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Reações d’além mar...
BATEPRONTO/a crise na Europa
FRANCISCO LOUÇÃ/Professor da Universidade de Lisboa
Rodrigo Ricardo. Especial para o Jornal da Adufrj
O sotaque lusitano se acentua nas críticas às políticas de austeridade econômica que assolam o mundo – especialmente os países mais vulneráveis da Europa – expropriando a renda do trabalhador e enfraquecendo as democracias. Presente no Brasil recentemente para participar do Seminário Internacional em homenagem a Carlos Nelson Coutinho, o economista Francisco Louçã (professor da Universidade de Lisboa e que chegou a disputar a presidência de Portugal em 2006 pelo Bloco de Esquerda) analisou a situação europeia e defendeu a renovação dos movimentos, mas embebidos dentro das melhores tradições da esquerda. “Eles precisam combinar suas diferentes características pela transformação social e a vida humana”, frisou, durante uma qualificada tertúlia com os professores Luis Acosta (ESS/UFRJ) e Cleusa dos Santos (ESS/UFRJ e diretora da Adufrj-SSind).
O encontro gerou um vídeo que circulará na próxima segunda pelas redes sociais e estará na página eletrônica da Adufrj-SSind.
O que é o Bloco de Esquerda e como se encontra Portugal em face da crise na Europa?
O Bloco passa pela junção de várias correntes de esquerda, que se reuniram uma dúzia de anos atrás contra a globalização e a política neoliberal. Num caminho oposto ao da social democracia de Tony Blair (ex-primeiro-ministro britânico), que com a guerra do Iraque fez da política o tempo da mentira. Hoje, Portugal vive como quase todos os outros países europeus, uma longuíssima recessão, desde 2007, com altos índices de desemprego, emigração e desespero social.
A liberdade dos capitais é um fato relativamente novo do capitalismo. Os estados nacionais, de certo modo, sempre procuraram se proteger desta movimentação, porque enfraquece a base de sustentação fiscal. Estas barreiras começaram a ser retiradas com Thatcher (Margareth), Reagan (Ronald) e, sobretudo, a partir de Clinton (Bill), trazendo como consequência a enorme valorização do capital fictício e uma dívida pública, que vem sendo paga com os salários e as aposentadorias dos trabalhadores. A pressão para se emigrar é enorme. Engenheiros, arquitetos e outros profissionais estão indo embora, alguns inclusive para o Brasil. A Inglaterra, por exemplo, recruta milhares de enfermeiros portugueses. Afinal, é mais econômico importar esta mão-de-obra qualificada, do que sustentar e garantir uma universidade que possa fazer essa formação.
A crise possibilita a organização da consciência dos trabalhadores?
A crise é sempre destruidora, uma derrota para os trabalhadores que acabam por viver a marginalização social que significa o desemprego. O capitalismo se radicalizou, portanto, tem ocorrido respostas mais fortes. Outro dia, um banqueiro disse que “se há mesmo luta de classes estamos perdendo”. Não é bem assim. No Brasil, a adaptação do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) às políticas financeiras do FMI pôs fim à esperança do povo brasileiro. A consciência segue em disputa e vitórias e derrotas representam um processo de disputa.
Qual o papel da Alemanha no cenário da crise?
O centro financeiro se transferiu de Londres para Frankfurt. Além das questões econômicas, houve um motivo político para essa supremacia, o desaparecimento da França como balanço deste jogo. Quando François Hollande foi eleito, festejou-se como se ele fosse o princípio da salvação. Hoje, ele se trata do presidente mais impopular da França nos últimos 30 anos.
A “Dividadura”?
É o nome de um livro meu, um neologismo, assim como “dividocracia” e outros criados para definir o poder da dívida frente aos Estados. O Primado da especulação, em que a política passa a ser feita pelos credores, com o desaparecimento da soberania. A Grécia é o caso mais perigoso da Europa. Eles passam por uma guerra econômica, gerando uma esquerda forte que pode inclusive vir a ser governo, mas também uma extrema direita. Vale relembrar que os gregos mais velhos lembram das bandeiras com a suástica hasteadas no Parthenon de Atenas, invadida pelas tropas de Hitler.
Leia mais: Professor e economista português analisa crise na Europa
Democracia aprofundou a ordem burguesa e uma “revolução apassivadora”, comandada pelo PT, tomou conta do cenário, afirma professor, ao discutir a obra de Carlos Nelson Coutinho
A estratégia da revolução brasileira foi pauta de seminário internacional
Rodrigo Ricardo. Especial para o Jornal da Adufrj
O comportamento dissidente de Carlos Nelson, capaz de afirmar a divergência em meio à busca pela unidade, acompanhou a mesa temática “As ideias de Coutinho e a estratégia da revolução brasileira: ontem e hoje” durante o Seminário Internacional em homenagem ao pensador no auditório Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha. “Foi uma característica relevante deste militante, com a meta comunista, que nunca se separou do seu compromisso político pela democracia”, analisou o professor da Escola de Serviço Social (ESS-UFRJ), Mauro Iasi.
Na sua palestra, Mauro Iasi apontou o caminho que, segundo ele, Coutinho defendia para a transformação social do Brasil. Trilhos que optam radicalmente pela democracia. “(O caminho) Passa por romper as tradições de mudanças vindas pelo alto, contrapondo às formulações de gabinetes através de uma sociedade amadurecida”, disse Iasi. Nesta rota, indicou o professor, ocorreria a inserção dos trabalhadores no jogo político, não como coadjuvantes, e sim protagonistas para superar a distância entre Estado e sociedade.
“Por essa lógica, caberia aos partidos políticos organizar estas massas para acumular força e disputar a hegemonia com outras classes, combinando reforma e revolução para se chegar ao socialismo”, explicou Mauro Iasi.
Americanalhamento
No entanto, o paradoxo, segundo Iasi, é que houve o inverso, o aprofundamento da ordem burguesa. Apesar do fortalecimento das instituições, o cenário foi tomado por uma revolução apassivadora, capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores, que, em seus primórdios, teve a adesão de Coutinho, após sair do Partido Comunista Brasileiro (PCB). “Há o americanalhamento da política para usar uma expressão do próprio Nelson. Essa alternância de siglas partidárias sem sentido, que acabou por desaguar numa democracia de cooptação, e não de massas”, definiu Mauro.
Um dos fundadores do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), ao lado de Coutinho, Milton Temer acredita que, em vez da insurreição, deve-se buscar a revolução por meio da via eleitoral. “A campanha presidencial une os diferentes brasileiros do país. Do gaúcho do Pampa ao extrativista da Amazônia, cruzando pelo autônomo do eixo Rio-São Paulo”, observou o ex-deputado, apelando para que a esquerda assuma esta realidade e apresente um candidato. “Os presidenciáveis que se anunciam pertencem ao mesmo balaio de caranguejos. Não podemos esquecer do papel do indivíduo na história e do tamanho poder de um presidente em nosso sistema”.
Para Temer, a propalada herança maldita de FHC (Fernando Henrique Cardoso) multiplicou-se por dez nos anos Lula (2002-2010). “Outros governos em nosso continente (Equador, Venezuela, Bolívia) tiveram posições diferentes, do que simplesmente manter os juros altos aos predadores financeiros”, criticou, apostando no republicanismo revolucionário e no sufrágio para vencer o capitalismo.
Reforma agrária em pauta
A mesa também teve a participação de Neuri Recepto, trazendo a contribuição histórica do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). “As nossas divergências podem ser na tática, mas temos o mesmo desafio, perseguir a revolução socialista”, comenta, reiterando que a reforma agrária ainda não é uma pauta superada em nosso país. “Ainda se mantém inalterado o poder político-econômico das oligarquias rurais”.
As eleições acontecem nos dias 25, 26 e 27.
O candidato à direção do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, (HUCFF), Luiz Feijó, deixou mais claro sua simpatia em relação à entrega da gestão do hospital à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O candidato traçou uma linha evolutiva de “investimentos do governo federal” nos hospitais universitários a partir de Lula, em 2006, até a criação da“Ebserh”, o que ele considera como ponto positivo.
As afirmações de Luiz Feijó foram feitas na quarta e última rodada de debates que antecederam as eleições que irão indicar quem comandará, pelos próximos quatro anos, o mais importante hospital da rede de unidades da UFRJ.
O outro candidato, Eduardo Côrtes, por sua vez, reafirmou sua posição na defesa de um projeto autônomo para o HUCFF, rechaçando a entrega do hospital à Ebserh. O candidato sublinhou ser necessário “resgatar o trabalho de ensino e assistência de alta complexidade”, além de promover reformas na atual administração de recursos e de pessoal da unidade de saúde.
Este último debate foi o de menor frequência em relação aos três realizados anteriormente. Um dos motivos, foi a dificuldade de acesso ao auditório do 12º andar do prédio do hospital: apenas um elevador estava em funcionamento, além do reservado para a cirurgia.
As eleições acontecem nos dias 25, 26 e 27.
Consuni repudia ações do diretor da Educação Física
Colegiado considerou inaceitável a postura autoritária do professor Leandro Nogueira. Histórico já tem um ano
Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
O colegiado máximo da UFRJ aprovou uma moção de repúdio contra as ações do diretor da Escola de Educação Física e Desportos, Leandro Nogueira (leia quadro). O episódio do dia 8 de novembro foi relatado pela bancada estudantil do Consuni, pelo representante do Centro Acadêmico de Educação Física (CAEFD), Rian Rodrigues, pela representante da Associação dos Pós-Graduandos da UFRJ, Leila Leal e pelo presidente da Adufrj-SSind, Cláudio Ribeiro. Naquela ocasião, o diretor mandou fechar as portas da Unidade para evitar que os estudantes realizassem um ato político contra sua gestão no interior da Escola.
Ribeiro demonstrou a desaprovação da Seção Sindical com ações que agridem não só os estudantes da Educação Física, mas a universidade como um todo: “Vimos estudantes terem que abrir mochila para acessarem a Unidade. Foi um ato extremamente arbitrário e que só teve maior destaque porque nossa equipe de comunicação estava presente. Nem assim, com as lentes da nossa câmera, os funcionários se intimidaram, mesmo sabendo que o caso estamparia o jornal. Não se pode admitir a naturalização da perseguição política como prática universitária”.
Maria Fernanda Quintela, decana do Centro de Ciências da Saúde, que acompanha de perto (e há um ano) a crise e esteve na EEFD no dia 8 de novembro, afirmou que há um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) já concluído, faltando apenas findar o prazo de dez dias para defesa do acusado (Leandro Nogueira) e quatro sindicâncias abertas. “A situação é extremamente grave! Os procedimentos adotados pelo professor Leandro não são adequados dentro da estrutura da universidade. Precisamos demonstrar isso aqui”, disse.
Ameaças de morte
Leila Leal, da APG, chamou a situação de estarrecedora e insustentável. “Há um CA oficialmente cassado pela direção da Unidade. Hoje temos estudantes sendo ameaçados de morte. A Congregação daquela Unidade tem um sistema policialesco, que coloca seguranças na porta e impede o acesso democrático de estudantes”.
O reitor, sem entrar em detalhes, afirmou que ações no âmbito administrativo já estão sendo tomadas para garantir a institucionalidade e evitar ações que atentem contra a democracia na UFRJ.
Reitoria apoia estudantes
A reitoria da UFRJ se reuniu com representantes do movimento estudantil da UFRJ (Centro Acadêmico da Escola de Educação Física e Desportos, DCE Mário Prata, APG), da Adufrj-SSind e do Sintufrj. A pauta foi o episódio do dia 8 de novembro, noticiado na edição nº 825. Inclusive, Leandro Nogueira, diretor daquela Unidade, lançou nota na última semana insultando o Jornal da Adufrj e a diretoria da Seção Sindical, por considerar a abordagem da matéria “parcial” e “mentirosa”.
Na reunião com a reitoria, da qual participaram o reitor Carlos Levi, o vice-reitor Antônio Ledo, e o pró-reitor de Pessoal, Roberto Gambine, ficou claro o posicionamento da administração central em favor da democracia e do respeito à institucionalidade. Levi informou que se reuniu, no dia 12, com o diretor da EEFD e deixou claro para Leandro a “incompatibilidade das atitudes do diretor com o espaço acadêmico que precisa garantir o diálogo, a negociação e a livre manifestação”.
Luciano Coutinho, diretor da Adufrj-SSind, salientou, no episódio da sexta-feira (8), o tratamento antidemocrático e a explícita perseguição ao movimento estudantil: “Havia uma revista ocorrendo na porta da Unidade, no mesmo dia em que era realizada uma filmagem. Nada contra a filmagem, mas eram pessoas estranhas à universidade que tinham total liberdade de ir e vir, enquanto os estudantes estavam sendo impedidos de circular sem que suas mochilas e bolsas fossem revistadas”.
Alojamento: novas decisões
Na sessão do Consuni do dia 14 de novembro, o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, Carlos Rangel, levou ao colegiado as ações discutidas a respeito do acesso e das obras da Residência Estudantil. O Consuni aprovou que o acesso dos estudantes a casa se dará por meio de cartão magnético (com identificação e controle por catraca). Esta deliberação foi contrária à decisão da assembleia dos estudantes alojados, que havia indicado o controle por cartão de identificação, sem tarja magnética.
Com relação à reforma, a universidade tentará entrar em contato com os últimos ocupantes dos quartos vagos que permanecem trancados até o dia 21 de novembro. Não havendo resposta até essa data, a UFRJ fica autorizada a abrir os quartos, com a presença da Superintendência Geral de Políticas Estudantis (SuperEst) e da Comissão de Acompanhamento do Alojamento. Da mesma forma, os ocupantes irregulares terão até a data de 21 de novembro para saírem dos quartos. A UFRJ entrará com pedido de liminar para reintegração de posse para os casos de os ocupantes se recusarem a sair.
Moção de Repúdio
O Conselho Universitário manifesta seu repúdio à manutenção dos procedimentos antidemocráticos do diretor da Escola de Educação Física e Desportos, professor Leandro Nogueira, incluindo a convocação da Polícia Militar para intervir em questões político-acadêmicas.