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“Hoje fui levar minha filha para a escola e quando chegamos lá estava tudo destruído. É a terceira vez que isso acontece”, contou Adriana Gomes da Silva, moradora da Nova Holanda. Sua filha de 5 anos estuda na escola Maria Amélia Castro e Silva Belfort, uma das Escolas do Amanhã construídas pela Prefeitura do Rio no ano passado. A unidade foi invadida e depredada naquela manhã. “A escola é feita de contêiner. Há várias salas furadas de balas. Como podemos deixar nossos filhos lá e ficar tranquilas? Como achar que estão em segurança?”, indagou. A lição de violência e da importância de combatê-la já foi aprendida por Ronnie Alves da Silva, de 11 anos. “Vejo muitas coisas ruins todos os dias e não gosto disso, por isso eu vim protestar contra a violência”, disse o menino, que mora na Nova Holanda e estuda no Ciep Hélio Smith, no Parque Rubens Vaz, outra comunidade que compõe o Complexo. No cartaz que carregava, dizeres e desenhos que indicavam os direitos roubados das crianças do local: brincar, viver, estudar, ser feliz. [caption id="attachment_7590" align="alignleft" width="169"]
Tatiana Roque e Marina Motta[/caption] Relação com a vizinha UFRJ O Fundão é vizinho à Maré. A proximidade traz impactos de violência para o campus, mas também é fonte de muitas trocas. É o que explica o professor Pablo Benetti, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Ele também participou da passeata, com estudantes e com a presidente da Adufrj, Tatiana Roque. “Precisamos marcar uma posição de defesa dos direitos humanos. Há leis que aqui não imperam. Nosso país não será verdadeiramente democrático, se isso não for corrigido”, disse o professor. “Temos aqui um amplo campo de trabalho fundamental para todas as áreas do saber. Os nossos projetos de extensão têm muitas demandas. A UFRJ não pode deixar esta realidade de lado”, considera. O ato teve o apoio institucional da Adufrj. “Sem a Adufrj isso aqui não teria acontecido. A Adufrj nos deu bandeira, camiseta, todo tipo de ajuda. É um sindicato de luta”, agradeceu Marina Motta, diretora da Redes de Desenvolvimento da Maré. A atriz Patrícia Pillar estava no núcleo artístico da passeata. Para ela, o principal objetivo é criar a consciência de que a violência é um problema de todos. “Nós somos um corpo só, um organismo. Esta é uma mensagem de união. Os números de homicídios na nossa cidade estão insustentáveis”. A dor da perda Mães de jovens assassinados na Maré e em Manguinhos fizeram discursos emocionados quando a manifestação chegou à “divisa”, local conhecido por constantes trocas de tiros. A esquina das ruas Evanildo Alves e Principal divide os territórios de facções inimigas. Ali também há trocas de tiros quase que diárias com a polícia. As marcas das balas estão por todos os lados. “Nós queremos paz para continuar vivendo. O nosso grito é pela vida. Nossos filhos estão sendo assassinados. Não são casos isolados. A mãe da favela não tem direito ao luto. A gente luta dia e noite para que haja justiça por nossos filhos”, disse Ana Paula Oliveira, mãe de Jonatan Oliveira, de 19 anos, assassinado em 2014 pela polícia, em Manguinhos. [caption id="attachment_7592" align="alignleft" width="300"]
Apresentações culturais encerraram a atividade[/caption]
Ele afirmou que não há relação entre a PEC e o governo Temer. “Basta olhar as datas. Em 2015 sugerimos – e foi aprovada – a alteração dos parágrafos 3º e 4º do Código Eleitoral, pela Lei 13.165. Na época, a presidente era Dilma Rousseff”, justifica. As mudanças no Código Eleitoral foram feitas para indicar que novas eleições diretas sejam realizadas para sucessão de governadores que sofressem impugnação de mandato. “Mas o procurador geral da República apresentou uma ação direta de inconstitucionalidade ao artigo 224. Por isso, apresentamos a PEC. Não tem nada a ver com o momento político atual”, argumentou. A partir do momento em que Michel Temer assumiu a presidência da República, “começou uma enorme pressão contra as eleições diretas”, afirma o parlamentar. Para ele, só será possível retomar a normalidade do país a partir de um novo pleito com participação popular. “Qual a representatividade, num cenário como este, de realização de eleições indiretas?”, questionou. Miro rebateu o argumento de que é necessário preservar a Constituição e fazer a sucessão presidencial por voto indireto. “Nós já temos cem emendas à Constituição desde 1988. Existem em tramitação no Congresso mais 1.500 propostas de emendas. Que Constituição eles querem defender?”, completou. Previdência O parlamentar aproveitou o momento para se posicionar contrariamente à Reforma da Previdência. Para ele, emendas constitucionais não resolvem e nunca resolveram os gargalos da Previdência Social. Entre artigos, incisos e parágrafos, já foram modificados 192 dispositivos: 116 na Emenda Constitucional 20/1998; 55 na Emenda Constitucional 41/2003; e 21 na Emenda Constitucional 47/2005. Todos eles tratam do sistema de Previdência Social. “A atual PEC 287 altera mais 197 dispositivos da Constituição. O problema da Previdência é o que fazem com o dinheiro. Não existe déficit. O Brasil tem dinheiro”. Diretas ontem Os professores da Coppe Ericksson Almendra e Luiz Pinguelli Rosa também participaram do debate. Eles apresentaram a memória da Adufrj no processo de abertura política, na década de 1980. Almendra foi presidente da Adufrj entre 1981 e 1983. “Uma das primeiras reuniões em que os professores da UFRJ discutiram como se inserir nas reformas do país e da universidade aconteceu exatamente nesta sala (auditório G-122, onde ocorria o debate), em 1978”, relembrou. Em 1979, a Adufrj foi criada já num contexto de ajudar a “organizar as grandes greves” que começavam a eclodir no país. “A Adufrj foi criada com o intuito de discutir os interesses dos professores, sim, mas, principalmente, de contribuir para um movimento muito mais amplo de luta pela redemocratização”, afirmou. Pinguelli foi o primeiro presidente da Adufrj e depois foi presidente da Andes – na época, Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior. “Havia um entusiasmo gigantesco com as eleições diretas”, ele lembrou. “Fiquei muito decepcionado quando não houve a aprovação das diretas. Tanto que não apoiei Tancredo (Neves, candidato da oposição) nas eleições indiretas. Não por ser o Tancredo, mas porque achava que aquele tipo de eleição era muito ruim para o país”, argumentou. [caption id="attachment_7586" align="alignright" width="300"]
Ericksson Almendra, Miro Teixeira, Luiz Pinguelli Rosa, Tatiana Roque[/caption] Para ele, a situação atual é semelhante. “Diretas já, mesmo para um mandato-tampão, é a melhor solução para o momento atual. Precisamos interromper a rapidez com que estão sendo desmontadas as estruturas do Estado. É um momento muito delicado”, avaliou o diretor de Relações Institucionais da Coppe. Tatiana Roque, atual presidente da Seção Sindical, mediou o debate e explicou a importância do tema. “Organizamos essa atividade para discutir a viabilidade de eleições diretas já. Acreditamos que essa seja a saída mais democrática para a superação da crise, num momento de completo esfacelamento do cenário político”.
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