A FORÇA DA SAUDADE Goiana de Anápolis, Ana Luiza encantou a plateia lembrando o clima de sua terra - Fotos: João LaetEla começou falando da saudade que sente da mãe, da comida e do clima de sua terra natal. Passou então a descrever os males causados à atmosfera pelo gás carbônico, que qualificou como “o vilão do efeito estufa”. Mas que também pode ser um herói, desde que capturado e reintroduzido na cadeia industrial, reduzindo os efeitos das mudanças climáticas. E tudo isso em exatos 2m49s.
A dona desse feito admirável é a doutoranda Ana Luiza Ribeiro Gomes, goiana de Anápolis, de 25 anos, aluna do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos da UFRJ. Com a apresentação de sua tese sobre o desenvolvimento de materiais para captura de CO2, ela foi a vencedora da área de Engenharias, Ciências Exatas e da Terra da primeira edição do concurso “3 Minutos de Tese” na UFRJ. A final, disputada por 21 doutorandos em três grandes áreas do conhecimento, lotou o Auditório Horta Barbosa, no CT da Cidade Universitária, na tarde de quinta-feira (30).
Ao lado de Loreena Klein, primeira colocada na área de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde, e de Wanessa Machado, na área de Ciências Humanas, Ana Luiza levou um prêmio de R$ 5 mil e a certeza de que todo o esforço de sair de Anápolis com 18 anos para iniciar a graduação da UFRJ valeu a pena. “Esse prêmio representa uma luta de anos, e sei que essa pesquisa que desenvolvo vai trazer um retorno para a sociedade, não só para a academia. Sinto muita saudade da minha terra, mas fiz uma escolha e tenho o apoio da minha família”, disse Ana Luiza.
Coordenadora do FCC, professora Christine Ruta
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO
Inspirado no modelo internacional criado pela Universidade de Queensland, na Austrália, o 3MT está hoje presente em mais de 85 países. Na UFRJ, o concurso foi realizado em parceria com o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2). Foram 237 inscritos. Em apenas três minutos, os participantes tiveram de explicar no palco a sua tese de doutorado, para avaliação de um corpo de jurados e da plateia, que deu notas de 5 a 10 por meio de um sistema digital.
Emocionada diante da presença de alunos de três escolas públicas — Colégio Pedro II (Campus Realengo), CIEP Ernesto Che Guevara, de Belford Roxo (RJ) e Escola Estadual Marechal Zenobio da Costa, de Nilópolis (RJ) —, a coordenadora do FCC, professora Christine Ruta, disse que o projeto é uma
CRIATIVIDADE Loreena venceu comparando a visão a uma cozinhacelebração à Ciência e à Educação: “O concurso reafirma o papel público da UFRJ como produtora e difusora de conhecimento. Que essa juventude que está aqui hoje possa se inspirar nesses jovens cientistas e venha para a universidade”.
Integrante do corpo de jurados — assim como a vice-reitora Cássia Turci —, o reitor da UFRJ, professor Roberto Medronho, saudou a diversidade na produção de conhecimento da universidade. “Um antigo professor meu dizia que quem sabe explica de forma simples. E esse concurso estimula exatamente isso. Fiquei impressionado com a qualidade das apresentações e das pesquisas que desenvolvemos em várias áreas. Estamos aqui produzindo conhecimento para mudar a vida das pessoas”, pontuou o reitor.
DISPUTA ACIRRADA
Na área de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde, a doutoranda Loreena Klein venceu a disputa com sua tese sobre novas terapias para a reversão de perdas visuais graves, como a causada pelo glaucoma. Ela comparou o funcionamento da visão a uma cozinha, com chefes e ajudantes, e foi muito aplaudida pela plateia pela comparação, que tornou fácil o entendimento de um tema tão complexo.
“Achei incrível a iniciativa de passar conhecimento de uma forma didática, foi muito emocionante para mim comunicar meu trabalho dessa forma. Quero continuar comunicando a Ciência, dando aulas, palestras, levando-a a todas as pessoas”, disse Loreena, aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas do IBCCF.
Já na área de Ciências Humanas, a primeira colocada foi Wanessa Machado, a última finalista a subir ao palco. Atriz e doutoranda do Programa de
TEATRAL A atriz Wanessa quer tornar lúdicas as aulas de Ciências Pós-Graduação em Educação, Gestão e Difusão de Biociências do IBqM, ela usou menos de três minutos para sua tese, que tem como objetivo elaborar um protocolo de formação de professores de Ciências para que integrem o teatro de forma simples e eficaz em suas aulas. Tudo a ver com o 3MT.
Diante da qualidade das apresentações dos 21 finalistas, a coordenação do concurso anunciou prêmios também para os segundos e terceiros colocados de cada área — respectivamente, R$ 2,5 mil e R$ 1 mil —, não previstos inicialmente. O corpo de jurados, cuja avaliação representava 70% da nota final de cada participante, contou com a participação de pesos-pesados da academia e da área da Educação, como Muniz Sodré, Paulo Baía, Nelson Maculan, Ricardo Medronho, Nedir do Espirito Santo e Eleonora Kurtenbach. Também integraram o júri a reitora do Colégio Pedro II, Ana Paula Giraux, o vice-reitor da Uerj, Bruno Deusdará, e o diretor de Programas e Bolsas da Capes, Luiz Pessan.
Para o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, professor João Torres, a participação dos técnicos da UFRJ na seleção dos finalistas foi fundamental. “Fiquei impressionado com o empenho dos técnicos, eles tiveram um papel de destaque nesse concurso”, disse o pró-reitor. Ele citou o exemplo do superintendente geral de Planejamento e Desenvolvimento da PR-3, George Pereira, que bateu um recorde: fez 121 avaliações das apresentações em vídeos dos candidatos.





