Uma das atividades virtuais foi uma live com a coordenadora da equipe de resgate do Museu Nacional, professora Claudia Carvalho. Ela contou como anda o trabalho de identificação de peças encontradas nos escombros do prédio histórico. Desde o incêndio, em 2 de setembro de 2018, já foram retiradas 2,5 mil toneladas de entulho do local, o equivalente a duas estátuas do Cristo Redentor.
Por conta do vírus, as buscas foram suspensas. A equipe estima que ainda seja necessário mais um mês de garimpo, assim que for possível retomar atividades presenciais. “Temos 5.400 ‘entradas’ de materiais resgatados, mas este número será significativamente maior quando finalizarmos o inventário. Muitos materiais encontrados juntos receberam o mesmo número de registro para facilitar esta primeira etapa”, justificou.
Diretor do Museu Nacional, o professor Alexander Kellner afirmou que o cronograma de reconstrução da unidade não foi prejudicado pela pandemia. “Estamos em fase de elaboração de projetos para começar os processos licitatórios. A única coisa que precisou parar foi o resgate, mas falta pouco para ser concluído”, comemorou.
O docente afirmou que as metas de reabertura do espaço continuam as mesmas: abertura parcial em 2022, junto com o bicentenário da Independência do Brasil, e abertura completa em 2025. Formas de higienização, limitação dos visitantes e exposições abertas estão no horizonte. “Como os museus funcionarão no mundo pós-pandemia é um grande desafio. Estão previstas áreas expositivas ao ar livre. E também a abertura do horto botânico à visitação, com um borboletário”, revelou.
SCIENTIFICARTE
Projetos que atuam em parceria com o Museu Nacional também celebraram a Semana. É o caso do Scientificarte, projeto de extensão do Instituto de Biologia. Christine Ruta, diretora da AdUFRJ e coordenadora do projeto, explicou que o objetivo é estimular o aprendizado de ciências a partir de expressões artísticas. O público-alvo é formado por professores e alunos da rede pública de ensino. Mais de dez mil alunos da educação básica já participaram de ações extensionistas do projeto, que existe desde 2006 e foi o primeiro da UFRJ-Macaé.
“Resolvemos participar na 18ª Semana porque um museu é um espaço de cultura e de pesquisa que infelizmente, no cenário político de hoje, são substantivos muito desvalorizados”, avaliou a professora. “No atual momento de distanciamento social é importante chamar a atenção para a relevância destes espaços, principalmente para as crianças e jovens”.
O maior desafio, aponta Ruta, talvez seja o de sensibilizar a sociedade para a importância da arte no mundo contemporâneo. “Como demonstrar para o público que cultura, numa acepção mais geral, é o que nos torna humanos? Como argumentar que uma cantata de Bach e um samba de Cartola são tesouros da humanidade e que devem estar acessíveis a todos?”, questiona. A promoção da educação, na avaliação da docente, pode ser a resposta. “Tanto no Scientificarte quanto na diretoria da AdUFRJ defendo ardorosamente a educação pública, o maior instrumento de promoção da cultura”.
Victor Hugo de Almeida Marques é mestrando do Programa de Pós-graduação em Zoologia do Museu Nacional e participou do Scientificarte, durante a graduação. Ex-aluno de Ruta na iniciação científica, ele acredita que ter feito parte desse projeto na graduação foi determinante para seguir na carreira acadêmica. “Sem dúvidas, me ensinou a repassar meus conhecimentos para públicos de diferentes idades. Sinto falta de mais projetos de extensão vinculados à pesquisa”.
O jovem cientista é um caso de sucesso. Seu projeto foi um dos cinco do Museu financiados no ano passado pela National Geographic Society. “Foi graças a este fomento que eu pude recompor meu material de trabalho para dar seguimento à minha pesquisa. Meu laboratório foi destruído no incêndio. Não pegou fogo, mas foi totalmente soterrado pelos andares superiores, que desabaram com as chamas”.