Accessibility Tools

facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

A violência no campus invadiu a reunião do Conselho Universitário e obrigou a maior instância da UFRJ a mudar sua pauta para discutir a questão na quinta- -feira (24). O professor Nelson Braga, da Física, sugeriu a criação de um sistema paralelo de registro das ocorrências no Fundão. O sistema ficaria disponível on line e seria alimentado pela comunidade universitária. A partir daí, a reitoria montaria um sistema de acompanhamento dos casos. “Vamos ter de chegar ao ponto de termos um professor morto para que haja providências concretas?”, questionou. Outra proposta foi o controle inteligente dos acessos à UFRJ, com fechamento de entradas e saídas em alguns horários - ideia já em discussão com a CET-Rio. O reitor Roberto Leher disse que vê com cautela a proposta, por temer que atrapalhe até o acesso da comunidade universitária e gere grande engarrafamento com reflexo em toda a cidade. Estudantes questionaram o uso do Proeis. “Vamos ver como vai ser a abordagem da PM aos estudantes negros aqui”, alertou a aluna Clara Delmonte. A presidente da Adufrj, Maria Lúcia Werneck Vianna, falou da inquietação dos professores. “Tememos que haja só a reiteração dos discursos, que fique só nisso, sem ação. A mobilização é fundamental”

*Gabriel Nacif Paes (Estudante da ECO e estagiário da Adufrj)

O Centro de Tecnologia vai escolher seu novo decano nos dias 28 e 29 de maio para um mandato de quatro anos. Os candidatos Fernando Luiz Bastos Ribeiro, atual decano, e Walter Issamu Suemitsu concorrem à eleição. Estarão em disputa os votos de docentes, técnicos administrativos e estudantes. Fernando Ribeiro, da Coppe, tenta a reeleição para continuar no comando do segundo maior Centro do Fundão. Uma de suas principais propostas é aumentar a segurança por meio da terceirização do estacionamento. Walter, da Escola Politécnica, foi decano entre 2006 e 2014 e quer ocupar o cargo novamente. Ele está convencido de que a melhor forma de reduzir os crimes na região é aumentar o número de câmeras e de vigilantes, além da criação de um aplicativo para facilitar a denúncia de crimes. Das 10h às 16h, haverá urnas no bloco B (Escola Politécnica) e no bloco H (Coppe). Já no bloco E (Decania, Escola de Química, IMA, Nides) as seções funcionam das 10h às 16h e das 18h às 20h. O resultado da eleição será divulgado no dia 30 de maio.

O Boletim da Adufrj  ouviu da comunidade universitária esta semana seguidos relatos sobre casos de violência no campus. Abaixo, depoimentos de medo e tensão, exigindo medidas concretas contra o problema.   "Entrei como professor em 1992. A segurança oscilou neste período. Agora, piorou muito. Sempre me preocupo ao entrar ou sair do carro. O Proeis é um primeiro passo. Onde tem policial bem visível, o bandido vai a outro lugar. O trânsito aqui é enorme. O estacionamento teria de ter maior controle." (Jean Louis Valentin, professor aposentado do Instituto de Biologia) "Em janeiro, homens armados bloquearam meu carro. Levaram carro, bolsa, tudo. Fiquei em pânico. A mobilização é importante para mostrar o que estamos vivendo aqui. Estamos com medo." (Sonia Rozental, professora do Instituto de Biofísica) "Trabalho aqui há 22 anos. Antigamente, era furto: meninos entravam de mochila e não dava para saber se era estudante ou não. Agora é uma “equipe”. É o crime organizado, mais organizado que a sociedade civil. Qualquer coisa tem que ser feita, não sei se essa (do Proeis) é a melhor. Dou aula à noite; não tem luz no estacionamento. Aciono o alarme do carro, dou uma volta, não entro imediatamente. Para ver se aparece alguém perto do carro." (Eline Matheus, professora do ICB) "Costumo vir de carro uma vez por semana. Quando saio, fico assustada, olhando pra tudo quanto é lado. Principalmente quando o estacionamento está mais deserto. Não existe política efetiva de segurança no campus. Aqui é uma cidade. Tem que haver policiamento mais ostensivo. É uma ideia (o Proeis). Do jeito que está, está muito difícil." (Claudia S. Thiago Ragon, odontóloga do HU) "O campus está dentro do Rio de Janeiro. Piorou pelo contexto geral, com a crise. Temos de tomar medidas institucionais para melhorar a segurança, mas é como enxugar gelo se a gente não trabalhar em outras instâncias além da esfera universitária. A segurança a gente só resolve se comparece para votar e faz escolhas corretas. Não podemos espalhar medo, mas soluções. Sonia Reis, diretora da Faculdade de Letras O campus está abandonado. A gente acompanha estágio no hospital. Já tive carro furtado, em 2008. Agora a violência está muito pior. Semana passada, uma colega foi assaltada pela manhã perto do HU. Algo precisa ser feito. Não acho que o Prois resolve, não. Devíamos nos organizar para criar mecanismos mais inteligentes,como restringir mais o acesso ao campus." (Rita Batista Santos, professora da Escola de Enfermagem Anna Nery) "A universidade está inserida na cidade com sua dinâmica de violência. Mas a impressão que se tem é que o Fundão está pior. Aqui age uma (ou mais) quadrilha especializada. A gente precisa de inteligência: ter câmeras, estudar e desbaratar as quadrilhas. Estou na universidade, como professor, desde 1976. Este ano certamente é o pior. Sei de professores que deixaram de vir de carro pela insegurança. Estão vindo de ônibus." (Ricardo Medronho, professor da Escola de Química) "Eu e um colega fomos abordados no estacionamento do CCS na volta do almoço, no dia 26 de março. Estavam com duas pistolas, um fuzil e uma metralhadora. Fomos deixados na Maré, pouco mais de uma hora depois. No carro dos bandidos, com insulfilm, passamos por um veículo da PM no campus. Falavam em nos matar várias vezes. Achei que não ia sair daquela não. Mudei minha rotina na UFRJ." ( Jamil Freitas, webdesigner do Sintufrj)

Elisa Monteiro e Kelvin Melo A Adufrj está em busca de soluções contra a falta de segurança na Cidade Universitária e criará em seu site um banco para receber contribuições da comunidade acadêmica. O professor Fabio Ramos, do Instituto de Matemática, tem uma sugestão a partir da experiência no estudo de softwares de monitoramento aéreo para segurança durante o pós-doutorado em Israel. O programa capta imagens por um balão, e um programa que identifica movimentações estranhas. “É preciso definir que tipos de movimentações podem ser considerados suspeitos”, explica o pesquisador. Não seria uma solução no curto prazo, mas com boa chance de resultados positivos. Para reduzir custos, poderiam ser usados balões como de publicidade. Levantar dados sobre a situação da segurança, sistematizar propostas, conversar com autoridades e acompanhar as medidas institucionais implantadas. Esta foi a agenda apresentada pela diretoria da Adufrj em plenária no Centro de Tecnologia, no dia 24. A diretoria se reunirá com a Secretaria de Segurança Pública no dia 29 de maio e em junho realizará uma audiência pública para a qual serão convidadas autoridades. “O objetivo é ouvir as autoridades sobre o que a universidade poderia fazer para diminuir crimes”, diz o vice-presidente da Adufrj, Eduardo Raupp.

Em tom de desabafo, Mauro Sola-Penna, da Faculdade de Farmácia, fala do medo depois do sequestro no campus e cobra condições para exercer as atividades acadêmicas Uma semana depois do sequestro-relâmpago do qual ele e sua mulher foram vítimas, o professor da UFRJ Mauro Sola-Penna, da Faculdade de Farmácia, não esconde a tristeza e a revolta com o clima de medo no campus do Fundão. Sola-Penna e a mulher, Patrícia Zancan, também professora da Farmácia, foram rendidos quando chegavam ao Centro de Ciências da Saúde no dia 18 de maio e ficaram 11 horas em poder dos sequestradores. Ao Boletim da Adufrj, Sola-Penna falou em tom de desabafo. Aos 48 anos, 30 na UFRJ, 25 como professor, diz que faltam condições de trabalho na universidade e que considera a possibilidade de tirar uma licença. “O sentimento é de impossibilidade de trabalho. Não tem condição de viver nessa situação”, afirmou, em entrevista por telefone na última terça-feira. Por isso a licença: “Não é decidido, estou pensando. É covardia obrigar os docentes a trabalhar nessas condições, em salas cobertas de fungos. Temos colegas afastados por problemas respiratórios. A universidade hoje não nos dá condições de trabalho”, afirmou Sola-Penna, que disse considerar também a possibilidade de processar civilmente a UFRJ. Segundo o professor, o reitor Roberto Leher lhe telefonou e disse que acordou um aumento do policiamento. No entanto, na avaliação do docente, é preciso providências urgentes. “Não adianta empurrar a responsabilidade, que é da reitoria, não é da PM nem da Polícia Federal. A reitoria tem responsabilidade de resolver essa questão. Estou falando em tom de desabafo. Acho que a gente quer solução”, afirmou Sola-Penna. O docente reiterou que os casos de violência no campus são frequentes e comentou o risco em várias áreas da universidade. “Ontem (segunda, 21) estive no Fundão, pois precisava ir ao banco, e mudei meu itinerário. Estacionei em outra área. Saí por volta das 16h30 pelo mesmo lugar onde, dez minutos depois, uma aluna foi levada”, recordou. Segundo ele, é um erro separar em categorias os casos mais e menos violentos. “O aluno que perdeu celular ou carteira no ponto de ônibus também está sendo vítima de violência, não é que seja um mais grave que outro. Até concordo que o que aconteceu com a gente foi icônico, está desencadeando comoção”, afirmou. Seu alerta à comunidade universitária é a necessidade de dar ao problema da violência no campus a dimensão real: “Vejo muitas tentativas de minimizar o que vem acontecendo aqui, mas qualquer tentativa de minimizar é um desrespeito”.  

Topo