Diretora da Escola de Comunicação destaca papel das redes no novo feminismo A professora Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, destaca papel das redes sociais no debate do novo feminismo. Qual a relação entre as redes sociais e o feminismo? As redes sociais permitiram que experiências singulares, relatos pessoais em postagens, ganhassem visibilidade a ponto de viralizar e mover campanhas como “Primeiro Assédio”, “Agora é que são elas”, “Chega de Fiu Fiu”. Em todas elas, a tecnologia foi instrumento para questionar situações até então naturalizadas. A “Chega de Fiu Fiu” mudou a ideia da paquera na rua. No Oscar ou em Cannes, vemos manifestações contra o assédio e por mais representação feminina. Esse é um movimento global. As redes também pressionam por mudanças de posturas de empresas e suas publicidades. A mídia reflete isso, vide a Globeleza, que acabou sendo vestida. O caso dela trazia dupla carga: a da objetificação da mulher e do legado da escravidão negra. A internet contribuiu ainda para massificar novos conceitos e vocabulários como empoderamento, lugar de fala e sororidade. Por que você relativiza a objetificação no clipe “Vai Malandra”, da Anitta? A Marcha da Vadias trouxe uma contribuição importante sobre isso. Quando a mulher decide vestir uma roupa que quer, isso não é carta branca para outros acessarem o corpo dela. As meninas do funk chegaram antes nesse debate, afi rmando suas roupas sensuais e que gostavam de ser popozudas. Eu brinquei que a bunda de Anitta no clipe era sujeito e não objeto. O feminismo hoje é mais diverso? Tivemos uma geração feminista mais assertiva importante, que abriu muitas portas. Mas, hoje, vejo um movimento mais fluido. Algumas não vão abrir mão do batom ou salto alto. Outras se recusam a qualquer intromissão no corpo, depilação e afins. Sobre objetificação, acredito que há um quê moralista, fruto da origem histórica branca do feminismo. Um exemplo de questão mal colocada, a meu ver, é o debate sobre a prostituição. Há feministas que ignoram as demandas dessas mulheres, inclusive trans, por regulamentação. Qual é o próximo passo? É fundamental mover as estruturas nos ambientes de trabalho, universidades, redações. Enquanto as mulheres não estiverem nos lugares de decisão, a mudança não vai acontecer. Estamos com uma equipe 100% feminina na Escola de Comunicação. Começou de forma inconsciente, mas agora é política. Na ECO, um docente foi suspenso por assédio. Levou dez anos para que um grupo de alunas, no contexto da Primavera Feminista de 2017, formalizasse a denúncia. Não se trata de caça às bruxas, mas não dá mais para deixar passar.
Professora da Faculdade de Educação diz que luta feminista demorou a incluir demandas das mulheres negras Giovana Xavier, professora da Faculdade de Educação da UFRJ e uma das idealizadoras do catálogo "Intelectuais Negras Visíveis", alerta: a invisibilidade é uma forma de dizer que aquele lugar não é reservado para mulheres negras. Qual o desafio da mulher negra hoje? Temos um problema real, o fato de a sociedade brasileira invisibilizar e não valorizar nossa importância. Assim, todas as nossas pautas são consequência da invisibilização e da objetificação de que temos sido alvo. Invisibilidade no mundo acadêmico, no mundo do trabalho. O desafio não tem de ser apresentado para a mulher negra, mas para a sociedade: jamais naturalizar essa questão e procurar alternativas. Quais seriam essas alternativas? Reivindicar ajuda a construir um projeto de democracia no qual tenhamos nossa participação reconhecida. A alternativa principal tem de ser em termos de macropolíticas, de reconhecimento, pelas políticas públicas, dessa invisibilidade da mulher negra. Na UFRJ, um levantamento recente mostrou que menos de 3% dos professores se declaram negros. Representatividade importa. Temos de achar uma forma de assegurar que conteúdos produzidos por pessoas negras vão ser trabalhados. Temos de selecionar e usar em sala de aula autores e autoras negros. Na verdade, a invisibilidade é uma forma de falar que esse lugar não é para a mulher negra, e é isso que precisamos enfrentar por meio de um programa institucional. Dentro da luta feminista, como situa a luta da mulher negra? O feminismo não é uma coisa só. Nenhum movimento social é. O que sempre entendemos como feminismo universal é o feminismo branco. A ideia de feminismo não reconhecia as experiências das mulheres negras. Inclusive o feminismo, tal como o conhecemos, esteve associado ao fato de haver um trabalho do méstico, exercido por mulheres negras. Mas tem havido uma pressão de diálogo, e uma escuta maior, nos movimentos feministas, do feminismo negro. Estamos discutindo inclusive o lugar que a branquidade ocupa nessa luta. Não queremos um movimento paralelo. Que pautas a senhora destacaria na luta feminista negra hoje? Destaco a educação pública, com ênfase em condições salariais, planos de carreira para os professores, e também em projetos que apostem na educação pública como um lugar de formação, de fortalecimento de cidadania, de ascensão, de mudança social, para romper com aquela ideia estigmatizada da escola pública como o que sobra. A outra coisa que considero prioridade é o reconhecimento de direito para pessoas e, particularmente, mulheres trans. Acho que é uma pauta ainda muito pouco valorizada no feminismo.
Adufrj participa da manifestação do Dia Internacional das Mulheres com uma mensagem especial, no contexto da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro Não ao feminicídio. Não a um estupro a cada 11 minutos no Brasil. Não ao assédio sexual. Não ao machismo. Em 2018, a Adufrj associa sua voz à dos movimentos feministas do 8 de março para dizer “Nem uma a Menos, Nenhum Direito a Menos”. E mais: a associação docente lança uma campanha especial, no contexto da intervenção federal na segurança do Rio, para afirmar que “A luta pela paz é feminina”. “Vamos participar ativamente do Dia Internacional da Mulher, mas a campanha continua para além do 8 de março”, avisa a presidente da Adufrj, professora Maria Lúcia Werneck. Ela observa que a grande motivação para o engajamento da associação docente neste ano é o crescimento da violência e a recente intervenção na segurança pública do Rio. “Nas comunidades, as mulheres são as principais vítimas da violência. Daí o mote da campanha”, explica. “Também estaremos atentos aos desdobramentos da intervenção”, acrescenta. A Adufrj vai levar para o ato do 8M no Centro do Rio, às 16h, um conjunto de materiais com a marca da campanha “A luta pela paz é feminina”: 500 ventarolas, 500 adesivos, 200 camisas e um lençol de cetim com quase 70m2, que será estendido acima das manifestantes. Dez banners serão instalados em todos os campi da UFRJ. “Vamos fazer uma campanha bonita e divulgar bastante nossa mensagem”, afirma Maria Lúcia. A marca da campanha, de autoria do designer André Hippertt, traz o desenho de uma mulher flutuando, enquanto segura um balão branco. Hippertt explica que a arte combina elementos da campanha mundial 8M, como a cor lilás, e a linguagem do grafite. A inspiração vem do artista e ativista britânico Bansky. “O Bansky usa muito os balões em seus desenhos como uma metáfora de ascensão, de crescimento. E ele tem um olhar muito carinhoso para crianças e mulheres”, avalia. No caso da marca criada para a Adufrj, houve o cuidado de retratar uma figura feminina que não fosse reconhecida como uma etnia única. O tom de pele da personagem é negro, mas o cabelo é liso e rosa. “A luta é de todas as mulheres”, completa Hippertt, orgulhoso do trabalho.
De Acari a Vigário-Geral, da Maré à Cidade de Deus, são mulheres, principalmente mães, que denunciam arbitrariedades e buscam justiça. Precisam ser valorizadas como vozes ativas na construção da paz. O que é ser mulher hoje? É falar de salário e creche, de estupro e escola, de assédio e de cidadania, de sexo e aborto. É dizer sim e não. Tornar-se mulher, como escreveu Simone de Beauvoir, é um processo. Mais do que um jogo de novas palavras, a luta feminista contemporânea se insere no debate sobre direitos, resistência e representatividade. No Dia Internacional da Mulher, a Adufrj (Associação dos Docentes da UFRJ) lança a campanha “A Luta pela Paz é Feminina”, que remete aos impactos da intervenção na segurança pública no Rio. De Acari a Vigário-Geral, da Maré à Cidade de Deus, são mulheres, principalmente mães, que denunciam arbitrariedades e buscam justiça. Por isso mesmo, precisam ser valorizadas como vozes ativas na construção da paz. Este boletim discute o feminismo a partir de entrevistas com professoras e alunas da UFRJ,que falam de igualdade e representatividade, mas também do machismo cotidiano nos bancos universitários. Na UFRJ, mulheres são 47,4% entre docentes e cerca de metade dos alunos e alunas de graduação, mestrado e doutorado. No entanto, entre os 172 pesquisadores da UFRJ listados pelo CNPq como nível 1A, o mais alto, só 25 (14,5%) são mulheres. Maior universidade federal do país, a UFRJ jamais teve uma reitora. Revelado discretamente na progressiva redução da presença feminina no topo da pirâmide científica, o machismo no ambiente acadêmico também sabe ser explícito. Aparece na invisibilidade das mulheres negras, no assédio sexual e no convívio de sala de aula. Em pleno 2018, frases como “Vocês só fazem Engenharia para encontrar marido” não são coisa do passado. ******** A Adufrj participará da Marcha pelo Dia Internacional de Luta da Mulher, a partir das 16h, na Candelária, Centro do Rio. Participe você também!
"Dano contra o patrimônio, ataque à liberdade de expressão e exercício arbitrário das próprias razões", detalhou o delegado da 10ª DP, durante encontro com a presidente da Adufrj, professora Maria Lúcia Werneck O delegado Paulo Castello Branco, da 10ª DP, em Botafogo, explica que o vandalismo contra a faixa da Adufrj no muro do Canecão pode ser enquadrado em três tipos de crime. "Dano contra o patrimônio, ataque à liberdade de expressão e exercício arbitrário das próprias razões", detalhou o policial durante o encontro com a presidente da Adufrj, professora Maria Lúcia Werneck, na tarde de segunda-feira (5). "Iremos concentrar nossa investigação no cidadão que retirou a faixa. Já temos as imagens dele. Isso tem um valor pedagógico para evitar novos atos semelhantes". "O delegado mostrou respeito com a nossa denúncia. Essa truculência e intolerância não podem ficar impunes", ponderou Maria Lúcia, na saída da delegacia. Os diretores da Adufrj esclarecem que a campanha “Inverter a Intervenção” não é um movimento contra a intervenção federal no Rio de Janeiro. "Inverter a intervenção é, para nós, buscar outras perspectivas, discutir as causas estruturais do problema e buscar soluções que não estejam sujeitas ao calendário eleitoral. É recolocar no centro do debate a elaboração e execução de políticas públicas. Como professores, é claro, vemos a educação como o carro-chefe deste processo", resumiu o vice-presidente da Adufrj, professor Eduardo Raupp de Vargas. "Nossa campanha continua. Valente e acolhedora. Disposta ao debate, a receber as críticas e decidida a colaborar na solução desta situação tão grave. O Rio de Janeiro precisa da mobilização de todos os saberes. Precisa de paz e democracia". Instalada na quinta-feira em uma grade lateral do Canecão, a peça gráfica foi criada pela Adufrj e apoiada pelas entidades representativas dos técnicos-administrativos (Sintufrj) e alunos (DCE e APG), além do Andes. A faixa atraiu a atenção de intolerantes e acabou sendo arrancada no último sábado. A ação foi filmada e compartilhada por grupos conservadores na internet, que ainda hostilizaram a comunidade da UFRJ em mensagens raivosas. No domingo, a diretoria da Adufrj também divulgou uma nota sobre a retirada da faixa. Após repudiar o ato de vandalismo, o texto prossegue: “Ações como essa mostram que a Inversão da Intervenção, mais do que necessária, é urgente para reconstituição de nossa democracia. Intolerantes não passarão. Paz e democracia. #InverteraIntervenção