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 82t3959 1foto: Fernando Frazão/Agência BrasilDentre os personagens mais peculiares do governo Bolsonaro – alguns pitorescos, outros nefastos – saltam aos olhos as novas escolhas para as presidências da Funarte e da Fundação Palmares: o maestro Dante Mantovani e o jornalista Sérgio Nascimento. Felizmente (a que ponto chegamos), tamanha foi a reação diante das atrocidades ditas por Sergio acerca da escravidão no Brasil que o governo desistiu de sua nomeação na quarta-feira (dia 11) e, com alguma sorte, ele irá para o ostracismo que merece. Já Dante deve prosseguir no comando dessa importante entidade de fomento à cultura e às artes, apesar de suas declarações absolutemente patéticas.
Não temos capacidade para julgar o maestro pelas suas virtudes musicais, mas talento para conjurar bobagens pueris, ele tem de sobra. Sua frase mais popular é “o rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto. E a indústria do aborto… alimenta… o satanismo.” Claro que tal pérola já seria suficiente para colocá-lo no panteão de nossos grandes beócios, mas estamos longe de esgotar sua “criatividade”. Em mensagem recente numa rede social, Dante afirma que “os terrabolistas (sic) são ótimos em fazer piadinhas acerca da auto-evidente planicidade da superfície terrestre, mas são incapazes de apresentar um único argumento ou prova da delirante esfericidade da Terra”. Ou seja, depois de meses nos referindo figuradamente ao governo Bolsonaro como terraplanista, surge alguém que o é explícita e orgulhosamente. De todas as tendências retrógradas e anticientíficas que se alastraram recentemente, o terraplanismo ocupa um lugar especial. Não por ser a mais perigosa (esse posto talvez seja do movimento antivacina), mas por ser intelectualmente a mais violenta: o volume de evidências a favor da Terra esférica é tão avassalador que negá-las perfaz um trauma agudo à propria inteligência. Imaginem ter que conciliar o terraplanismo com o pôr-do-sol, com as estações do ano, com os eclipses, com os barcos no horizonte, etc, etc, etc… isso para não falar dos milhares de imagens da Terra vista do espaço (todas a apenas um clique de distância) e o fato de que hoje há testemunhas oculares da esfericidade. É praticamente impossível sobreviver a isso sem sequelas.
O “brilho” de Dante ofuscou uma outra nomeação do governo, a de Rafael Nogueira para a presidência da Biblioteca Nacional. Apesar de não ser terraplanista (pelo menos não abertamente), Rafael se junta à lamentável companhia do ministro Abraham Weintraub ao se revoltar contra o “golpe” republicano. Dono de pouquíssimas credenciais além do olavismo exacerbado, Rafael também está sendo muito contestado pelos servidores da biblioteca, mas por enquanto o governo faz ouvidos moucos. Assim como no caso de Dante, é possivel que tenhamos de aturá-lo por um desconfortável período de tempo.
Enfim, é mais uma semana que passa no governo Bolsonaro. Após quase 50 delas, está bastante claro o compromisso com o obscurantismo e a ignorância, disfarçado caricaturalmente de caça aos “comunistas”. Jamais achamos que fosse necessário afirmar algo tão óbvio, mas aí vai: a insciência e a incultura não são o caminho do desenvolvimento. Nem mesmo sob o disfarce de Chicago boy. E, sobretudo, sob a égide de um presidente que além de profundamente ignorante, é antibrasileiro.

N. E.: não apenas a esfericidade mas o tamanho da Terra remontam a pelo menos 2.300 anos atrás, quando o (este sim!) polímata Eratóstenes estimou com considerável precisão a circunferência terrestre. Não se recua mais de dois milênios no conhecimento humano sem sequelas.

Diretoria da Adufrj

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