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Diante da urna, teremos que tomar uma decisão gravíssima ao indicar o candidato à Presidência que melhor conduzirá o Brasil na trilha do processo civilizatório. Faz parte desse processo a abertura de oportunidades para que nós, brasileiros, possamos cooperar com as outras nações com contribuições que sejam frutos da nossa capacidade de inventar e de inovar, de descobrir e de construir. É importantíssimo evitar o mergulho no poço dos fracassados, onde prevalece o aborto das boas ideias e a destruição das heroicas iniciativas industriais. Vivemos nesse inferno já faz quase três anos após um período de doze anos de recuperação da nossa capacidade industrial (Petrobras, Embraer, agronegócios, indústria naval, veículos, eletrodomésticos, incubadoras de empresas, Embrapa, parques tecnológicos, entre outros). Diante da urna, da urna de restos mortais, vemos Celma, Engesa, FNM, Metal Leve, Gurgel, e muitas outras empresas que foram “assassinadas” por equivocados planos econômicos de governos que não veem o Brasil capaz de levantar a cabeça. Vemos ainda nessa urna os projetos natimortos, Fotografia (Hercules Florence), Dirigível e aviação (Santos Dumont), Câmbio automático (Fernando Iehly de Lemos e José Braz Araripe), Radiotransmissão (Roberto Landell de Moura), Motor a álcool (Urbano Ernesto Stumpf). Finalmente estão sendo lavradas em novas lápides os nomes de Embraer, Petrobras, Eletrobrás, entre outras, com o cinzel fabricado pela atual administração. É impossível que a comunidade científica brasileira - os professores e pesquisadores, os estudantes sejam de graduação ou pós-graduação, os técnicos e administradores - seja incapaz de distinguir a diferença entre as condições de trabalho e a política de P&D entre 2003 e 2015, com a qual colaborou ativamente o candidato Haddad, e as condições de trabalho e a política de P&D que prevalece desde 2016, e que é a preferencial do candidato Bolsonaro e sua equipe econômica. Mas também faz parte do processo civilizatório o respeito à liberdade de expressão, a justiça sem justiceiros, os tribunais sem medo, a preservação da História, a rejeição de processos de confusão de informações, a rejeição a ameaças a instituições legitimamente constituídas. O candidato Haddad demonstra respeito pelo processo civilizatório, e o candidato Bolsonaro promete no seu plano de governo “expurgar” ideias de Paulo Freire, cujo nome está entre os três autores mais citados no mundo em matéria de educação. Não se pode confundir concordar ou discordar de ideias com a queima de livros. Os correligionários do candidato Bolsonaro, inclusive parlamentares eleitos que o apoiam, já violam os mais elementares princípios de civilidade, em declarações que ameaçam o fechamento de tribunais de justiça, violência física e gravações de símbolos nazistas em prédios que abrigam pessoas que não os apoiam, além de outros atos simbólicos de violência. Não há voz no mundo civilizado, abrangendo todo o espectro de opções político-econômicas, que não discorde explicitamente da atitude e das ameaças do candidato Bolsonaro. Ele está distintamente na contramão da história. Caso eleito colocará o Brasil numa posição ridícula, no poço de um primitivismo intelectual muito mais significativo do que o avaliado pelo programa internacional PISA com o qual o candidato tanto se escandaliza. Finalmente quero dizer que a construção iniciada pelo saudoso professor Alberto Luiz Coimbra, faz 55 anos, não pode ser destruída sem que haja uma debâcle geral e irrecuperável na educação universitária brasileira. E que não se venha com a justificativa infantil de que depois de quatro anos se corrige. Muitos de nós que dedicamos mais de 30, 40, 50 anos de nossas vidas não estamos dispostos a desrespeitar Alberto Coimbra, a colaborar com o covarde desmonte do Brasil para ficarmos com restos que sobram do prato dos países centrais, como já foi proclamado: This division of labor tends to have engineering and scientific research take place in more mature nations while prototyping, scale-up, and manufacturing occur in what he called “catch-up” economies. Só o candidato Fernando Haddad será capaz de conduzir o Brasil com dignidade e cabeça erguida participando no concerto das nações como todos nós merecemos. Façamos da urna um berço de renascimento e não um caixão de restos mortais. Luiz Bevilacqua Professor Emérito da Coppe

Roberto Leher, reitor da UFRJ Não há neutralidade possível diante da ascensão do fascismo e de agrupamentos que pregam a aniquilação dos que deles divergem. Infelizmente, o ano em que celebramos os 30 anos da promulgação da Constituição Federal é um tempo perigoso para a democracia. Das liberdades individuais aos direitos sociais que consubstanciam a liberdade, todas as cláusulas pétreas da Constituição estão sendo aviltadas. A Emenda Constitucional 95 ganha sustentação nas narrativas irracionalistas, nas fake news veiculadas e impulsionadas por grandes grupos econômicos que querem um país sem leis trabalhistas justas, educação pública, laica, gratuita e de elevada qualidade. É preciso reivindicar os valores iluministas, estimular o uso crítico e autônomo da razão para que, por meio do voto esclarecido, cada cidadã e cidadão possa afirmar a democracia e a justiça social.

Otávio Velho, professor Emérito do Museu Nacional da UFRJ Neste momento grave que atravessamos, é extremamente importante afirmar a centralidade da universidade pública na vida nacional. Ainda mais quando nos últimos anos a sua composição vai aos poucos finalmente encontrando toda a diversidade que caracteriza o país, sendo para os antropólogos particularmente grato constatar a crescente — embora ainda muito insuficiente — presença negra e indígena em seus quadros. Essa abertura também torna a universidade um elemento estratégico para que a democracia se transforme numa vivência autêntica para todos e que permita defendê-la das ameaças que rondam o nosso frágil equilíbrio institucional. E também só assim teremos a esperança de encarar o autoritarismo estrutural que está na base desse e de outros problemas e que tanto dificulta uma convivência equilibrada e justa.

Heloisa Buarque de Hollanda, professora Emérita da ECO/UFRJ Escrevo como professora emérita, há mais de 50 anos vinculada à UFRJ. É a partir dessa experiência, nem sempre pacífica, que me dirijo à Adufrj para reiterar a importância da liberdade em nossa missão fundamental como docentes e pesquisadores. O ensino e a pesquisa, eixos das universidades públicas, garantem o desenvolvimento do país, a inovação científica e cultural e a construção cidadã baseada no respeito às diferenças de gênero, étnicas, de classe e religião. Essa missão não pode ser colocada em risco ou enfraquecida sob pena de graves prejuízos para a sociedade e para o país. Assim, o fortalecimento das condições para a produção livre de conhecimento, neste momento sombrio, deve ser o compromisso prioritário de toda a comunidade acadêmica e desse sindicato que nos representa.

Currículos de medicina e outras profissões de saúde são objeto permanente de reformas e reflexões desde o início do século XIX. A formação de bons profissionais, com conhecimentos empíricos e teóricos, foi um enorme desafio quando as escolas médicas não tinham atividades de pesquisa. Atualmente requer-se que médicos, além de conhecimentos e capacidades técnicas, possuam habilidades relacionais com pacientes, seus parentes e opinião pública. Estimula- -se a empatia (atributo cognitivo que permite intuir sentimentos, detectar pistas não verbais, dispor-se a estar perto, compartilhar saberes, decisões terapêuticas). Não se trata de ter pena de quem sofre, propensão à caridade ou mesmo simpatia – emoções que podem ser respondidas negativamente pelos pacientes. O contrário da empatia é o cinismo, que se desenvolve em função das longas jornadas de trabalho, competição por melhores postos de trabalho, hierarquias estabelecidas sem mérito e constatações sobre práticas negativas de médicos mais velhos. Para conter o cinismo, é preciso debater, questionar se o lugar dos médicos é acima ou ao lado dos demais cidadãos. As atuais eleições definirão se o SUS seguirá se afirmando como expressão institucional do direito universal à saúde ou se consolidará como uma organização de caridade. Haddad se compromete com aumento de recursos financeiros para a saúde, com a formação adequada de profissionais de saúde em universidades públicas. O programa eleitoral de Bolsonaro para a saúde declara ser “possível fazer muito mais com os atuais recursos!”, posicionamento que é divergente da maioria dos candidatos no primeiro turno. Enquanto Haddad detalha programas e atividades a serem implementadas e expandidas, Bolsonaro apresenta intenções sobre a melhoria de inserção profissional de médicos, professores de educação física e dentistas. Os médicos seriam credenciados universalmente, professores de educação física integrariam equipes de saúde da família e dentistas atenderiam gestantes. São sugestões já testadas ou incorporadas, que supostamente conferem relevo aos profissionais de saúde. Propostas que deixam os pacientes e o SUS para trás representam um enorme retrocesso. Sem compromissos com a melhoria das condições de vida e saúde, sem compreensão sobre as necessárias relações respeitosas entre humanos e ritmos da natureza é inviável atender interesses profissionais, por mais legítimos que sejam. É um sistema de saúde abrangente e qualificado que permite o trabalho digno. Sem SUS prevalece o cinismo. Lígia Bahia Professora da UFRJ, especialista em Saúde Coletiva e vice-presidente da Adufrj

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