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Pianista mais laureado da história do Brasil, o carioca Arthur Moreira Lima, de 84 anos, recebe nesta terça-feira, dia 24, o título de Doutor Honoris Causa da UFRJ. A cerimônia de outorga acontece a partir das 14h no auditório do Parque Tecnológico e poderá ser acompanhada pelo canal oficial da UFRJ no Youtube. A homenagem foi aprovada por unanimidade no Conselho Universitário de 22 de agosto.

O pianista ganhou seu primeiro prêmio aos 9 anos, em 1949, no Concurso Jovens Solistas. Aos 12 anos, venceu o concurso pela segunda vez. Foram apenas os primeiros de incontáveis prêmios nacionais e internacionais, além de ser um importante nome na formação de novos músicos.

WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.49.57 5Fotos: Alessandro CostaForam mais de três séculos de espera. Se considerarmos o seu registro de entrada no acervo da família real dinamarquesa, em 1689, foram exatamente 335 anos longe de casa. Mais longa que a distância entre Copenhague e o Rio de Janeiro foi a negociação para que ele deixasse uma vitrine de vidro no Museu Nacional da Dinamarca e voltasse ao Brasil: os primeiros esforços começaram em 2000. Está agora em uma sala da biblioteca do Museu Nacional da UFRJ, mas seu destino ainda é incerto. Na tarde de quinta-feira (12), uma cerimônia na Quinta da Boa Vista, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcou oficialmente o retorno ao Brasil do manto tupinambá que foi levado do país nos tempos coloniais.
“Esse manto traz ao Brasil toda a força dos nossos encantados, dos nossos ancestrais, para termos de volta nossos direitos de vida. Não só para o povo tupinambá, mas para todo o povo originário do Brasil”, disse a cacica Jamopoty, líder da tribo tupinambá de Olivença, na Bahia, de onde é originário o manto de penas vermelhas de ave guará e fibras vegetais, de 1,20 metro de altura por 60 centímetros de largura, confeccionado no século XVII, e considerado sagrado pela etnia. Na tradição tupinambá, a vestimenta é usada em cerimônias de casamento e rituais diversos, e abriga um espírito ancestral.
Em sua fala de boas-vindas, o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, destacou as contribuições da universidade. “Desde o pré-sal à repatriação deste maravilhoso manto, a UFRJ teve papel fundamental para o desenvolvimento do país. A ciência voltou, o Brasil voltou, e nós estamos na linha de frente da reconstrução.”WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.24.30 1Foto: Ricardo Stuckert/PR
As negociações finais para a volta da relíquia ao Brasil foram feitas entre os dois museus, com apoio das embaixadas e do Ministério das Relações Exteriores. Mas começaram há 24 anos, mais exatamente nas controversas comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil. Naquele ano, o manto tupinambá foi trazido da Dinamarca e exposto em uma mostra no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Ali, foi reconhecido pela tupinambá Nivalda de Jesus, conhecida como Amotara, cuja memória foi lembrada na cerimônia pela cacica Jamopoty. Os tupinambás chegaram a pedir à Procuradoria da República para que o manto ficasse no Brasil, mas ele voltou para a Dinamarca — de onde só voltou em julho deste ano.
A repatriação da peça foi cercada de sigilo — e muito criticada pelos tupinambás por isso. Os representantes indígenas queriam ir até Copenhague para acompanhar o retorno do manto, mas não houve recursos para a viagem. O sigilo foi uma exigência do Museu Nacional da Dinamarca, por questões de segurança, e os tupinambás só souberam da chegada da relíquia quando ela já estava no Rio de Janeiro. Os indígenas tiveram duas sessões privadas de recepção e vigília ao manto no início da semana passada, antes da cerimônia oficial de quinta-feira (12).
O Museu Nacional da Dinamarca tem outros quatro mantos tupinambás confeccionados no Brasil entre os séculos XVI e XVII e um deles saiu da reserva técnica e foi colocado na vitrine onde estava o que foi repatriado. Há outros seis mantos em museus da Itália, Bélgica, Suíça e França. O governo brasileiro tem se empenhado na repatriação de objetos levados daqui pelos colonizadores europeus. Só este ano, 585 artefatos indígenas foram recuperados. Eles estavam no Museu de História Natural de Lille, na França, e são oriundos de mais de 40 povos originários brasileiros.
WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.24.30Fotos: Alessandro CostaO Museu Nacional espera que o manto seja uma das principais atrações de seu acervo, a ser aberto ao público assim que forem concluídas as obras de reconstrução do Palácio de São Cristóvão, consumido por um incêndio em 2018. Os tupinambás, contudo, querem que a peça volte à Bahia. Contam, para isso, com um apoio de peso: o do presidente Lula. Em seu discurso na Quinta da Boa Vista, ele encomendou ao governador petista da Bahia, Jerônimo Rodrigues, presente à cerimônia, a construção de um museu para abrigar a relíquia.
“É um privilégio extraordinário participar como presidente da República deste momento tão especial, não só para os povos indígenas, mas para todos nós. Ao longo de nossa história, diversos itens indígenas atravessaram fronteiras e foram parar em museus europeus e de outros cantos do mundo. O retorno do manto sagrado tupinambá é o marco de uma nova história de conquistas dos povos indígenas. Ele está agora no Museu Nacional, mas eu espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui. Quero pedir a compreensão do governador da Bahia, que me disse que é tupinambá também. Ele tem a obrigação e o compromisso histórico de construir na Bahia um lugar que possa receber e preservar esse manto. Para nós ele é uma obra artística de rara beleza, mas para os tupinambás é uma entidade”, defendeu o presidente, ovacionado pelos tupinambás que lotavam a plateia com seus maracás.
O diretor do Museu Nacional, professor Alexander Kellner, não compareceu à cerimônia, pois estava em viagem ao exterior. O Jornal da AdUFRJ pediu a ele um posicionamento sobre a guarda da relíquia e sobre a reivindicação dos indígenas para que ela seja levada para a Bahia, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Instado por cobranças de lideranças indígenas, Lula também falou que seu governo tem como prioridade a demarcação de terras indígenas. Os tupinambás reivindicam a demarcação de territórios no sul da Bahia. As áreas estão delimitadas desde 2009 e ainda aguardam a demarcação. “O povo tupinambá, da mesma forma que as demais etnias indígenas, tem direito ao seu território. É uma luta justa, legítima”, disse o presidente, que prometeu se reunir esta semana com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para tratar da demarcação dessas áreas. Com 47 mil hectares, a Terra Indígena Tupinambá de Olivença abriga 23 aldeias, com 8 mil habitantes, entre os municípios de Ilhéus, Uma e Buerarema.

CACICA JAMOPOTY LEMBRA LONGA LUTA E PEDE DEMARCAÇÃO

“O manto foi reconhecido por Amotara em 2000 em uma mostra dos 500 anos. Daquele dia para cá, nós lutamos para que o manto sagrado ficasse no Brasil. Mas ele voltou para a Dinamarca depois da exposição. Estou aqui representando Amotara, uma mulher forte, decidida, dedicada à família tupinambá”
“Eu sou a primeira mulher cacica do povo tupinambá de Olivença, sou a segunda do Brasil, e venho travando uma luta pela demarcação de nosso território. Esse manto traz ao Brasil toda a força dos nossos encantados, dos nossos ancestrais, para termos de volta nossos direitos de vida. Não só para o povo tupinambá, mas para todo o povo originário do Brasil. Há outros mantos como esse lá fora, mas esse é o manto sagrado de Amotara”.
“Senhor presidente, demarque as terras indígenas, dê um sossego ao povo indígena. Eu falo pela voz do meu ancestral. Estamos aqui no Rio de Janeiro desde 7 de setembro para fazer nossa vigília, para dizer ao manto: “Nós estamos aqui”. Ele voltou para que o Brasil seja um novo Brasil com sua história verdadeira, a história dos povos originários. Hoje eu estou feliz”.

PARLAMENTARES E LIDERANÇAS APOIAM INICIATIVA DO SINDICATO

A diretoria da AdUFRJ entregou um documento às autoridades presentes à cerimônia do manto tupinambá sobre a grave situação orçamentária da UFRJ. O texto ressalta a importância social, cultural e científica da universidade, mostra a contribuição dos pesquisadores para o desenvolvimento tecnológico do país e pede socorro para garantir a continuidade das aulas. “Estamos com mais de R$ 50 milhões contingenciados. Até recursos empenhados foram bloqueados “, explicou a presidenta da AdUFRJ, Mayra Goulart, para a deputada estadual Elika Takimoto (PT), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj. “Estou junto com vocês, vamos tentar marcar audiências e reverter essa situação”, prometeu a parlamentar.
Mesma solidariedade foi declarada pela deputada estadual Marina do MST (PT). “Podem contar comigo”, garantiu. “Precisamos muito do apoio dos parlamentares. Nossa situação é muito grave, estamos sem recursos até para pagar as contas de luz e água. Os prédios estão péssimos”, contou a vice-presidenta da AdUFRJ, professora Nedir do Espirito Santo, docente universitária desde a década de 1970. “Nunca vi um quadro tão grave no campus. O mais triste é que a universidade muda a vida das pessoas, muda o destino. A falta de infraestrutura interrompe o cotidiano acadêmico e afasta os alunos”.
Um dos apoios mais emocionantes recebidos pela AdUFRJ durante a cerimônia do manto tupinamba foi da deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG). Professora ativista indígena do povo Xakriabá em Minas Gerais, Célia encantou as diretoras da AdUFRJ. “Foi uma honra para nós o encontro com a deputada Célia nesse contexto aqui. Ela é uma referência na educação indígena e sabe das agruras de ser professora no Brasil”, ponderou a presidente da AdUFRJ, Mayra Goulart.
Uma das lideranças indígenas presentes também se solidarizou com a carta da AdUFRJ. Mari Tupinambá lidera o movimento de mulheres da aldeia de Olivença, na Bahia, pela construção de escolas indígenas. “Eu sei o que é ficar sem escola. A dos nossos curumins é de barro e está caindo”, contou Mari.
A integra da carta da AdUFRJ abaixo.

CARTA DA ADUFRJ AO PRESIDENTE LULA

Caro presidente Lula,

Bem-vindo. Somos professoras e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, integramos a diretoria do sindicato docente e estamos profundamente emocionados com sua visita.
A presença de V. Exa. reacende o entusiasmo que nos mobilizou, em 2022, quando, de braços dados com o senhor, as universidades lutaram bravamente para livrar o Brasil de quatro anos de obscurantismo. Assim, com imensa alegria e alguma esperança, lhe entregamos esta carta. Alegria porque lutamos pela sua eleição e pela reconstrução de um Brasil justo, democrático e próspero. Esperança porque recebê-lo, é uma oportunidade de mostrar a importância da UFRJ para o país.
Somos mais de 65 mil estudantes, 4 mil professores e 8 mil técnico-administrativos em Educação. Atuamos em 175 cursos de graduação, 132 programas de pós-graduação stricto sensu e 1.779 ações de extensão. Temos mais de 1.450 laboratórios, 45 bibliotecas, um Parque Tecnológico com 350 mil metros quadrados, com startups e empresas de protagonismo nacional e internacional, nove hospitais universitários e oito museus.
A universidade formou uma sucessão de ex-alunos notáveis, como o indicado ao Prêmio Nobel da Paz Osvaldo Aranha; os escritores Jorge Amado, Vinícius de Moraes e Clarice Lispector; o arquiteto Oscar Niemeyer; os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas; o historiador Sérgio Buarque de Holanda; e o matemático Artur Ávila, primeiro latino-americano a receber a Medalha Fields, prêmio oferecido a matemáticos com até 40 anos e considerado equivalente ao Prêmio Nobel.
Aqui respeitamos nossa História, construímos e pensamos o futuro. Há duas semanas, organizamos o Festival do Conhecimento com o tema da Inteligência Artificial. No final do primeiro semestre, celebramos vitórias notáveis em pesquisas sobre o Alzheimer. O maior centro de pesquisa em engenharia da América Latina, a Coppe da UFRJ, descobriu o pré-sal e continua sendo a principal referência na área de óleo, gás e energias alternativas.
Na pandemia de Covid, nos desdobramos para ampliar a vacinação, realizar mais de 100.000 testes moleculares no Rio de Janeiro e em Macaé, difundir as medidas de combate ao vírus, pesquisar vacinas e combater ações anti civilizatórias defendidas pelas autoridades da época. Como fruto desse esforço, criamos o Núcleo de Enfrentamento e Estudos de Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (Needier). A unidade é responsável por estudar e dar respostas rápidas às epidemias e pandemias que afligem o mundo contemporâneo.
Hoje, graças à política de cotas, os alunos pretos e periféricos ocupam 50% das vagas na Graduação. São diversos, são muitos e têm pressa. De se formar, de trabalhar, de mudar de vida. Deixá-los sem aulas na universidade pública é deixá-los sem futuro. É também abrir a guarda para o retorno do negacionismo e do ódio ao conhecimento. Não queremos isso. De maneira alguma. Mas, para garantir que esta Universidade permaneça aberta, precisamos do apoio do governo brasileiro.

A UFRJ pede socorro.

WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.25.44 1Foto: Guilherme PimentelO Instituto de Psicologia da UFRJ sedia um projeto de pesquisa e extensão que tem o potencial de transformar a realidade da segurança pública do Rio de Janeiro. Cem mães, que perderam seus filhos pela ação ou omissão de agentes públicos, se tornaram pesquisadoras da universidade. O objetivo é elaborar uma nova política pública a partir de suas vivências e olhares. O documento final será encaminhado ao Ministério da Justiça. Elas vão receber R$ 700 por mês, por até um ano e meio, e serão acompanhadas por uma equipe multidisciplinar, além de 32 estudantes de graduação em Psicologia.
Coordenadora da parceria entre a UFRJ e o Ministério da Justiça, financiador do projeto, Mariana Mollica, professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica, resume a potência da ação. “Queremos a mudança do cenário catastrófico do Rio de Janeiro”. Para apoiar a iniciativa, o Ministério destinou R$ 3,5 milhões para custear as bolsas e todas as atividades previstas no edital, como viagens pelo país e idas aos territórios conflagrados.
Das mães selecionadas para o projeto, pelo menos 80% são negras. Quase todas moram em áreas de vulnerabilidade social. “Elas terão aulas num ciclo básico sobre assistência social, saúde mental, direitos humanos, violência de Estado. Além disso, irão aos territórios identificar e qualificar a rede de assistência de saúde e jurídica de cada lugar”, explica a professora Mariana. Numa segunda etapa, o projeto prevê visitas a todos os estados do país para trocas de experiências.
Além das aulas, elas terão atendimentos com psicólogos e psicanalistas. Tudo para que essas mães tenham ferramentas que as tornem produtoras de conhecimento. “Elas vão deixar de ser objeto de estudo. É a perspectiva de decolonização do saber universitário”.WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.28.00

Como tudo começou
O projeto surgiu a partir da Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência de Estado (Raave), que congrega diferentes grupos e instituições atuantes na promoção e defesa dos Direitos Humanos. UFRJ, Uerj, PUC, UFF, Ouvidoria da Defensoria Pública do Rio, Fiocruz, Comissão de Direitos Humanos da Alerj, entre outros, agem em rede em apoio psicossocial às famílias impactadas.
A Raave foi constituída logo após a Chacina do Jacarezinho, em 2021, a maior matança promovida pela polícia do Rio. “A Raave entra para dar acesso à Justiça e à saúde mental a essas famílias”, explica a professora Mariana. “Elas são revitimizadas ao chegarem à delegacia. Vão ao IML e são maltratadas novamente. Depois, não têm dinheiro para o enterro. Chegam à Defensoria, percebem que o caso não avança”, descreve.
O sintoma dessa brutalidade experimentada sobretudo pelas mães, é o adoecimento físico e mental. “Muitas desenvolvem doenças crônicas. Várias morrem, têm AVC, infartos”, afirma a professora. “É uma situação de devastação completa”, afirma.
“A bala que acerta um ente da família continua girando e vai acertando outras pessoas”, ilustra a psicóloga Dejany Ferreira, coordenadora técnica do projeto. “Esses familiares adoecem, principalmente as mães, morrem de tristeza, outras se matam”, relata.
Para Dejany, é urgente descontruir a ideia “do criminoso”. Este seria um passo fundamental para reduzir a violência de Estado. “Nossa sociedade criou a característica de periculosidade a partir de determinados perfis e aceita que essas pessoas sejam assassinadas”, explica. “Há uma anuência social e a polícia frauda aquela execução porque a narrativa não vai ser questionada”.
Outro coordenador técnico do projeto, o advogado e militante dos Direitos Humanos Guilherme Pimentel, destaca a atuação das universidades no suporte a essas famílias. “A UFRJ tem um papel fundamental de articulação dessa rede. A Defensoria é uma das instituições, mas sem as universidades, e, sobretudo, sem os movimentos de mães, essa rede não seria possível”, afirma.
Era ele o ouvidor-geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, quando aconteceu a chacina que deu origem à Raave. “A gente atuou desde às seis horas da manhã recebendo as denúncias e resolveu ir ao território em tempo real”, ele lembra. “Foi o maior atendimento para vítimas de violência institucional da história do Rio de Janeiro. Ali começamos a articular essa atuação integrada”.
A Rede e, agora, o projeto de extensão agem, para Guilherme Pimentel, como fontes de cura. “Quando essas mães se organizam e percebem que o que elas viveram é um problema sistêmico, elas passam a atuar no apoio de outras famílias e melhoram sua própria condição de saúde”, avalia. “É essa articulação, entre o movimento popular e a linha de frente do serviço público, que vai nos livrar desta continuidade autoritária e escravocrata do nosso país. Queremos parar essa máquina de matar gente”.

DEPOIMENTO I CATARINA RIBEIRO, MÃE DE ROGÉRIO DA SILVEIRA JÚNIOR

WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.25.43 1“Meu filho foi assassinado pela cor da sua pele”

Moro em Niterói, mas meu filho foi assassinado em Nova Iguaçu, em 6 de maio de 2020, pouco depois de começar a pandemia. Ele era do grupo de risco, tinha artrite reumatose e tomava imunossupressor. Nesse dia, um pouco antes de almoçar, ele recebeu uma ligação e falou que ia sair. Depois eu soube que era meu sobrinho neto, que chamou meu filho para ir até a casa da mãe dele, na comunidade do Danon.
Quando chegaram lá, começou uma operação. Meu filho, que não conhecia o local, acabou correndo na direção dos policiais. Ele tomou dois tiros. Os locais onde as balas pegaram sugerem que ele estava ajoelhado. Ele foi executado sumariamente. No momento da operação, viram um negro correndo e o sentenciaram à morte. Os policiais tiraram os documentos e pertences pessoais do meu filho. Colocaram uma arma e um rádio na mão dele.
Eu sou técnica na Federal Fluminense. Meu filho fazia faculdade de gastronomia, estudou no primeiro colégio bilíngue público do país, o Brasil-França. Falava francês e espanhol, era comissário de bordo formado, tinha uma hamburgueria artesanal. Por conta desse trabalho, já havia sido premiado em alguns concursos. Ele tinha uma trajetória completamente diferente da narrativa que criaram ali. Ele tinha sonhos, projetos, mas foi assassinado pela cor da sua pele. A vida do meu filho não vai ser reparada, mas eu busco verdade, busco justiça. Quero honrar a memória do meu filho. É o que me dá forças para continuar vivendo.
A importância de estar nesse projeto é poder compartilhar com outras mulheres que passaram o mesmo que eu. É um processo de ajuda mútua. Para as bolsistas, o valor permite que aquelas que não têm renda possam arcar com custos de deslocamento. Possibilita maior participação dessas mães nas atividades.
Espero contribuir com elas também no sentido acadêmico, já que trabalho numa universidade, tenho mestrado. Estamos sendo preparadas para acolher outras mães, mas também seguimos sendo acolhidas.

DEPOIMENTO I JACKLLINE OLIVEIRA, MÃE DE KATHLEN ROMEU, ASSASSINADA GRÁVIDA DE TRÊS MESES

WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.25.44 2“O Estado violou o meu sagrado, mas eu me recuso a enterrar o meu amor”

“Quando a gente perde um filho, a gente trava uma luta incansável por memória, verdade, reparação e justiça. A gente coloca esse luto no bolso, mas a saúde física e mental não suportam. Encontrei uma forma de lidar com a dor, escrevo nos dias mais difíceis. Um dia, falei com minha psicóloga que não encontrava mais prazer nas coisas, nem motivo para continuar. Ela me disse que a felicidade tinha mudado de nome para mim, que se tornaria propósito, e que me ajudaria a procurar esses propósitos.
Então, me pergunto: quem sou eu para além da dor? Foi aí que a Raave entrou na minha vida. Eu sempre gostei de conhecimento, de estudar. E essa possibilidade de troca acadêmica reacendeu uma chama em mim. Hoje sou uma mãe pesquisadora, não sou objeto de estudo. Desejo que através das nossas pesquisas a gente consiga mudar essa realidade. Eu vou falar a língua de muitas outras mães. Vou poder acolher a dor de outras e falar da minha dor. A gente busca por justiça incansavelmente. Eu jamais imaginaria que teria tanta força. Qualquer coisa sobre a minha filha me deixa pronta para lutar.
Em 8 de junho de 2021, a Jaklline sonhadora, que acreditava na vida, morreu com minha filha e o bebê dela. Surgiu outra Jacklline que eu ainda não sei quem é.
Assim que aconteceu (a tragédia), a psicóloga do Estado me fez uma chamada de vídeo e friamente me disse: ‘você sabe, né, que só tem direito a cinco terapias?’. Fui desabafando, falando que ia ao quarto da minha filha todos os dias, e ela me perguntava o que eu ia fazer lá se eu sabia que ela não iria mais voltar. Ali eu entendi que o Estado está contra mim desde que matou a minha filha.
Nós somos saqueadas sem saber a que temos direitos. Quero justiça. E justiça, para mim, é transformação social. Se a morte da Kathlen Romeu servir para mudar um pouco dessa sociedade, um pouco do meu propósito estará realizado.
Somos do Complexo do Lins. Ela tinha acabado de se formar. A gente resolveu se mudar para o Encantado para que isso não acontecesse. Mas não adiantou. Eu vivi a história mais horrível da minha vida. Perdi uma filha no auge de sua vida. Ela podia ser quem quisesse, era multitalentosa, tinha tanta luz. Era uma encantadora de pessoas! E o Estado estuprou minha alma, violou o meu sagrado. Já são três anos de todas as provas ratificadas pela perícia e os caras seguem nas ruas, enquanto eu estou doente. Mas eu me recuso a enterrar o meu amor.

DEPOIMENTO I SONIA BONFIM VICENTE, MÃE DE SAMUEL BONFIM VICENTE E COMPANHEIRA DE WILLIAM DA SILVA

WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.25.43“Quando a gente perde um filho, a gente perde tudo”

“Naquele dia, 25 de setembro de 2021, eu tinha saído com meu esposo, meu filho e a namorada dele. Fomos comemorar porque na segunda-feira ele estaria no Exército. Eu moro no Chapadão. A namorada do meu filho passou mal e ele e meu esposo foram levá-la na UPA. Na volta, cortaram caminho. Estavam os três na moto. A 50 metros de casa, foram fuzilados pela polícia. Mataram meu filho e meu marido. A namorada sobreviveu. Vi quando os policiais deram o último tiro e os jogaram na viatura. Quando a gente perde um filho, a gente perde tudo.WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.25.44 3
Corri para o hospital. Vi o policial batendo no peito, mostrando as fotos do meu filho, dizendo que ele quem tinha abatido. Comecei a fazer a luta naquele dia. Eu mesma fiz investigação, consegui achar várias contradições. Pedimos para federalizar os casos. A Raave, que estava nascendo, me ajudou muito. Eles compreendem a sua dor. É totalmente diferente o trabalho psicossocial da Raave daquele que o Estado oferece. Eu estava ficando dopada. Fiquei um mês e meio sem dormir, virada, lendo os inquéritos, e a psiquiatra só sabia aumentar a medicação.
O Estado não faz isso com qualquer pessoa. Faz com preto, pobre, favelado. Em 2018, minha filha tomou um tiro do mesmo batalhão. Ela tinha 5 anos. Atravessou um garoto e parou nela. Ela viu uma pessoa morrer. Os policiais não se comoveram. Os vizinhos socorreram, ela precisou ser operada e sobreviveu. Em 2021, passo por isso de novo, mas, dessa vez, foi fatal. Meu filho estava todo quebrado, desfigurado. Tinha 1,90, mas parecia uma criança de 10 anos no IML. Meu marido estava sem uma perna, com o abdome aberto.
Fiz um curso de detetive particular porque a polícia não fazia nada. A mãe não tem luto, só tem luta. Ajudando outras mães, eu esqueço um pouco a minha dor. Vou a alguns enterros, tiro fotos para servir de prova de que foram torturados. O IML não fez isso com meu filho. Disseram que meu filho trocou tiros com a polícia. Estou há três anos pedindo exame residuográfico. Não fizeram. Na audiência, o perito tem amnésia, não lembra de nada. As armas que mostraram, como arsenal recolhido com eles, sumiram quando eu pedi a perícia. Eu já vi mais de 500 vezes o policial que matou meu filho aqui no Chapadão, em operação. Ele segue normalmente, enquanto eu preciso fazer tratamento de saúde.
Eu estou no projeto para ser uma voz contra essa política assassina.”

 

WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.50.08Festa da AdUFRJ teve o lançamento do convênio Wellhub - Fotos: Fernando SouzaUm sucesso. Em pouco mais de uma semana, 161 professores já aderiram ao mais novo convênio firmado pela AdUFRJ: a plataforma de bem-estar Wellhub. O serviço permite aos sindicalizados acessar uma série de atividades físicas ou de saúde mental com descontos.
O lançamento aconteceu em uma festa no belo cenário do Fórum de Ciência e Cultura, no último dia 6. “O sindicato é um espaço para a gente travar disputas políticas, mas também é um espaço de acolhimento e cuidado”, disse a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart. “Este é o sentido de uma prática sindical que não vê luta, assistência e acolhimento de maneira dicotômica. Entendemos tudo isso como algo que nos fortalece”, completou.
Funcionária responsável pelo setor de convênios do sindicato, Meriane de Paula informou que o Wellhub é um benefício não só para os docentes, mas para seus familiares — cada professor pode incluir até três dependentes. “É uma plataforma corporativa. Ela se chamava Gympass. Agora é Wellhub, porque deixou de ser um passe para academia e virou uma plataforma de benefício geral de bem-estar. Oferece diversas atividades físicas, mas também de cuidado pessoal: nutrição, psicologia, finanças, entre outras”, disse.
O salão do Fórum estava cheio, mas a ideia é espalhar a mensagem para o máximo de docentes. “É muito importante ter essa quantidade de pessoas aqui, mas queremos muito mais. Então avisem os colegas”, reforçou a vice-presidente da AdUFRJ, professora Nedir do Espirito Santo.
Novos sindicalizados receberam um convite especial para participar da festa. “Estamos muito felizes com os cerca de 300 novos filiados. Acho isso uma conquista, uma vitória de todos nós. Porque é um momento difícil para os sindicatos. É motivo para a gente comemorar. Sejam todos bem-vindos, novos e antigos”, acrescentou a diretora Veronica Damasceno.
E a expectativa é que mais e mais professores se juntem à AdUFRJ. O diretor Rodrigo Fonseca lembrou a campanha em que os novos filiados não pagam a contribuição sindical por dois anos. “É uma noite muito especial. Espero que todos gostem bastante. Queremos cada vez mais que o docente se sinta acolhido”.
“Respeitar a universidade é valorizar o professor” eram os dizeres estampados nas bolsas distribuídas durante o evento. E o diretor Antonio Solé destacou a relação entre a instituição e seus educadores. “Fizemos um ato em frente ao Ministério da Fazenda, com balões em formato de coração. A mensagem era ‘Eu amo a UFRJ’. Quem ama cuida. Todos os movimentos de reivindicação de financiamento têm a ver com o amor que temos pela UFRJ. Eventos como esse para acolher pessoas novas e anunciar maneiras de ajudar as pessoas a cuidarem de si têm a ver com essa filosofia de amar a UFRJ”.
JORNAL NA AULA
WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.23.49 2O recém-filiado professor Ribamar Oliveira, da Escola de Comunicação, participou pela primeira vez de uma festa da AdUFRJ. “Quero estar próximo e aprender com a experiência dos colegas”, comentou. Ele tirou dúvidas sobre os convênios e espera usar o novo serviço em breve. “Achei superinteressante. Queria saber mais sobre o funcionamento da plataforma. Vou me cadastrar no Wellhub”.
O docente também revelou que utiliza o Jornal da AdUFRJ em suas aulas de Webdesign. “Muitas vezes, os alunos têm uma visão distante do Webdesign. Com um produto da própria instituição, podemos aproximar a prática do Jornalismo ao nosso contexto. Usamos textos, imagens e gráficos do jornal para as análises”, explicou. (colaborou Renan Fernandes)

NOVO CONVÊNIO JÁ RENDE ELOGIOS

Quem estava na festa pôde se cadastrar no Wellhub através do QR code instalado em um cartaz da entrada. Os demais filiados receberam um comunicado para aderir à plataforma desde o dia 9.
Hebert Leonel de Matos Guedes, do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, foi o primeiro a fazer o cadastro e destacou as vantagens do serviço. “Há um ano e meio, comecei a frequentar academia de segunda a sábado. Com este convênio, poderei continuar na mesma academia e explorar outras atividades com um custo mais baixo”, celebrou.WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.23.49
Para Hebert, exercitar o corpo e a mente são tarefas inseparáveis. Ele acredita que o esforço físico na academia contribui para o desempenho de suas funções acadêmicas. “Mente, corpo e espírito. Trabalhamos com a mente, mas precisamos de um corpo forte para suportar as pressões da vida acadêmica. Esse cuidado muitas vezes é negligenciado, a menos que o tornemos uma parte essencial do nosso dia a dia”.
WhatsApp Image 2024 09 16 at 19.23.49 1A professora de Bioquímica Luisa Ketzer, do campus Duque de Caxias, compartilha da mesma visão e sente falta dos exercícios quando é muito demandada pelo trabalho. “É fundamental reservarmos um horário para cuidar de nós mesmos”, enfatizou. Ketzer também apontou o aumento da disposição, da concentração e a melhora no sono como benefícios.
A docente já faz circuitos funcionais na praia, mas quer expandir suas atividades. “Sinto necessidade de algo a mais, talvez musculação, pilates ou yoga”, comentou. Após se cadastrar, agora só falta escolher o plano ideal. “Assim que soube do novo convênio, procurei no site da Wellhub e encontrei várias opções perto de casa”. (Renan Fernandes)

Haverá recesso integral das aulas da graduação nos dias 18 e 19 de setembro. O Conselho Universitário, na manhã desta quinta-feira (12), votou a medida em função dos eventos que vão impactar o trânsito da cidade nestas datas: jogos da Libertadores e o Rock in Rio. O Consuni também aprovou o recesso dos dias 18 e 19 de novembro, quando será realizada a reunião do G-20 na capital fluminense. Para a maioria dos cursos, o segundo período letivo será estendido de 14 para 19 de dezembro. Os cursos de Medicina, que já iriam até 21 de dezembro, poderão usar os primeiros dias de janeiro para completar os conteúdos. O Colégio de Aplicação, com aulas previstas até 20 de dezembro, ainda vai decidir o que vai fazer. A medida vale para todos os campi da UFRJ.

Foto: Kelvin Melo

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