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Por aclamação, em sua sessão ordinária de quinta-feira passada (23), o Conselho Universitário da UFRJ aprovou a concessão da Medalha Minerva do Mérito Acadêmico às professoras Doris Rosenthal, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) e Yocie Yoneshigue Valentin, do Instituto de Biologia (IB).
A professora Doris Rosenthal é graduada em Medicina pela antiga Universidade do Distrito Federal (atual Uerj), em 1957, e defendeu seu doutorado em Ciências Biológicas na UFRJ em 1975. Em 1977, entrou na UFRJ como professora adjunta do IBCCF, permanecendo até a aposentadoria, em 2002. Entre suas colaborações mais notáveis, destacam-se as pesquisas no Laboratório de Fisiologia Endócrina (LFEDR), que hoje leva seu nome.
A ex-reitora Denise Pires de Carvalho, que assumiu neste terceiro governo Lula a Secretaria de Educação Superior do MEC, é uma das orientadas da professora Doris, que foi uma das fundadoras da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e é membro honorário da Academia Nacional de Medicina.
Já a professora Yocie Yoneshigue Valentin é graduada em História Natural pela então Universidade do Brasil (atual UFRJ), em 1964. Em 1985, obteve o título de doutora em Oceanografia Biológica pela Universidade do Mediterrâneo de Marselha, na França. É pioneira no estudo do uso de algas marinhas como fonte de fármacos.
Yocie foi presidenta da Sociedade Brasileira de Ficologia (SBFic) e iniciou suas atividades docentes na UFRJ em 1992, como professora adjunta no Instituto de Biologia, onde lecionou e coordenou pesquisas até se aposentar, em 2005. É membro do Comitê Nacional para Pesquisas Antárticas (Conapa) e professora bolsista de produtividade sênior em pesquisa do CNPq.
O reitor Carlos Frederico Leão Rocha anunciou no Conselho Universitário desta quinta-feira (23) que todas as bolsas acadêmicas da UFRJ passarão de R$ 400 para R$ 700. O valor é correspondente ao das bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do CNPq, reajustadas pelo governo Lula no mês passado. “As bolsas da UFRJ direcionadas ao Pibic já serão reajustadas imediatamente. As bolsas referentes à monitoria e à extensão só estão aguardando a autorização do orçamento suplementar”, disse. “Uma vez que tenhamos a autorização, vamos pagar as bolsas em R$ 700 retroativamente”, garantiu. Apenas para as bolsas acadêmicas, o reajuste significará um aumento de custos para a UFRJ em R$ 12 milhões ao ano, informou o pró-reitor de Finanças, Eduardo Raupp. “Exatamente por isso resolvemos aguardar a suplementação orçamentária antes de comprometer esses recursos”, justificou.
A sessão do Consuni também aprovou as emerências dos professores Moacir Gracindo Soares Palmeira, Elba Pinto da Silva e Djalma Mosqueira Falcão.
Queremos compartilhar uma rara sensação de contentamento, artigo em extinção entre os que teimam em atuar na arena sindical. Sim, estamos contentes. Na sexta-feira, 17 de março, a diretoria da AdUFRJ realizou um bem-sucedido evento, tanto pelo tamanho da audiência quanto pelo ineditismo da proposta. Oferecemos um café da manhã para parlamentares e professores no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
O encontro lotou o auditório e reuniu dois grupos sedentos de interlocutores. De um lado, docentes das mais diversas áreas ansiosos para mostrar a relevância de suas pesquisas, e assim obter apoio político e orçamentário do Parlamento. Do outro, deputados federais e estaduais interessados em entrelaçar seus mandatos com a universidade e assim, com a força da Ciência e da Cultura, robustecer suas causas.
Esse amálgama entre universidade e Parlamento é, para nós da diretoria da AdUFRJ, uma das vertentes das novas formas de luta sindical que tanto bradamos há mais de cinco anos. Não é uma luta engravatada, presa aos carpetes de Brasília. É uma aliança que entende o Legislativo como espaço de disputa e os professores como agentes fundamentais de mudança social. Passa pelo Congresso — ainda que não se limite a ele — toda a discussão orçamentária da universidade e do financiamento da produção de C&T. Também está ali o embate sobre o servidor público, nossos aumentos e nossas aposentadorias.
Estamos empenhados para que o café da manhã da última sexta-feira se repita mais e mais. Já fazemos iniciativas semelhantes no Observatório do Conhecimento, e agora queremos trazer para o enfoque local essa mesma abordagem. Aproveitamos para a agradecer a cada colega que doou seu tempo e disposição para dividir conosco suas expectativas e histórias naquela manhã.
A universidade é talhada nessa força, a do diálogo de saberes, e do compromisso com a transformação social, missão nobre e explicitada, por exemplo, na exposição Futuros da Baía de Guanabara, na Casa da Ciência. A importante iniciativa do Fórum de Ciência e Cultura foi inaugurada essa semana e ilustra a página 8 deste jornal.
Terminamos a edição com a Ciência e começamos com a política. A página 3 trata da eleição para reitor, marcada para os dias 25, 26 e 27 de abril. Esperamos que a campanha entre os dois candidatos seja parecida com o nosso café da manhã — fértil em propostas, e respeitosa nos debates.
Boa leitura!
Em aula magna na Coppe, a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou algumas boas novas para a comunidade científica. Uma delas, um edital criado para celebrar o 8 de Março. “Queremos fomentar a participação de mulheres em áreas tecnológicas”, justificou a ministra. O edital do CNPq, de R$ 100 milhões, será voltado a escolas e universidades que tenham projetos de incentivo a meninas e mulheres nas ciências exatas. Outro anúncio é a criação do Centro Nacional de Vacinas, em parceria com a UFMG, para investigar doenças consideradas negligenciadas pela Organização Mundial da Saúde. “Se nós não investigarmos uma vacina para a doença de Chagas, quem desenvolverá?”, questionou Luciana Santos. Outro anúncio foi o acordo de cooperação que será firmado na próxima semana entre o presidente Lula e o governo chinês para a construção de um satélite. O objetivo é dar um salto qualitativo no monitoramento do desmatamento na Amazônia.
Depois de um pesado plantão no hospital em que trabalha como técnica de enfermagem, Kátia Valéria ficou esperando num banco da praça em frente ao Colégio de Aplicação (CAp), na Lagoa, pela saída do filho Jean, de 5 anos, às 12h30 desta quarta-feira (15). Com sua mochila de Buzz Lightyear, o menino abraçou a mãe com carinho, mas foi logo pedindo: “Vamos logo pra casa almoçar, tô morrendo de fome”. Também faminta e cansada por ter vindo direto do plantão sem dormir, a mãe expressou angústia quando o repórter lhe perguntou o que mudou em sua rotina depois que Jean foi transferido, como todos os 60 alunos da Educação Infantil do CAp, da unidade do Fundão para a da Lagoa: “Tudo”, ela disse.
Por “tudo” entenda-se uma reviravolta na vida de 60 famílias em menos de 15 dias. Na de Kátia, por exemplo, significa contar com a ajuda mãe para levar Jean à escola enquanto ela está no plantão, sair direto do hospital para o banco da praça, enfrentar mais de uma hora no trajeto Lagoa-Manguinhos, almoçar lá pelas duas da tarde e depois “desmaiar” de sono até o início da noite. “Ele está no Infantil 5, estávamos nos preparando para uma mudança da rotina no ano que vem, quando ele viria para cá no Ensino Fundamental. Já planejando transporte escolar, fazendo as contas, estudando como ia ficar a rotina da casa. Mas mudar tudo de uma hora para a outra é muito angustiante”, contou ela.
INCERTEZAS
A aflição que invadiu de repente a vida de Kátia é a mesma sentida por dezenas de famílias com crianças matriculadas na Educação Infantil (EI) do CAp desde 13 de fevereiro, às vésperas do Carnaval. Seria o dia do retorno às aulas no Fundão, que abriga os quatro grupamentos da EI, com alunos entre 2 e 5 anos. Já com sérios problemas estruturais, o prédio da Cidade Universitária, um anexo do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), sofreu mais estragos com as fortes chuvas que caíram sobre a cidade em janeiro e fevereiro. A direção do CAp se reuniu com os pais no dia 13 e decidiu esperar por um laudo do Escritório Técnico (ETU), que saiu em 15 de fevereiro.
“O laudo recomendou, enfaticamente, que as atividades do CAp Fundão fossem suspensas até que o edifício ofereça condições de segurança plena”, contou a professora Cristina Miranda, vice-diretora do CAp, que levou o caso ao Consuni no dia 9 de março. A solução provisória foi transferir as turmas de EI para a sede da Lagoa e iniciar as aulas em 27 de fevereiro, apenas 12 dias depois da divulgação do laudo do ETU. Mas com restrições. “Não temos condições de ter o horário integral porque não podemos dar alimentação às crianças, não temos cozinha industrial. Só estamos oferecendo meio período, e isso é um dificultador para muitos pais, que não têm condições para se deslocar nesse curto espaço de tempo, não dá para ir e voltar”, reconheceu a vice-diretora.
Das 60 crianças da EI, em média 55% (33) não voltaram às aulas. Para não deixar que a filha Laura, de 5 anos, entrasse nesse rol, a funcionária pública Carolina Vasconcelos teve que pedir licença do trabalho. Na quarta-feira (15), na hora da saída, Laura contou à mãe que havia comido sanduíche e banana no lanche da escola: “Banana já foi um avanço, mas não substitui um almoço. Ela chega em casa faminta. Nossa rotina mudou muito. Se não tirasse essa licença, eu não teria condições de mantê-la aqui. Espero que tudo seja resolvido ainda dentro da minha licença. Estava planejando as mudanças para o ano que vem, quando ela passa para o 1º ano do Fundamental, mas não para agora”, disse Carolina.
ACOLHIMENTO
A direção do CAp tem se empenhado para fazer com que a solução provisória seja a mais acolhedora possível para as crianças. “Em condições normais, já há necessidade de mais espaço no CAp Lagoa. Além dos 750 estudantes, temos em torno de 500 alunos da graduação que são nossos licenciandos. Algumas aulas de apoio são feitas no contraturno. Conseguimos alocar as crianças em duas salas, uma dedicada a línguas estrangeiras e outra de aulas de licenciatura. Nessas salas estamos colocando quatro turmas, Infantil 2 e 3 em uma, Infantil 4 e 5 em outra. As crianças entram às 8h30 e saem às 12h30. Estamos tentando criar um espaço acolhedor para elas em um lugar que é frequentado por alunos de 11 a 18 anos, nesse mesmo horário. Nenhuma turma de outras séries foi prejudicada. Com todas as dificuldades, estamos fazendo o melhor possível”, disse a professora Fátima Galvão, diretora do CAp.
A diretora reconhece que a mudança repentina pegou os pais de surpresa e causa muita aflição para as famílias. “Vimos alguns lugares no Fundão para tentar abrigar as turmas, mas não encontramos nada em condições. A opção agora é alugar um espaço, mas é um processo complicado, pois começa com uma busca em prédios públicos para ver se há algum local que possa ser adaptado à EI. Só depois disso, caso não se encontre nada, é que se abre uma chamada pública”, descreveu a professora Fátima.
Para a vice-diretora Cristina Miranda, o aluguel de um espaço é uma solução emergencial para abrigar as turmas até que a unidade do Fundão tenha condições de recebê-las de volta. “Mas a solução tem que vir logo, essa situação não pode se estender por muito tempo. Nós suportamos no máximo mais 20 dias, porque senão não conseguimos proporcionar a escola para todos e começaremos a ter problemas em nossa rotina. Os licenciandos ainda não chegaram, mas quando chegarem vai complicar porque a sala em que eles ficam está ocupada”, ponderou Cristina. Segundo ela, a solução ideal é o CAp ter uma sede própria — o prédio da Lagoa é do governo do estado do Rio de Janeiro, situado em um terreno da prefeitura —, que possa reunir todos os alunos num só lugar, junto à Faculdade de Educação, como prevê o Plano Diretor da UFRJ.
De acordo com Carla Vidal, professora da Educação Infantil do CAp, a equipe tem tentado ambientar as crianças na sede da Lagoa em tempo recorde. “Trazemos brinquedos, colchonetes, tatames e material pedagógico para deixar o espaço um pouco mais acolhedor. Eles também estão frequentando a biblioteca e um pátio interno com grama sintética. Estamos tentando organizar uma rotina para elas, mas há horários em que elas não podem circular porque os alunos mais velhos estão circulando. E os mais velhos também estão aprendendo a olhar para baixo, a se integrar com as crianças. Se há alguma coisa boa que essa mudança vem proporcionando é essa integração entre os estudantes do CAp”, apontou a professora.
PROVIDÊNCIAS
O reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha, se reuniu com as famílias da EI do CAp na segunda-feira (13) e garantiu que a solução para as 60 crianças é prioridade da reitoria. “Colocamos as opções que temos e a dificuldade de encontrar em um curto espaço de tempo uma localidade adequada. Trabalhamos com três frentes. A primeira é a instalação temporária e de forma precária das crianças no CAp da Lagoa. A segunda é encontrar em tempo recorde, por meio de aluguel ou reforma, um espaço para a instalação da Escola de Educação Infantil. A terceira é a reforma da unidade do Fundão, essa mais demorada, pois requer a confecção de um projeto, a operacionalização de uma licitação e, por fim, a execução da reforma. Estamos trabalhando na tentativa de reduzir o grande desconforto a que as famílias estão submetidas”, listou o reitor.
Manuela Dias de Paula, mãe de Rafaela, de 5 anos, esteve na reunião e acha que a reitoria tem que agir rápido. “Eu demorava 30 minutos para chegar ao Fundão, já para a Lagoa a demora é de uma hora e meia. Há casos na turma da minha filha de quem more em Duque de Caxias e vem passando as manhãs a biscoito e água para frequentar as aulas. A reitoria fez promessas. Porém, de efetivo, até agora, nada. Solicitamos algum tipo de auxílio para transporte escolar, estou pagando R$ 600,00 de transporte para minha filha. Há pais que estão pagando R$ 800,00. Qualquer ajuda seria válida”, disse Manuela. Segundo ela, Rafaela tem chegado em casa com tanta fome que pede para comer a comida fria, sem esquentar, para não esperar mais.
Diretor da Associação de Pais, Alunos e Amigos do CAp UFRJ (Apacap), Adriano Vinagre, pai de um aluno da EI 3, destacou também o prejuízo pedagógico com a mudança: “É uma carga horária inviável de ser reposta. Já temos relatos de famílias de que houve uma queda no desenvolvimento das crianças”, disse. Adriano confirmou que, por conta do horário reduzido e da localidade, mais da metade das famílias não estão enviando seus filhos para a escola, e alguns responsáveis permanecem nos arredores da sede da Lagoa porque não dá tempo de ir e voltar para casa ou para o trabalho e depois retornar e pegar as crianças.
Sthefany Cury é uma das mães que não está conseguindo levar a filha para frequentar as aulas da EI 2. “A logística ficou inviável. Ela só tem dois anos. Na turma dela, de um total de 14, apenas três crianças estão conseguindo frequentar. Eu trabalho na Fiocruz, consegui manter minha filha na creche institucional, onde ela estudava antes de ir para o CAp. Mas outros pais não têm essa alternativa e não podem levar seus filhos para a Lagoa. Como ficam essas famílias? O sentimento geral é de muita tristeza e decepção. Não com a atual gestão, especificamente, mas com o acúmulo de anos de desmonte da educação pública no Brasil”.