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“Um dia, quando for seguro, quando não houver mais medo de retaliação pessoal por chamar as coisas pelo o que são, quando for tarde demais para tornar alguém responsável, todo mundo sempre vai ter sido contra isso”.
O trecho do novo livro do escritor e jornalista egípcio Omar El Akkad foi lido por Marcos Feres, secretário de Comunicação da Federação Árabe Palestina do Brasil, na noite de terça-feira (10), em debate realizado pelo Cine Cidadania, no Estação Net Botafogo. O evento organizado pela Universidade da Cidadania (UC) discutiu o documentário “Aqui e acolá”, de Anne-Marie Miéville e Jean-Luc Godard.
“Estamos no dia 613 do holocausto palestino. São mais de 66 mil palestinos exterminados, 22 mil crianças e 12 mil mulheres mortas pelas bombas e pela fome”, revelou Marcos. “É uma depravação genocida o que assistimos na Palestina”.
O massacre promovido por Israel na Faixa de Gaza foi o tema escolhido para a quarta edição do projeto. “A questão da Palestina se impôs para a gente como uma questão cívica de cidadania global”, disse a professora Eleonora Ziller, diretora da UC. “A exibição do filme representa uma tomada de posição institucional da nossa universidade”, completou.
A professora Christine Ruta, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, ao qual a UC está ligada, leu a moção pelo fim da violência em Gaza aprovada pelo Consuni no dia 22 de maio. O texto pede o fim da guerra e a permissão da entrada de ajuda humanitária no território.
“Me sinto honrada por pertencer a uma universidade que se pronuncia diante de um genocídio”, celebrou a professora Beatriz Bissio, do IFCS. A docente deu uma aula sobre a questão palestina explicando as origens do confronto. “O conflito é político, e não religioso. Tudo é consequência do colonialismo britânico e do imperialismo americano. Por séculos, cristãos, judeus e muçulmanos conviveram pacificamente na região”.
O cineasta Adilson Mendes leu o trecho do poema “Identidade” do poeta palestino Mahmoud Darwish, que constava no roteiro concebido por Godard e pelas lideranças palestinas que contrataram os diretores. “Escreve que sou árabe. Que você arrasou as vinhas do meu pai e a terra que eu cultivava. E meus filhos. Você nos tirou tudo, menos para a sobrevivência dos meus netos, os nossos rochedos. Mas seu governo vai roubá-los também”.
O público participou ativamente do debate. Prestes a completar 50 anos de docência na UFRJ, o professor João Baptista Vargens, da Setor de Estudos Árabes da Faculdade de Letras, se emocionou ao recordar dos primeiros passos no estudo da língua árabe. “Fui da primeira turma graduada em árabe na UFRJ. Eu era 50% da turma. O principal motivo de ter ingressado no curso foi a causa palestina”, lembrou.
O professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, também esteve na plateia e levantou uma questão. “A criação do estado de Israel, em si, foi uma solução racista” defendeu. “E a atitude racista está na base de todos os grandes problemas que levam ao extremismo da extrema-direita. Temos que perceber os projetos racistas que existem em toda parte”.
Foto: Ana Maria Coutinho/SGCOM-UFRJCasos graves de racismo no Colégio de Aplicação foram denunciados ao Conselho Universitário na manhã do dia 12. Representante do corpo docente da escola, a professora Maria Coelho leu um documento com a descrição dos ataques de alunos e do responsável de um deles aos servidores da unidade.
“No dia 02/06, os estudantes citados receberam suspensão por conduta desrespeitosa e por se referirem pejorativamente ao cabelo de um professor do setor curricular de Música. Ressaltamos que o professor é negro e que tratar cabelos crespos de maneira jocosa é uma das práticas mais comuns de racismo recreativo.”, diz um trecho. “Após a aplicação da suspensão, os estudantes tentaram intimidar verbalmente o professor citado, servidoras da Direção Adjunta de Ensino, do Registro Acadêmico, da Enfermaria e do Gabinete da Direção, incluindo a Diretora Geral”.
Os responsáveis pelos estudantes foram convocados para uma reunião na escola no dia 6 e a situação piorou. “No atendimento a um desses responsáveis, as diretoras gerais Cassandra Pontes e Marina Campos, além da Diretora Adjunta de Ensino Céli Palácios, foram novamente interpeladas com tentativas de desqualificação do seu trabalho e da sua competência pedagógica”. A polícia foi chamada e o caso foi denunciado na delegacia.
A carta é encerrada com uma demanda por apoio institucional e jurídico da reitoria.
O reitor Roberto Medronho afirmou que a administração central está ciente dos “gravissimos” episódios. Uma nota foi divulgada no site da universidade. “Nós daremos todo o apoio aos profissionais do CAp”, afirmou. “Atos como estes são absolutamente intoleráveis dentro de uma universidade que se propõe a ser antirracista”.
Ao final da sessão, após várias manifestações em solidariedade aos servidores do CAp, o Consuni aprovou uma moção de repúdio às ações racistas.
A diretoria da AdUFRJ também repudia as situações de racismo, se solidariza com os atingidos e vai acompanhar os desdobramentos.
O texto, aberto a assinaturas de apoio em https://forms.gle/ihM5xhWGaKZ2eHno7, pode ser lido abaixo, na íntegra.
CARTA DE COMITÊ DO COLÉGIO REPUDIA AGRESSÃO CONTRA DOCENTE NEGRO
O Comitê Permanente da Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER), do Colégio de Aplicação (CAp) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tomou conhecimento na última sexta-feira (06/06) de casos extremamente graves envolvendo estudantes e o responsável de um desses estudantes na última semana. Tratam-se de situações de racismo, de conduta misógina intimidatória e de desacato a servidores públicos em exercício da profissão, incluindo diretoras da escola, que culminaram em denúncia feita pela diretora geral do Colégio de Aplicação, Cassandra Pontes, na polícia federal. Desde já, nos solidarizamos com o professor de Música, com as servidoras da Direção Adjunta de Ensino, da Enfermaria, do Registro Acadêmico e do Gabinete da Direção intimidadas nessas situações, com a Direção Adjunta de Ensino e com a Direção Geral.
No dia 02/06, os estudantes citados receberam suspensão por conduta desrespeitosa e por se referirem pejorativamente ao cabelo de um professor do setor curricular de Música. Ressaltamos que o professor é negro e que tratar cabelos crespos de maneira jocosa é uma das práticas mais comuns de racismo recreativo. É importante destacar que o tema é de conhecimento dos estudantes, seja pelas diversas ações pedagógicas do ERER e do corpo docente das séries junto às turmas, seja porque já houve atendimentos individuais com estes estudantes sobre racismo ao longo de suas trajetórias escolares. Após a aplicação da suspensão, os estudantes tentaram intimidar verbalmente o professor citado, servidoras da Direção Adjunta de Ensino, do Registro Acadêmico, da Enfermaria e do Gabinete da Direção, incluindo a Diretora Geral. Dada a gravidade da situação, que se soma a um histórico de atos graves cometidos pelos mesmos estudantes, seus responsáveis foram convocados à escola no dia 06/06. No atendimento a um desses responsáveis, as diretoras gerais Cassandra Pontes e Marina Campos, além da Diretora Adjunta de Ensino Céli Palácios, foram novamente interpeladas com tentativas de desqualificação do seu trabalho e da sua competência pedagógica, com gestos de dedo em riste, tom de voz elevado e com ofensas pessoais. Diante da situação flagrante de desacato, as diretoras chamaram a polícia à escola e, posteriormente, prosseguiram com a denúncia contra o responsável em delegacia.
Lamentamos profundamente que a escola seja palco de tamanha violência, direcionada especialmente contra mulheres e pessoas negras. Tal conduta vai na contramão de nossos valores institucionais, do projeto de escola democrática e antirracista que construímos e da dignidade ção, é uma vitória da escola, da universidade e da sociedade que queremos. O combate ao racismo, à misoginia e a outras práticas discriminatórias é nosso compromisso e demanda que sigamos avançando com políticas de valorização das contribuições africanas, afro-brasileiras e indígenas na educação, com a efetividade da reserva de vagas nos concursos para pessoas negras na universidade e com ações de acolhimento a servidoras e servidores em situação de violência de raça, gênero e outras.
Rio de Janeiro,
9 de junho de 2025.
Jorge Marçal
e Monique Riscado
Coordenação do
ERER CAp UFRJ
O Conselho de Representantes realizado nesta sexta-feira apreciou mudanças no regimento eleitoral da AdUFRJ para a retomada da votação presencial. A medida atende às exigências do Andes, que proibiu o sistema remoto — a AdUFRJ havia adotado a eleição virtual em 2023. “Todas as alterações foram no sentido de retornar ao regimento que a gente tinha em 2015”, esclareceu a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart.
A Assembleia Geral de segunda-feira (9) irá homologar as alterações, que já entram em vigor nas eleições de setembro. A reunião está marcada para a sala E-212, da Escola de Química, no Bloco E do Centro de Tecnologia (Fundão).
Foto: Kelvin MeloO Conselho Universitário apreciou uma variada pauta no dia 12: homenagens, relatório da viagem do reitor à China, mudança de regime de trabalho e a revisão das regras internas de desenvolvimento na carreira docente mobilizaram os representantes da comunidade acadêmica. Confira a seguir.
SEBASTIÃO SALGADO HOMENAGEADO
Por aclamação, o Consuni aprovou a concessão do título de Doutor Honoris Causa in memoriam para o fotógrafo Sebastião Salgado, recém-falecido. Coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, a professora Christine Ruta defendeu a homenagem. "Conceder o título de Doutor Honoris Causa para Sebastião Salgado, mesmo de forma póstuma, é um gesto profundamente simbólico e necessário. Trata-se do reconhecimento de sua imensa contribuição à arte, à cultura, à reflexão crítica sobre este mundo e ao seu compromisso com a transformação social".
EMERÊNCIA PARA LUCIA PREVIATO
Também por aclamação, o colegiado concedeu o título de Emérita para a professora Lucia Mendonça Previato, do Instituto de Biofísica (IBCCF). A docente ingressou na carreira pelo Instituto de Microbiologia, em 1975, como Auxiliar e chegou a Titular em 1992. Em 2001 transferiu-se para o IBCCF, onde chefiou o Laboratório de Glicobiologia até a aposentadoria. É membro Titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1996 e membro Titular da Academia Mundial de Ciências – TWAS desde 2008.
Substituta da pró-reitora de Graduação, a professora Georgia Atella comemorou a concessão do título. "A professora Lucia Previato é um exemplo na sua área, não só pelos feitos científicos, mas porque foi uma inspiração para muitas meninas. Quando conhecia a professora Lucia, no início da minha carreira, ela era um exemplo de força feminina na Ciência, em uma área dominada por homens", disse.
VIAGEM RENDE ACORDOS
Superintendente Geral de Relações Internacionais da UFRJ, o professor Papa Matar apresentou ao Consuni um relatório dos acordos acadêmicos firmados pelo reitor Roberto Medronho na viagem à China, entre 10 e 24 de maio. Por meio de um deles, a Universidade de Beihang poderá receber de 100 e 200 estudantes brasileiros, por ano, com despesas pagas pelos anfitriões. Também ficou definida a instalação de um centro de inovação na UFRJ, em colaboração com outras universidades brasileiras. Já com a China University of Petroleum — “braço” acadêmico da maior empresa de petróleo local — ficou acordada a instalação na UFRJ de um instituto de formação de engenheiros de alta performance. Fruto de outro acordo, será instalada aqui no Rio uma base do Instituto Confúcio, criado pela China para promover o ensino da língua e cultura daquele país.
ADEUS A LEONARDO VALENTE
O Consuni do dia 12 aprovou moção de pesar pelo falecimento do professor Leonardo Valente Monteiro, Associado do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID), do qual foi o primeiro diretor. O docente tinha apenas 50 anos. "Neste momento de luto pela precoce partida de um querido e dedicado professor, a UFRJ, seu Conselho Universitário e o CCJE se solidarizam com seus familiares, amigos e com o corpo social do IRID", diz trecho da moção.
O site da universidade destacou sua atuação como pesquisador, que "abrangeu temas centrais das Relações Internacionais, como geopolítica, política externa do Brasil e da América do Sul, relações Sul-Sul e diplomacia midiática. Coordenava o Laboratório de Estudos Asiáticos (LEA-UFRJ) e era editor-chefe da revista científica Sul Global, referência na área.
Antes do magistério superior, Leonardo atuou por dez anos como jornalista de O Globo. A Associação Brasileira de Imprensa homenageou seu carisma. O jornalista Jorge Antonio de Barros escreveu, no site da instituição: "Valente viveu intensamente em seus 50 anos de vida, com uma sagacidade, inteligência e afeto raros. Dono de um jeito simples e carismático, ele cativava a todos por onde passava, construindo amizades sólidas e deixando um legado de boas histórias".
NA FACC, MUDANÇA DE REGIME DE TRABALHO
Após acirrado debate, o Consuni aprovou a mudança do regime de dedicação exclusiva para 20 horas da professora Mariana Zattar, do curso de Biblioteconomia da FACC. A docente passou em concurso para a Fiocruz, mas desejava continuar a carreira acadêmica na UFRJ. A decisão, por 20 votos a 19, foi muito comemorada pelos estudantes.
CONSUNI INICIA DEBATE SOBRE CARREIRA DOCENTE
O Conselho Universitário do dia 12 iniciou a revisão das regras internas para o desenvolvimento na carreira docente. Conforme antecipado no Jornal da AdUFRJ de 23 de maio, a nova proposta formaliza uma conquista judicial do sindicato para todos os professores. O documento retoma o dispositivo das progressões múltiplas. Além disso, garante que os efeitos de cada processo sejam retroativos ao momento que o docente reuniu todos os requisitos para subir de nível — e não mais à data de aprovação na comissão de avaliação, como figura até hoje na resolução nº 134, de 2022.
Mas ainda há espaço para melhorias na proposta de resolução. A AdUFRJ defende, por exemplo, que documentos de conhecimento da universidade não precisem ser apresentados no processo de progressão. Hoje, dependendo da unidade, até a portaria de admissão na universidade é requisitada para professores que já estão em níveis próximos ao topo da carreira. Ou seja, há Associados 4 precisando provar que estão na universidade há 20 anos.
Existem outros tópicos em debate. A Comissão de Legislação e Normas do Consuni — responsável por uma primeira análise da proposta — não entrou em consenso se as bancas avaliadoras para a promoção a titular deveriam ser presenciais, obrigatoriamente, ou híbridas. A regra atual não prevê essa possibilidade.
Representante dos Associados do CCCMN, o professor Carlos Riehl sugeriu a ampliação da carga didática no ensino básico ou de graduação considerada como referência atual para pontuação das atividades. "Quatro horas semanais é muito pouco", disse.
A discussão foi interrompida por dois pedidos de vista e terá continuidade na próxima sessão.
Foto: Fernando SouzaO Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) sediou ao longo desta semana o Colegiado de Pró-reitores de Graduação (Cograd), órgão de assessoramento da Andifes. O encontro reuniu 54 dirigentes de universidades e institutos federais de todas as regiões do Brasil. O evento, que foi organizado em conjunto com as instituições federais do Rio, discutiu mudanças nas legislações do ensino a distância e o papel da pós-graduação na formação de professores. Mas as questões orçamentárias permearam os debates.
A mesa de abertura teve a participação do reitor Roberto Medronho e da vice, Cássia Turci. A professora destacou os avanços conquistados pelas universidades, apesar dos desafios orçamentários. “A despeito de todas as dificuldades, nós estamos avançando nos nossos cursos de graduação”, celebrou. “Nosso corpo social é incompatível com nossa infraestrutura, mas estamos buscando superar esses entraves”.
O reitor Roberto Medronho destacou a importância dos investimentos nas instituições públicas de ensino e pesquisa. “Estive recentemente na China, que há 50 anos era um país agrário e extrativista, como nós, mas que investiu e segue investindo em ciência, tecnologia e inovação. Precisamos que nossos governantes compreendam que só há desenvolvimento de uma nação com forte investimento nessas áreas”, afirmou.
MUDANÇAS NO EAD
O principal tema da reunião foi o decreto 1256/2025, que estipula mudanças no ensino a distância. A nova política de EaD, assinada pelo presidente Lula em maio, proíbe cursos 100% a distância e exige mínimo de 20% da carga horária presencial. Outra alteração é a proibição de ensino a distância para os cursos de graduação em Medicina, Enfermagem, Odontologia, Direito e Psicologia. As aulas remotas passam, ainda, a ser obrigatoriamente síncronas, ou seja, exigir interação online ao vivo entre alunos e professores.
A UFRJ aderiu ao EaD por meio do Consórcio Cederj. Criado em 2000, o consórcio reúne outras instituições de ensino superior fluminenses: Cefet, Uerj, Uenf, UFF, UniRio e Rural. A UFRJ oferece os cursos de graduação em Biologia, Física, Química e Ciências Contábeis.
Segundo a pró-reitora de Graduação da UFRJ, professora Maria Fernanda Quintela, as recentes mudanças estipuladas pelo decreto presidencial não impactam diretamente a universidade. “A UFRJ sempre trabalhou com a política do ensino semipresencial no consórcio. Nós consideramos muito importante que haja atividades presenciais em todos os cursos”, disse. “Além disso, nossos cursos não estão entre aqueles proibidos pelo decreto”, assinalou. “Dessa forma, o impacto para nós é muito menor do que para outras universidades que atuam com o ensino integralmente remoto no EaD”.
FALTA DINHEIRO
A escassez de recursos é um drama vivido pelas instituições de ensino superior. Os pró-reitores que conversaram com o Jornal da AdUFRJ foram unânimes em relação aos riscos de colapso. Marcelo Souza Motta, pró-reitor de Graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), destacou o desafio de manter políticas de permanência para alunos socialmente vulneráveis. “Temos muita preocupação em não darmos continuidade a essas políticas tão importantes e isso se refletir no aumento da evasão”, pontuou o docente. “As ações de cortes de orçamento do PNAES (Programa Nacional de Assistência Estudantil) podem retirar nossos estudantes da sala de aula”, afirmou.
Outra repercussão negativa é na área de investimentos em pesquisa. “A gente está atuando no básico, sem possibilidades de investir na pesquisa, que é uma área de interesse não só para nós, mas para toda a sociedade”, disse. “Ao mesmo tempo, dependemos muitas vezes de ações de grupos isolados na universidade para tocar uma obra emergencial, uma intervenção na estrutura e mantermos o funcionamento. Não há espaço para planejamento”.
Ele também comentou o efeito dos cortes no aumento das vagas ociosas. “Hoje já sofremos um fenômeno de baixa atratividade para os cursos de graduação e esse corte de orçamento dificulta as nossas ações de ensino, pesquisa, extensão. A gente sofre ao não poder oferecer uma educação de qualidade, efetiva, que proporcione a formação do cidadão crítico”, disse. “O novo marco da EaD precisa refletir a permanência dos nossos estudantes na instituição. O desafio é criar novas possibilidades para que os alunos possam permanecer na universidade”, afirmou.
Pró-reitora de Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a professora Elda Melo destacou que a mudança de perfil social do alunado exige mais investimentos. “Historicamente nossa universidade sempre abrigou um público de elite. Entretanto, as ações de democratização do acesso permitiram a chegada de um público diferenciado e mais vulnerável socioeconomicamente. Essa mudança de paradigma gera demandas por medidas de permanência”, explicou. “Bolsas, auxílios, apoios passam a ser necessários para que essas pessoas continuem na universidade e tudo isso demanda mais recursos. Sem dinheiro, as políticas ficam inviabilizadas”, concluiu a dirigente.
UNIVERSIDADES NOVAS
Os desafios de manter as portas abertas é sentido tanto por instituições antigas, como a UFRJ, como por instituições jovens. Se as mais antigas têm graves problemas de infraestrutura predial – em que boa parte é patrimônio tombado e gera necessidades extras de recursos para sua estruturação – as novas ainda lutam para se consolidar. Para o professor Braz Batista Vaz, pró-reitor de Graduação da Universidade Federal do Norte do Tocantis (UFNT), os desafios são ainda maiores.
“Nós fomos criados em 2019 e somente a partir de 2024 ganhamos autonomia”, contou o pró-reitor. “Dessa forma, sofremos mais com as reduções orçamentárias porque precisamos lidar com as assimetrias regionais e elas são enormes na distribuição orçamentária”, pontuou o professor. “Também somos uma universidade interiorizada, parte da Amazônia Legal. Somos multicampi, o que exige uma logística mais complicada para a comunidade acadêmica e gera maior custo para a instituição. Uma semana acadêmica, por exemplo, que teoricamente seria uma ação simples, se torna muito mais complexa e cara por essas circunstâncias”, exemplificou o docente.
Outro diferencial é que os estudantes são, em grande parte, indígenas e quilombolas – populações historicamente negligenciadas pela sociedade brasileira. “São extremamente vulneráveis, muito carentes. São indígenas, quilombolas, ribeirinhos. Então, temos enorme demanda de suporte orçamentário para ações e políticas de permanência”.
O resultado da diminuição de recursos é desastroso para a instituição. “Para nós, contingenciamento significa limitar o ingresso de alunos, inviabilizar a permanência dos estudantes e prejudicar sobremaneira o ensino, a pesquisa e a extensão”, afirmou. “Agora temos as cobranças relativas à inovação, que também demandam investimentos, e se tornam um enorme desafio para nós”, disse. “Tudo isso faz com que a nossa instituição demore muito mais tempo para se estruturar e pode nos colocar numa situação de colapso”.
Fixar professores é mais um desafio nesse contexto de carências. “O processo de interiorização nos levou para lugares em que a universidade não atuava. No entanto, manter a instituição funcionando nesses locais não é a mesma coisa que manter uma universidade já consolidada em capitais. Há outras exigências”, apontou o pró-reitor. “Temos muita dificuldade de fixar docentes, de estruturar a universidade. É preciso olhar as assimetrias e os contextos, pensar em políticas para que todas consigam avançar juntas na missão de ensino, pesquisa e extensão”.