atual (que condiciona a progressão ao pedido do professor no SEI) e radicalizados pela decisão do Consuni (que condiciona a progressão à aprovação da banca).
Ressaltamos que AdUFRJ vai marcar uma audiência com a reitoria para tratar do assunto. Esperamos que a reitora reveja seu posicionamento diante do cenário de sucessivas perdas sofridas pelos docentes.
Boa Leitura!