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Na ponta da ciência
Pesquisadores da Biologia e da Química descobrem proteína que ajuda a desvendar os efeitos da Zika no cérebro de recém-nascidos
Texto e foto: Silvana Sá
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Três professores da UFRJ coordenam estudos que podem explicar por que os sintomas provocados pelo vírus Zika são mais graves na Paraíba do que no restante do país. Proteínas do vírus BVDV (vírus da diarreia bovina) foram encontradas em fetos com agudas más formações, cujas mães tiveram a doença durante a gestação, naquele estado.
“Nos outros estados, há o surto de Zika, mas são muito baixos os índices de microcefalia e muito rara a síndrome congênita (conjunto de sintomas) da doença”, explicou o professor Rodrigo Brindeiro, do Laboratório de Virologia Molecular e diretor do Instituto de Biologia. “Já está comprovada a desestruturação de células pelo Zika, só que na Paraíba a morbidade é muito maior. Por que lá é diferente de outros lugares, se o vírus é o mesmo? Chegamos à conclusão que havia um segundo fator. Sempre suspeitamos de um segundo vírus, mas não sabíamos qual”.
Reforça a teoria da influência do vírus bovino o fato de Adriana Melo, do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Venâncio Neto (Ipesq), da Paraíba, ter demonstrado que vários casos confirmados na região não são de gestantes da capital, mas do interior.
O genoma do Zika havia sido sequenciado pelo professor Amilcar Tanuri, também do Laboratório de Virologia Molecular. Mas Rodrigo Brindeiro contou que a descoberta da proteína do BVDV em fetos humanos foi do professor Gilberto Domont, do Instituto de Q u í m i c a. “Esse vírus é da mesma família do Zika e da d e n g u e. No gado, ele causa 80% dos abortos e os bezerros que nascem têm os mesmos quadros apresentados pelos fetos humanos da Paraíba. O bezerro que sobrevive tem microcefalia, é pequeno e tem diarreia constantemente”. A forma de transmissão do vírus da diarreia bovina ocorre por contato com a saliva, com o focinho do animal infectado ou com a contaminação pelas fezes.
Apesar de todas as indicações de que o vírus bovino, em conjunto com o Zika, amplia a gravidade dos sintomas nos bebês, Brindeiro mantém a cautela: “Proteína de vírus não é o vírus. É preciso humanizar os kits existentes para buscar o vírus ativo do gado em humanos, porque eles são feitos para bois”, disse. O professor espera obter resultados conclusivos em até quatro meses.
Erramos: Pesquisadores do Instituto de Química relatam pela primeira vez presença do vírus BVDV em cérebros de crianças com microcefalia Zika-positiva da Paraíba
Diferente do noticiado na abertura da matéria “Na Ponta da Ciência”, a descoberta da proteína do vírus BVDV foi realizada por professores do Instituto de Química. A correção foi solicitada pelo professor Gilberto Domont (foto). O BVDV foi identificado empregando técnicas proteômicas utilizadas pelo grupo formado por ele e pelos pesquisadores Erika Velasquez e Fabio Nogueira. O Instituto de Biologia ficou responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus.

Alunos pressionam e reitor amplia assistência
Estudantes desocuparam área da Praia Vermelha, após seis dias de protesto. Acordo prevê aumento de bolsas, congresso universitário e criação de pró-reitoria
Negociação entre reitoria e estudantes ocorreu logo após audiência pública sobre assistência estudantil realizada na Praia Vermelha
Texto e foto: Tatiana Lima
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A reitoria e o Diretório Central dos Estudantes fecharam um acordo de ampliação da política de assistência estudantil da UFRJ. A negociação inclui aumento de bolsas, realização de congresso universitário e criação de uma pró-reitoria exclusiva para apoiar os alunos.
Após a assinatura do acordo, na noite de 20 de julho, os estudantes concordaram em desocupar o campinho de futebol da Praia Vermelha, onde estavam acampados há seis dias. Eles protestavam contra um contrato que prevê o uso do campinho por forças de segurança nos Jogos.
Os estudantes acusavam a gestão Leher de descumprir promessa de campanha de que faria uma gestão compartilhada da universidade. O reitor participou pessoalmente da negociação com os alunos e pediu desculpas por escrito pela cessão do espaço, sem amplo debate interno. Mas não cancelou o contrato, o que poderia causar problemas jurídicos para a instituição. A verba do contrato já tinha sido transferida para a universidade.
Outras medidas, no entanto, agradaram o movimento estudantil. O reitor se comprometeu, por exemplo, a aumentar em 15% o valor-base das bolsas de assistência estudantil. Com o reajuste, o auxílio passa a ser de R$ 460, já no segundo semestre de 2016. Ficou garantida, ainda, a realização de um Congresso Universitário até o fim de 2016.
Técnicos-administrativos paralisam atividades durante as Olimpíadas
Silvana Sá
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Os técnico-administrativos aprovaram em assembleia, neste dia 21, com 300 pessoas, uma paralisação entre os dias 5 e 22 de agosto, exatamente durante as Olimpíadas. A justificativa é que os trabalhadores sofrerão com a falta de segurança e mobilidade durante os Jogos.
O pedido de recesso olímpico já havia sido feito por representantes do Sintufrj no Conselho Universitário, dia 14, mas o reitor Roberto Leher afirmou que a universidade manteria todas as atividades no período solicitado.
De acordo com nota divulgada pelo Sintufrj, a paralisação não afetará a rotina das atividades essenciais (ligadas à vida, patrimônio, segurança ou que, se não forem feitas, podem causar prejuízos legais à UFRJ). Rafael Coletto, dirigente do sindicato, completa: “Estamos orientando que as unidades se reúnam com os trabalhadores para definir que serviços serão mantidos”.
No mesmo dia da assembleia, o gabinete do reitor enviou ofício a todas as unidades para que organizassem o funcionamento em conjunto com os professores e os servidores técnico-administrativos. O documento informa possível recesso das atividades administrativas apenas no dia 19.
No dia 3 de agosto, uma nova assembleia do Sintufrj terá como pontos de pauta a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, o PL 257 (que prejudica o funcionalismo na renegociação da dívida dos estados) e a reforma da Previdência.
Leia mais: Técnicos-administrativos paralisam atividades durante as Olimpíadas
Pesquisa colore Fundão
Fotos: Kelvin Melo
Um colorido diferente tomou conta do gramado no lado oposto ao CT, nesta semana. Alunos de pós-graduação da Escola de Belas Artes apresentaram trabalhos de pesquisa no local. A atividade fez parte do projeto “Desilha”, coordenado pela professora Livia Flores. Para ela, a saída do ateliê permite aos alunos pensar a arte e a cidade a partir do território do campus.


Reitoria diz que democratização do acesso às universidades está em xeque
Gargalo entre demanda e atendimento e verbas contingenciadas dificultam assistência estudantil
Texto e fotos: Tatiana Lima
A assistência estudantil representa hoje o tema de maior tensão política nas universidades brasileiras. As medidas de democratização do acesso, como a lei das cotas de 2012, mudaram o perfil do alunado. Mas, enquanto as instituições apontam a necessidade de mais recursos para atender à nova demanda, o governo interino de Michel Temer propõe um freio nos gastos públicos. Para discutir a situação, a reitoria da UFRJ realizou uma audiência pública, dia 19, no Salão Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha.
As verbas federais destinadas ao programa nacional da área (PNAES) vêm decrescendo ano após ano, afirmou o reitor Roberto Leher. Ele teme que a iniciativa seja ainda mais reduzida, ou até extinta, em virtude da política econômica adotada pelo Executivo federal. “Dúvidas e críticas e mobilizações que os estudantes fazem corretamente evidenciam a fragilidade dessa situação. Precisamos recuperar os recursos do PNAES. E, sobretudo, precisamos institucionalizá-lo como política de Estado. Ele está normatizado por decreto. É frágil”, disse o reitor.
Vera Salim, Roberto Leher e a vice-reitora Denise Nascimento
Para atender os alunos de baixa renda, a UFRJ esperava receber, na divisão orçamentária com as outras instituições federais de ensino superior, R$ 50 milhões, em 2016. Porém, somente R$ 46 milhões foram liberados. E boa parte ainda foi contingenciada. Sobraram R$ 34,7 milhões. Um pequeno alívio veio de duas emendas parlamentares para o orçamento de assistência estudantil, num total de R$ 4,3 milhões: “Agora em julho, há a promessa do MEC aos reitores de que o governo iria reexaminar o contingenciamento. Aguardamos se isso vai se confirmar ou não. O secretário da Educação Superior nos informou que a disposição do ministério é liberar 100% do custeio e manter os recursos do PNAES”, ressaltou Leher.
Um dos maiores problemas da assistência estudantil é a falta de alojamentos, segundo apresentação da superintendente da área, Vera Salim. Hoje, a UFRJ oferece vagas para apenas 0,63% do total de alunos da graduação.
Estudantes cobram
Os estudantes presentes à audiência pública defenderam critérios mais sensíveis para a assistência ao quadro de estudantes LGBTs, aumento dos valores de bolsas, abertura de bandejões, alojamentos e creches e a realização de uma nova audiência pública no campus do Fundão.
“Quando falamos de política de assistência estudantil, estamos falando de direitos sociais. Dentro do alojamento, temos alunos brilhantes que produzem conhecimento e ciência nessa universidade. Mas somos olhados como coitados. Não somos coitados!”, ressaltou Cacau Farias, aluna de jornalismo.
Adufrj também participou da audiência
Diretor da Adufrj, Fernando Santoro também cobrou melhor planejamento interno à UFRJ
“A questão da assistência estudantil é prioritária. Temos agora uma universidade muito mais colorida, plural e rica. Por isso mesmo, muito mais atuante. Assistência estudantil, com alojamento, bandejão e outras medidas, é o que vai permitir que se mantenha essa riqueza aqui”, defendeu Fernando Santoro, diretor da Adufrj. Segundo ele, o planejamento e a busca por soluções internas precisam guiar a tarefa.
“Não podemos deixar que aconteça mais o que ocorre há muitos anos nessa universidade: constroem-se esqueletos, abandonam-se esqueletos, gasta-se dinheiro pra consertar o esqueleto e depois se gasta de novo para demolir o esqueleto”, observou em referência a grandes obras inacabadas na UFRJ. “Temos de ter um planejamento amplo para soluções de longo prazo e não só as que tampem pequenos buracos. Não podemos apenas jogar culpa na situação externa, que é grave, pois temos nossas responsabilidades internas nas decisões”.
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