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WhatsApp Image 2022 11 25 at 22.00.04 6Uma semana depois de uma das decisões mais importantes e polêmicas dos últimos tempos na universidade – a aprovação, no Conselho Universitário, do equipamento cultural da Praia Vermelha –, o Jornal da AdUFRJ ouviu conselheiros favoráveis e contrários à medida. Os argumentos são muitos e vão desde a necessidade de a UFRJ devolver à sociedade um espaço de cultura, até a crítica à forma de gestão escolhida para o novo espaço.
Dentre os favoráveis, está a professora Juliany Rodrigues, diretora do campus Duque de Caxias. Ela sustenta que a concessão não se trata de privatização e defende os investimentos que serão realizados no campus. “A contrapartida, na minha concepção, é histórica. É um volume de investimentos que o próximo governo federal não vai ter condições de fazer”, afirma.
Também a favor da criação da nova casa de cultura, o decano do CT, professor Walter Suemitsu, destaca a dificuldade de gerir um espaço deste porte. “Mesmo que a UFRJ tivesse recursos para fazer o prédio, não teria estrutura para gerir o centro cultural, nem pessoal para atuar aos sábados, domingos, feriados, à noite”, afirma. “A estrutura de operação de um espaço como esse não é simples e demanda muito pessoal”, completa.
Entre os contrários, o professor Vantuil Pereira, decano do CFCH, critica a falta de informações sobre o impacto de uma casa de espetáculos tão próxima a hospitais. “Não há informações sobre o barulho em dias de show, por exemplo, para esses hospitais e seus pacientes”, analisa.
Representante dos estudantes de graduação, Mariana Frucht defende que havia outras possibilidades para o espaço. “Pautamos um equipamento público construído nos limites do antigo Canecão, que ocupa 5 mil m². Quem vê a forma como o projeto foi tocado não pensa que existia qualquer outra alternativa a ele, o que é falso”, argumenta.

Juliany Rodrigues
Diretora do campus
Duque de Caxias

Sou seguramente a favor do projeto. A reitoria atual fez muitas apresentações. Só eu assisti a quatro. A UFRJ tem uma dívida com a sociedade, quando se trata de Canecão. A gente tem, na Praia Vermelha, uma estrutura de concreto que não tem mais nenhuma possibilidade de uso e nem de reforma. É preciso construir algo no lugar. Outro ponto importante que sustenta minha decisão é que concessão não é privatização. Isso é uma falácia. O terreno jamais passará à iniciativa privada e o que for construído pertencerá à universidade. Então, o equipamento cultural é nosso.

Walcy Santos
Conselheira representante
dos Titulares do CCMN

Meu voto favorável foi baseado em dois aspectos: o primeiro, é que tínhamos uma promessa de devolver o antigo Canecão para a cidade. O modelo de gestão ideal acredito ser a concessão. A própria UFRJ já trabalha com modelo de concessão (com o Cenpes, por exemplo). Certamente a concessão não é privatização. Tudo continua sendo da UFRJ.
O segundo ponto é que entendo que a forma escolhida com concessão em troca de melhorias ou construção de novas estruturas é vantajosa pois não dilui o ganho da concessão no nosso próprio orçamento. O prédio que será construído para uso acadêmico é extremamente necessário para tirar as aulas de contêineres. São investimentos que a universidade não consegue fazer.
Eu acompanhei a última sessão apenas pelo YouTube pois na anterior, quando os estudantes ocuparam o auditório, eu tive uma crise forte de falta de ar. Manifestar a opinião é direito de todos. Faltar ao respeito com quem tem um posicionamento diferente do seu, ofender moralmente e impedir o funcionamento do colegiado não é democrático. Eu estou no Consuni porque fui eleita. Penso no Consuni como nosso órgão legislativo. Que democracia se faz impedindo o legislativo de funcionar?

Walter Suemitsu
Decano do CT e relator
do projeto no Consuni

Para a universidade, a contrapartida do restaurante universitário e complexo de salas de aula são fundamentais. São obras das quais a universidade precisa muito e não tem verbas para executar. Outro aspecto é a importância de a universidade devolver para a cidade um espaço de cultura. Essa decisão ajuda a UFRJ a cumprir uma importante função social para o Rio e para o país. A manifestação no Consuni é legítima, todos têm direito de se manifestar. Mas o Conselho Universitário tem mandato, foi eleito. Portanto, é um espaço legítimo e representativo. Quando se questiona essa legitimidade, todas as nossas decisões entram também num limbo, num risco de serem invalidadas. Esse discurso é perigoso para a própria universidade.

Vantuil Pereira
Decano do CFCH

O projeto carece de esclarecimentos. Um deles é o impacto ambiental, não só em relação às árvores, mas também em relação ao impacto sobre os hospitais. Outra preocupação é a mobilidade urbana. Como ficará o trânsito na região em dias de shows numa casa que comporta quatro mil pessoas?
Um outro elemento que não foi devidamente debatido é o risco do empreendimento. Se por ventura a UFRJ tiver que pegar a obra no meio do caminho, ou a concessionária desistir do contrato antes do final do prazo, haverá um custo de mais de um milhão de reais anuais para a universidade. Por todos esses pontos, eu propunha, em meu parecer de vistas, que o projeto fosse rejeitado.
Sobre a sessão do dia 17 de novembro, o processo foi mal conduzido. Não sei quantos votaram contrários, quantos se abstiveram. Eu não pude também manifestar minha declaração de voto, porque a sessão terminou antes que eu pudesse demonstrar esse desejo. A tentativa de impedir votação é um expediente da minoria. Agora, a maioria pode atropelar o regimento em nome de uma decisão? É preciso defender e garantir o processo regimental.E ser violento não é só tocar bumbo e gritar.

Roberto Gambine
Conselheiro representante dos técnico-administrativos

Uma questão preliminar à decisão é que a própria reitoria declarou que havia mudanças importantes em relação ao projeto da gestão do reitor Roberto Leher e essas mudanças não foram debatidas a contento, como, por exemplo, a concessão por 30 anos e a gestão privada do espaço. Outra questão é que a Escola de Educação Física reivindica espaços que serão utilizados por projetos de extensão. A escola juntou uma série de documentos, criou um processo. Eu pedi que fosse apensado ao processo principal, mas os documentos foram ignorados.
Outro ponto que merecia que nos debruçássemos com mais cuidado é que a decisão do Conselho de Curadores desafeta a área (os 15 mil m²) de seus objetivos finalísticos. Mas o decreto que cede o terreno para a UFRJ condiciona o uso para objetivos finalísticos de ensino, pesquisa e extensão. Meu parecer era no sentido de discutir mais, trazia questões que deveriam ter sido consideradas e não foram. Houve uma condução açodada, atropelada, dessa discussão. Meu pedido de encaminhamento foi desconsiderado. Ele é previsto no regimento do colegiado. O correto era submeter o pedido ao pleno. Se fosse negado, eu estaria satisfeito, porque teria havido apreciação do pedido. Mas não houve deliberação.
Essa não é uma decisão trivial. É uma definição do nosso futuro por pelo menos 30 anos.

Mariana Frucht
Representante estudantil, integrante do DCE pela UJC

Nossa posição contrária se sustenta no desacordo tanto com a concepção e conformação do projeto, quanto pelo método que a reitoria utilizou para sua elaboração e para tocar o debate. Ceder terreno público por pelo menos 30 anos não é uma solução para a difícil questão orçamentária da UFRJ. Esse é um problema de caráter nacional, por isso pautamos a recomposição orçamentária dos Institutos Federais, o fim do teto de gastos, e não a entrega por três décadas de 15 mil m² de terreno público para o setor privado.
Nossa defesa era de um Equipamento Cultural Multiuso público, de gestão pública. Pautamos um equipamento público construído nos limites do antigo Canecão, que ocupa 5 mil m². Para nós, faltou vontade política de incluir verdadeiramente a comunidade acadêmica nos espaços de discussão e de elaboração. Quem vê a forma como o projeto foi tocado não pensa que existia qualquer outra alternativa a ele, o que é falso.
Estamos dispostos a utilizar todas as ferramentas democráticas disponíveis para que essa votação seja desconsiderada.

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