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WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55 8Fotos: Fernando SouzaRecém-iniciada, a primavera ganhou um colorido diferente na UFRJ. Desde segunda-feira, professores, alunos e técnicos apresentam uma parte da fina flor do ensino, pesquisa e extensão produzidos na universidade. É a 14ª Semana de Integração Acadêmica (SIAC) — a maior dos últimos anos, com 6.615 trabalhos (veja infográfico AQUI) — ocupando salas e corredores em todos os campi.
E uma festa do conhecimento deste porte não poderia ter um começo melhor: em grande evidência na mídia nacional com a revolucionária pesquisa sobre o tratamento de lesões medulares, a professora Tatiana Sampaio realizou a conferência de abertura. “Não posso nem descrever a honra que é ter sido convidada a falar na abertura deste evento tão importante que é a SIAC”, disse a docente do Instituto de Ciências Biomédicas.
No lotado salão nobre do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, Tatiana mostrou as idas e vindas de um projeto que nasceu em 1999 na bancada do laboratório — como muitas iniciativas da SIAC —, virou estudo clínico em humanos em 2018 e, após longos 25 anos, está cada vez mais perto de se tornar um medicamento comercializado no mercado: a polilaminina.
Poli o quê? “Só para falar já é difícil. É um trava-língua. Mas a culpa não é minha. Foi um editor de revista científica que deu o nome. Para editor, a gente fala ‘sim, senhor’. Se vocês tiverem alguma ideia de como encurtar isso, me mandem”, brincou Tatiana logo no início da apresentação, arrancando risadas da plateia.
A polilaminina é uma “malha” inventada a partir de proteínas naturais, as lamininas, presentes em várias partes do corpo e com alto poder regenerativo no sistema nervoso periférico. “Quem fez uma cirurgia, uma cesariana, perde a sensibilidade no local, porque cortou um nervo, mas a sensibilidade volta após um tempo”, explicou Tatiana.
O estudo coordenado pela docente potencializou esse efeito para a medula espinhal, onde a laminina deixa de existir poucos dias após as pessoas nascerem. E, entre 2018 e 2021, chegou a um estudo experimental com seres humanos. Os pacientes receberam injeções de polilaminina até três dias após as lesões sofridas em acidentes ou ataques por arma de fogo. Dois deles morreram por condições não ligadas ao tratamento e seis recuperaram movimentos que haviam perdido, em diferentes graus.
Em linguagem didática e descontraída ao mesmo tempo, Tatiana mostrou como a investigação científica depende de muita colaboração para sair do papel. “Que tal organizar um estudo clínico para pacientes humanos com lesão medular completa nas emergências dos hospitais públicos do Rio e injetar uma droga completamente nova na medula espinhal deles, com pouco financiamento público?”, brincou. “Tive muita ajuda de muitas pessoas que embarcaram nessa ‘furada’, a princípio, e ajudaram a tornar a pesquisa uma realidade”, disse.
Uma dessas ajudas tornou possível a cooperação do setor produtivo, algo que representa um certo tabu nas universidades públicas brasileiras. Amigos que tinham contato com uma empresa farmacêutica de São Paulo fizeram o “meio-campo” entre Tatiana e o presidente da Cristália. As conversas avançaram para um contrato assinado em 2021 com a UFRJ. “A Cristália é brasileira. Eu tenho muito orgulho da UFRJ, mas também muito orgulho de cooperar com essa empresa. Os anestésicos do SUS são produzidos pela Cristália. Por isso não teve gente morrendo durante a pandemia sem anestésico para poder intubar”, informou.
Hoje, a polilaminina aguarda a aprovação de um estudo regulatório em humanos — que será conduzido na USP — para poder chegar ao mercado. E, em paralelo, já avança uma pesquisa em animais para investigação dos efeitos da polilamina em lesões crônicas, ou seja, que já aconteceram há mais tempo.
Humilde, a professora atribuiu o sucesso midiático da pesquisa ao momento atual do país, que defende a soberania dos ataques do presidente norte-americano. “Depois que apareceu no Fantástico, outros meios de comunicação se interessaram. Virou um boom. Veio ao encontro de um momento do país de a gente poder dizer que somos independentes, que podemos fazer nossas coisas”, disse. Mas não teve jeito. A pesquisadora foi aplaudida de pé pelo público e a SIAC ganhou uma abertura histórica.
Pró-reitor de pós-graduação e pesquisa, o professor João Torres arrematou: “Dou aula de história da ciência. E às vezes pergunto aos meus alunos quais são as fotos mais impressionantes da Ciência. Citam as fotos do Atol do Bikini, no Pacífico, onde foram realizadas as primeiras experiências da bomba atômica. Citam as fotos do hospital do Canadá, com crianças diabéticas tomando insulina pela primeira vez. Quem sabe daqui a alguns anos a foto citada será dos pacientes da Tatiana levantando das cadeiras?”, questionou.

“ENFRENTEM PROBLEMAS CONCRETOS COM IMAGINAÇÃO E MÉTODO”

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55A 14ª SIAC cresceu em relação ao ano anterior: são 6.615 trabalhos e 15.125 participantes inscritos contra 6.404 e 14.119, respectivamente, de 2024 (veja os números na página 5).
“Os números são surpreendentes. E destes mais de 6 mil trabalhos, 907 se apresentam dentro da modalidade de ensino, pesquisa e extensão, já integrados. Essa é uma tendência crescente. Temos trabalhado para que esta integração se dê de forma recorrente nas três dimensões”, disse a pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes, durante a mesa de abertura do evento.
O pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa, professor João Torres, considera a SIAC o grande momento do calendário acadêmico. “Para mim, o momento mais especial do calendário da UFRJ é a Semana de Integração Acadêmica — e, em particular, as apresentações do PIBIC. É aqui que a universidade, apesar das adversidades, floresce à vista de todos, com a criatividade, o rigor e a generosidade que caracterizam o nosso fazer universitário”.
João Torres avaliou o evento como uma oportunidade para o diálogo entre diferentes áreas. “Procurem colaborações improváveis, misturem linguagens, compartilhem dados e ideias, enfrentem problemas concretos com imaginação e método. A universidade pública se afirma quando transforma excelência em propósito, rigor em serviço, conhecimento em bem comum”, completou.
Já a pró-reitora de Graduação, professora Maria Fernanda Quintela, fez um apelo para que a SIAC cresça ainda mais. “Venho pedir um envolvimento maior. A SIAC são cinco dias letivos. Essa semana tem que ser valorizada. Nós temos que parar nossas aulas, não posso ter professor dando prova hoje”, disse.
O reitor Roberto Medronho situou a realização da SIAC no debate atual em torno da soberania do país. “Hoje se discute muito a questão da soberania. Soberania depende de ciência, tecnologia e inovação. Precisa de educação. Nós precisamos produzir nosso próprio conhecimento. Não podemos mais ficar dependentes de nenhum outro país”.

Carioca da gema e flamenguista convicto, o professor Luiz Davidovich é uma das sumidades da UFRJ. Professor emérito e especialista em óptica quântica – ramo da física que investiga a interação da luz com a matéria –, ele foi anunciado como grande vencedor do prêmio TWAS Apex 2025. A honraria, uma das maiores do mundo, é dedicada a pesquisadores de países em desenvolvimento. No caso de Davidovich, o prêmio foi concedido por suas pesquisas na área da ciência quântica.

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.56 2Foto: FERNADO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASILA brilhante carreira do professor Luiz Davidovich, de quase 50 anos de dedicação ao ensino e à pesquisa, foi inspirada dentro de casa, no Flamengo. Sua mãe, a geógrafa Fany Rachel Davidovich, foi pioneira no Brasil nas pesquisas em Geografia Urbana. “Minha mãe trabalhava no IBGE e desenvolveu uma pesquisa pioneira. A Geografia Urbana inovou muito. Ninguém fazia aquilo. Era muito mais completa, analisava muito mais variáveis e estendeu o próprio conceito da Geografia”, lembra o professor.
“Além de minha mãe ser profundamente ligada à pesquisa, o meu pai (Paschoal Davidovich) também foi fundamental nessa minha formação. Ele era engenheiro civil, mas tinha uma vasta biblioteca de História e Filosofia. Era fantástica e eu passava horas ali”, recorda.
Quando estava na antiga sétima série do ginásio (hoje oitavo ano), o curioso Luiz se inscreveu num curso por correspondência do Instituto Monitor. O objetivo, ao final, era montar um rádio em casa. “As correntes elétricas, hidráulicas, as trocas de elétrons... tudo isso me despertou mais curiosidade na área de Física”, conta.
Quando chegou a época do vestibular, Luiz Davidovich passou para engenharia na UFRJ – o curso ainda funcionava no Largo de São Francisco de Paula, no Centro – e para Física, na PUC-Rio. “Pensei em fazer os dois cursos ao mesmo tempo. O de Física começou primeiro. Lá eu tive um professor, Pierre Henri Lucie, que tinha uma maneira tão dinâmica de ensinar, que me cativou”, lembra. “Em duas semanas fiquei decidido a seguir na Física”.
Bolsista de produtividade 1A do CNPq, Davidovich tem mais de cem artigos indexados em periódicos de alto prestígio, 21 capítulos de livros e 36 orientações de mestrado e doutorado no currículo. O docente integra as Academias Europeia, Chinesa, Brasileira e Mundial de Ciências. Foi presidente da ABC de 2016 a 2022.
A carreira recheada de prêmios, no entanto, quase não pôde ser trilhada. Davidovich formou-se como físico em 1968, ano do endurecimento da ditadura militar no Brasil. “Fui atingido pelo AI-5”, recorda. “Estava no mestrado há seis meses e fui expulso sem direito a ingressar em outra universidade no país”, revela. “Foi uma perversidade, Eu era um bom aluno, mas fui considerado pela ditadura como subversivo”. Ele conta um pouco mais dessa história em entrevista na página 7.
No Instituto de Física, sua “casa” desde 1994 como professor Titular, o docente é uma unanimidade. “Como colega de instituição, é uma alegria imensa celebrar o professor Luiz Davidovich pelo Prêmio TWAS APEX 2025. No Instituto de Física, o Luiz é mais do que um pesquisador de excelência: é um verdadeiro ‘role model’”, afirma João Torres, professor Titular do IF e pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa. “Sua obra científica fala por si, mas o que mais impressiona no cotidiano é o professor dedicado e inspirador — aquele que entra em sala, acende a curiosidade e nos lembra por que escolhemos a universidade pública como projeto de vida”, elogia o docente.
Torres destaca em Davidovich uma característica singular. “O Luiz, junto com outros professores eméritos, ajuda a sustentar um clima institucional saudável e respeitoso. É presença firme e conciliadora nas horas difíceis; alguém que media, escuta e aponta caminhos. Em tempos de pressa e polarização, isso é liderança rara”, afirma.
O pró-reitor também destaca a enorme relevância do colega para o país. “A atuação na ABC, a defesa da ciência, a capacidade de articular comunidades e pautas estratégicas, e a projeção internacional que honra a UFRJ”, resume. “O reconhecimento da TWAS não é apenas um prêmio individual — é um sinal de que o melhor da nossa universidade pode ter alcance mundial quando se combina competência, compromisso e espírito público”.
Se arranca elogios de veteranos colegas, Luiz Davidovich também inspira os professores mais jovens. Egresso da UFRJ e professor do IF desde 2011, Carlos Zarro é só elogios. “Como calouro, já sabia que ele era um expoente e o via muito acessível. Depois, fui seu aluno num curso de informação quântica, já em 2006, e me marcaram sua gentileza, profundidade e humildade”, relata o professor. “Isso me motivou muito. Ele já era um expoente mundial em sua área, mas seguia extremamente humilde e generoso”, elogia. “Depois, como seu colega, seguiu muito forte a minha percepção de sua gentileza e humildade. A grande lição que ele nos dá é que não precisa viver numa torre de marfim para ser um expoente”.

ENTREVISTA I LUIZ DAVIDOVICH, Professor Emérito da UFRJ

‘A pesquisa é para iluminar’

Jornal da AdUFRJ - Como foi viver como estudante o período da ditadura militar?
Luiz Davidovich -
Fui atingido pelo AI-5. Foi uma perversidade. Eu estava no mestrado há seis meses quando fui expulso da universidade, sem direito a me matricular em outra instituição no país. Eu era um bom aluno e fui considerado subversivo. Meus professores, vendo aquilo, entraram em contato com outros brasileiros fora do país, me recomendaram, e eu fui aceito em várias universidades.

Então o senhor
resolveu ir para os EUA?

O diretor da Física da PUC era um padre jesuíta norte-americano. Ele entrou em contato com a Embaixada dos Estados Unidos. A embaixada, que tinha apoiado o golpe, estava naquele momento contra o governo. Então, me chamaram no Consulado do Rio. Eles me deram o visto de um dia para o outro e me recomendaram a sair do Brasil naquela semana. Então, eu fui embora. Na semana seguinte, a ditadura foi me procurar na minha casa.

Perdeu
algum colega?

Sim. Eu felizmente não tive a minha trajetória interrompida, mas muitos colegas tiveram. Alguns foram torturados. Um deles faleceu na Base Aérea do Galeão. Por tudo isso, me imbuí da ideia que pode ser resumida na frase: ditadura nunca mais!

Quando o senhor
voltou para o Brasil foi
para ser professor?

Fiz o doutorado nos Estados Unidos, depois fui para a Suíça. Voltei para o Brasil em 1977 com o convite para integrar o corpo docente da PUC-Rio.

E como foi
o ingresso na UFRJ?

Fomos um grupo de mais ou menos uns 10 professores para o IF, nos anos 1990. O reitor da época era o professor Nelson Maculan. Lá formamos o grupo de física quântica e outros grupos também se estabeleceram. O diretor do instituto, na época, era o professor Fernando Souza Barros, que foi muito importante para o nosso acolhimento.

No mundo polarizado de hoje, qual o papel da ciência?
A ciência tem poder de quebrar muros, de superar fronteiras, furar as barreiras do preconceito. Nesse sentido, a cooperação internacional tem papel cada vez mais decisivo.

E hoje quais são os principais desafios para a cooperação científica internacional?
Hoje temos um grave problema: estão sendo limitados para exportação equipamentos e peças considerados sensíveis, que podem ter aplicações para fins militares, por exemplo. Isso está limitando o desenvolvimento científico. Os EUA disseram, por exemplo, que a cooperação com a física quântica só poderia ser realizada com países parceiros nesse ramo. Não há nenhum país parceiro dos EUA na América Latina. Isso significa que não poderemos importar dos EUA equipamentos e peças ligados à física quântica. Isso é um atraso de vida. As limitações atuais são muito preocupantes para a ciência.

Qual seria o caminho?
O Brasil precisa produzir sua própria tecnologia. Fazer inovação movida à proibição. Isso já aconteceu em outros momentos. Temos enriquecimento de urânio para permitir o funcionamento de nossas usinas, fruto da proibição da importação de urânio enriquecido. Temos uma excelente fábrica de fibra de carbono porque não era permitido importar esse material. A fibra tem aplicação também em mísseis. Ou seja: precisamos investir mais em ciência, tecnologia e inovação. O investimento em CT&I precisa vir acompanhado de justiça social. Temos grandes vocações em muitas áreas, são possibilidades fantásticas.

Num cenário muitas vezes de poucos recursos, o que o senhor pode dizer para quem pretende ingressar na pesquisa?
Faça contato com o seu coração, com o que você é. Seja ousado. Nunca transforme a pesquisa em algo burocrático. A pesquisa é para iluminar, para entrar em novos territórios. Não pense no que vai lhe dar mais dinheiro. Seja inovador. Trilhe caminhos que não foram percorridos por você e muitas vezes por ninguém. A emoção de descobrir coisas que ninguém mais sabe, de formar pesquisadores, de lidar com as dúvidas dos estudantes é indescritível. Dedique-se. A ciência exige esforço.

O PRÊMIO

O TWAS Apex 2025 é oferecido pela Academia Mundial de Ciências, fundada pelo Nobel de Física paquistanês Abdus Salam, em 1983. A organização é associada à Unesco e busca promover a ciência em países em desenvolvimento. Luiz Davidovich foi agraciado pelo conjunto de sua obra na área de ciência quântica. Ele será laureado no dia 2 de outubro, no encerramento da 17ª Conferência Geral da Academia Mundial de Ciências, que acontecerá no Rio de Janeiro. Além de uma medalha e certificado, o professor receberá um prêmio em dinheiro no valor de US$ 100 mil. “Fiquei muito emocionado e honrado. É um prêmio muito grande, conferido por uma instituição que prezo muito”, declara Davidovich.

WhatsApp Image 2025 09 17 at 18.59.48Foto: Fernando SouzaDepois de quarenta dias de intensa campanha eleitoral, debates e explicitação de profundas divergências sobre a vida universitária e a atuação sindical, os professores da UFRJ fizeram sua escolha. A Chapa 1, liderada pela professora Ligia Bahia (IESC), obteve 63% dos votos válidos e venceu em 15 das 22 urnas distribuídas em todos os campi. No IESC, unidade acadêmica de Ligia, o grupo obteve 100% dos votos e, mesmo com o modelo presencial, manteve o quórum da última eleição realizada de forma virtual.
“A democracia é isso, é a dignidade, é a expressão da maioria e o respeito à minoria”, celebrou a presidenta eleita. “Viva a luta dos cientistas, da gente que está comprometida com um projeto de Brasil mais igualitário e mais democrático”, festejou Ligia, durante seu discurso da vitória, em que a docente celebrou a derrota de Bolsonaro, ocorrida na véspera. “Finalmente um dia 11 de setembro que a gente tem notícia boa. 11 de setembro foi a data da morte do Allende, foi também num 11 de setembro a derrubada das Torres Gêmeas. Mas ontem, 11 de setembro, foi um dia maravilhoso para o Brasil”.
A vitória da chapa 1 expressa a consolidação de uma visão de sindicalismo hegemônica na AdUFRJ desde 2015 e que venceu as eleições pela sexta vez consecutiva. O grupo critica severamente os métodos políticos do Andes, as greves longas e esvaziadas do passado na UFRJ, e defende uma AdUFRJ conectada com os grandes debates nacionais e parcerias com sociedades científicas.
A Chapa 1 obteve 738 votos contra 430 (37%) destinados à Chapa 2, cuja candidata à presidência era a professora Renata Flores (CAp). Ao todo, compareceram às urnas 1.177 professores. Houve, ainda, 6 votos brancos e 3 nulos.
Apesar da redução do quórum – provocada pela obrigatoriedade do voto presencial – a proporção de votos entre os dois grupos se manteve dentro da histórica faixa 60%x40%, com ampliação para a situação.

VOTO EM PAPEL NUNCA MAIS
O anúncio da vitória da Chapa 1 ficou a cargo do presidente da Comissão Eleitoral, professor Luiz Eurico Nasciutti, decano do CCS. “Chegamos ao final da apuração e a Chapa 1 foi eleita pela maioria dos professores da UFRJ, que se comprometeram e compareceram aos locais de votação”, disse.
O professor agradeceu o engajamento dos docentes e ao enorme número de mesários necessários à realização do processo eleitoral. “A participação de todos foi fundamental para que tivéssemos sucesso na condução dessa eleição presencial”.
Para a professora Ligia Bahia, o voto em papel é um retrocesso que não deverá se repetir. “Esse processo de voto em urna, em dois dias, é uma coisa para que nunca mais aconteça. Porque ele impede a participação dos aposentados, impede a participação do professor que está viajando, que está na tese, que está de licença”, elencou.
O voto presencial foi uma imposição do Andes, que vetou eleições remotas para as diretorias nacional e das seções sindicais desde o congresso de janeiro deste ano. A última eleição presencial na AdUFRJ havia sido realizada em 2019. Naquele ano, 1.239 docentes foram às urnas e elegeram a chapa da professora Eleonora Ziller com 60,6% dos votos válidos.

MOMENTO HISTÓRICO
A apuração foi acompanhada por ex-presidentes da AdUFRJ, como o professor João Torres (2021-2023) e a professora Cristina Miranda (2007-2009), além do reitor Roberto Medronho e da coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura e ex-diretora da AdUFRJ, professora Christine Ruta.
Após o anúncio da chapa vitoriosa, a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, aproveitou a ocasião para reafirmar o momento histórico vivido pelo Brasil, com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de militares de alta patente pela tentativa de golpe. “O Brasil ontem encontrou a sua história e disse: ‘Nunca mais. Nunca mais intervenções externas vão vigorar contra a vontade da maior parte da população’”, destacou.
A eleição na AdUFRJ, segundo a cientista política, teve sentido similar à resposta que o país deu ao extremismo. “O Brasil mostrou ao mundo como enfrentar o radicalismo”, analisou Mayra. “O radicalismo se combate com o funcionamento das instituições, com o jogo democrático, com a mobilização popular”, afirmou. “Eu acho que o que vimos aqui na UFRJ nesses dois dias foi exatamente isso: pessoas com vontade de votar, de participar, expressando suas preferências e fazendo valer a posição da maioria”, avaliou a docente.

MANDATO DE DOIS ANOS
A nova diretoria assume no dia 15 de outubro, em cerimônia no Fórum de Ciência e Cultura. O mandato vai até 2027. Compõem a diretoria eleita:

WhatsApp Image 2025 09 17 at 18.59.49 1Foto: Fernando Souza

 

 

 

 

 

 



Ligia Bahia (IESC)
presidenta

Maria Tereza Leopardi (IE)
1ª vice-presidenta

Michel Gherman (IFCS)
2º vice-presidente

Pedro Lagerblad (IBqM)
1º secretário

Andrea Parente
2ª secretária

Daniel Conceição
1º tesoureiro

Luisa Ketzer
2ª tesoureira

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55 5Fotos: Fernando Souza (de Tatiana) e Fernando Frazão/Agência Brasil (de Davidovich)A Semana de Integração Acadêmica transformou a UFRJ numa espécie de primavera da ciência. Desde segunda-feira, salas e corredores estão lotados de estudantes apresentando projetos e pesquisas. É a maior SIAC dos últimos anos, com 6.615 trabalhos das mais variadas áreas do conhecimento. Participam 3.374 professores e 10.616 alunos.
Na cerimônia de abertura, a plateia se espremeu, sentou no chão e enfrentou o calor para assistir à conferência da professora Tatiana Sampaio sobre regeneração medular. Docente do Instituto de Ciências Biomédicas, Tatiana ocupou a mídia nas últimas semanas com a excelente notícia de que, após 25 anos de dedicação, seu estudo está ajudando pacientes paraplégicos a voltar a caminhar.
Também encheu de orgulho e esperança a boa nova de que o professor Luiz Davidovich, emérito do Instituto de Física, ganhou o prêmio TWAS, um dos mais importantes do mundo. “A pesquisa é para iluminar, para entrar em novos territórios. Nunca transforme a pesquisa em algo burocrático”, aconselhou o professor em entrevista ao Jornal da AdUFRJ. “Não pense no que vai lhe dar mais dinheiro. Seja inovador. Trilhe caminhos que não foram percorridos por você e muitas vezes por ninguém. A emoção de descobrir coisas que ninguém mais sabe, de formar pesquisadores, de lidar com as dúvidas dos estudantes é indescritível. Dedique-se. A ciência exige esforço”.

WhatsApp Image 2025 09 17 at 18.59.49 2Finalmente um dia 11 de setembro que a gente tem notícia boa. 11 de setembro foi a data da morte do Allende, foi também num 11 de setembro a derrubada das Torres Gêmeas. Mas ontem, 11 de setembro, foi um dia maravilhoso para o Brasil, extremamente maravilhoso, um fato histórico, inédito, e que nós precisamos comemorar (A condenação do ex-presidente Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal). Então, meu primeiro convite é que a gente saia daqui, todo mundo junto, e vá para a Cinelândia levando a bandeira da AdUFRJ. Se a gente puder fazer isso acho que é um passo de gigante. Vamos comemorar juntos.
Em segundo lugar, gostaria de demarcar que democracia é isso, democracia tem maioria e tem minoria. Entretanto, maiorias e minorias não querem dizer que um tem que eliminar o outro. Tivemos nessa campanha duas mulheres candidatas, e foi uma campanha muito legal, muito digna, acho que avançou o debate.
As nossas diferenças ficaram claras. Nós queremos que todos os professores e professoras dessa universidade participem. Esse processo de voto em urna, em dois dias, ele é uma coisa para que nunca mais aconteça. Porque ele impede a participação dos aposentados, impede a participação do professor que está viajando, ou que está na tese, que está de licença, ou que está doente, ou que teve burnout. Essa foi uma diferença importante na nossa campanha. A democracia é isso, é a dignidade, é a expressão da maioria e o respeito à minoria.
Eu queria agradecer à Renata (Flores), acho que ela fez uma campanha bonita, muito sincera, muito digna. É muito legal a Renata estar aqui nesse momento junto com a gente. Vamos seguir juntos, todos nós somos professores e professoras dessa universidade. É esse mundo que nós estamos construindo juntos, não é outro. Se esse mundo causa mal-estar, se esse mundo gera aflição, se gera desconforto, esse mundo nós estamos construindo. E nós então podemos construir um outro mundo. Um outro mundo que seja muito mais legal do que esse, inclusive hoje nessa universidade que, de fato, tem vários problemas.
Acho que vamos ter um sindicato muito bom, a nossa chapa é uma chapa de garra, aguerrida, de luta. Uma chapa que tem gente nova, que tem gente velha, é uma mistura que eu considero muito feliz. E, sobretudo, a gente teve bom humor, estava todo mundo aqui sorrindo e apurando os votos. É o humor que derruba o fascismo. Não tem outra possibilidade. Ou a gente vai ser bem-humorada, a gente vai se abraçar, a gente vai se lamber, a gente vai ficar muito perto, ou não tem outra possibilidade. Os afetos tristes nos levam a caminhos sombrios dos quais nós estamos querendo nos afastar.
Queria saudar a presença de ex-presidentes da AdUFRJ que estão aqui. O João (Torres), a Cris (Cristina Miranda), e sobretudo a Mayra (Goulart), professora jovem que vai encerrar o seu mandato em breve. Queria saudar a presença do reitor da UFRJ, isso é muito importante pra gente. Uma coisa é o sindicato, outra coisa é a reitoria. Entretanto, nós somos da mesma universidade, nós estamos construindo essa universidade, nós não estamos do outro lado. Nós somos outra instituição, uma instituição com autonomia, com seu programa, mas nós somos da mesma universidade.
Quero fazer uma saudação especial ao professor Michel Gherman, que não está aqui neste momento, mas que está batalhando por recursos para sua pesquisa, o que para ele é essencial. Vocês sabem que o Michel é o epígono de uma luta pela causa Palestina, isso é muito importante.
Por fim, queria fazer uma saudação ao professor Luiz Davidovich, um professor da Física que foi perseguido pela ditadura militar. Ele teve que sair do Brasil, teve sua carreira extremamente prejudicada. E ele acaba de receber um prêmio muito importante, de reconhecimento internacional – TWAS APEX 2025, uma das premiações internacionais mais prestigiadas na área científica. O prêmio é concedido pela Academia Mundial de Ciências (TWAS), instituição vinculada à Unesco. Então, viva Luiz Davidovich, viva a luta dos cientistas, viva a luta da Ciência, viva a luta de gente que está batalhando o tempo todo, gente que está comprometida com um projeto de Brasil mais igualitário e mais democrático!

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