A Carta foi lida por estudantes, docentes e técnicos. O revezamento entre os leitores se repetiu em todo o país, sob a liderança da Faculdade de Direito da USP, grande idealizadora do movimento. O documento já ultrapassou um milhão de assinaturas.
“Que a leitura da carta da democracia impulsione as forças democráticas no Brasil a fazer mais. Que impulsione todos nós a fazer mais, a colocar a nossa ação e reação à altura do momento histórico que vivemos, afirmou o presidente da AdUFRJ, professor João Torres, na reunião do Consuni que antecedeu a leitura da Carta. “E quem sabe assim teremos nossas universidades florescendo de novo”, completou.
As universidades conhecem bem o valor da democracia, diante do desrespeito sofrido no governo Bolsonaro. “Neste momento, há cerca de 20 universidades onde o reitor eleito não foi empossado”, disse a reitora Denise Pires de Carvalho. “Sabemos que somente através do Estado democrático de direito conseguiremos a nação soberana para as futuras gerações”.
São jovens como Natália Trindade, da Associação de Pós-graduandos, que desejam esta nação soberana. “As eleições de outubro serão plebiscitárias. Quem hoje dirige o país acredita que a universidade deva acabar”, avaliou.
Coordenador geral do Sintufrj, Esteban Crescente pediu mobilização. “Não há outro caminho até 2 de outubro que não seja ir para a rua e resistir”.
PRINCÍPIO FUNDAMENTAL
A Faculdade Nacional de Direito, com longo currículo de resistência em defesa das liberdades democráticas, não poderia faltar ao ato da UFRJ. Diretor da unidade, o professor Carlos Bolonha enfatizou que o Estado democrático de direito sequer deveria estar em discussão. “É um princípio fundamental absoluto”.
O dirigente leu uma moção da Congregação da FND com integral apoio à Justiça Eleitoral. “Nesta encruzilhada histórica, esta Faculdade convoca a todas e todos que defendem o Estado Democrático de Direito a lutar pela soberania popular, inibindo, assim, qualquer tentativa de dilapidação das conquistas democráticas do povo brasileiro”, diz o documento.
No 11 de agosto, que é o Dia Nacional dos Estudantes, o DCE da UFRJ também prometeu resistir. “Bolsonaro dá declarações de que não aceitará o resultado das urnas. Ataca o Supremo Tribunal Federal. Articula com militares sua permanência por meio de um golpe. Essa história nós já conhecemos. E nós já conhecemos o que não permitirá que a democracia seja apunhalada: mobilização popular nas ruas para barrar o fascismo”, disse Lucas Peruzzi, coordenador-geral do DCE. “Nossa bandeira carrega o nome de Mário Prata, que decidiu ser resistência nos momentos mais sombrios da nossa história. Hoje honraremos este legado para dizer que não aceitamos o governo da fome e da miséria. Não permitiremos que os golpistas assassinem a nossa democracia”, concluiu.
VICE-REITOR: “NÃO VAMOS FECHAR. DEVEMOS ISSO AO POVO BRASILEIRO”
“Nós não vamos fechar, porque devemos isso ao povo brasileiro. Somos uma das luzes que existem na sociedade”, disse o vice-reitor, professor Carlos Frederico Leão Rocha, na reunião especial do Conselho Universitário que antecedeu o ato político de leitura da carta pela democracia. A sessão tinha como ponto único a discussão da grave situação financeira da UFRJ. “Hoje temos cerca de 40% do orçamento que tínhamos em 2012. Estamos no limite do limite”, completou.
O dirigente, docente do Instituto de Economia, criticou o teto de gastos públicos. O dispositivo limita as despesas do Estado, mesmo com o governo batendo recordes de arrecadação. “Nenhum país do mundo em nenhuma situação adotou uma prática como o teto de gastos. É a coisa mais danosa que pode ser feita na história da humanidade. E só foi possível num momento de suspensão da democracia, com um presidente que não foi eleito”, disse em referência ao ex-presidente Michel Temer.
O pró-reitor de Finanças, professor Eduardo Raupp, expôs o caráter inédito da crise atual. “É a primeira vez que temos um corte com o orçamento já em aplicação. Não tivemos como planejar, reduzir contratos. No momento do corte, a UFRJ já tinha 90% do seu orçamento comprometido com fornecedores”, informou. “Só temos cobertura orçamentária até meados do mês que vem”, disse.
O Consuni aprovou uma carta ao MEC, proposta pelas entidades representativas da UFRJ, por unanimidade. O documento reivindica a reconstrução do orçamento da universidade.