CORREDORES VAZIOS e quiosques fechados: cena comum nos cursos noturnos do Centro de Tecnologia - foto: Igor VieiraMilene Gabriela e Silvana Sá
Trabalhar e estudar nos cursos noturnos da UFRJ se revela um desafio. A iluminação é insuficiente, o transporte é falho e opções de alimentação inexistem depois das 20h. A sensação de casa vazia também contribui para a noção de insegurança de quem precisa frequentar os campi à noite. Em 2019, a universidade tinha 11.968 alunos distribuídos em seus cursos noturnos. Em 2023, esse número é de 10.261, uma queda de 14,26%. Entre os professores, eles eram 1.347, em 2019. Hoje, são 1.113, queda de 17,37%.
“Durante a pandemia, houve uma procura significativa de pessoas de outros estados para cursar a UFRJ no ensino remoto”, explica o superintendente geral da pró-reitoria de Graduação, professor Joaquim Mendes da Silva. “Mas a pandemia também trouxe problemas socioeconômicos que obrigaram muitos estudantes a trancar ou sair da universidade para trabalhar”, continua. “Há muitas razões envolvidas na evasão e retenção estudantil”, conclui.
No caso dos alunos da noite, pesa a questão da sobrevivência, mas também o receio no deslocamento de volta para casa. “O meu curso só existe no período noturno e os maiores problemas que eu enfrento estão relacionados ao transporte público e à falta de segurança”, conta a estudante Tainá Pires, do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional.
O sentimento é compartilhado por outros estudantes. “A frota de ônibus sempre reduz. Eu estudo no CT e moro na Pavuna. Meu último ônibus passa por volta das 21h30, mas minha aula termina às 22h, então eu sempre perco o final das aulas”, lamenta Camilla Barros, do curso de Química. A alimentação é outro problema. “No horário que eu chego, às 18h, a fila do bandejão geralmente está enorme”.
A falta de opções para refeição fez o professor Ildeu Moreira, do Instituto de Física, criar um intervalo em sua aula, por volta das 20h30, para que os alunos pudessem se alimentar com os lanches que ele mesmo levava. “No semestre passado, eu comprava biscoito, refrigerante, suco para a gente fazer um lanche, porque não tinha onde os alunos comerem”, lembra. Uma forma de solucionar o problema, sugere o professor, é que a administração central preveja no contrato com os permissionários de quiosques um horário de funcionamento que atenda aos cursos noturnos. “A universidade poderia fazer um rodízio entre os donos dos trailers, para os estudantes e professores poderem comer alguma coisa”, diz. “É papel da UFRJ formar bem os alunos que vão se tornar professores na educação básica”.
O professor João Torres, presidente da AdUFRJ, dá aulas à noite para a licenciatura no Instituto de Física. “Meu curso vai até 21h30, mas sempre termino antes, porque os meus alunos dependem de ônibus que passam às 20h30 ou às 22h. Se eles perdem um deles, o transtorno é enorme”, conta. Para ele, a universidade precisa usar seu prestígio para pressionar por mais ofertas de transporte público no Fundão. “A UFRJ tem importância estratégica e política na cidade. Deve usá-la para tentar interferir nas decisões das empresas de ônibus, para que aumentem a frequência, diversifiquem os itinerários, estendam os horários”, sugere.
A pouca iluminação também deixa professores e estudantes com medo. “Alguns lugares na UFRJ são muito escuros, não há iluminação eficiente. Nos dias em que saio por volta das 22h, eu procuro deixar meu carro mais próximo do prédio, para eu não ter que andar no escuro”, confessa a professora Ana Lúcia de Lima, do Instituto de Química. “Entendo que alguns pontos devem ser melhorados: deixar os espaços mais iluminados, ter outras opções de restaurantes e quiosques para alimentação e mais opções de ônibus”, elenca a professora. “Além de fiscalização, pois no período noturno os motoristas de ônibus fazem o que querem”.
Os problemas não se restringem ao Fundão. Em unidades “isoladas”, como o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, sair da aula à noite é se aventurar. “O grande problema é a segurança. Estamos no Centro da cidade, em uma região que, à noite, fica muito deserta”, observa o professor Fernando Santoro, diretor do IFCS. Para mitigar os prejuízos, a comunidade pensou em algumas “soluções”. “Nós abrimos a porta traseira do IFCS para acesso direto à Praça Tiradentes, como forma de evitar as ruas laterais. Aconselhamos as pessoas a saírem em grupos grandes e a nunca andarem sozinhas”, detalha. “Temos notícia de assaltos frequentes na região e tentamos, com essas medidas, evitá-los”.
Na Praia Vermelha, a segurança também é a principal queixa. “Quando o shopping (Rio Sul) fecha, a movimentação no entorno do campus reduz muito. A iluminação também não é boa e sempre temos notícias de assaltos e arrastões”, relata a estudante Vivian Telles, do curso de Pedagogia. “Normalmente, a gente pede para a aula terminar antes das 22h para esperar o ônibus com um pouco mais de segurança”.
O QUE DIZ A UFRJ
Sobre a oferta de linhas e o horário de circulação dos ônibus no Fundão, o prefeito da Cidade Universitária, Marcos Maldonado, afirma que as empresas são notificadas em relação ao funcionamento dos cursos. “Todas as empresas de ônibus são avisadas do horário de encerramento dos cursos, mas não temos poder para fazer com que transitem dentro da Cidade Universitária”, diz.
Ele também se defende sobre a sensação de insegurança relatada por professores e estudantes. “A Divisão de segurança (Diseg) está totalmente ativa em relação aos pontos, temos feito blitz diurnas e noturnas com abordagem dentro da Cidade Universitária, rondas, acompanhamos nossas câmeras no Centro de Controle Operacional, que são voltadas para os pontos de ônibus”, revela. “A segurança não é (um problema) somente na Cidade Universitária, é externo. O que cabe ao prefeito da Cidade Universitária fazer, estamos fazendo”.
Perguntada sobre as condições de estrutura e segurança oferecidas aos cursos noturnos, a pró-reitoria de Graduação respondeu que “a Prefeitura Universitária busca otimizar a oferta de serviços públicos para o corpo social da UFRJ, para minimizar os problemas enfrentados pelos estudantes”. E que a “infraestrutura oferecida pela universidade tem se mostrado adequada para atender aos cursos de graduação, dentro dos limites impostos pelas restrições orçamentárias enfrentadas pela UFRJ nos últimos anos”.
CAIXAS DO BANCO DO BRASIL NO CT VOLTAM A FUNCIONAR
Caixa eletrônico avariado na semana passada - Foto: Milene GabrielaApós semanas de reclamações da comunidade acadêmica, os caixas eletrônicos do Banco do Brasil no Centro de Tecnologia voltaram a funcionar no dia 25. Professores, técnicos e estudantes se queixavam da falta de dinheiro para saques e de papel para impressão de comprovantes. Além disso, criticavam o reduzido número de máquinas para o atendimento. No espaço, já funcionou uma agência completa.
“Uma agência que foi fechada, deixou dois caixas que não funcionam e que muitas vezes são utilizadas como lixeiras pelos alunos. É uma situação crítica”, disse o professor Ildeu Moreira, do Instituto de Física, poucos dias antes do conserto dos caixas.
Pós-graduanda em Técnicas de Representação Gráfica, Cass de Mattos concorda com o docente. ”Havia uma agência, com segurança, e várias opções de serviços no caixa”, afirmou.
Fiscal do contrato de cessão daquele espaço, a Superintendência do CT também já pedia providências ao banco. “Reclamamos os problemas, que são de muito tempo, com a agência que fica no Centro de Ciências da Saúde, mas disseram que os responsáveis pela solução estão na sede de Curitiba”, concluiu Agnaldo Fernandes. No dia 20 de abril, o CT encaminhou as queixas da comunidade à Pró-reitoria de Governança (PR-6). (Francisco Procópio e Milene Gabriela)