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"O problema não veio do nada, trabalhamos estes 20 anos com dificuldades”, conta Regina Dalcastagnè, editora-chefe da recém encerrada revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, da Universidade de Brasília (UnB). A trajetória do periódico, que possui conceito A1 na Capes, terminou por falta de financiamento no fim de maio. “Em alguns momentos a gente teve financiamento da Capes e do CNPq, o que dava uma desafogada e seguíamos o trabalho”, lembra. A asfixia financeira que fechou a revista e ameaça outros periódicos no país foi agravada de 2019 para cá: em 2018, foram R$ 4 milhões para as publicações, mas o valor caiu para R$ 1 milhão em 2019 e, em 2020, não houve sequer chamada para financiamento.
No caso da revista da UnB, devido ao árduo trabalho desenvolvido pelos voluntários da revista, ela se profissionalizou ao patamar mais alto entre as publicações científicas brasileiras. “Muita gente tem interesse em publicar numa revista mais conceituada. Tudo isso vai gerando mais trabalho, e nos últimos anos o que a gente viu foi o financiamento se extinguir definitivamente”, afirma. “Sempre trabalhamos gratuitamente, mas precisávamos do mínimo para manter alguns profissionais”, completa.
Para sustentar as publicações quadrimestrais, o periódico precisa pagar alguns serviços técnicos, explica Regina. “Temos que pagar alguém para fazer a secretaria da revista, a pessoa que faz o meio de campo entre os autores e editores. Também um revisor de texto, a revista precisa ter um padrão de revisão, e de tradução para outras línguas, como inglês e espanhol”. Ainda é necessário contratar um profissional para a diagramação da revista e, por fim, a transcrição para o XML, linguagem própria exigida pela Scielo, o principal indexador do país, que abriga a revista. Segundo Regina, “nada é abusivamente caro”, mas sem esses profissionais é impossível trabalhar. “A gente resiste, trabalhamos muito tempo com o mínimo, sem apoio, mas tem uma hora que a gente precisa refletir se é por aí”, conta a editora.
“Conversei com editores de outras revistas de diversas áreas, e a situação está muito difícil para todos”, relata. “Estão todos estrangulados, com uma dificuldade imensa para continuar existindo. Não é pontual, é uma sensação geral”, assegura.
DECISÃO POLÍTICA
Em manifesto sobre a situação dos periódicos científicos brasileiros (veja a íntegra abaixo), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Academia Brasileira de Letras (ABL), a Academia Nacional de Medicina (ANM) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) denunciaram que a falta de investimentos é uma escolha política, e não econômica.
“Essa situação alarmante, que prejudica e inviabiliza revistas científicas, decorre do fato de que não estão sendo mais realizados os editais de financiamento para a editoração e publicação de periódicos científicos brasileiros de alta especialização em todas as áreas de conhecimento, pelas agências de fomento CNPq e Capes, como ocorria em anos anteriores”, explica o manifesto.
Para Luiz Davidovich, presidente da ABC e professor do Instituto de Física da UFRJ, esses cortes são parte de um projeto para destruir a Ciência e a cultura no país. “Essas revistas ganharam presença e importância no cenário nacional através de décadas de trabalho, demoraram anos para se estabelecerem”, lembra. “Em 2020 não houve chamada, é um processo de morte que está ameaçando essas revistas. Isso é ir contra um esforço que levou décadas para construir prestigio. As revistas têm um papel muito importante na afirmação da Ciência e da cultura no pais”, afirma.
Davidovich acredita que é muito fácil resolver o problema de financiamento, pois se trata de recursos mínimos se comparados ao orçamento brasileiro. “Nós estamos falando de recursos que são pequenos. Em 2018, era um total de R$ 4 milhões. Se pensar nos recursos que estão sendo valorados pelo país? Por exemplo, o total da dívida pública é da ordem de R$ 5 trilhões. O que representam R$ 4 milhões nisso?”, reflete. “Isso parece uma decisão politica, e não econômica. O que preocupa mais ainda”, completa.
Ildeu Moreira, presidente da SBPC, concorda com o colega. “São recursos de ordem pequena para a Capes e o CNPq. É uma desculpa não fazer o edital nesse ano”, afirma. “Atualmente, o país gasta cerca de R$ 300 a 400 milhões para adquirir direitos de periódicos internacionais, mas não dedica nem 1% desses recursos para as revistas nacionais”, critica. Para Ildeu, o edital é fundamental para o país. “Para manterem revistas de qualidade. Algumas revistas foram tão bem que conseguiram contatos internacionais para se manter. É um processo de afirmação dos periódicos nacionais”, define.
PORTAL DA UFRJ
O Portal de Revistas da UFRJ (https://revistas.ufrj.br) abriga as revistas científicas eletrônicas produzidas na universidade. É uma iniciativa institucional, alinhada aos princípios do Acesso Aberto e possui como objetivo promover o acesso, a visibilidade, a segurança e o suporte aos editores dos periódicos científicos da Instituição. Não envolve custos, pois o Portal de Periódicos Eletrônicos foi idealizado e implementado pela pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2), em conjunto com os editores das revistas dos Programas de Pós-graduação da UFRJ, com o apoio da Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (SuperTIC) e do Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI).
São, ao todo, 68 revistas científicas correntes, editadas pela comunidade universitária, nas várias áreas do conhecimento, e a maioria delas, que possuem conceito A ou B, está também indexada no Portal Capes de Periódicos. Segundo Paula Mello, coordenadora do SiBI, os periódicos não correm risco porque estão num servidor da universidade. “São editados e preparados pelo pessoal da casa. Os periódicos que correm risco de fechar pagam servidor externo, dependem de financiamento”, explica. O Portal de Revistas utiliza o Open Journal Systems (OJS 2.4.8.5), sistema de código livre gratuito para administração e publicação de revistas desenvolvido com suporte e distribuição pelo Public Knowledge Project sob licença GNU (General Public License).
MANIFESTO SOBRE A SITUAÇÃO DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS
A Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Academia Brasileira de Letras (ABL), a Academia Nacional de Medicina (ANM) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidades que procuram contribuir sempre para o desenvolvimento científico e tecnológico do país, para a educação e para a cultura brasileira, manifestam sua grande preocupação com a falta de recursos financeiros para periódicos científicos brasileiros e com as notícias recentes sobre o fechamento de revistas científicas e sobre situações de descontinuidade em muitas outras.
Nas revistas científicas de diferentes áreas de conhecimento são apresentados resultados de pesquisas, observações e análises relativas a acontecimentos e fenômenos na natureza e na sociedade, experiências e propostas inovadoras, novas ideias, teorias e modelos. A partir da interação entre os autores e seus pares o conhecimento científico progride. As revistas científicas têm, portanto, grande importância uma vez que, sem essa comunicação, a Ciência não avança. Nossas entidades têm conhecimento de que diversas revistas científicas nacionais estão sofrendo sérias restrições com a falta de financiamento e até paralisando suas atividades, sendo que muitas estão classificadas, em suas áreas, com as avaliações mais elevadas do sistema Qualis da Capes.
Essa situação alarmante, que prejudica e inviabiliza revistas científicas, decorre do fato de que não estão sendo mais realizados os editais de financiamento para a editoração e publicação de periódicos científicos brasileiros de alta especialização em todas as áreas de conhecimento, pelas agências de fomento CNPq e Capes, como ocorria em anos anteriores. A Capes, que anteriormente aportava recursos para essa atividade essencial para a pós-graduação, considerando que tanto os programas como os pesquisadores individuais são avaliados pela sua produção científica publicada em revistas especializadas, interrompeu o seu apoio. Ela mantém, e é essencial que continue a fazê-lo, o Portal de Periódicos que abarca periódicos do exterior. A Chamada de 2019 do CNPq, para periódicos científicos brasileiros, teve apenas R$ 1 (um) milhão de reais, enquanto que, na Chamada de 2018, foram destinados R$ 4 milhões (R$ 2 milhões provenientes do CNPq e R$ 2 milhões da Capes). A Chamada de 2020 simplesmente não existiu. Tem havido, claro, redução de recursos para estas agências, mas isto não oferece uma justificativa plausível para a suspensão destas chamadas, porque trata-se de uma questão prioritária e os recursos necessários são relativamente pequenos.
As entidades signatárias solicitam às agências federais de fomento, CNPq e Capes, e poderia ser articulado também um apoio das fundações estaduais de Amparo à Pesquisa, providências emergenciais para resolver essa demanda crucial para a Ciência brasileira. Ao mesmo tempo, reafirmamos categoricamente que, sem recursos adequados para o fomento à pesquisa, sem bolsas para estudantes de graduação e de pós-graduação e para pesquisadores, sem apoio à infraestrutura das instituições de pesquisa e, também, sem revistas científicas, a ciência brasileira tenderá ao esgotamento. Sem revistas científicas não haverá Ciência e a cultura brasileira ficará empobrecida.
Luiz Davidovich
Presidente da Academia
Brasileira de Ciências (ABC)
Marco Lucchesi
Presidente da Academia
Brasileira de Letras (ABL)
Rubens Belfort Mattos Jr
Presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM)
Ildeu de Castro Moreira
Presidente da Sociedade
Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC)
O Laboratório de Comunicação Publicitária Aplicada à Saúde e à Sociedade (Compasso) da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO) iniciou em 24 de maio a campanha #ProntosPraEssaConversa, que aborda a prevenção da gravidez na adolescência e a importância do debate sobre educação sexual entre os jovens. Nas redes sociais, a ideia da campanha é promover o diálogo entre quatro personagens fictícios, Edu, Lia, Rafa e Nanda, adolescentes de diferentes realidades, que vivenciam suas primeiras experiências com a sexualidade. A campanha foi realizada exclusivamente pelos alunos do Compasso, e está sendo veiculada pelos canais oficiais da Prefeitura de Niterói, especialmente o @curtoniteroi no Instagram.
Em abril de 2020, o professor e coordenador de graduação da ECO, Sandro Tôrres, decidiu tomar a iniciativa de um projeto que há muito sonhava. “Dou aula de Publicidade faz tempo, e também trabalhei com campanhas governamentais. Algo que sempre me chamou atenção é que as campanhas dos governos são muito ruins no ponto de vista técnico, conceitual”, conta. O Compasso é uma iniciativa que se divide em duas etapas: uma em que os extensionistas analisam e criticam as campanhas governamentais, e a partir dos erros identificados, a segunda etapa é propor uma solução criativa para abordar o mesmo assunto. Em 2020, o tema escolhido pelos primeiros 24 alunos do projeto foi a prevenção sexual de jovens e adolescentes.
“Escolhemos democraticamente, em uma decisão coletiva, porque no ano passado o governo fez uma campanha de prevenção à gravidez na adolescência baseada em abstinência sexual. Nenhum país do mundo faz campanhas assim. Desde o século XIX se sabe que o adolescente faz tudo que você fala para fazer, só que ao contrário”, explica Sandro. O grupo ficou horrorizado com a qualidade das propagandas veiculadas tanto pelo Ministério da Saúde, quanto pelas secretarias dos estados e municípios. “O governo prega a ideia que a mulher é culpada, demonizando as meninas. Campanhas com o fundo preto, a cara escondida, segurando a barriga como quem estava grávida e pensando: acabou a minha vida”, conta.
Os extensionistas foram divididos em várias equipes e, de maio a outubro, se propuseram a diagnosticar o problema. “Fomos atrás de artigos, teses, dissertações, tudo o que foi publicado em várias áreas sobre a questão da gravidez precoce. Junto a isso começamos a entrevistar pessoas de diversas áreas, psicólogos, professores, saúde coletiva”, lembra o orientador. O Compasso também realizou uma pesquisa online com adolescentes, que obteve mais de duas mil respostas. “Mais de 90% dos adolescentes gostariam de ter mais educação sexual nas escolas, e mais de 80% têm como principal fonte de informação sobre sexualidade a internet e os amigos. Vimos que o problema é bem sério, não fica só na saúde biológica”, conta Sandro.
Em dados gerais, entre cada quatro adolescentes que são mães no Brasil, três são pretas, pobres e periféricas. No mundo, entre 1.000 adolescentes, 44 são mães. Segundo o IBGE, no Brasil, para cada 1.000 adolescentes, 59 são mães. “O problema é bem mais sério do que se possa imaginar, principalmente porque a gravidez precoce tem consequências futuras, deixando a mulher num ciclo vicioso de pobreza. Ao serem mães, elas não estudam e não conseguem trabalhos bem renumerados”, explica o professor.
Para o aluno Bernardo Yoneshigue, que integra o projeto desde o princípio, foi quando o grupo conversou com adolescentes, pais, mães e representantes da Educação que puderam entender como o problema da gravidez precoce é enraizado na sociedade. “Tínhamos noção da importância desse tema pelos altos números de gravidez na adolescência no Brasil”, explica. “Uma série de fatores leva a essa situação, como a falta de acesso à educação sexual, a falta de abertura para o assunto dentro de casa e nas escolas. Entendemos que tinha que ser uma campanha que oferecesse os elementos necessários para que o jovem pudesse entender por si só”, completa.
A principal abordagem do projeto é nas redes sociais, no Instagram, Twitter, Spotify e Blog. “Optamos pelas redes sociais pelo público-alvo, mas também pela mão de obra. Somos todos extensionistas, não recebemos nada. Tudo é feito no braço e no amor. Escolhemos ter um conteúdo gratuito em uma plataforma gratuita”, conta. Os estudantes decidiram usar personagens fictícios para facilitar o diálogo com os adolescentes. “Estávamos pensando em como a campanha poderia abordar esses assuntos e não ser tão desconectada do emocional. Queríamos criar situações com as quais os jovens pudessem se identificar, as que ouvimos de vários jovens, e que a gente pudesse mostrar como se prevenir”, disse Bernardo.
O Compasso não conta com apoio financeiro, e está em busca de parcerias para divulgar a campanha pelo Brasil. Atualmente, 32 alunos fazem parte da iniciativa, que é coordenada pelos professores Sandro Tôrres e Luciana Freire Murgel.
Manifestações de rua cada vez maiores em defesa da aceleração da vacinação, do auxílio emergencial, da educação e pelo "Fora, Bolsonaro". Esta é a expectativa do cientista político e diretor da AdUFRJ, professor Josué Medeiros. “O medo de uma explosão de casos de covid-19, depois dos atos do dia 29 de maio, não se concretizou. Já podemos afirmar isso”, destacou o docente, durante o debate virtual "Desmonte das Políticas Públicas e as Lutas de Resistência". O evento foi transmitido, na terça-feira (15), em parceria com a Associação dos Docentes da UFRRJ (Adur). A mediação ficou sob responsabilidade da professora Rubia Wegner (UFRRJ).
O dirigente da AdUFRJ deu ênfase à dimensão social na oposição ao governo Bolsonaro: “O neoliberalismo ataca as políticas sociais para além do econômico”, disse Josué. “Mas também desfazendo os laços que nos tornam fortes e inviabilizando a democracia”. Na avaliação do docente, o respeito às recomendações de segurança contribuíram para aumentar a legitimidade dos atos de rua. “Em todo o Brasil, não tem uma foto sem máscara, isso foi muito importante para reafirmar o sentido da mobilização”, acrescentou.
Para o professor de História da Unemat, Domingos Sávio, o foco na agenda econômica amplia o diálogo com a população. “É o que temos de mais importante: a saúde e a vida”, ele resumiu. Além da vacinação e do auxílio emergencial, Domingos listou a recuperação do salário mínimo, do programa Bolsa Família, da soberania do Pré-sal e a reversão das contrarreformas Trabalhistas, Previdenciária e do Teto de Gastos. Em relação à agenda democrática, Domingos afirmou que uma eventual reeleição de Bolsonaro "não é só segundo um mandato, mas o risco de um governo autoritário”.
Já Lamounier Erthal, da UFRRJ, apontou para o esvaziamento da ética a partir “do descolamento da economia em relação à vida e a sociedade”, mais acentuado durante a pandemia. Como exemplo, citou o aquecimento do setor financeiro frente às estatísticas crescentes de desemprego e mortes por covid-19 no país. “Você tem um aumento da taxa de câmbio, a nossa alimentação hoje está muito baseada no preço de commodities, e um processo inflacionário há muito não visto. E as pessoas aceitam essas questões de uma maneira totalmente pacata”.
Em relação às universidades e agências de fomento, Lamounier chamou atenção para o fato de que os cortes orçamentários e a extinção de projetos de extensão dificultam a comunicação entre a academia e um público maior da sociedade.
O filósofo paulista Renato Janine Ribeiro (foto) será o novo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ex-ministro da Educação e professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), Janine foi eleito na terça-feira (22) com 1.205 votos contra 617 de seu opositor, o neurocientista gaúcho Carlos Alexandre Netto, ex-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde atua como professor titular do Departamento de Bioquímica. Foram 1.914 votantes — houve ainda 63 votos brancos e 29 nulos —, totalizando 60% de participação, maior índice dos últimos dez anos.
Em vídeo veiculado em seu perfil no Instagram, o novo presidente da SBPC elogiou Carlos Alexandre Netto e fez um convite à unidade. “Vamos trabalhar juntos. Nós não temos mais um combate entre civilização e barbárie.É uma disputa entre a vida e a morte. E a Ciência claramente está do lado da vida, do Brasil, da Educação, da Saúde, do Meio Ambiente, da inclusão social. Agora é hora de unir todo mundo”, disse Janine, que tomará posse em 23 de julho, durante a 73ª Reunião Anual da SBPC, para liderar a entidade no biênio 2021-2023, em substituição a Ildeu de Castro Moreira.
Além de Janine, foram eleitos para a diretoria como vice-presidentes a socióloga Fernanda Sobral (atual vice de Moreira), professora aposentada da Universidade de Brasília (UnB), e o físico paulista Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da USP. Compõem ainda a diretoria sete mulheres, fato inédito na história da entidade: Claudia Linhares Sales, atual secretária, eleita secretária-geral; as três secretárias Miriam Pillar Grossi, Laila Salmen Espíndola e Francilene Procópio Garcia; e as duas tesoureiras Marimélia Porcionatto e Ana Tereza de Vasconcelos.
Como secretários regionais da SBPC, para o biênio 2021-2023, foram eleitos: Tatiane Loureiro da Silva (Acre), Vandick da Silva Batista (Alagoas), Sanderson Castro Soares de Oliveira (Amazonas), Tania Maria Hetkowski (Bahia), Armênio Aguiar dos Santos (Ceará), Sônia Nair Báo (Distrito Federal), Rosália Santos Amorim Jesuíno (Goiás), Antonio José Oliveira (Maranhão), Cicero Rafael Cena (Mato Grosso do Sul), Cristiana Ferreira Alves de Brito (Minas Gerais), Rosa Carmina de Sena Couto (Pará), Carolina Arruda de Oliveira Freire (Paraná), Diogo Lopes de Oliveira (Paraíba), Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão (Pernambuco), Ligia Bahia (Rio de Janeiro), Selma Maria Bezerra Jerônimo (Rio Grande do Norte), Angela Wyse (Rio Grande do Sul), Luiz Claudio Miletti (Santa Catarina), Elisangela Lizardo de Oliveira (São Paulo, subárea I), Sávio M. Cavalcante (São Paulo, subárea II), Adriano Defini Andricopulo (São Paulo, subárea III).
Foram também eleitos integrantes para o Conselho da SBPC, para o quadriênio 2021-2025, divididos por áreas. Para a área A (Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), saíram vitoriosos Marilene Corrêa da Silva Freitas (AM), Ima Célia Guimarães Vieira (PA) e Clovis Bôsco Mendonça Oliveira (MA). Na área B (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), foram eleitos Sidarta Tollendal Gomes Ribeiro (RN) e Lúcia Carvalho Pinto de Melo (PE). Andrea Mara Macedo (MG) foi eleita para a área C (Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso) Para a área E (São Paulo), o eleito foi Marcelo Knobel. E para a área F (Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), os eleitos foram Zelinda Maria Braga Hirano (SC) e Samuel Goldenberg (PR).
A poluição da Baía de Guanabara pode ser vista a olhos nus, mas é na análise microscópica que se pode enxergar o tamanho da devastação ao ambiente aquático. Entre 225 peixes analisados pelo Laboratório de Ecologia Trófica, do Instituto de Biologia da UFRJ, 42% apresentaram microplásticos no estômago, conforme relatou a coordenadora, Gisela de Figueiredo. “Desde 2006, quando entrei na universidade, venho pesquisando a teia alimentar da baía, analisando o conteúdo dos peixes”, conta ela.
O laboratório pretende quantificar o microplástico nos animais da Baía de Guanabara, como as corvinas, os bagres e os mexilhões, e também na água. “É um problema sério, a baía está muito contaminada”, revela a professora. O projeto que investiga a questão do plástico faz parte de uma pesquisa maior, de longa duração, chamada Projeto Baías, financiado pelo CNPq e que procura desenvolver um retrato da situação na Baía de Guanabara. “Na minha linha de pesquisa quero entender a poluição, o dano aos organismos. A gente pode fazer algumas previsões, o quanto os organismos estão prejudicados e como pode deteriorar a saúde de quem come pescado e mexilhões”, explica Gisela. “Tem gente que vive pescando e comendo da baía”, completa.
REDUÇÃO DO CONSUMO
Apesar de já existirem tecnologias que permitem a retirada de plástico do oceano, com os microplásticos a situação é diferente. “A retirada de plástico do mar é possível, mas quando falamos de microplástico não tem como tirar, não tem como filtrar o mar inteiro”, afirma a professora. “É sobre entender o uso do plástico, compreender os malefícios, as pessoas precisam se sensibilizar com a questão do plástico e de outros poluentes”, reflete.
Gisela acredita ser urgente a redução do consumo. “A gente sabe que consumimos plástico, respiramos também, já estamos contaminados. Mas até quando isso vai afetar a saúde das pessoas?”, questiona. A professora também coordena o grupo de extensão Acessibilidade e Ciências do Mar, que reflete sobre o consumo e o impacto do plástico nos oceanos.
A estudante Izabela Maria Ramirez, graduanda em Biologia da PUC-Rio e orientanda de iniciação científica da professora Gisela de Figueiredo, investiga se ostras e mexilhões da Baía de Guanabara estão contaminados por microplásticos. “Fizemos todos os experimentos de digestão do tecido deles. De fato, encontramos microplásticos em todos. Isso mostra o nível da poluição no espelho d’água, mas também aponta para a insegurança alimentar de seres humanos”, considera a aluna. As consequências para os animais já são conhecidas. “Lesão nos órgãos, diminuição no crescimento, falsa sensação de saciedade, baixo nível de nutrientes. É bem grave”, diz a estudante, que recebeu o prêmio de melhor trabalho na seção de organização da JIC.
RISCO AO SER HUMANO
Para Vivianne Alves, doutoranda do Laboratório e coautora do trabalho apresentado por Izabela, ganhar o prêmio é muito bom para a propagação do estudo. “Eu acredito que ganhou pela relevância do tema microplástico nos últimos anos, e a importância de relacionar isso a animais que costumamos comer, que têm relevância comercial, como ostras e mexilhões”, acredita.
Na pesquisa desenvolvida por Vivianne, ela observa a adsorção (quando as moléculas ou íons de uma substância ficam fixados na superfície de sólidos por interações químicas e físicas) em organismos como a tainha e o bagre. “Estou identificando o tipo, cor e tamanho dos microplásticos. Além disso, queremos fazer experimentos de alimentação para saber se mexilhões e ostras selecionam o plástico durante sua alimentação”, explica. “No caso dos peixes identificamos o tipo de plástico, não basta ver o plástico na lupa. Fizemos uma análise de polímeros e identificamos o poliéster, que são fibras da indústria têxtil e das redes de pesca que poderia ser um indicativo da entrada de microplásticos na baía”, completa.
Segundo Vivianne, o problema não é o plástico em si, mas os componentes que estão adsorvidos na superfície do plástico e que podem aderir ao corpo humano. Ela acredita existir algo ainda mais complicado que o microplástico: o nanoplástico, que pode ser absorvido pelo tecido do organismo. “Se você ingere um peixe que tem aderido nanoplásticos ou metais pesados, pode trazer um grande malefício ao ser humano”, afirma.