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O Conselho de Ensino para Graduados (CEPG) se debruça há três sessões sobre quando e como retomar as aulas da pós-graduação. Depois de aprovar a Resolução 05/2020, que permite aos programas de pós-graduação darem aulas ou outras atividades acadêmicas de forma remota, o colegiado agora discute um novo calendário acadêmico. A proposta foi apresentada neste dia 5 de junho e deve ser fechada na próxima sessão, prevista para o dia 12. O calendário prevê diferentes datas de início e fim dos períodos letivos, a depender do formato do programa: semestral, trimestral ou bimestral.
Para programas semestrais, o primeiro período de 2020 se estenderá de 3 de agosto a 14 de novembro; o segundo período, de 30 de novembro a 27 de março de 2021. Programas trimestrais, que têm, em geral, cargas horárias maiores, precisarão iniciar mais cedo o primeiro período de 2020: em 6 de julho, com término previsto para 3 de outubro. O segundo período aconteceria de 13 de outubro a 16 de janeiro de 2021. A proposta sugere que o terceiro período aconteça em concomitância com os cursos de verão promovidos por esses programas: de 1º de fevereiro a 24 de abril de 2021.
Já os bimestrais, que possuem, portanto, quatro períodos dentro do ano letivo, teriam a seguinte divisão: 2020.1 inciaria em 3 de agosto, com término em 19 de setembro; 2020.2 seria realizado entre 28 de setembro e 19 de novembro; 2020.3, entre 30 de novembro e 30 janeiro; o último bimestre ficou previsto para 08 de fevereiro a 1º de abril de 2021. Pelo planejamento apresentado, o calendário da pós-graduação deve ser normalizado a partir de março 2022.
De acordo com a resolução aprovada no dia 29, cada programa terá liberdade para decidir quais serão essas atividades iniciadas nas datas sugeridas pelo calendário, incluindo a abertura de novas turmas. Também fica a cargo dos programas definirem se realizarão avaliações a distância ou presenciais, após a pandemia. Os estudantes podem cancelar disciplinas em qualquer tempo, durante o período de excepcionalidade. Ficou determinado que nenhum aluno pode ser penalizado por não aderir a atividades remotas.
A proposta de datas foi bem aceita pelos conselheiros, mesmo por aqueles que discordavam da retomada das aulas de forma remota – a aprovação da resolução, na semana anterior, não foi unânime. A professora Fátima Grave Ortiz, do CFCH, que votou contra a retomada das atividades na sessão passada, parabenizou o trabalho do GT. “É algo muito difícil e cansativo elaborar um calendário com tantas variáveis. Sou favorável ao modo como foi apresentado”, disse. “Acredito que um retorno em agosto, como é o caso do meu programa, dá tempo para todos nos prepararmos, para os alunos serem atendidos em suas necessidades, para não deixarmos ninguém para trás”.
“Todo mundo reconhece que é fundamental termos um calendário, mas sabemos que vamos votar por aulas remotas por pelo menos um semestre”, ponderou o professor Fabrício Leal de Oliveira, do CCJE. “Qualquer aluno nosso que se deslocar para o campus vai ser contaminado no transporte superlotado. Precisamos, então, saber como está o apoio da UFRJ para os alunos que não têm meios de acompanhar as aulas remotas. Estamos aprovando um calendário para alunos que podem acompanhar aulas a distância. Precisamos ter uma solução para aqueles que não podem”, defendeu o professor.
Kemily Toledo, da Associação de Pós-Graduandos e integrante do GT do CEPG, reforçou que os alunos não podem ser penalizados, caso não realizem as atividades a distância, e defendeu que um calendário dá possibilidade a estudantes, professores e técnicos se planejarem, assim como ajuda com que a universidade tenha um prazo para suprir a necessidade dos alunos mais vulneráveis. “Não cabe ao GT pressionar a universidade sobre esta questão, mas, certamente, permite um norte, um prazo, uma data-limite para que os problemas sejam solucionados para todos”. A APG também foi crítica à resolução de volta às aulas.
Coordenadores defendem retorno
Ao longo da semana, coordenadores de programas de pós-graduação criaram um manifesto defendendo o retorno das atividades para o segmento. A carta é assinada até o momento por 70 coordenadores dos 132 programas existentes na universidade. O documento afirma a importância da decisão do CEPG e expõe preocupação “com as demandas de discentes, que responderam em grande maioria positivamente ao início das aulas remotas, e do enorme interesse de docentes em dialogar e trabalhar, em conjunto, para a manutenção de conteúdos remotos de forma democrática”, diz trecho.
A professora Silvana Allodi, do Instituto de Biofísica, é uma das proponentes da carta. Ela coordena a área de Pós-graduação e Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde. Sob sua responsabilidade, estão os 39 programas do CCS. Mais da metade se posicionou formalmente pela retomada das atividades. “A pós-graduação não parou neste período da pandemia. As aulas presenciais foram suspensas, mas as reuniões com orientadores continuam acontecendo, mesmo remotamente. As pesquisas seguem sendo realizadas, defesas, experimentos, seminários”, argumenta.
A abertura de novas turmas foi um dos pontos de polêmica da resolução aprovada no dia 29. O professor Bruno Diaz, representante do CCS, argumentou que abrir novas turmas permite a recomposição do calendário. Relator da resolução aprovada, o docente sustentou que o documento não interrompe “o processo de discussão” sobre reposição de conteúdos presencialmente pela universidade. “Ela é uma resolução para resolver o calendário atual. Não se relaciona com cenários futuros”.
Em posição contrária argumentou a professora Hebe Signorini Gonçalves, do CFCH. “Entendo que a Resolução 05/2020, antecipando a análise detida do cenário de dificuldades, antecipando a própria definição do que seja atividade remota, e abrindo o calendário da pós-graduação para que disciplinas sejam registradas a qualquer tempo, carrega um potencial conflito entre os calendários dos diversos programas e entre os calendários da graduação e da pós-graduação”.
A polêmica do calendário foi levada ao Conselho Universitário, do dia 2, pelo conselheiro Igor Alves Pinto, da APG, e levou a reitora Denise Pires de Carvalho a se manifestar. “O calendário não está suspenso. Se estivesse, não teríamos colado grau de quase 200 engenheiros, mais de 70 médicos. Nós temos uma nota da reitoria que diz que as atividades presenciais estão suspensas, não o calendário”, argumentou a reitora. Ela assegurou que todos os estudantes terão seus direitos garantidos. “Não deixaremos ninguém para trás”.
Para o professor Nelson Braga, coordenador do programa de Física, a resolução expressa uma solução acertada da universidade, mas considera que o diálogo deve ser fortalecido. “Nosso interesse, como coordenadores, é justamente encontrar os melhores caminhos para que a formação de nossos alunos não seja prejudicada pela pandemia”, argumenta o docente.
Henrique Cairus, representante do CLA no colegiado, considera que o CEPG agiu numa perspectiva de “redução de danos”. “Não é o melhor, evidentemente: é o que as circunstâncias nos permitem em caráter imediato e emergencial”, defende o professor. O resultado final, acredita, expressa o compromisso de contemplar “a maior parte dos problemas apontados durante a reunião” do CEPG. “Uma reunião, sem dúvida, já prejudicada pelo fato de não ter sido presencial. Ela própria é uma boa amostra do que se perde nas atividades remotas”, reconhece.
A Covid-19 levou mais um dos grandes da História da UFRJ. Morreu hoje o professor emérito do Instituto de Economia e ex-reitor da universidade Carlos Lessa, vítima de uma pneumonia causada pelo novo coronavírus. Lessa era uma referência no pensamento econômico desenvolvimentista brasileiro. Eleito reitor em 2002, deixou o cargo em 2003 para assumir um desafio ainda maior, a presidência do BNDES. Em sua passagem pelo banco defendeu com vigor seu pensamento econômico de que o Estado deve ter um papel importante como motor da economia do país. Era um intelectual apaixonado pelo Rio de Janeiro. Trabalhou pela restauração de prédios históricos no Centro da cidade e escreveu o livro “O Rio de todos os brasis”, uma análise profunda da história da cidade. Seu mandato como reitor da UFRJ foi curto, mas deixou um legado: foi o criador do bloco Minerva Assanhada. Sua influência na história da universidade e do pensamento econômico brasileiro não podem ser medidos em um breve obituário. “Meu amado pai foi hoje às 5h da manhã descansar. A tristeza é enorme. Seu último ano de vida foi de muito sofrimento e provação”, publicou seu filho, Rodrigo Lessa, em uma rede social. “O legado que ele deixou não foi pequeno. Foi um exemplo de amor incondicional pelo Brasil, coerência e honestidade intelectual, espírito público, um professor como poucos e uma alma generosa que sempre ajudou a todos que podia quando estava a seu alcance, um grande amigo.”
A Reitoria decretou luto oficial de três dias, dado o reconhecimento às suas contribuições para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a sociedade brasileira.
Já são mais de dois meses em isolamento social com mudanças profundas na rotina. Estamos distantes de nossos locais de trabalho, transformamos nossas casas em escritórios, suspendemos os encontros com amigos e familiares, nossos filhos não vão para a escola. A vida social e profissional agora está confinada em aparelhos eletônicos. O trabalho dobrou, as incertezas triplicaram e a saúde mental está por um fio.
“Há uma série de consequências, a começar pelo aumento da ansiedade, que altera o ritmo da vigília e do sono e leva muita gente a trocar o dia pela noite”, explica a professora Maria Tavares Cavalcanti, professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRJ. “É importante construir uma nova rotina”.
Na prática, significa reorganizar o tempo, preservando os limites entre as atividades. “É bom ter hora para acordar, para fazer exercícios, comer, e ter tempo para o lazer”, explica. “Ainda assim, essa nova rotina pode não ser o suficiente, então é preciso ter um objetivo forte para perseguir”.
Ex-diretora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Ipub), Cavalcanti pondera que essa perspectiva tem um corte social. “Estou falando das pessoas da classe média, que em muitos dos casos estão isoladas e seguras”, ponderou. “Entre pessoas mais pobres pode ser muito pior. Há mais gente morando na mesma casa. Pessoas sem nenhuma renda garantida, ou que precisam sair para ter o que comer. Nesse caso, essa ansiedade é muito mais intensa”.
Professor do Instituto de Psicologia e presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Bicalho destaca os efeitos do cenário de insegurança. “Estamos presos em casa e cercados de incertezas. Será que vou me contaminar? Se acontecer, será que consigo hospital? Corro risco de morrer?”, lista o docente. “O medo da morte passa a ser um problema ainda maior, e com uma implicação mais cruel: a possibilidade de não poder realizar os ritos fúnebres”.
Diante da pandemia, velórios não estão sendo permitidos e os enterros das vítimas da Covid-19 são feitos com os caixões fechados. “Estamos muito preocupados com esses lutos não realizados”, explica o professor. “O temor aumenta cada vez que sabemos de um amigo, conhecido ou parente que morre com a doença”.
Para o professor de psicologia e de saúde mental da Escola de Serviço Social, Erimaldo Nicacio, estamos diante de uma situação peculiar, que é estar mais perto da morte. “A pandemia torna o real da morte mais presente”, disse. “Isso cria uma situação de dupla fragilidade, a do medo de morrer, mas também a do medo de não poder se despedir de quem morre”.
E como se não bastassem essas incertezas sobre a própria vida, há ainda uma perplexidade com fatores mais práticos, como o trabalho ou o cenário político. “Há essa enorme pressão econômica. Mesmo funcionários públicos estão inseguros, não sabem o que o governo planeja para o funcionalismo, se vai cortar benefícios ou congelar salários”, diz.
Para Pedro Paulo Bicalho, esse cenário acentua a ansiedade e afeta o trabalho remoto. O isolamento colocou milhares de pessoas trabalhando em suas casas, sem que houvesse qualquer adaptação ao processo. O professor pontua que o trabalho remoto tem propriedades, sobretudo de linguagem, que a sociedade não estava adaptada antes de adotá-lo. “Nas reuniões virtuais as pessoas se desentendem com mais facilidade”, explica.
E ainda precisam ser consideradas as condições em que o trabalho é feito. “As crianças estão em casa, sem escola, a quantidade de afazeres domésticos passa a aumentar e a casa começa a demandar uma parte do nosso tempo que antes não demandava, o que torna o trabalho ainda mais difícil”, observa o professor. “Estamos falando de um trabalho remoto que não está sendo feito por escolha, precisamos levar em conta todas as intercorrências do isolamento”, explica o professor. Ele relata que tem sido muito comum as pessoas se queixarem de que estão mais cansadas ou com a sensação de que estão trabalhando demais. “Estamos em casa há dois meses e parece que estamos trabalhando mais do que nunca”.
Para o professor do IP, uma das maneiras de tentar proteger a saúde mental é entendendo os próprios limites. “Vai ter um dia que você não vai conseguir fazer nada, um dia que você não vai conseguir entrar na reunião ou escrever um texto”, explica, lembrando que as pessoas tendem a se culpar por oscilações de comportamento pelas quais não são responsáveis.
A professora Maria Cavalcanti concorda com o colega e acha que há ricos em uma auto cobrança por produtividade, mesmo em momentos que não estão associados ao trabalho. “Pensamos em cursos, em começar projetos pendentes e até mesmo na hora do lazer, estamos nos cobrando para estar assistindo essa ou aquela live. Parece outro vírus que pegou a gente, o da necessidade de ser produtivo”.
DICAS
A melhor forma de manter a saúde mental em tempos insanos é manter contato com pessoas queridas. “E como estamos em regime de distanciamento, a opção é aproveitar a tecnologia para fazer esse contato”, explica a professora Maria Cavalcanti. “Não é o ideal porque a gente sente falta do contato físico, do olhar, do abraço, beijo, mas é o que a gente pode fazer. Os afetos sustentam a gente. O ser humano é gregário, a gente precisa do outro, precisa ter contato com o outro. E a rede social amplia isso tudo”.
O professor Pedro Bicalho defende que o contato com pessoas queridas pode ser também uma oportunidade para procurar algum amparo emocional. “Precisamos fortalecer nossas redes de afeto, nossos vínculos sociais. Isso é fundamental. Precisamos compartilhar as angústias, as dificuldades, dizer para o outro que está difícil”, explicou. “É fundamental fazer isso para que a gente possa sobreviver e ter a certeza de que vai passar. O isolamento social é uma estratégia de sobrevivência, é importante manter esses vínculos, e reinventar os aniversários, encontros, fins de semana”.
Mas os dois professores alertam para alguns riscos na hora de buscar por diversão, especialmente no uso de álcool ou outras drogas, seja para lazer, seja para tentar lidar com a angústia e a ansiedade. “Até por conta da limitação das opções de lazer, há um risco muito grande de as pessoas abusarem do consumo de álcool”, alertou o professor Bicalho. “Claro que pode beber, mas com moderação. O que não pode é colocar isso na rotina” explicou a professora Cavalcanti.
SERVIÇO
A UFRJ tem uma divisão para atender funcionários da universidade que estejam passando por transtornos ou angústias psicossociais. Durante o período de isolamento, o acolhimento inicial está sendo feito por e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Não tenha medo de pedir ajuda.
ENTREVISTA: ERIMALDO NICACIO
Professor de Psicologia e de saúde mental da Escola de Serviço Social da UFRJ
A FADIGA DA CONEXÃO PERMANENTE
O trabalho em home office pode ser um agravante das angústias proporcionadas pelo confinamento?
Neste contexto de pandemia, a fronteira entre casa e trabalho se desfez, o espaço se comprimiu e se reduziu à nossa casa. Somos mais do que nunca obrigados a ficar conectados. E isso produz fadiga mental, distúrbios de sono, esquecimentos.Não está sendo fácil para os casais terem que trabalhar, cuidar das crianças e acompanhá-las nos estudos. Há uma sobrecarga, que muitas vezes recai sobre a mulher. É uma situação particularmente ansiogênica.
As crianças exigem algum tipo de cuidado especial?
É essencial conversar com as crianças abertamente sobre o que está sendo vivido. É preciso estimulá-las a expressar seus sentimentos acerca do que está acontecendo, tranquilizando-as sobre a situação. Além disso, é importante ajudá-las no estabelecimento de suas rotinas. Mas atenção, sabendo que as combinações e rotinas vão fracassar com frequência. E é preciso aceitar isso.
O Conselho Universitário aprovou, no início da tarde de terça (2), a resolução sobre o trabalho dos servidores da UFRJ durante a pandemia. O documento teve 46 votos favoráveis e apenas um contrário.
(Atualização) Confira a íntegra, já divulgada no site do Consuni:
Assessoria a prefeituras do Norte Fluminense, estudo de cenários epidemiológicos, treinamento de profissionais, apoio aos mais vulneráveis e divulgação correta de informações. A UFRJ Macaé mostra sua força e atua, com sucesso, em diversas frentes contra a pandemia.
O Grupo de Trabalho Covid-19 UFRJ Macaé mobiliza 23 subgrupos. A estrutura é multidisciplinar e horizontal. “É um processo muito dinâmico, que todo dia se atualiza, seja pela chegada de novas informações científicas, seja por novas parcerias criadas pelos pesquisadores”, diz o professor Leonardo Moreira, um dos integrantes da rede. Mais de cem docentes desenvolvem projetos voltados para a crise. O número representa cerca de 25% do quadro total.
“Nesse momento de emergência, quem não sabe o que está acontecendo não consegue fazer políticas públicas”, avalia Kathleen Tereza da Cruz, professora do curso de Medicina e coordenadora do GT. O foco, explica a docente, é subsidiar a tomada de decisão dos gestores com consistente base científica. As prefeituras de Macaé, Rio das Ostras e Quissamã entenderam a mensagem e estão alinhadas com a universidade e as diretrizes das autoridades sanitárias interancionais.
Um exemplo está na análise dos pesquisadores Bernardo Tavares e Habib Montoya, publicada na página eletrônica da universidade, desde o início de maio. O estudo mostra o impacto dos decretos da prefeitura de Macaé, entre o final de março e início de abril, e indica o efeito positivo da opção pelo isolamento social, com “achatamento da curva” de infectados a partir de 21 de abril. Os cenários epidemiológicos para a pandemia em Rio das Ostras e Quissamã mostram resultados semelhantes
Uma das frentes trabalho do GT de Macaé é a construção de um painel online que aponte as principais tendências epidemiológicas dos municípios da região. O diferencial do projeto da universidade, segundo a coordenadora do GT, é a capacidade de análise por meio do cruzamento de informações. “Os painéis sobre a Covid-19 que encontramos hoje só mostram dados absolutos, por exemplo, número de internações ou de óbitos. Mas o que isso quer dizer para aquela cidade afinal? É muito, é pouco?”, questiona Kathleen.
Sala de Situação é o nome do painel de acompanhamento, que considera indicadores de saúde como mortalidade, incidência, números de casos confirmados, de óbitos, distribuição por bairros. O trabalho é realizado em parceria com o curso de Computação da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Rio das Ostras.
A ideia é que a plataforma atenda todas as cidades do Norte Fluminense. Mas isso depende da colaboração das prefeituras para fornecer os dados. “Muitos municípios não dão atenção à produção e análise das informações sobre saúde, limitando-se à prestação de contas obrigatórias por lei. Alguns não querem abrir os dados, outros nem têm”, observa.
Até o momento, o projeto-piloto é Quissamã. O município foi o primeiro a assinar uma cooperação institucional com a universidade para enfrentamento do coronavírus. Além do painel, o acordo inclui um conjunto de ações em parceria para conjugar saúde e educação. E as equipes de profissionais de saúde que atuam na pandemia recebem especial atenção, desde a formação permanente para construção de protocolos que reduzam riscos de adoecimento, até teleacolhimento para cuidar da saúde mental.
“Como orientar casos suspeitos, teleatendimentos, acompanhamento de profissionais de saúde afastados, critérios para alta. Tudo é construído a partir das realidades trazidas pelos gestores. Esse diálogo é bom para eles e para a universidade”, relata a coordenadora do GT. Para a docente, a pandemia confirmou o acerto da interiorização da universidade. “Nós moramos e trabalhamos aqui. Conhecemos toda a região. Certamente, isso permite à universidade outro nível de atuação no território”.
Comunicação é tudoAproximar a população da produção científica é outra trincheira da UFRJ contra a Covid-19. Além da desinformação, há uma preocupação especial com a disseminação de informações erradas. Cartilhas educativas foram produzidas.
Mas, para a diretora de extensão do Nupem, professora Mirella Pupo, o caminho deve ser mais criativo. Ela e outros três docentes “traduzem” artigos científicos publicados diariamente em revistas científicas, como a Nature, sobre a pandemia, para uma linguagem simples. O bastante para gerar um card, uma publicação curta e ilustrada, para ser difundida pelas redes sociais. Também participam da empreitada uma técnica-administrativa e dez estudantes. No Facebook, a proposta ganhou rapidamente dois mil seguidores.
“Não é uma coisa simples, porque, além da tradução, fazemos toda uma discussão sobre o conteúdo com os alunos. Em geral, usamos mais de uma literatura para esgotar o tema e não repetir assunto. O trabalho gera certo atraso em relação às notícias do dia, mas vale a pena”, diz. “Se a comunidade científica não se atualizar na forma de comunicar, serão apenas cientistas falando para cientistas”, acredita.
Os cards trazem assuntos diversos relacionados à pandemia, como alcance e velocidade da propagação do vírus, eficácia de drogas, produtos para limpeza, tempo para manifestação de sintomas, entre outros. Os temas são escolhidos levando em conta o interesse da população. As máscaras, por exemplo, ganharam duas publicações, o que não é comum.
Pós-pandemia
O cuidado com os laboratórios mobiliza os pesquisadores. “Temos algo em torno de 60 pesquisas, sendo que pelo menos 20 delas utilizam modelos com animais diversos, como camundongos, peixes, mosquitos etc”, explica a diretora adjunta de Pesquisa do Nupem, Cintia Barros. As escalas nos laboratórios são orientadas pela administração da universidade para manter a segurança no espaço de confinamento. Laboratórios com equipamentos ópticos também recebem manutenção frequente. “Estamos muito perto do mar, o risco é de fungos”, explica a diretora. “Se todo esse material for perdido, o retorno às atividades ficará muito mais comprometido”.
Quem mais precisa
Macaé mantém ativa uma rede própria de solidariedade aos mais vulneráveis. Sete ações de doações já foram articuladas pela comunidade desde o início da pandemia. Além de cestas básicas, as doações incluem itens extras como material de higiene pessoal, máscaras, álcool líquido e em gel. Em casos especiais, o pacote contém também material de proteção individual, leite, fraldas infantis e geriátricas.
O público-alvo atendido é composto por funcionários terceirizados da UFRJ, idosos de asilos próximos à universidade e estudantes com baixa renda familiar. O Nupem realiza ainda atividades educativas sobre prevenção. A ação é coordenada pelo professor Pedro Hollanda Carvalho (Nupem), com colaboração da Adufrj.