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O processo eleitoral do Andes mal começou e já acumula polêmicas. Das quatro chapas que se inscreveram para disputar as eleições de maio, só três foram homologadas pela Comissão Eleitoral Central (CEC). A Chapa 4 (Oposição para Renovar o Andes), formada majoritariamente por professores independentes, não vinculados a partidos políticos, está fora do processo. A inscrição final da chapa não foi aprovada pela CEC. O resultado foi divulgado no último dia 10.
Segundo a ata da CEC, apenas a professora Rosângela Reis, única representante da Chapa 4, votou pela aprovação do grupo. Outros oito integrantes da comissão foram contrários. Dentre as razões para o veto, a comissão eleitoral elencou questões burocráticas relacionadas a erros de preenchimento de algumas fichas de inscrição de candidatos; inscrições realizadas com atraso de 12 e de 15 minutos; documentação incompleta; falta de designação para um dos cargos; e inscrição duplicada para outro cargo.
Impedida de participar do pleito, a Chapa 4 emitiu um documento em que critica os vícios na conduta da comissão eleitoral e da direção do Andes. A CEC tem maioria ligada à diretoria nacional.
O grupo também contesta o prazo de encerramento da inscrição, que não levava em consideração as diferenças de fusos horários do Brasil — a nominata completa contava com 83 nomes de todas as regiões e estados do país.
Um dos docentes prejudicados é da UFRJ. Daniel Negreiros Conceição é professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur). Ele era candidato da Chapa 4 a 2º Tesoureiro do escritório Regional Rio. “Nossa motivação sempre foi ampliar a participação no sindicato. Eu mesmo tinha dificuldades de acompanhar assembleias porque a gente não conseguia construir uma conversa propositiva. No sindicato nacional este sintoma é mais aprofundado”, avalia.
O professor diz que os componentes da chapa não são familiarizados à burocracia sindical, motivo das dificuldades no preenchimento dos documentos, mas atesta que não houve má-fé. “Eram questões que poderiam ser resolvidas facilmente, que não comprometiam a lisura do pleito”, afirma. “Infelizmente, houve falta de generosidade no processo de inscrição. Consideramos o último fuso horário do Acre para garantir que todos pudessem ter tempo hábil para reunir a documentação necessária”, defende-se.
O docente também acusa a CEC de não ter garantido isonomia entre as candidaturas. “Algumas chapas receberam informações sobre erros de documentação e puderam consertar. Nós não tivemos essa possibilidade. Não foi só falta de isonomia. Foi falta de solidariedade mesmo”, lamenta. “Parece que eles focaram imediatamente naquilo que nos desfavorecia, ao invés de ter uma postura colaborativa”, critica.
Assim que se inscreveu no 43º Congresso do Andes — realizado no final de janeiro, em Vitória — a chapa obteve apoio de 800 professores de vários estados brasileiros. “Essas pessoas que assinaram nosso manifesto não se sentirão representadas no processo eleitoral”, afirma. “Fica um gosto amargo na boca. Parece que é uma resposta à nossa chapa, de que não pertencemos a este espaço e que devemos continuar de fora dele”.
O sentimento do professor Daniel é compartilhado pela professora Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ. Ela foi candidata do triunvirato pela oposição Renova Andes, em 2023. “Já naquele processo ficou muito evidente a lógica adotada. A diretoria compõe a máquina e tem a maioria na CEC”, afirma. “Esperávamos que três chapas de oposição gerassem um cenário diferente”, diz. “Infelizmente, os membros da comissão não tiveram uma posição solidária”.
Ela critica a falta de um secretariado na comissão eleitoral que pudesse auxiliar as chapas na fase final da inscrição. “Ninguém na chapa é profissional de movimento sindical”, diz. “O procedimento é feito para dificultar a participação. Quem não tem muita experiência acaba excluído. Só fica na disputa quem conhece a máquina há muito tempo”.
O processo eleitoral, na avaliação de Eleonora, fica prejudicado. “A Chapa 4 era a única que afirmava a unidade para o fortalecimento do Andes. As três chapas aceitas têm discursos de exclusão. O sentimento é de abandono”.
OUTRO LADO
Presidente da CEC, o professor Gustavo Seferian, que também preside o Andes, rebate as acusações. “Houve estrita isonomia entre as chapas. A Chapa 4 foi a que mais nos demandou o esforço de solucionar impasses e buscar junto às seções sindicais as confirmações de filiação”, diz. “Infelizmente, não foi suficiente, pois houve quase duas dezenas de situações que infringiam o Regimento Eleitoral”, afirma. “Não há arbítrio e nem situação excepcional. Ritos, normas e preceitos devem se aplicar a todos. São regras acordadas e concordadas. Não houve um desrespeito pontual. Tratar isso como excepcional, aí sim, é ferir a democracia sindical”.
ATUALIZAÇÃO
O grupo que compõe a Chapa 4 conseguiu uma liminar da Justiça, na noite de 14 de março, que garante a participação no processo eleitoral. A tutela de urgência determina o registro da chapa em igualdade de condições às demais. Ainda cabe recurso.
CHAPAS HOMOLOGADAS
Chapa 1 - Andes pela base: diversidade e lutas
Chapa 2 - Renova Andes
Chapa 3 - Andes, classista e de luta
A partir de segunda-feira (17), corredores e campi da maior universidade federal do país voltarão a se encher de rostos, vozes e sonhos. O início do ano letivo de 2025 se traduz no retorno de cerca de 70 mil alunos de graduação e de pós-graduação e nos esforços para superar o obstáculo orçamentário e acolher a comunidade acadêmica.
Neste ano, a UFRJ terá à sua disposição um orçamento de R$ 423 milhões. O valor ainda não foi totalmente liberado pela falta de aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA). O atraso gerou um gargalo: a universidade sobrevive com apenas 1/12 do orçamento total, que equivalem a R$ 28,1 milhões por mês.
O desafio é grande, mas não impede importantes realizações. Uma delas, a revitalização dos campi. “É nosso cartão de visitas, a primeira impressão de quem chega e o acolhimento a quem retorna”, resume o prefeito universitário Marcos Maldonado.
Outra iniciativa é café da manhã nos bandejões. A refeição contará com uma bebida, pão e fruta ao custo de R$ 2 para os alunos. “Nosso orçamento não cabe na UFRJ, mas eu assumi o compromisso político de realizar essa promessa de campanha”, afirmou o reitor Roberto Medronho. “Não é justo termos estudantes que assistem aulas com fome ao longo da manhã”.
Outras áreas da universidade, no entanto, sofrem. No Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), dois vazamentos aguardam recursos do orçamento participativo. Também falta dinheiro para retirar uma colmeia que se instalou no corredor do Bloco F. “A questão das abelhas precisa ser solucionada até o início das aulas. Não posso expor nossos estudantes a esse risco”, afirma o decano do CCMN, professor Cabral Lima.
Em Macaé, outro problema. O Bloco B do Centro Multidisciplinar está sem climatização desde dezembro. Um defeito em um transformador impede o uso de aparelhos de ar condicionado nas salas e laboratórios. “No calor que está, é impossível manter a proposta de trabalho docente e de ensino-aprendizagem dos alunos”, reclama a professora Gizele Martins.
A solução provisória está próxima. É o que garante o decano do CM, o professor Irnak Barbosa. Segundo ele, haverá climatização até 31 de março. “Acabamos de conseguir uma empresa que alugará um transformador pelos próximos três meses, até a compra do equipamento definitivo”, informa. O custo do aluguel é de R$ 5 mil mensais. Já um novo transformador custará cerca de R$ 60 mil.
Às vésperas da volta às aulas, um susto na Praia Vermelha. A tempestade que atingiu a Zona Sul no dia 12 causou o alagamento de uma ala do Palácio Universitário e derrubou uma árvore na Casa da Ciência. O Iphan chegou a inspecionar o Palácio no dia 13. “Não houve nenhuma interdição, os locais já estão secos e não houve prejuízos”, atesta o diretor do Instituto de Economia, professor Carlos Frederico Leão Rocha.
Uma obra na direção do IE, no entanto, foi embargada. “Seria finalizada na sexta. Não comunicamos ao Iphan porque era apenas uma troca de divisórias. Mas a fiscalização compreendeu que é uma intervenção”, explica o diretor. “Agora, vamos esperar o ok do Iphan”.
Os desafios são muitos, mas não apagam a alegria de ver a universidade cheia. “Desejamos que os estudantes vivenciem a nossa universidade na sua plenitude, que ampliem horizontes, adquiram conhecimentos e vivam experiências que marcarão suas vidas”, deseja a pró-reitora de graduação, Maria Fernanda Quintela. “Nossa equipe está feliz por recebê-los. Será uma etapa de muito sucesso e aprendizados, onde compartilharemos muitos ideais”, completa a vice-reitora Cássia Turci.
A partir de março, os servidores da UFRJ poderão contar com a realização de exames periódicos de saúde. A iniciativa da Pró-reitoria de Pessoal (PR-4) busca identificar possíveis causas de adoecimento de técnicos e professores. Com os dados que serão gerados pelos resultados dos exames, será possível criar políticas focadas na melhoria das condições de trabalho de acordo com as especificidades de cada unidade. A única vez que a UFRJ implantou exames periódicos para os servidores foi em 1994. A iniciativa foi descontinuada no ano seguinte.
Os exames serão gratuitos para os mais de 12 mil servidores da UFRJ e custarão à universidade em torno de R$ 3 milhões anuais. Os recursos são de uma rubrica específica da União voltada à saúde dos servidores. A Caixa de Assistência do Rio de Janeiro (Caurj) é a instituição conveniada que realizará os exames em parceria com redes de laboratórios privados. O convênio foi assinado na segunda-feira, dia 24, pelo reitor Roberto Medronho.
A PR-4 vai montar um cronograma de realização dos exames por unidades. A convocação será realizada por unidade acadêmica e já começará em março, pelos servidores do Hospital Escola São Francisco de Assis (Hesfa). “Queremos que esse projeto seja perene, institucionalizado, pois os nossos servidores são um dos grandes bens da universidade”, afirma a pró-reitora de Pessoal, Neuza Luzia Pinto.
Estão previstos exames de sangue, fezes, urina, preventivo, além de exames de imagem, a depender da idade do servidor e do tipo de trabalho realizado. Os exames serão bianuais para servidores de 18 a 45 anos; anuais para servidores acima de 45 anos; e semestrais, em caso de trabalho com radiação. Não é obrigatória a adesão aos exames periódicos, mas quem recusar deverá apresentar justificativa por escrito.
Clínica do Trabalhador
Também neste ano, a PR-4 vai inaugurar a Clínica do Trabalhador, voltada a técnicos e professores que precisem de atendimentos emergenciais. Ela funcionará na BioRio para onde a Coordenação de Políticas de Saúde do Trabalhador (CPST) também será transferida. As novas instalações devem ser inauguradas em novembro. A reforma tem o custo estimado de R$ 2,2 milhões. Os recursos foram captados via emenda parlamentar e serão geridos pela Fundação Universitária José Bonifácio.
A clínica funcionará como laboratório, que reunirá informações de saúde e segurança do trabalhador para possibilitar pesquisas e desenvolvimento de projetos. Também servirá como ambiente de formação. “A ideia é que a gente faça convênios com unidades acadêmicas para os estágios obrigatórios de estudantes da área da saúde”, explica a pró-reitora. “Nosso projeto busca congregar ações de ensino, pesquisa e extensão, com laboratórios de especialidades médicas”, garante.
Na última quarta-feira, 26, foi inaugurado o Laboratório Integrado de Ecologia de Ecossistemas Terrestres (LIEETE), vinculado ao Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade - NUPEM. Um dos coordenadores do laboratório é o professor Rodrigo Lemes. “É muito importante a conquista deste espaço para que a gente continue fazendo pesquisa e inovação de excelência e formando novos profissionais”, diz. “Depois de tanta luta, é muito gratificante, e até um alívio, poder ter um espaço que centralize nossas pesquisas e facilite a interação com os pares”, avalia.
O docente explica que o laboratório é fruto de uma demanda reprimida. “Não foi criado de ‘cima para baixo’. Ele já começa com quase 40 estudantes, que vinham realizando pesquisas sobre ecossistemas terrestres de forma descentralizada, usando equipamentos pouco adequados, espalhados pela universidade”, revela. “O laboratório é fruto, principalmente, das pesquisas de impacto que realizamos e da competência dos nossos alunos, determinante para a qualidade do nosso trabalho”, elogia.
A professora Maria Fernanda Quintela, pró-reitora de Graduação, participou da cerimônia de inauguração do espaço. Ao Jornal da AdUFRJ, ela avaliou que a criação do LIEETE é importante para própria consolidação do NUPEM. “Contribui com os estudos do ecossistema amazônico, de ecossistemas terrestres de modo geral e litorâneos, com destaque para a Mata Atlântica”, revela. “Certamente, o laboratório vai ampliar a área de atuação do NUPEM e contribuir para o nosso projeto de interiorização da UFRJ, algo muito importante e caro para nós”.
Acordo com a Vale
O laboratório foi construído numa área onde funcionava um antigo estacionamento de ônibus, subutilizado, no próprio NUPEM. As obras foram realizadas com recursos da empresa Vale. Foram investidos cerca de R$ 200 mil. “Já tínhamos os equipamentos adquiridos por este e outros acordos de cooperação e projetos, mas que estavam parados ou ocupando áreas de outros laboratórios”, explica o professor Rodrigo Lemes.
O acordo de cooperação técnica entre a UFRJ e a Vale busca realizar pesquisas na Floresta Nacional de Carajás. A unidade de conservação foi criada pela empresa como modelo que permite o uso de seus recursos, ao mesmo tempo que mantém a conservação da biodiversidade. No entanto, para que a Vale possa avançar a mineração de ferro para áreas já indicadas no projeto original, são necessárias novas licenças. É aí que entra o trabalho dos pesquisadores do LIEETE.
Cabe aos pesquisadores atestarem que não haverá impacto significativo ou comprovar que a mineração não pode acontecer. “Fomos indicados pelo órgão ambiental para fazer esses estudos por conta da nossa idoneidade. Decidimos aceitar o desafio”, explica Lemes. “Se não fizermos essas pesquisas, o projeto pode cair em mãos de pessoas que talvez não sejam honestas. Nós somos a ponta do conhecimento e precisamos assumir responsabilidades como instituição pública”, defende.
Professores e estudantes reclamaram do calor em diferentes instalações da UFRJ nas últimas semanas, durante o Conselho Universitário desta quinta-feira (27). Representante dos Associados do Centro de Ciências da Saúde, a professora Izabel Calland destacou a falta de climatização adequada no Hospital Clementino Fraga Filho por onde circulam aproximadamente 600 estudantes do curso de Medicina – o problema foi noticiado na edição anterior do Jornal da AdUFRJ. “Muitos alunos e docentes têm passado mal”, afirmou.
Já o professor Joaquim Martins, representante dos ex-alunos no colegiado, falou sobre as condições insalubres da Escola de Comunicação. “A maioria das salas não têm ar-condicionado. Há poucos ventiladores e a maioria não está funcionando”, disse. O docente teme que a situação piore com a retomada das aulas para a maioria dos cursos, em meados de março.
Representante estudantil, Maria Luiza Selonk citou, entre vários casos de falta de climatização, um do Centro Multidisciplinar de Macaé. “O transformador que abastece o bloco B quebrou e os alunos precisaram ser realocados”, informou. “Não dá para continuar estudando desta forma”, completou.
Com todas as limitações orçamentárias, o reitor Roberto Medronho informou que a administração central trabalha intensamente para minimizar o impacto das altas temperaturas nas dependências da universidade. “O clima é hoje um problema grave de saúde pública. Tanto é que vamos fazer um GT (Grupo de Trabalho) para estabelecer protocolos relacionados a eventos como este. O que fazermos quando tivermos uma sensação térmica de 50 e tantos graus? Que procedimentos devemos adotar?”, disse.
Em relação ao hospital, o reitor repassou esclarecimentos da superintendência geral da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares — que administra a unidade desde o ano passado — com o compromisso de melhoria das condições até 17 de março, data de início do semestre letivo para todos os cursos. O dirigente informou ainda que já foi liberada a verba para conserto do transformador de Macaé.
UFRJ TERÁ CENTRO BRASIL-RÚSSIA
O superintendente de Relações Internacionais da UFRJ, professor Papa Matar, apresentou ao Consuni desta quinta-feira um relatório da última missão acadêmico-científica da reitoria à Rússia. Na viagem a Moscou, realizada entre os dias 23 e 28, a administração central assinou cinco acordos de cooperação acadêmica com instituições russas e chinesas. Foi negociada também a instalação de um Centro Brasil-Rússia na UFRJ.
O reitor Roberto Medronho esclareceu que esta e outras viagens estão alinhadas com a política do governo federal de ampliar a interação dentro do BRICS — bloco formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, hoje ampliado com outros países, como Egito e Emirados Árabes Unidos. “Nossa ideia é contribuir para um mundo multipolar. O Brasil não quer acordos de dominação, mas de cooperação”, disse.